Querido diário:
Ontem, ao ler o mural do Facebook de Roberto Rocha sobre o fechamento da FEE, a ocorrer em certo futuro próximo, vi a reprodução de uma postagem de Laura Hastenpflug Wottrich em que ela fala em "José Ivo Sartori e sua corja." E fiquei inclinado a aceitar o substantivo "corja" como um termo técnico para definir as forças da administração estadual que ditam os rumos do governo Sartori. Por coincidência, comentei uma postagem no próprio Facebook de Luiz Faria e depois acrescentei um trecho de Karl Marx de seu famoso livrinho "O Dezoito de Brumário de Luiz Napoleão". Trata-se daquele famoso texto que inicia dizendo
"Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."
Citei uma edição eletrônica cuja referência nem tentei rastrear. Mas prometera e hoje cumpri a citação da Apresentação (que encontrei na edição da Editora Boitempo, a que não fala em "mais valia", mas em "mais valor", tradução ordenada pelos proprietários que só pode ser explicada pelo uso imoderado da cachaça...), ergo, anterior à "boutade" que acabo de citar e que tem atualidade complementar à da farsa que vivemos no Brasil contemporâneo:
"Dentre os escritos que trataram mais ou menos 'simultaneamente' do mesmo assunto que o meu livro, somente dois são dignos de nota: 'Napoléon le petit', de 'Victor Hugo', e 'Coup d'état', de 'Proudhon'.
"Victor Hugo se limita a invectivas amargas e espirituosas contra o responsável pela deflagração do golpe de Estado. O acontecimento propriamente dito parece ser, para ele, como um raio vindo do céu sem nuvens. Ele vê no golpe apenas um ato de poder de um indivíduo em vez de diminuí-lo, atribuindo-lhe uma capacidade de iniciativa pessoal que seria ímpar na história mundial. [...]"
Editando alguma coisa que lá escrevi, chamo a atenção para dois pensadores contemporâneos: Sartori e Temer. Qual o menor, qual o mais pernicioso para as comunidades que os cercam? A selvageria da corja de Sartori perpetrada com a conivência dos "representantes do povo" na assembleia legislativa é inversamente relacionada com qualquer resquício de racionalidade ou de bondade.
Então temos esclarecidos os principais personagens dos dramas federal e estadual: Sartori, Temer e suas respectivas corjas. E que é que segue a destruição da FEE? Ocorreu-me que, deixado aos cuidados da administração pública estadual, que não vê relevância na "economia e na estatística", o acervo de dados e publicações será irremediavelmente destruído. Maus tratos culminam com sumiço.
Neste clima lúgubre, veio-me à lembrança aquela temperatura de 451 graus Farenheit. No caso, quem não lembra do livro de Ray Bradbury e do filme de François Truffaut? Fiquei imaginando quanta informação guardada no mundo eletrônico ficaria por conta de cada trabalhador da FEE, buscando preservá-la da degradação que fatalmente a envolverá. E os livros, os cérebros, a 'expertise', as horas de estudo? O 'learning-by-doing', essa realidade das tecnologias apropriadas, tudo aquilo que parecia relevante há um ano deixa de ser prioritário. Agora a prioridade é acabar com a farra dos jegues do zoológico. E manter a farra das isenções fiscais, da sonegação de impostos estaduais, e especialmente a farra dos altos salários da corja.
DdAB
A imagem veio
daqui. E se consigo dar boa tradução àquele delírio piromaníaco de Farenheit 451, dói-me vê-los dizendo: "Temos grande prazer em destruir".
P.S. de 26/dez/2016: Hahahaha. Ninguém notou que o diabo do 18 de brumário não é de Luiz Napoleão, mas de Luiz Bonaparte...