09 abril, 2015

Pior que a Petrobrás: pré-assalto em Guabiju


Querido diário:

Guabiju? Já ouvi falar. Nada mais nada menos que
[Do tupi.] S. m. Bras.  S.  Bot. 1. O fruto do guabijueiro. 2. V. guabijueiro.
E, no guabijueiro: árvore silvestre, da família das mirtáceas, que produz o guabiju (Eugenia pungens).

E daí? Daí que também tem Guabiju aqui na Wikipedia. Município do Rio Grande do Sul, 1,6 mil habitantes, emancipado de Nova Prata em 1988. Para uma país pobre, Guabiju não está mal, pois tem renda per capita de R$ 21,3 mil anuais, ou seja, quase R$ 2 mil por pessoa por mês. E daí?

Daí que a página 15 de Zero Hora de hoje mostra seu caso de polícia: "Sargento da BM tenta assaltar agência dos Correios e é preso". BM, para os demais cidadãos planetários, é a Brigada Militar, a força pública estadual. E daí? Passo a resumir.

O sargento [...] ingressou na Brigada Militar em 1986 e trabalha em Guabiju há 1996, algo assim. Solitário, ele organizou o assalto, esquecendo que seria filmado, não tendo presente que a gerente da agência do correio é nervosa e, ao tentar abrir o cofre de onde sairiam os adicionais do sargento, errou o código e o cofre trancou-se. O sargento desistiu do assalto e saiu. As vítimas, imobilizadas com aquelas novas fitinhas de plástico, mas de bocas desobstruídas, pediram ajuda. A ajuda não demorou, pois um soldado morador do mesmo prédio do correio mobilizou-se. E não demorou para encontrar o sargento.

De folga e à paisana, ele teria dito que já sabia do assalto - surpreendendo o soldado - e contou que perseguiu o ladrão por um matagal que fica próximo ao quartel, mas o bandido conseguiu escapar em um carro escuro. [...] Dois PMs iniciaram buscas pela região e localizaram uma bolsa em um galpão atrás do terreno do quartel. Dentro encontraram roupas, máscara, arma, lacres plásticos, uma placa bocal -possivelmente para alterar o timbre de voz - e uma par de tênis. De pronto os PMs reconheceram a bola e o calçado como sendo semelhantes aos que o sargento [...] usava quando ia jogar futebol com os colegas.

Depois de ter simpatizado com Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, Meu nome é Jonny, Butch Cassidy, Bonnie and Clyde, essa turma toda de filmes que dão visões idílicas de desajustados que, no final das contas, não apresentam perigos como os políticos contemporâneos. Na sociedade igualitária, essa turma poderia desde atuar no cinema, filmando as tragédias da vida de terceiros, a fazer roteiros, a serem professores de ensino pré-universitário. Bonnie poderia ser a Gisele Bünchen daqueles tempos, e Sundance Kid poderia ser professor de violino. O sargento poderia ser mesmo sargento, só que ganhando salário decente, em um país decente em que a vida digna não é uma conquista, mas um direito.

DdAB

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