Temos aqui nesta figura duas curvas, a azul delas constou do rodapé da postagem de ontem. A série 1 mostra a plotagem das taxas de crescimento anual do PIB da economia brasileira a cada 30 períodos, desde 1930 até 2011. Ou seja, a ordenada de 1930 é a taxa geométrica observada entre 1900 e 1930, o 1931 pega o 1901 e o 1931, e assim por diante. A série 2 mostra as taxas simples ano a ano, ou seja, o primeiro ponto mostra a razão entre os PIBs de 1930 e 1929.
Ontem assinalei, observando livremente a série azul, que o ápice daquela "parábola" (agora um pouco mais esbatida) de crescimento a cada três décadas superior a 7% ocorreu entre os anos 1972 e 1981. Mas o que preocupa é a séria de taxas de crescimento anual entre 1968 e 1976: apenas o 1975 abaixo de níveis "chineses". Eis as cifras:
1968 | 1969 | 1970 | 1971 | 1972 | 1973 | 1974 | 1975 | 1976 |
9,8 | 9,5 | 10,4 | 11,3 | 11,9 | 14,0 | 8,2 | 5,2 | 10,3 |
Penso que há um erro por aqui. Meu ou do IPEA. Nunca se falara que o Milagre Brasileiro ocorrera entre 1968 e 1976. Ao contrário, o final oficial era 1972 e eu já observara as cifras deixando claro que a última taxa maiúscula era 1973. Em meu artigo "Industrialização e Duplo Deflacionamento: Reavaliando o Milagre Econômico Brasileiro". Nova Economia. V. 9, n.1, p.9-28, 1999", mostro que existe, bem naquele período do Milagre, uma grande diferença entre o crescimento do PIB e o crescimento da oferta total. Esta última é, como sabemos, usada pelo IBGE (e também pelo Handbook of National Accounts, da ONU). Mas sabe-se lá como aquele 14% de 1973, por exemplo, foi calculado. Um dia precisamos indagar ao IBGE, claro.
Ao pensar mais no gráfico de ontem (linha azul, em outra escala, na figura acima), dei-me conta do que significa meu treinamento enquanto economista ser mais afeito ao ambiente micro-meso e não ao macro. Harrod, Barrod e Ormerod, para mim, tudo é a mesma coisa: crescimento de longo prazo, que não sou especializado nestas coisas. Como tal, para mim, tudo é tão simples: educação muda as instituições que mudam a educação que muda as instituições. E instituições saudáveis garantem ambiente propício à inovação e ao crescimento econômico. Mas tem ainda mais: o próprio investimento, a meu ver, não cresce em resposta à má vontade e ânsia de manter a corrupção por parte dos governantes.
Por fim, se a economia cresce 7,017% ao ano, ela dobra a cada 10 anos. Ou seja, no final de 2022, não terei apenas uma cadeira para sentar e um computador para escrever, mas duas e dois. A casa era de dois quartos? Pois passa a ser de quatro. Ou, se quiser ficar com apenas uma e um, terei outros bens, possivelmente que nem sequer foram inventados as yet. E tá aqui o exercício que, para um rapaz da mesoeconomia, só pode apontar a má vontade das elites, hehehe:
0a | 0b | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 |
20,0 | 25,0 | 26,8 | 28,7 | 30,8 | 33,0 | 35,3 | 37,9 | 40,6 | 43,5 | 46,6 | 50,0 |
80,0 | 75,0 | 80,4 | 86,1 | 92,3 | 98,9 | 106,0 | 113,6 | 121,8 | 130,5 | 139,9 | 149,9 |
100,0 | 100,0 | 107,2 | 114,9 | 123,1 | 131,9 | 141,4 | 151,5 | 162,4 | 174,0 | 186,5 | 199,9 |
Quero dizer: o Brasil de hoje tem a taxa de investimento sobre o PIB da ordem de 20%. Se mudássemos instantaneamente (o presidente do banco central?) para 25% e jogássemos um pacote sobre a construção, a educação, as professorinhas, essas coisas, fazendo essa turma crescer a 7,017% ao ano, mesmo mantendo a taxa de investimento em 25% do PIB (elevada para sempre), chegaríamos no dobro do bem-estar material lá em 2022. Alguém tinha que ir para a cadeia, e não acho que fosse o Planeta 23.
DdAB
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