16 dezembro, 2009

Fetichismo do fetichismo: a mercadoria e suas alternativas

Querido Blog: Falo hoje de comentários que recebi relativamente à postagem das 10h28min de 13/dez/2008.

.A. Sobre princípios gerais.
.a. eu não diria que minha concepção é liberal principalmente porque escrevi em meu perfil do blog: “meu dedinho indicador, ao apontar para a esquerda, sinaliza o sentido correto da evolução planetária.” a menos, claro, que entendamos por “liberal” quem preza como valor supremo a liberdade. neste caso, encaixo-me naqueles que propugnam pela “sociedade justa” de John Rawls (liberdade compatível com a dos demais, cargos púbicos abertos a todos, e desigualdade gerida de modo a favorecer os mais pobres).
.b. sou mesmo é da esquerda refinada, que substituiu com visíveis vantagens liberatárias a esquerda troglodita e a esquerda truculenta, dois movimentos que apoiei num passado remoto e hoje abomino.
.c. acredito que o mercado forma um tripé com “comunidade” e com “estado” para agregar preferências coletivas. acredito que a comunidade iniciou o assunto e o mercado a seguiu, sendo apenas num momento posterior, permitido pelo desenvolvimento da produtividade do trabalho, que surgiu o estado. concordo que a “produção social é determinada pelas necessidades humanas.”, que as necessidades são ilimitadas e que -disse Engels- “liberdade é conhecimento da necessidade”. e que apenas depois de vencidas as “necessidades da mão para a boca” é que o homem ingressará na fulgurante história de sua espécie. no futuro. ainda vai demorar.
.d. penso que, mesmo no capitalismo, descontada a produção doméstica, nem tudo é orientado pelo mercado. por exemplo, a produção de bens públicos é eminentemente comunitária ou governamental. ainda assim, sigo Marx ao desejar substituir “o governo dos homens pela administração das coisas”. sou contra o estado, eu e Lênin. achamos que o estado serve para oprimir os indivíduos.
.e. penso que podemos “[p]ensar em uma população com poder de compra no capitalismo”, como o atesta o padrão de vida dos trabalhadores dos países capitalistas avançados. ou seja, penso que não devemos confundir “capitalismo subdesenvolvido” com “capitalismo”. e mais: penso que o verdadeiro vilão da classe trabalhadora brasileira não são as empresas multinacionais, mas a classe dominante brasileira: coronéis, juízes, prefeitos, vereadores e por aí vai. penso que aquela visão de exploração do Terceiro Mundo (teoria da dependência) e, ainda pior, a tese de Ruy Mauro Marini não se sustentaram.
.f. concordo que “pensar em uma sociedade de pleno emprego, no capitalismo, é sonho.” e mais ainda, sonho indesejável. não haverá emprego para todos, dados os enormes ganhos (desenvolvimento das forças produtivas) já alcançados pela humanidade e os que se avizinham, digamos, nos próximos 50 ou 100 anos. penso que não precisamos mais perder tempo discutindo a distribuição do produto (capitalistas e trabalhadores) e passar a discutir a distribuição da demanda final (consumidores pobres e ricos, por exemplo).
.g. a sociedade que eu defendo não distribui o valor adicionado entre os ricos, não. eu defendo a sociedade igualitária, onde não haverá ricos! como chegar a ela? por meio de políticas públicas a serem implementadas pelo governo! até que o igualitarismo se torne tão dominante que o próprio governo será convidado a aposentar-se.


B. sobre o mundo empírico, o que tenho chamado de realidade realmente real, baseado num livrinho de introdução à filosofia que li em 2005.
.a. casos de Florianópolis e de Arruda. creio que nenhuma “concepção liberal” criaria o silogismo:
M: todo político é ladrão
m: ora, todo ladrão é político
C: logo todo político e todo ladrão são farinha do mesmo saco.
.b. minha vivência em Floripa permite-me dizer que todo o político catarinense é ladrão, o que é apenas um caso particular da premissa maior de meu (encantador) silogismo. nem lembro se no presente teremos por lá um prefeito ou uma prefeita. ambos, a meu ver, são filhotes da ditadura, como teria dito um controverso político sulista.
.c. também concordo que “outro mundo é possível”. e também que “a experiência socialista não foi abandonada pela humanidade.” o que eu digo (aprendi com meu ex-colega de Floripa, o Prof. Gerônimo Machado) que o que queremos mesmo são as reformas democráticas que conduzam a ele-socialismo. para muita gente, hoje em dia, está mais claro o que não é socialismo. por exemplo, a nacionalização de todas as empresas pelo estado, a cessão da gestão aos trabalhadores, isto não é o socialismo que desejamos.
.d. o que não entendo é como poderemos avançar se nem por aqui nos entendemos. acho um grande erro da humanidade haver uma fração dela que me considera como fazendo ato de fé no mercado. logo eu que fui obrigado a estudar os limites do mercado enquanto forma interessante (sob o ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas) para resolver “todos os problemas da vida social”. sei que há várias ironias sobre o mercado, a maior delas é que a empresa existe, pois o uso do mercado é custoso. outra é que a produção de bens públicos burla o mercado, outra é que o monopólio também. outra é o chamado “crowding out” da oferta: tentaram vender sangue na Inglataterra e o que ocorreu foi que muita gente que doava por “cidadania” achou mais interessante não gastar aquele tempo e energia, já que “outros” poderiam vender.
.e. admiro o diálogo Habermas-Rorty, que procuraram, por meio da “ação comunicativa” buscar pontos de convergência e não de repulsão.
.f. precisaria conversar mais para entender que erro é mesmo esse que a “história mostrou” sobre o mercado que não tenha sido amplamente analisado por Marx, que foi um dos maiores apologistas dos ganhos da humanidade sob o capitalismo, sob o ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas.
DdAB


TWITTER: acabo de, desconfiado da autoria da frase do "governo dos homens" à "administração das coisas", passar a suspeitar que minha memória falhou rotunda, estrondosa e vibrantemente. eu disse que era Marx e a "Crítica ao Programa de Gotha". achei o arquivo deste folheto, em inglês. procurei do jeito que melhor pude. a "Crítica" é interessante por si. mas não achei nada parecido. procurando em português, li que ela -frase- é atribuída a Saint Simon. neste caso, terei lido de segunda mão, no próprio Marx ou nos milhares de livros da Editora Zahar que contavam a história do marxismo. ou elsewhere.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que a liberdade e o capitalismo são desejadas atuando em conjunto, isso eu concordo. Ninguém, ou pelo menos os de sã consciência dirão nada contra. O problema que não podemos ver somente os benefícios e avanços, mas também os custos dessa existência.

Abraços e valeu pelo comentário.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, Daniel:
não estavas entando em férias? (rsrsrs). o que eu tenho dito é que o capitalismo acabou há mais de 15 dias... o sistema em que vivemos (suíços e ugandenses, uruguaios e silesianos) foi chamado por Félix Guatarri de "capitalismo mundial integrado". eu o entendo como maravilhoso sob o ponto de vista da busca da eficiência produtiva, mas medíocre nos demais conceitos de eficiência: alocativa e distributiva.
DdAB

maria da Paz Brasil disse...

Ôba! adorei!

principalmente: "sou mesmo é da esquerda refinada, que substituiu com visíveis vantagens liberatárias a esquerda troglodita e a esquerda truculenta, dois movimentos que apoiei num passado remoto e hoje abomino."

e "penso que não devemos confundir “capitalismo subdesenvolvido” com “capitalismo”. e mais: penso que o verdadeiro vilão da classe trabalhadora brasileira não são as empresas multinacionais, mas a classe dominante brasileira: coronéis, juízes, prefeitos, vereadores e por aí vai. penso que aquela visão de exploração do Terceiro Mundo (teoria da dependência) e, ainda pior, a tese de Ruy Mauro Marini não se sustentaram."
:) MdPB

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

sou da Paz! amada garota! depois de teu comentário ao inicial, escrevi um pouco pensando em ti. eu já andei pensando/postando na ordem lexicográfica das "reformas democráticas que conduzam ao socialismo". dado que já há conquistas no Brasil, sempre começo falando no voto voluntário, voto distrital e orçamento universal. depois digo o resto.
DdAB