27 setembro, 2022

Que Será um Bucajá?

 


No dia 23 de setembro corrente, publiquei esta imagem e o texto que segue no Facebook:

Faz um dia que o amigo feicebuquiano Alfredo Pereira Jr. deu-me uma lição que resolveu um dos mais sérios problemas existenciais de minha condição. E que persistiu até ontem, digamos, por uns 40 anos: ele mostrou a imagem de um "umbu-cajá". E eu ouvia Alceu Valença falar no "beijo travoso de um bucajá". Agora sei: se eu quiser dar ou receber beijos travosos, nada melhor que sair na busca do umbu-cajá. Ainda assim, parece-me que "Bucajá" seria um bom nome para um cão ou um gato domésticos.

DdAB
cz

22 setembro, 2022

Ucrânia Invadida

 


Fiquei tão doido com as renitentes ameaças de lançamento de artefatos nucleares sobre... sobre quem? A Ucrânia? Os Estados Unidos? A França, a Turquia? sabe-se lá. Tão doido, enfim, que escrevi no Facebook há pouco:

Duilio De Avila Berni

MAD: os loucos que apostam na "mutual assured destruction". Mas tem gente que não sabe:
Putin: "tasca a mão com a gente e podemos explodir vocês."
Biden: "o mundo inteiro pode ser destruído".
Moral: só a esquerda belicista pode apoiar um louco que fica ameaçando o mundo por querer apropriar-se da Ucrânia.
O lado alegre é que a gente precisa viver o momento, pois não sabemos nem se estaremos vivos para podermos livrar-nos de Bolsonaro no dia 2 de outubro.

E houve por bem trazer para cá, com o mapa das áreas invadidas. E por que tão doido? Pois não consigo entender como a esquerda belicista não consegue entender que a ameaça à paz mundial é motivo para fortes reações pessoais e institucionais. Putin é um doido paranoico que só se mantem no poder na URSS, digo, na Federação Russa por causa do ralo desenvolvimento institucional que foi legado pela URSS.

DdAB

16 setembro, 2022

Further Farther from Clarissa: Música ao Longe



Alta probabilidade que aquele "further farther" deve estar errado, mas a língua inglesa está mesmo precisando de renovação desde, pelo menos, o passamento da Rainha Elisabeth II. O assombroso noticiário que sucedeu-a na finalidade de sua vida comoveu-me e voltei a lembrar de áureos tempos vividos na Inglaterra, Reino Unido. Beatles e Rolling Stones, e nem precisava mais, mas veio mais um monte da turma eterna do roquenrou. 

A Rainha Elisabeth não tinha nem mesmo 40 anos de reinado quando fui para Oxford estudar economia política do desenvolvimento (epa!, título do livro de Paul Baran) com o finado Andrew Glyn. E se algo de majestoso aprendi com ele foi que a variável chave do igualitarismo é o emprego, naquele círculo de virtudes descritas pela matriz de emprego derivada da matriz inversa de Leontief. Tem pilhas de postagens neste planeta (o 23, claro) explicando essa viagem L = d x B. L é um vetor em que cada elemento contém o emprego direto e indireto para a produção de determinada mercadoria, d é uma matriz diagonal cujo elemento característico é a razão entre a produção do setor de que tratamos e o valor que ele produz. Finalmente B é a afamada matriz inversa de Leontief na qual cada elemento mostra os requisitos diretos e indiretos apropriados por por nosso setor para a produção de nossa mercadoria.

Não quero falar nisso, porém, mas falar em mais um traço formidável de meu intelectual de esquerda preferido. Quem conhece/u Glyn e seu magistério em Oxford, sabe que, pelo menos uma vez por ano, ele ditava lições de HPE - história do pensamento econômico. Um dia, em plena sala de aula do prédio da Faculdade de Estudos Sociais da George St., entrou na roda o nome do também notável economista britânico William Petty. Alguém indagou se ele já havia lido Petty e ele disse algo assim: "gosto de ler antigos economistas para tentar entender no que aquela turma pensava". 

Na linha do budismo, aquela sentença, para mim, foi uma revelação! A gente lê outras obras de outras pessoas e começa a se indagar como foi que el@ disse exatamente aquilo, o que @ levou a dizê-lo.

Agora, que já li em minha leitura de outono deslocado "Clarissa", passei de imediato a ler "Música ao Longe" na edição da Companhia das Letras, com um prefácio do próprio Érico que joga essa obra no rodapé de suas conquistas literárias. Mas não esmoreci. Sigo lendo e lerei até o fim. Talvez pulando as reflexões em itálico feitas pela normalista Clarissa (o cara não sossega e, no "O Tempo e o Vento" tem as confissões de Sylvia, também em itálico que, volta e meia, nas releituras, vou pulando).

No final da página 30, in fine, Clarissa entra na "sala de estar do casarão dos Albuquerques" (Ver nota 1). Ela pensa:

   Ali estão as grandes poltronas vazias, com florões e grinaldas em relevo; a mesa pesada e longa de jacarandá com a sua coberta de veludo escuro, o consolo de mármore branco estriado de  azul, sobre o qual branqueia uma estatueta de d. Pedro II. No centro da parece, o grande espelho oblongo - lago morto refletindo uma paisagem morta.

Nesse ponto, flagrei-me pensando: "Então era isso que Andrew queria dizer sobre entender como que aqueles ancestrais profissionais pensavam". E segui: "Esse é o mundo criado por Érico. E mesmo que aquela sala de jantar tenha sido a sua em Cruz Alta ou na casa de Petrópolis de Porto Alegre, ou em suas duas ou três ou nove moradas nos Estados Unidos, ou em algum outro canto do universo e não fruto exclusivo da imaginação, parece-me lindamente ilustrativo. Tem muito detalhe, tem muita empatia crítica. Foi aí onde viajei.

E não pude me furtar de pensar: "paisagem morta?" Só se Lula não vencer Bolsonaro nas urnas.

DdAB

Nota (1) Nos tempos antigos, talvez há mais de 50 anos, lendo tudo o que pude de Érico Veríssimo, invoquei-me com esse tipo de construção: os Albuquerques, os Avilas, os Bernis, e por aí vai. Mas um dia me dei conta de que o adjetivo concorda com o substantivo. Ergo, se o adjetivo está no plural, quem o está regendo é precisamente um substantivo no plural. E assim guardei até hoje, quando essa regra de concordância nominal é quebrada por todo mundo, inclusive por mim.

P.S. A imagem é daqui.

12 setembro, 2022

Que Fazer com R$ 3.000 ou 30.000


Vim a saber que existem certas doenças cuja medicação custa R$ 3.000 por mês. Ao manifestar meu espanto ao narrador dessa triste história, ele disse que isso não é nada, pois há muitos remédios de R$ 3 por mês. Ri, satisfeito, pensando que esses sim é que ajudam a formar a sociedade igualitária. Mas minha satisfação durou pouco, pois o narrador falou em outro medicamento que requer R$ 30.000 para fazer o tratamento por esses 28 ou 29 ou 30 ou 31 dias.

Como sabemos, R$ 30.000 é mais que o faturamento mensal de um juiz do supremo tribunal, e a eles seguem todos os demais enfarpelados do governo, nos encastelados nos três poderes da república. O único poder realmente em falta é o poder do imposto de renda, para não falar no combalido poder popular.

Pois então. Se um juiz pode pagar seu remédio por um mês, que dizer do antigamente chamado Zé Ninguém, que ganha um salário mínimo que apenas em 2023 chegará em R$ 1.300? Que posso dizer? Que será apenas com a sociedade igualitária que veremos esse arco de rendimentos assumir (em não muito menos de 20 ou 30 anos).

E quais as virtudes da sociedade igualitária? Há controvérsias. Eu mesmo considero que ela é a única forma de governança que garantirá não apenas vida eterna a tod@s, mas principalmente meios para fugirmos ao colapso do Sol, à expansão de nosso rei dos astros, buscando tornar-se uma gigante vermelha. E que dizer, para finalizar, da possibilidade tétrica de que Bolsonaro seja reeleito presidente da república? Digo: 30.000 vezes pior que o colapso do Sol. Ou 30.001 vezes e até mais. Esse evento trágico iria, felizmente não irá, afastar-nos ainda mais do mundo igualitário, beneficiando os mesmos de sempre.

Tenho dito que chamar Lula de ladrão é, primeiro, olvidar que os malfeitos que apareceram durante o lulismo se deveram precipuamente à liberdade de ação que o presidente ofereceu ao Ministério Público e à Polícia Federal. Segundo: chamando-o de ladrão, lança-se poderosa cortina de fumaça sobre os malfeitos desde sempre da família Bolsonaro, agora culminando com a acusação de ter pago 51 imóveis com dinheiro vivo.

DdAB

11 setembro, 2022

Elisabeth Regina: observações pessoais

Conheci várias gurias chamadas de Elisabete Regina, umas quatro só em Jaguary. E, por outro lado, um dia lá no antanho, lendo a lista de aprovados no vestibular da Universidade de Caxias do Sul, encontrei uma garota chamada de Doroti Malone (Dorothy Malone, *29.jan.1924; +19.jan.2018). E o jogador de futebol Alandelon (Alain Delon, *8.nov.1935), do Esporte Clube Vitória. Este jogador, a.k.a.Allan Dellon Santos Dantas, nasceu em Vila Velha aos 16 de fevereiro de 1979.

Elisabeth Regina é a Elisabeth II (*26.abr.1926; +8.set.2022). Ao nascer (!), era filha do Duque e da Duquesa de York, depois tornado Rei George VI, acompanhando-o a Rainha Elisabeth (Queen Mother, como dizem). A rainha-mãe foi mais longeva que a rainha filha, pois viveu quase 102 anos. A então futura rainha casou-se com o já Príncipe Phillip, que ainda ganhou o título de Duque de Edinburgh.

O Rei George VI ascendeu ao trono em 1936, pois Edward VIII, seu irmão, abdicou do trono britânico. Esta saída e a entrada tornaram Elisabeth Alexandra Mary a primeira herdeira na linha sucessória. 

Como sabemos, o late Mr. Andrew Glyn, meu inesquecível orientador do doutorado, era filho de um barão e presumo que tenha deixado o título em vida para seu filho do primeiro casamento Barão Miles Glyn. O primeiro Barão Glyn é citado no Capital, de Karl Marx.

Pois então. a Princesa Elisabeth casou com o Príncipe Phillip em 20 de novembro de 1947. Em 1952, ela ascendeu à condição de rainha e foi coroada em 1953.

Com meus pouco mais de quatro meses de existência, não fui ao casamento por falta de convite. O noivado foi proclamado em 9 de julho de 1947, agora sim, eu tinha um dia de vida e não pisei, por assim dizer, nos salões do festejo por razões óbvias.

Pois então II. Cometi meia dúzia de erros na postagem de 9.set.2022 que fiz no Facebook. Um quarto de dúzia, pelo menos, deveu-se a minha parca visão, dado que porto óculos de lentes vencidas (o que vou corrigir em breve). Primeiro, a legenda da foto que lá nos sucedeu e aqui nos antecede - vejo com o auxílio de uma lente de aumento é:  

A FAMÍLIA REAL - o Rei e a Rainha da Inglaterra, vendo-se também as duas princesas inglesas. [Elisabeth e Margareth, claro]. 

Segundo: então podemos formar uma linha do tempo com eventos selecionados:

1926 - nasceu Elisabeth.

1936 - seu pai tornou-se rei.

1946 - um ano que passou batido, com eventos que mereceram destaque no Anuário A Nação.

1947 - deu ensejo ao lançamento do Anuário A Nação correspondente ao ano de 1946.

Quem está na foto? O rei, a rainha e as princesas Elisabeth e Margareth. E quem eu pensei? Pensei? Apressei-me... Pensei que já fosse a Elisabeth casada com Phillip.

E que faço agora? Peço desculpas a minhas/meus leitor@s. E prometo fazer a consulta a@ oculista.

DdAB

P.S. Na postagem no Facebook, recebi o corrigendum de Claudio Medaglia e Luciano Feltrin.

07 setembro, 2022

Clarissa de 1933 e as Eleições de 2022


No tresontonte (dia 5/set/22), fiz uma postagem falando em Clarissa, ou melhor, em "Clarissa", o primeiro romance de Érico Veríssimo publicado em 1933. E hoje faço outra... Daquele TOC que me impele a fazer leituras de Érico a partir do outono, livrei-me, pois este ano estou iniciando a fazê-las beirando a primavera... E me sinto feliz ao inserir esta leitura no meio de dois ou três outros livros. Cada um deles tem seus momentos de minha predileção locacional (cama, sala, banheiro...).

Neste momento pré-eleitoral, achei uma jura que deve levar-nos a pensar em que tipo de Brasil queremos não apenas para o dia dos 200 anos da independência, mas especialmente qual a herança que queremos deixar e a que deixaremos para as gerações futuras. Nos 150 anos, fez-se um daqueles hinos civis de louvor à ditadura militar: "o Brasil faz coisas que ninguém imagina que faz". Se naquele tempo eu não imaginava, hoje tenho bem claro: 50 anos e o traço básico da desigualdade, do viés na oferta de oportunidades, segue perfeitamente igual. Houve melhorias, é certo, e muitas delas não duram 10 anos e já vem novo retrocesso.

"Clarissa" é um romance romântico, mas também tem suas pegadas de filosofia política. Vejamos uma, residente nas páginas 91-92. Dona Eufrasina (a.k.a. Zina), tia de Clarissa leva a garota à missa. Na saída, o autor inicia o assunto que com uma espécie de discurso indireto livre:

Moleques apregoam os diários. Clarissa acha graça nos vendedores de jornais. Têm uma voz grossa, rouca, disforme, parecem todos papudos, pescoços descomunais, de veias dilatadas. E como pronunciam o nome dos jornais que vendem! Dizem as palavras pela metade. Gritam:

-rrê... dia... amanhã!

Ou

-Corrê-m'nhã!

-Tia Zina, que engraçados esses guris que vendem jornais!

D. Zina encolhe os ombros:

-Não vejo nada de engraçado. São uns pobres diabos que desde pequenos andam lutando pela vida. Não são como outros que conheço que não fazem nada por achar trabalho.

Clarissa sorri.

Isto é com o tio Couto - pensa. -Também acho, coitado, não tem culpa. Não trabalha porque não acha emprego.

Não deixa de ser a expressão de visões (d. Zina e Clarissa) que se complementam: não tem emprego para todos, nunca teve. Nem haverá!

-Não haverá?, indaga o Planeta23.

Depende. Depende da entrada do país no modo igualitarista de funcionar. Sendo a variável chave do igualitarismo precisamente o emprego, monta-se um círculo virtuoso: o emprego de policiais para prender os políticos agatunados requer infra-estrutura: cadeia, manutenção dos prédios, restaurante, lavanderia. A manutenção dos prédios requer gente, talvez casada, com filhos. Os filhos vão estudar clarinete, além da escola tradicional. A professora terá filhos que poderão usufruir de uma visitinha ao Beto Carreiro. O vendedor de cachorro-quente do Beto mandará o filho à escola, à aula de violino, e por aí vai.

A maneira de se construir uma sociedade igualitária é escolher governos social-democratas, que o neoliberalismo já mostrou que nem se preocupa com a desigualdade,tampouco -menos ainda- querendo a igualdade. Isto implica logicamente que no dia 2 de outubro não temos alternativa a não ser votar em Lula-13.

DdAB

A imagem é, pelo que me consta, da cantora Clarissa. E nada mais sei. Ia escolher a Clarissa Garotinho, mas -bem devia suspeitar- é candidata pela União Brasil a algum cargo pelo estado do Rio de Janeiro.

05 setembro, 2022

Um Voto Literário


 

Estamos em plena campanha eleitoral, quando vamos eleger Lula como presidente da república de 2023 a 2024, e, então, teremos nova copa do mundo de futebol. Parece óbvio que votar em Lula é uma obrigação ética de todos os brasileiros que ficam inconformados com os bolsonaristas xingarem Lula de ladrão, mesmo sabendo que foi ele que agilizou os mecanismos de investigação dos malfeitos. E que a família -alguns falam em 'famiglia'- Bolsonaro é bastante aquerenciada e beneficiada como uma rapaziada amiga do alheio.

Em compensação não quero adentrar-me na seara política neste quintalzinho em que pretendo tornar esta postagem. Quero falar de um voto -não na eleição, mas- no sentido metafórico ligado ao mundo religioso, conforme aprendi com o dicio.com.br:

a) Promessa que, de modo solene, se faz a certa divindade (santo).

b) Aquilo que se faz para pagar (cumprir) uma promessa.

c) Tipo de dever ou compromisso que se assume, de modo voluntário, em adição ao que já se encontra estabelecido pelas normas de uma religião.

Embora eu não seja religioso, faço minhas promessas no sentido de fortalecer meu processo decisório, comprometendo-me (commiting myself) com certas ideias ou ações. Por exemplo, há alguns anos, fiz um voto de ler minha obra selecionada de Érico Veríssimo nos sucessivos outonos de minha vida (ver aqui). Claro que já desisti, claro que não consegui. Mas agora, com a primavera apitando na curva, recomecei a seguir a promessa, lendo "Clarissa". Vejamos até onde percorrerei essa encrenca.

Em tempos de incertezas gerais (Putin vai ser escorraçado da Ucrânia-Crimeia? Lula vai ganhar no primeiro turno? No segundo? etc.), achei oportuno quebrar a ansiedade que me traz um romance/novela nov@ quando percorro um trajeto já conhecido. E saboreando o prazer que emerge de sucessivas leituras. Na postagem que indiquei, na condição de "meu primeiro Érico", temos: 

.a. Clarissa (1933)
.b. Música ao Longe (1935)
.c. Caminhos Cruzados (1935)
.d. Um Lugar ao Sol (1936).

E que achei neste início de leitura de "Clarissa"? Algo interessante, que se liga a viajações que fiz sobre meus plágios, ou até mais benevolamente, as influências de minhas leituras literárias na expansão de meu vocabulário. Então agora achei na página 21 da edição (sem data?) da Companhia das Letras o verbo "besuntar" de que já falei na postagem de 2012. Mas também falei sobre "meus plágios" em 2015 e talvez até em outras datas. Aqui estão elas:

https://19duilio47.blogspot.com/2012/06/plagiario-eu.html
e aqui:
https://19duilio47.blogspot.com/2015/09/mais-plagios.html),

Moraleja: Ler e reler faz a gente pensar e repensar.

DdAB