30 agosto, 2022

Crenças, Escolhas e Política

 


Que seria de nós sem nossas crenças? Creio que estamos no mês de agosto e penso que poderemos comer uma macarronada ao jantar. Creio que acordei, que arrumei a cama, que lavei o rosto (esperando o café para -apenas depois- lavar os dentes e não enxaguar a boca, pois creio que o fluor do creme dental veio proteger-me da proliferação de streptococus mutans, como se diz hoje, o bichinho da cárie 

Creio-te que te creio. Creio em tanta coisa que nem penso a respeito da maior parte das crenças e até que talvez seja mais fácil listar nomes em que não creio. Que o centro da Terra é oco, que no centro do Sol tem uma fogueirinha com nó de pinho atiçada pelos sete anõezinhos, que vou e voltarei da praia sem acidentes, sem incidentes.

Se pudesse quantificar a probabilidade de acidentar-me, eu poderia adiar o passeio ou mesmo avaliar se é um risco aceitável. Digamos que eu o aceite riscos de até 1% [lembrar que caí na amostra do censo demográfico de 2022, uma probabilidade de 5%, ou seja, uma a cada vinte residências respondiam o questionário ampliado]. Creio em probabilidade (pero no mucho). Essa viagem de 1% leva-me a filosofar se é mesmo segura, pois o que estou lendo é que poderei ter um acidente a cada 100 viagens, o que daria uma zebra a cada dois anos das viagens semanais. E também poderei ter, mas não tendo...

E se p = 0,0001 O "mil invertido" é 1/1.000 ou 0,001, o que dá para ler aquele p = 0,0001 como um décimo de milésimo. Ainda assim, pode não acontecer, mas é provável que ocorra, tipo um acidente de trânsito com danos materiais. Mas com p menor, entendo que um incidente/acidente ao longo de toda a vida não vai me fazer desistir da praia. 

E será que eu creio em Deus? Se houvesse prova de sua existência, não precisaria crer [ouvi esta sensacional ideia na TV dita pelo padre Fábio de Melo]. Bastaria dar uma olhada na forma com que essa prova foi obtida. Crer, como nos micróbios ou na fusão nuclear no centro do Sol.

Ainda assim, um cético poderá indagar o que me leva a crer nas provas que aprendi nos livros. Nesta linha devemos indagar o grau de validade de eventos que não podem ser provados, ou melhor, não podem ser justificados.

Como todos sabem, tento especializar-me em "introdução à filosofia", lendo e relendo uma boa meia dúzia de livros, ergo, introdutórios. Um deles de que já falei aqui:

ALMEIDA, Aires e MURCHO, Desidério (2014) Janelas para a filosofia. Lisboa: Gradiva. (Coleção Filosofia Aberta, 26).

Pois então. Estamos no capítulo "Fundamentos da Fé" e chegamos na página 144 onde, na seção inicial, intitulada "Acreditar sem provas", lemos:

[...] a crença em Deus envolve afectos profundos de reverência, por exemplo, o que significa que a fé é muito mais do que a mera crença. Além disso, é pela fé que se sustenta a crença em Deus e não pela razão, pelo que crer sem provas é perfeitamente adequado.

Agora vamos mais a fundo nas alongadas considerações iniciais que fiz. Então estamos falando agora em, título da seção, "A fé como risco". E os autores começam com uma citação de Soren Kierkegaard:

Sem risco, não há fé. A fé é precisamente a contradição entre a paixão infinita da interioridade do indivíduo e a incerteza objectiva. Se eu for capaz de apreender Deus objetivamente, não acredito; mas precisamente porque não posso fazer isto, tenho de acreditar.

Bem na linha do que falei sobre a frase do padre Fábio de Melo. Sem a ambição de transcrever todo o livro para o Planeta 23, falarei apenas de William James, das páginas 146-147 do livro. Como sabemos, James (1842-1910) é um dos mais importantes filósofos pragmáticos americanos (e do mundo...). Em 1896, ele escreveu "A vontade de acreditar", que serve de epígrafe para a seção que estamos lendo:

A tese que defendo é, em poucas palavras, a seguinte [itálico no original] a nossa natureza passional não só pode, legitimamente, como deve decidir uma opção entre proposições, sempre que se trata de uma opção genuína [negrito adicionado por mim] que não pode, pela sua natureza, ser decidida numa base intelectual.

Seguem Almeida e Murcho (p.147):

James pensa que as opções genuínas são diferentes dos outros tipos de opções. Considere-se, por exemplo, a opção entre acreditar ou não que há extraterrestres. Para muitas pessoas, esta é uma questão interessante, mas não é uma opção genuína, no sentido em que nosso interesse é meramente intelectual, digamos. Em contraste, quando uma opção é genuína, [ela] tem três características: é uma opção viva, momentosa e forçosa.

Para  ver o que é uma opção viva, contraste-se a opção entre acreditar ou não na divindade cristã, para um europeu, e a opção entre acreditar ou não em Zeus, ou nas divindades egípcias. O primeiro caso, para um europeu é uma opção viva, mas o segundo é uma opinião sem qualquer força. Uma opção é viva quando nos afecta emocionalmente, quando é muito mais do que uma mera questão intelectual.

Quanto à noção de momentosa, considere-se a opção entre acreditar ou não que devemos mudar o óleo do motor do carro quando está quente. Esta não é uma opção momentosa porque nenhuma das duas opções é particularmente importante. Pelo contrário, no que respeita a Deus, a opção é muito importante, quer acreditemos quer não, pois é de suma importância saber se somos fruto do acaso num Universo indiferente, por exemplo, ou se existe uma divindade providente que nos criou a nós e ao Universo com propósitos definidos.

Por fim, o que é uma opção forçosa? Imagine-se que alguém nos oferece um emprego muitíssimo bom, mas se não respondermos no prazo de três horas, perdemos a oportunidade. Neste caso, ficar indeciso e sem tomar posição é equivalente a rejeitar a oferta. James defende que optar ou não pela crença religiosa é semelhante a este caso: ser ateu é o mesmo que ser agnóstico, no seguinte aspecto: em ambos os casos, não acreditamos em Deus. Por isso a crença em Deus é uma opção forçosa.

Recapitulando, uma opção é genuína quando tem estas três características, e James pensa que é precisamente o caso da crença religiosa. Ora, James defende que, no caso das opções genuínas, é adequado acreditar sem provas, (desde que não tenhamos também provas contrárias). Mas é adequado porquê? Porque, se não o fizermos, perdemos a possibilidade de acreditar numa verdade de suma importância só porque temos medo de ter uma crença falsa.

Um segundo argumento de James a favor da adequação da crença sem provas parte de uma analogia com outros tipos de crenças motivadoras, a favor das quais também não temos provas. Por exemplo, a Daniela é chamada para um emprego muitísismo bom, mas tem de fazer várias provas de seleção difíceis. Caso não acredite que será bem-sucedida nas provas, isto acabará por ter um impacto negativo no seu desempenho. Como acontece no caso dos desportistas, convencemo-nos a nós mesmos de que seremos bem-sucedidos contribui, em muitos casos, para o sucesso. Caso nos limitemos a avaliar as provas disponíveis, suspendendo a crença, teremos uma maior probabilidade de insucesso.

Em seguida, os autores fazem duas críticas à visão de William James que deixo para mim mesmo como teste de compreensão do tema, de sorte a fazermos por nós mesmos a crítica.

Que podemos tirar dessas digressões sobre a fé, com ênfase na crença na existência de Deus, sobre a política e o voto de 2 de outubro para presidente da república? Sim: crer que o bolsonarismo pode resolver os problemas brasileiros é realmente não saber quais exatamente são eles. Tenho insistido há talvez 35 anos,  que o verdadeiro problema do Brasil é a desigualdade. Da constatação de que acreditar na capacidade do bolsonarismo não é uma opção genuína, podemos simetrizar as três características (opção viva, opção momentosa e opção forçosa) e ver como pessoas racionais irão afastar-se dessa visão de mundo que leva a mais fome, miséria e imperialismo:

a) contestar o bolsonarismo é uma opção viva, pois nos afeta intelectualmente, por exemplo, a tristeza pelas mortes provocadas pelo fracasso das políticas públicas que nunca foram prioridade do Ministério da Saúde;

b) contestar o bolsonarismo é uma opção momentosa, pois ao fazê-la estaremos criando condições para a retomada do estado de bem-estar social e outras policas social-democratas;

c) contestar o bolsonarismo é uma opção forçosa, pois a eleição de 2 de outubro definirá os rumos da ação do governo pelos próximos quatro anos. É agora ou nunca!

DdAB

P. S. Tomei a linda imagem que nos encima da Wikipedia, ilustrando o verbete "contradição". É uma mistura do quadrado lógico medieval com o diagrama de Euler, também conhecido como diagrama de Venn.

P.S.S. Aquela inserção da sabedoria do padre Fábio de Melo dizendo que, se houvesse prova da existência de Deus, não seria necessário acreditar: hoje vendo um episódio da série O Jovem Sheldon, ouvi que essa ideia remonta a Platão. (Em 30/out/2023=segunda-feira)

25 agosto, 2022

Renda e Riqueza: desespero sobre desigualdade


Na aba de meus sites preferidos, consta o de Michael Roberts. Volta e meia leio suas reflexões, explicações e também previsões sobre a evolução do que ele chama de modo capitalista de produção. Diferentemente de mim, que aprendi que a social-democracia é a salvação da humanidade da geração presente, Roberts considera que as contradições do capitalismo avolumam-se letalmente. Tão severas seriam elas que a ordem estabelecida deve ser rompida com a construção do socialismo, o que requer, de início, a abolição da propriedade privada.

Como sabemos, uma das leis gerais da acumulação capitalista fala na crescente exploração da classe trabalhadora, sua crescente pobreza. E também sabemos que, em boa medida, essa crescente pobreza, especialmente nos países capitalistas avançados, é relativa: a renda e a riqueza tendem a concentrar-se nas mãos da classe dominante. Nesta linha é que li, con gusto, ou melhor, contristado, meia dúzia de postagens em que Roberts fala na concentração da riqueza, usando fontes de que nunca ouvi falar.

Embora eu me dedique a estudar o que posso da distribuição pessoal da renda (e alguns desdobramentos da distribuição setorial, da funcional e mesmo da regional/mundial), não conheço dados para o Brasil sobre a desigualdade na riqueza. Li há alguns anos um artigo/livro de Márcio Pochman, da Unicamp, em que ele diz não haver dados que justifiquem o título do livro, mas considera alguma proxy que não me apeteceu. Talvez até eu seja proprietário de um exemplar desse livro, mas estou divorciado dele. No entanto encontrei esta referência que dá uma ideia, pelo menos, do período em que o tema andou sendo tratado por ele (aqui). É um seminário apresentado por ele em 2015:

O economista e doutor em Ciências Econômicas, Marcio Pochmann irá abordar a “Distribuição da Riqueza no Brasil”, durante sua palestra no XXI Congresso Brasileiro de Economia (CBE). O evento, que será realizado entre os dias 09 e 11 de setembro, na Universidade Positivo, em Curitiba, tem como tema central “A Apropriação e a Distribuição da Riqueza – Desafios para o Século XXI”.

Nada mais procurei, pois hoje quero falar é de Michael Roberts. Entrei no tema com este artigo (aqui). Dali ele remete para outras páginas de seu blog, iniciando aqui. Deixo por conta d@s leitor@s interessad@s acessar o que achar bem de direito.

Eu quero pouco, apenas falar algo depois de mostrar um gráfico, aquele que ilustra a postagem de hoje. O assunto começou há pouco tempo, quando vi uma notícia sem muito detalhe sobre a diferença de magnitude dos índices de desigualdade de Gini da Suécia pertinentes à renda e à riqueza. Claro que todos sabemos a diferença entre uma e outra: a renda é um fluxo de recebimentos de remunerações (salários, lucros, juros e aluguéis, mais impostos indiretos líquidos de subsídios), medido por unidade de tempo, como é o caso de um ano para as cifras que originam os índices da figura. A riqueza mede o estoque de bens, propriedades e posses dos indivíduos. A renda é a água que corre pela torneira e a riqueza é o montante de água disponível dentro da caixa d'água. 

Quando vi as cifras assemelhadas ou as próprias disponíveis na figura para a Suécia, fiquei derreado. Os países nórdicos a acompanham, um breve para pensarmos a social-democracia com outros olhos, corrigir os erros sem pular para a pregação socialista. Eu sempre soube que a distribuição da riqueza é e foi mais elevada que a da renda. Mas, modelo de igualitarismo na distribuição da renda, os países escandinavos têm desigualdade estonteante na distribuição da riqueza.

Quem lê este blog com frequência sabe que também frequentemente divulgo minha receita para o alcance da sociedade igualitária, sob o ponto de vista da tributação:

a) substituir os impostos indiretos pelos diretos (indiretos apenas para bens de demérito), 
b) imposto sobre heranças
c) imposto sobre a propriedade
d) imposto progressivo sobre a renda

E, claro, a chave do igualitarismo é o emprego. O emprego do governo deve centrar-se na produção/provisão de bens públicos (saneamento, segurança) e bens de mérito (educação, saúde). 

DdAB

23 agosto, 2022

Ressentimento e as Eleições de Outubro

(imagem da escola João Batista de Almeida)

Maria Rita Kehl, uma brilhante intelectual brasileira, deu uma longa entrevista ao caderno DOC do jornal Zero Hora (edição de sábado e domingo, 2 e 3 de julho/2022, páginas 2-4). Já sabemos que leio e às vezes a intitulo de Zerro Herra precisamente por erros grosseiros neste e naquele aspecto e um indisfarçável toque de reacionarismo, o que faz que aquele "leio" ali do começo da frase seja um tanto exagerado. Muito provavelmente leio talvez um terço do que é publicado ou talvez até menos. Por exemplo, como poderia eu ler, nesse mesmo caderno DOC, os pontos de vista de Eugênio Esber (who?) ou Leandro Karnal (him!)? 

Maria Rita Kehl, eu dizia. Ressentimento é a palavra-chave de metade da entrevista. Em 2004, ela lançara e eu comprara e lera em diagonal profunda

KEHL, Maria Rita (2004) Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Primeira providência: olhar o verbete no dicio.com.br:

Significado de Ressentimento substantivo masculino Ação ou efeito de ressentir; em que há mágoa, angústia ou rancor. Angústia ou mágoa ocasionada por uma ofensa, por uma desfeita, por um mal causado por uma outra pessoa; rancor: o rancoroso sempre carrega consigo seus ressentimentos.

Recolho trechos da entrevista sobre o tema, pois o considero altamente iluminado, ajudando-nos a entender taras de gente como Donald Trump, Vladimir Putin e Jair Bolsonaro e, o que é mais chocante, seus admiradores. O texto vai todo com fundo azul, mas também contempla algumas passagens de minha autoria/redação misturadas com as reflexões da própria Maria Rita:

Ressentimento: afeto, é um sofrimento mental e se liga ao atual cenário da política brasileira. Quem não consegue esquecer ou perdoar uma ofensa? Aquele que não reagiu à altura quando ela ocorreu. Então fica remoendo e depois ressentindo a mesma mágoa, a mesma ofensa.

O ressentimento se origina de uma pretensão de pureza moral que impede o sujeito de reagir. E uma reação possível é o desprezo. Isto difere do caminho da agressão física ou psicológica que se confunde com brutalidade.

A dificuldade que o sujeito ressentido encontra para perdoar a ofensa é diversa da busca por justiça. Na verdade, o ressentimento é um afeto que resulta da/s ação/s do próprio sujeito que o prejudicaram, mas ele não quer admitir, interesse ou covardia, que se deixou prejudicar. Ele re-sente, não querendo superar a mágoa: 'nunca vou esquecer o que me fizeram...' O sujeito se ressente para não se arrepender da ação ou omissão, por covardia ou interesse escuso. 

Na democracia, o pressuposto da igualdade de direitos que raramente se realizam, os excluídos lutam para conquistar direitos ou, quando se acomodam, tendem a se ressentir, que é uma forma neurótica do arrependimento. A revolta é ativa, combatendo a opressão, ao passo que o ressentimento é passivo. Sustento a hipótese de que os antipetistas, os que odiavam Dilma e comemoravam o impeachment, os que acreditaram na Lava-Jato e votaram em Bolsonaro, acreditando que ele representa o oposto de tudo o que aí está. E também os que anseiam pela volta dos militares. Parte desse grupo votou em 2018 em Bolsonaro por representar sem ressentimento, inclusive elogiando o torturador de Dilma.

Estamos em campanha eleitoral. Na próxima sexta-feira, começa a propaganda no rádio e TV. Claro que, dado que  retirei as candidaturas de Tatiana Roque, Renato Janine Ribeiro e Sílvio Almeida precisamente para enturmar na candidatura de Lula, agora torna-se claro que espero que, com ele, aquela turma ressentida persigne-se ante "um valor mais alto que se alevanta" e mudem o voto. E que os indecisos deixem vejam nesta argumentação o sinal para cair do lado certo, da esquerda igualitarista, da esquerda que promete fazer reforma tributária progressiva e reforma administrativa (especialmente no funcionalismo público).

DdAB

19 agosto, 2022

Elitismo Desfeito

 


(já vou informando: o marcador desta postagem é Besteirol, por contraste à imagem da Wikipedia que selecionei para ilustrar a tensão criada por Bolsonaro)

Primeiro:

Nestes tempos de pandemia, caí mais fundo nas leituras de duas ou três obras de Amartya Sen. Em setembro de 2018, aqui no blog, citei seu livro "The Idea of Justice", que andei reputando como o mais interessante que li na vida. Na Pandemia vim a ler mais alguma coisa. E tudo me faz rever o conceito de "abordagem das capacitações". Por sinal, li em Flávio Comim que aquele "capability" da língua inglesa foi-lhe desvelado pelo próprio Sen como sendo a cruza de capacidade com habilidade, uma chave do entendimento da abordagem.

Nesse clima de capabilidades e na leitura de "Home in the World" que sigo fazendo agora, ressalta a ideia de que o homem não pode ser entendido sob uma única perspectiva, digamos, "o cara é bolsonarista". Ele terá muitas outras dimensões que podem ter relevância para algo, quando não seja para sinalizar com uma luz vermelha. Bate na mulher? Bebe? 

Eu de minha parte, tenho várias, por exemplo, professor de economia política, ex-corredor de rua, torcedor simultaneamente para o Grêmio e o Internacional, da seleção brasileira de futebol, admirador do vôlei feminino na TV, cozinheiro especializado em molho de macarrão, e por aí vai.

Segundo:

Aliás, antes de ler Sen e a abordagem das capabilidades, no bar do bairro, desenvolvemos uma teoria tetra-dimensional para descrever namoros de adolescência, usando quatro critérios, quatro dimensões para descrever o objeto do amor, e não dezenas delas, como ilustrei com minha humilde pessoa:

PESO     ALTURA     SALÁRIO     IDADE

Faltaram atributos, é óbvio. Por exemplo, grau de instrução, mas o garçom salvou o modelo tetra-dimensional da escolha de namorada argumentando que existe enorme correlação entre salário e grau de instrução: nunca vimos um analfabeto, exceto o presidente da república, ser eleito para presidente da república, hehehe. Ou seja, tendo passado uma temporada nos EUA fritando hamburgers, o garçon falou em inglês: o salário é uma proxy para o grau de instrução. E já foi traduzindo

WEIGHT     HIGHT     WAGES     AGE

Mas ele mesmo indicou que outras dimensões, a rigor, quase todas correlacionadas entre uma ou outra das quatro modeladas, como religião, clube de futebol do coração, residência no verão, elegância ao trajar, prodigalidade ao dar gorjeta, etc.

Fiquei pensando em solicitar a assessoria do prof. Adalmir Marquetti para modelar quantitativamente essa viagem toda cujo significado político é inegável: se todo mundo tem diferentes dimensões a dar título a seus atributos, não há como manter critérios univariados que invariavelmente são elitistas.

DdAB

17 agosto, 2022

Minha Bolha e as Redes

 


Esta foto que nos encima vale milhões. Milhões de suspiros de felicidade. Divulguei-a para minha bolha do Facebook, eis que foi publicada no mural de Graça Brito, criando mais uma conta em um colar encantado. Lá escrevi:

O lado alegre da vida é observado em muitos momentos de nosso cotidiano. Hoje deparei-me com uma postagem de minha grande amiga Graça Brito que me renderá bons momentos por muito tempo, aquecendo meu coração:. Na publicação da amiga via-se o texto que segue:
"Marquinho Mota da Amazônia está com Alex Paiva e
.Fofurice para aquecer nossos corações
Escola infantil em Juruti/PA - Projeto de estímulo a leitura para crianças.
Via Facebook de Marilei Costa"


Então: Graça, Marquinho, eu, você.
Eu comentei: Para um sulista é mais que apenas formidável!

E vim rapidamente para cá, pois estou certo de haver muita gente fora de minha bolha do Facebook.

DdAB

11 agosto, 2022

Democracia se Escreve com "D"



A extraordinária iniciativa da Faculdade de Direito da USP, ao redigir e colocar à disposição da sociedade para adesões da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito (aqui) chegou num momento chave, listou nomes importantes, como vou ilustrar com nove unidades (por modéstia, excluí meu próprio nome). Quando consultei, os seguintes "D"s haviam assinado:

Duilana da Silva Soares 

Duilho Aparecido Bovi 

Duilio Cezar Perosa Júnior 

Duílio Lellis Alves Caravieri 

Duilio Nosella 

Duílio Pereira Gomes 

Duílio Ribeiro Tunes 

Duilio Santiago

Parece que, depois do estrondoso sucesso que as leituras da carta e de outras manifestações da sociedade civil, o país está em festa. Inclusive em virtude das reações da direita, como observei na TV com os pronunciamentos de Jair Bolsonaro, refém do Centrão, e Ciro Nogueira (feitor do Centrão).

DdAB

Imagem veio da Wikipedia no verbete "Democracia". E tem a legenda: "O Landsgemeinde, uma das mais antigas formas de democracia direta, ainda é praticado em dois cantões da Suíça."

07 agosto, 2022

Marabá, Cinema Marabá e por aí vai

 


Foi num dia em que eu estava distraído na frente da TV. De repente, num filme turco cujo nome foge-me como quem não sabe turco..., que ouvi algo que os ouvidos cansados interpretaram como "marabá", bem oxitonazinha. Anotei num papelzinho que andou desaparecido por uma ou duas semanas e de repente reapareceu e vim prá cá relatar o que resultou do encontro (do papelzinho) e o encontro com emoções inauditas.

Ato I

Achei que o caminho mais curto seria setar meu Google-Translate para Turco e pedir a tradução para o português. Fi-lo, como diriam Jânio Quadros e Michel Temer. Quando o dicionário fica desconcertado, ele repete a palavra desconhecida. Mas, às vezes, a palavra repetida é mesmo a tradução desconhecida... Não contente, setei para traduzir esse "marabá" para o inglês. E fisguei algo. Ao invés de manter o turco no lado esquerdo, o algoritmo trocou para "hauçá", com nosso acento agudo. Aí achei que haveria algo a aprofundar.

Ato II

Do Google Tradutor passei para o dicio.com.br e li:

Significado de Hauçá

adjetivo, substantivo masculino e feminino
Relativo a um povo que habita o N da Nigéria e o Centro do Níger, ou indivíduo desse povo.
Linguística Diz-se de, ou língua camito-semítica do grupo tchadiano, falada por esse povo.

Senti-me esclarecido. Claro que deixei de lado esse negócio de língua "camito", que apressadamente e feliz, li como "caminito", um tango que tratei de ouvir no YouTube.

Ato III
Próxima pergunta: então o que será que é "hauçá" em português? Simplesmente "bem-vindo", o que eu imaginava que adivinhava na frente da TV. E confirmei no inglês: "Welcome".

Ato IV
E o que é "marabá", em português? Olha o dicio.com.br novamente:

Significado de Marabá
substantivo masculino[Brasil] 
Filho de índia com francês. (O mesmo que mameluco.).

E, claro, tem o município paraense também com esse nome.

Ato V
Além de dar boas vindas, marabá, ou melhor, Marabá -causa da suspeita de ter ouvido esta palavra em turco- foi um cinema da Cidade Baixa de Porto Alegre, aquele que teve a honra de deixar-me ver o primeiro filme de minha agora comprovadamente já longa existência.

Ato VI
Em virtude dessa enorme conjunção de fatores, ou talvez apenas de parte deles e de muitos outros não aqui enumerados, Júlio Reny (ou Ney Lisboa?) compôs a canção "Cinema Marabá". 

Conclusão: 
A pesquisa etnográfica deve encaminhar-se para saber como foi que o Cinema Marabá, cinema - e não a canção - veio a receber esse nome.

DdAB
Imagem: veio da Wikipedia e é minha modesta homenagem ao município de Marabá, com sua bandeira. E minha ironia para a macacada bolsonarista que endeusa a bandeira do Brasil como se fosse a forma de mostrar amor ao Brasil, quando o que nos faz ver o amor ao Brasil, às gentes brasileiras, é lutar pela implantação de políticas de governo de cunho igualitário. E já acusei por estas bandas minha resposta àqueles que dizem que a igualdade de oportunidades é que é o canal, o igualitarismo é fria: somente a sociedade igualitária social-democrata é que vai permitir iguais oportunidades a tod@s.

P.S. das 11h24min de 11/ago/2022/quinta-feira: por acaso acabo de olhar o Google Tradutor e deu o seguinte resultado: "marab", do irlandês, passa para o inglês como "kill". Vou te contar que cineminha mais desabotinado...