25 janeiro, 2022

Anti-Obituário: Olavo de Carvalho


Era 25 de abril de 2018, tempos conturbados, e publiquei aqui no blog considerações sobre o que fazer quando nos defrontamos (nós, anjinhos sem defeitos) com indivíduos intolerantes. Em compensação, num dos mais amados grupos de que participo, falou-se da morte de Olavo de Carvalho, da qual já lera amplamente em minha "bolha" da internet. Eu não queria dizer que ele deveria ser resgatado pelos grotões do inferno, mas não me mixei, escrevendo: "A vida vai nos ensinando a ser intolerantes com os intolerantes." Nas publicações de boa parte de minha turma, alegava-se que o cara desprezava a vacina e se recusara a tomá-la. E eu comentei:

-E será que o cara não tomou mesmo a vacina?

E recebi como resposta: 

-Não deve ter tomado.

Assumindo que o cara não estava falseando a realidade nesse ponto específico, aceitei seu absenteísmo vacinal e fui adiante contando uma história curta em capítulos ainda mais curtos.

Capítulo 1 - há muitos anos, criei o hábito de reler obras de que  gosto. O início (não intencional na linha de  formar um hábito, claro) foi reler em 1975 "O Senhor Embaixador". Depois talvez tenha relido outros que não lembro. E, a partir de 2000 ou 2001, li e reli montes de Machado de Assis. E depois criei como que uma neurose de reler o Érico Veríssimo nos outonos. Talvez faça isso novamente agora ainda a decidir qual daqueles meus cinco Éricos vai iniciar a jornada. Na linha das releituras, falo de outro gênio literário que tenho lido e relido: Graciliano.

Capítulo 2 - ainda não li nenhum livro novo em 2022, já tenho dois em minha lista, mas minhas compras na internet são sempre cercadas de apreensão e tédio. Mas comprarei e lerei e, se instado, comentarei... O que estou terminando no momento é outro livro muito amado, que já li umas cinco ou seis vezes desde que, por influência de nosso finado amigo Eugênio Cánepa, caiu em minhas manoplas, tipo em 2004: "Dialética para Principiantes", de Carlos Roberto Cirne-Lima (Editora Unisinos).

Capítulo 3 - a certa altura (no momento estou impedido de citar a página), o autor fala que "o bem se recompensa" e "o mal se pune". E dá como exemplo do mal punindo o mal o cigarro: faz mal no início e vai punir-se anos mais tarde, quando as doenças que acompanham a nicotina fizerem sua cobrança. E cito um lindo exemplo concreto sobre como o bem se recompensa: um senhor ganhava a vida vendendo gasolina e óleo diesel num posto de sua propriedade. Era seu cliente um advogado iniciante que,  volta e meia, não tinha dinheiro nem para a gasolina, mas o senhor citado vendia "no caderno". Pois  bem: anos depois, o advogado passou num concurso para juiz e procurou o comerciante e lhe disse: "O senhor foi bom comigo e tenho agora a oportunidade de pagar o bem com o bem: sei que seu filho está começando a carreira no direito e quero passar minha banca para ele." Foi ou não foi bem que se recompensou?

Moral da história: o mal que esse Olavo de Carvalho plantou na mente de milhares de brasileiros acaba de puni-lo com essa morte inglória de ser vitimado por um vírus cuja existência ele negava.

DdAB

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