20 abril, 2021

A Suspeição de Sérgio Moro


Foi no tempo em que Sérgio Fernando Moro avocou a si um julgamento fora de seus poderes para poder enfrentar um cara. Fiquei feliz, pois ele não teve a coragem de meter a mão comigo: não julgou nada a meu respeito. Mas julgou quatro processos em que o presidente Lula estava denunciado. Naquele tempo, o amigo do amigo me garantiu que até o cachorro de Sérgio Moro votava no PSDB. Mas, admito, nada se falou sobre Moro votar em Jair Bolsonaro (cachorro e capitão na foto). 

O aspecto peculiar da questão é que o advogado de Lula, desde 2016, repito, desde 2016, argumentava que Moro só era competente para julgar casos envolvendo a Petrobrás. E eu achei que nem isto, dada aquela autorização da divulgação pública de Antonio Palocci caguetando Lula bem na antevéspera da eleição que sagrou presidente o velho Bolsonaro. (Aliás, acho que o roubo começou quando o sr. Paulo Henrique Cardoso, filho do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, houve por bem fazer uma reforma profunda na empresa, passando a designá-la como Petrobras, ou seja, em gauchês, Petrôbras). Repito: Moro era incompetente para julgar eventuais denúncias contra mim ou contra Lula em casos alheios à Petrobrás. Repito: nem precisa repetir.

Na semana que passou o juiz Edson tentou eximir Moro da acusação de suspeição, tendenciosidade, viés contra o réu (felizmente não era eu...). Quer dizer, como é que Moro seria suspeito de tratar sem isenção, de forma enviesada, o réu Lula se Lula não era réu?  Minha resposta tem dois gerúndios, primeiro agradecendo aos céus que Moro não me encaçapou em algum daqueles julgamentos e, segundo, afirmando que o viés reside precisamente no fato de abiscoitar  um processo que não era de sua alçada e decretando a prisão, de forma ilegal, de um cara por 580 dias. 

Sem esquecer que Moro foi "lembrado" de sua incompetência para julgar Lula em 2016, fazendo ouvidos moros, mouros, digo, moucos. Em seguida foi lembrado pelo beneficiário da truculência com um convite para ser ministro da justiça, posição da qual, como sabemos, foi expulso a coices depois de menos de 16 meses de exercício do cargo. Moral da ópera: Lula com cadeia de 580 dias, Bolsonaro eleito e Moro usufruiu as benesses da sinecura por menos tempo: 482 dias.

Moral da história: liberdade para Lula e cadeia para Moro! Mas que é que eu, neste contexto, free as a bird (Moro não me pegou), digo sobre a candidatura de Lula para re-presidente da república em 2022? Prematura! Antes de lançar um nome era necessário ter um programa e, com ele, tentar montar uma coalizão de partidos com interesses programáticos assemelhados, sem falar nas eleições legislativas. La verità, sob meu entendimento, é que a política brasileira é uma droga precisamente pois existe um legislativo escalafobético precisamente porque dá-se atenção ao cabeça-de-chapa, sem pensar na chapa e no apoio que esta deve ter nas câmaras alta e baixa para aprovar projetos de implementação de seu programa de governo. 

Pra não dizer que sou contra Lula, vou deixando ser a favor, principalmente de: Renato Janine Ribeiro, Sílvio Almeida ou Tatiana Roque.

Moral da comédia: por isso é que eu sempre disse: a expressão "Juiz Moro" é oximoro. 

DdAB

P.S. Quem não sabe que oximoro é o que segue, seguindo o dicio.com.br?

Figura de linguagem em que palavras de sentidos opostos são combinadas de modo a parecerem contraditórias, mas que reforçam a expressão: gentileza cruel; belo horroroso; música silenciosa.

P.S.S. Nem falei no pas-de-deux dançado por Moro com o trio de juízes da segunda instância (já que Moro respondia pela primeira), nomeadamente, o trio de desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor dos Santos Laus. Pensando melhor, pas-de-deux composto por quatro pessoas é quadrilha, não é mesmo?

P.S.S.S. Volta e meia sugiro uma reforma radical em todo sistema judiciário brasileiro (juízes + polícia) engendrada por uma empresa júnior de alguma universidade do norte da Europa. Olha a coerência do atual estágio de desenvolvimento da hermenêutica jurídica dessa turma envolvida na condenação de Lula no único julgamento a que foi submetido:
Primeira Instância: Sérgio Fernando Moro - nove anos e seis meses de xilindró;
Segunda Instância: o trio Pedro, Leandro e Victor - 12 anos e um mês de cadeia;
Terceira Instância: Quinta Turma do STJ - oito anos e 10 meses de gaiola; 
Quarta instância: plenário do STJ - anulou tudo, pois reconheceu -independentemente da argumentação - o que falou a defesa de Lula há cinco anos.

P.S.S.S.S. Nestas circunstâncias, o Planeta 23 costuma usar seu motto: só bebendo!

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