06 maio, 2018

Marx: 200 + 1


Querido diário:

200 + 1 = 200 anos mais um dia!

Ontem o mundo inteiro -exceto o jornal Zerro Herra- comemorou o bicentenário do nascimento de Karl Marx. De minha parte, como vinha fazendo há cinco anos -completando-se o sexto ontem mesmo- fiz uma montagem com sucessivas postagens. Usei-a para ilustrar a publicação do dia e homenagear o filósofo e cientista social que marcou o desenvolvimento do conhecimento humano desde então. Aliás, a obra de Marx-Engels marcou também a política universal e até hoje há controvérsias sobre quem foi bom entendedor das mensagens deixadas por eles. Destaco, especialmente, a questão sobre se devemos implantar o socialismo já, como a implantação da ditadura do proletariado, ou se isto é indesejável, pois nenhum modo de produção (o capitalismo, no caso) termina sem ter desenvolvido todas suas potencialidades. Depois de tudo o que viemos a saber do mundo soviético e do mundo maoísta, acho brabo forçar a barra.

Naturalmente declaro-me um arguto comentador, pois entendo que tem muita gente que não compreendeu sequer o significado e relevância da teoria do valor. Na verdade, digamos que tenha sido no ano de 1987, ministrei no curso de graduação em economia da UFRGS uma disciplina intitulada "Economia Marxista", quando André Contri foi meu aluno. Já estudante de doutorado, um dia falávamos no tema e ele disse-me uma verdade absoluta: "o problema da transformação dos valores em preços está resolvido precisamente no final da seção 3 do primeiro capítulo do primeiro volume d'"O Capital", quando o valor alcança a forma preço da mercadoria. E aí o valor virou preço e aí... acabou. No volume 3, Marx (ou eu deveria dizer Engels?) tem em vista outros propósitos que não tratar precipuamente da forma do valor, mas refere-se a fenômenos ocorridos no mundo industrial que estava emergindo e fazendo-o praticamente testemunha do nascimento e consolidação. Era outra coisa.

De minha parte, no dia de ontem, fiz alguma propaganda do bicentenário em comentários apostos a uma meia dúzia de postagens de amigas e amigos no Facebook. Numa delas, adicionei a imagem que nos encima. Podemos ler: "Workers of all lands, unite!", trabalhadores de todos os países, uni-vos!, na forma e tradução que me chegaram ao ouvido, digamos, em 1966.

Pois agora, ao rever tudinho que fiz ontem, achei estranha aquela tradução para o inglês, eu -myself- que visitei o túmulo de Marx no Cemitério de Highgate (tomando a Central Line, descer no metrô em Aldwich), pois a memória retinha apenas algo parecido: "Workers of all countries, unite!". Troquei "lands" para "countries". Logo eu que tenho presente a lição de Ana Barros que desgosta do nome da ONU, pois não queria ver falar em nações (e nem mesmo 'terras'), mas em Organização dos Povos Unidos.

Então fui para a internet/Google, buscando em inglês. Achei a cita do Manifesto aqui. E tem algumas notas finais muito interessantes para animar (ou acabar) a controvérsia:

The famous final phrase of the Manifesto, “Working Men of All Countries, Unite!”, in the original German is: “Proletarier aller Länder, vereinigt euch!” Thus, a more correct translation would be “Proletarians of all countries, Unite!”
“Workers of the World, Unite. You have nothing to lose but your chains!” is a popularisation of the last three sentences, and is not found in any official translation. Since this English translation was approved by Engels, we have kept the original intact.

Agora não tenho em mãos a edição brasileira do Manifesto. Há pouco tempo, em nova tentativa de reter essa pérola político-literária, adquiri a edição da BoiTempo (aquela editora que fez a barbaridade de escrever "mais-valor", ao invés de "mais-valia". Ou seja, nem lembro como a Boitempo traduziu, mas tenho na cabeça "Trabalhadores de todos os países: uni-vos!"

Para benefício da preguiça, pedi a tradução do Google Tradutor:

A famosa frase final do Manifesto “Trabalhadores de Todos os Países, Unam-se!”, No original alemão é: “Proletarier aller Länder, vereinigt euch!” Assim, uma tradução mais correta seria “Proletários de todos os países, unam-se! "
"Trabalhadores do mundo uni-vos. Você não tem nada a perder além de suas correntes! ”É uma popularização das três últimas frases, e não é encontrada em nenhuma tradução oficial. Desde que esta tradução inglesa foi aprovada por Engels, mantivemos o original intacto.


Ok, bye.
DdAB
P.S. Da mesma fonte que usei para conferir o finale do "Manifesto", com a frase famosa, capturei o sumário da parte relevante do "capítulo 1":
Section 3 - The Form of Value or Exchange-Value
A. Elementary or Accidental Form of Value
1. The Two Poles of the Expression of Value: Relative Form and Equivalent Form
2. The Relative Form of Value
a. The Nature and Import of this Form
b. Quantitative Determination of Relative Value
3. The Equivalent Form of Value
4. The Elementary Form of Value Considered as a Whole
B. Total or Expanded Form of Value
1. The Expanded Relative Form of Value
2. The Particular Equivalent Form
3. Defects of the Total or Expanded Form of Value
C. The General Form of Value
1. The Altered Character of the Form of Value
2. The Interdependent Development of the Relative Form of Value, and of the Equivalent Form
3. Transition from the General Form of Value to the Money-Form
D. The Money-Form
abcz
P.S.S. E já que estamos metidos com os britânicos (ainda bem que não metidos em tumbas de Highgate...) e traduções, que tal elogiar aquela de "Grã-Bretanha". Eu, distraído, traduziria a Great Britain por Grande Britânia, claro que a maior das ilhas do arquipélago das Ilhas Britânicas.

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