23 dezembro, 2017

Igualdade e Social-Democracia para 2018


Querido diário:
Veremos adiante um artigo publicado pelo caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo no distante julho de 2016, alcançando meus olhos em 24 de abril de 2017, tinha muita coisa para me levar a pensar. Ele fala muita coisa que mereceria alongadas discussões, mas me atenho a dois pontos que -aliás- um é dele e o outro é meu. O que é de Celso Rocha de Barros está aqui:

Para ter chances em 2018, esquerda precisa encarar a economia.
Por Celso Rocha de Barros
Disponível em: http://www.aldeianago.com.br/artigos/59-economia/13255-para-ter-chances-em-2018-esquerda-precisa-encarar-a-economia-por-celso-rocha-de-barros.
Acesso em: 24/abr/2017.

A prioridade da esquerda deve ser redistribuir renda e construir um Estado de bem-estar social, duas discussões em que os economistas (enquanto tais) só têm direito de aparecer para dizer como fazer melhor o que a política e a moral já tiverem decidido fazer.
Uma vez estabelecido esse princípio geral, é também necessário reconhecer que, historicamente, houve uma afinidade eletiva entre a esquerda e escolas de economia mais propensas a recomendar a intervenção do Estado na economia. A esquerda, afinal, já defende a intervenção do Estado na redistribuição de bens e oportunidades. Há um grau de ceticismo comum em relação aos resultados do funcionamento do livre-mercado que aproxima os defensores da redistribuição aos defensores da intervenção estatal.

E que tenho a dizer? Primeiro: que me dói perceber que conheço vários economistas (e pouca gente alheia a esta profissão, exceto montes de epidemiologistas), uma boa meia-dúzia deles que carrega, no escudo heterodoxo, boa parte das pechas levantadas por Rocha de Barros. Não me atrevo a dizer que os economistas tornaram-se anti-economicistas, mas cabe-nos refletir sobre este trecho:

O marxismo soviético era baseado na ideia de que o desenvolvimento econômico determina a evolução das estruturas políticas e ideológicas. A reação a esse dogma, seja por pós-marxistas, seja por marxistas ‘ocidentais’, tomou a forma de diversas reafirmações da importância do político, da cultura e do imaginário, do corpo, enfim, de tudo que havia sido excluído da estreita visão de mundo dos manuais de marxismo.

Tacho parte: importância do político, da cultura, do imaginário, do corpo. Agora quero dizer: menos política e mais economia. Não em tudo, claro, mas num programa de esquerda para oferecer às massas um roteiro de governabilidade.

Na nova esquerda em que me insiro, é preciso refletir sobre o segundo parágrafo que citei anteriormente. Qual é o grau de intervenção na economia por parte desse estado que, além dela, também deve-se preocupar com o político, a cultura, o imaginário e o corpo? Hoje tenho bem clara a tríade mercado-estado-comunidade. Também tenho clara boa parte das lições da teoria da escolha pública e da teoria da escolha social. Quero “produtores independentes livremente associados”, o que me leva a querer um certo conceito de estado mínimo, claro. Qual estado mínimo? Aquele da provisão (e não necessariamente produção) de bens públicos e de mérito. E as atuais empresas estatais? Resolvo com a formação de um fundo nacional de desenvolvimento, garantindo a cada brasileiro nascido ou a nascer um conjunto de 100 ações que poderão ser alugadas, mas nunca vendidas nem cedidas como herança.

Concluindo aquele “primeiro” lá de cima – saber economia. Então digo, com certo sorrizinho de mofa que a estabilização requer o estudo da moderna macroeconomia e esta inicia, no primeiro semestre (ou segundo…) da faculdade com o domínio do modelo IS-LM. Estamos falando no equilíbrio geral macroeconômico, uma ficção que serve precisamente para tornar real a implantação simultânea (e quando não foi assim?) de medidas de política econômica. Tem economistas a quem estou endereçando esta crítica política (e, claro, de minha facção de economistas de esquerda) que nem mesmo aceitam a relevância do conceito de equilíbrio, que dizer de geral e que dizer de macroeconômico? Só pensando nestes termos é que teremos alguma chance de garantir que a mudança seja ancorada no controle do quinteto inflação, desemprego, taxa de juros, taxa de câmbio, déficit público.

Segundo momento do que tenho a dizer. Agora quero falar sobre redistribuição da renda e construção de um estado de bem-estar social. Estamos falando de políticas públicas, sem mesmo tangenciar a caridade pública, ou seja, as transferências de renda entre famílias, como o donativo do filho ao pai desamparado ou o que faz a família rica ao motorista da limusine aposentado no ano que ora finda. Tampouco faço pouco da redistribuição funcional, ou seja, considero palatável e condutor do igualitarismo e da social-democracia que milhares de empresas paguem “participação nos lucros” a seus trabalhadores. Isto, claro, melhora a distribuição pessoal (no sentido de menos desigualdade) e muda também a funcional (maior participação dos trabalhadores no PIB).

Falando no governo e olhando o lado “negativo”, o lado em que o governo retira dinheiro dos ricos. Há três mecanismos: imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza da pessoa física, imposto sobre transmissão de bens dentro da família e imposto sobre grandes fortunas (dada a espantosa desigualdade na distribuição das fortunas, escandalosamente maior que a da renda, parece que aqui reside alguma medida de impacto). E que fazer com este dinheiro? Financiar o programa tipicamente social-democrata: gasto público em educação, saúde, previdência, assistência habitacional, tutto quello, já referi: bens públicos e de mérito. Tem mais: políticas salarial (salário mínimo, renda básica universal) e políticas monetárias (oferta de crédito para viabilizar novas empresas).


É preciso tomarmos cuidado para que as candidaturas politicamente hostis não roubem este programa social-democrata. Eu mesmo preciso tomar cuidado para que Rocha de Barros não se torne um oximoro orientando meu pensamento: rocha de barro?

DdAB

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