01 dezembro, 2017

Meu Mundo em 15 Powerpoints


Querido diário:
No dia 26 de novembro passado, falei num questionário muito peculiar que apresentei no seminário realizado há 10 anos, ou melhor, em 30 de junho de 2008. Hoje falo nos "powers" que mostrei à refinada audiência. Falo:

POWER 1
:: Título: O MERCADO DE TRABALHO DO ECONOMISTA
Nome do economista em evidência: Duilio de Avila Bêrni

POWER 2
“[...] apontou [...], comparou [...], deduziu e concluiu.”
Machado de Assis no conto “Trio em Lá Menor”, história de Maria Regina e seus dois pretendentes (Miranda e Maciel) que, at the end of the day, deixam-na ficar para tia.

POWER 3
Há um vetor que rege “nosso estar no mundo”:
R3 :: realidade realmente real
Ri :: o mundo da realidade imaginada
É neste clima que pretendo ser entendido, ou seja, como é que eu faço ciência. Sei que estou no mundo, mas formo, sobre ele, uma imagem, uma realidade imaginada que terá alguma relação com o mundo de carne-e-osso, a realidade realmente real que me abriga, mas que nada mais respondo sobre ele, que dizer que o entendo.

POWER 4
A. Formação acadêmica
B. Empregos
B.1 Economista
B.2 Professor
C. Breves considerações sobre o estudo feito

POWER 5
Formação acadêmica
.a 1968-1972 - faculdade: curso de economia, leitura de Isaac Deutscher (trilogia sobre Trotsky)
.b 1973 - leitura do livro de introdução à economia de Richard Lipsey (valeu o curso inteiro)
.c 1974 - viagem a Campinas, tornei-me um leitor da revista Pesquisa e Planejamento Econômico
.d 1975 - PPGE-UFRGS. Aprendi estatística e econometria
.e 1978 -Mestrado em Sussex; debriefing da "economia industrial"
.f 1982 - iniciando a carreira de professor de introdução à economia na UFRGS, eu que iniciara a vida de professor com microeconomia na Unisinos. Neste curso de IntrEco usei o "Manual de introdução à economia", dos professores da USP e leituras complementares, destacando aquele artigo de Stephen Hymer sobre Robinson Crusoé e o livrinho de Ernest Mandel de introdução à economia marxista;
.g 1983-88 - lecionando macro e aprendendo sobre funcionamento do mercado de trabalho;
.h 1989-1992 - doutorado em Oxford; biologia evolucionária, economia experimental, economia evolucionária, começo dos estudos de teoria da escolha social e teoria da escolha pública.
.i 2000 - pós-doutorado (rápido) no Latin-American Institute do University College-London.
.j 2006-2007 pós-doutorado (longo) no Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim.

POWER 6
INTERRUPÇÃO
NÚMERO Úm (única)
.j 1993 etc.: na linha dos modelos multissetoriais, a serviço da economia do desenvolvimento
:: meus heróis Quesnay e Cantillon; Marx, Walras, Leontief, Stone e Andras Bródy
.k 1994-2006 - segue a modelagem multissetorial, com o novo vigor à Economia de Empresas
.l 2006-7 - pós-doutorado em Berlim e a leitura de cinco livros selecionados que estavam em minha lista há vários anos:
... POTTS, Jason - The new evolutionary microeconomics
... RICKETTS, Martin - The economics of business enterprise
... BOWLES, Samuel - Microeconomics, behavior, institutions and evolution
... RAY, Debraj - Development economics
... BESANKO, David et al. - A economia da estratégia
.m depois de Berlim: Auerbach e Kotlikoff.
.n The Idea of Justice, de Amartya Sen (o melhor livro que já li).

POWER 7
B. Empregos
Economista
:: conjuntura e contas nacionais
:: economia (organização) industrial
:: teoria da decisão
:: a teoria da decisão resultou da questão
- se a ciência econômica é ciência, então preciso saber o que é ciência
:: se é um ramo da ciência social, preciso saber o que é social
:: e vi que é o estudo de sociedades
:: rapidamente fui levado a pensar em outras sociedades animais, como as abelhas, as cobras e os macacos resus.

POWER 8
Ensino
.a Microeconomia :: contratado na Unisinos por João Verle :: 1976
.b Economia Industrial :: n UFSC (estilo cepalino com adaptações) :: 1980
.b Introdução à economia da UFRGS (Verle queria-a para todo iniciante) :: 1982
.c Macroeconomia (e o problema da IS-LM da economia fechada :: 1984
.d Metodologia da ciência econômica :: 1985
.e Contabilidade social e economia do desenvolvimento :: 1993-2007.

POWER 9
Minhas contribuições:
:: somar 0 e multiplicar por 1
Somar zero:
Maximizar U = U(r, s)
s. a Y = ar + bs
Construímos L = U + 0
ou seja, somamos zero a U e nos capacitamos a escrever:
L = U + (Y - ar - bs)
e trabalhamos com os multiplicadores de Lagrange.

POWER 10
Multiplicar por 1:
Temos ainda a multiplicação da taxa de lucro:
P : taxa de lucro (Profit rate)
L/Y : luta de classes (apropriação da produção)
Y/K: relações tecnológicas (apropriação da natureza)
P = L/K = 1 x L/K = Y/Y x L/K = L/Y x Y/K
ou seja, decompusemos P em duas componentes, a participação dos lucros na renda e a relação produto/capital.

POWER 11
Composto resulta da composição dos componentes
C = f(c1, c2, c3, ..., cn-1, cn) = f(ci)
Por exemplo, o composto C para três componentes é:
C = c1⬌c2⬌c3,
onde “duplo ⬌” é uma operação como a adição, multiplicação, exponenciação etc.
:: isto também nos permite ver outras decomposições:
.a aditiva - matriz inversa de Leontief = I + B + B2 + B3 + ...,
onde B é a matriz (I - A).
.b multiplicativa - matriz inversa generalizada do modelo da matriz de contabilidade social M = M3 x M2 x M1, em que M3, M2 e M1 mostram os efeitos inter, intra e extra-grupos de variações na demanda final
... inter-grupos: como é que um aumento, por exemplo, na demanda final do setor química repercute na receita dos fatores e das instituições
... intra-grupos: como é que um aumento na demanda final da química repercute nas vendas dos demais setores econômicos
... extra-grupos e inter-grupos, ou seja, o montante dos efeitos cruzados de um grupo (produtores, fatores ou instituições) sobre outro e sobre si mesmo.

POWER 12
C. Considerações sobre o estudo feito
.a opiniões: cada opinião que emitirmos deve basear-se num conceito criado por nossa cultura econômica, ou seja, temos uma intuição que resulta em nossa opinião, mas devemos fazer a intermediação com conceitos formalizados por meio de equações. Nunca esquecer de usar o passado para enquadrar o fenômeno em equações identidades (ex post). Por exemplo, para mim:
EE + EI = TD
onde EE é a economia evolucionária, EI é a economia industrial e TD é a teoria da decisão que se desdobra em
TD = Ind + Int + Soc
onde Ind é a decisão individual, Int é a decisão iterativa (modelada com a teoria dos jogos) e Soc é a decisão/escolha social
Ok, ok: isto é uma espécie de piadinha (mas, segue ela, de profunda significação filosófica)...

.b será que acabou o emprego nos setores produtivos?
:::: qual a participação das flores, frutas, leite e haras no PIB porto-alegrense? Zereta!
:::: qual a diferença entre o emprego decente (praticamente impossível mesmo nos dias que correm) e o emprego da Brigada Ambiental Mundial?
:::: A MaCS e o modelo completo do fluxo circular da renda
:::: constatação de que 15min é 1% do dia
:::: saber que o número 2 quer dizer que, crescendo a 7,12%, uma economia dobra em 10 anos.

POWER 13
:: contabilidade social x auditoria social
:::: grau de eficiência no uso dos recursos
:::: civilizações tipo II : aquelas em que existe dilema dos prisioneiros
:::: mercado e suas falhas, estado e suas falhas, comunidade e suas falhas
:::: auditorias: ouvidorias, observatórios, conselhos de stakeholders

POWER 14
.a caminho da ruína
:: corrupção do aparato estatal (executivo, legislativo e judiciário) pelo tráfico de drogas
:: escola em turno único
:: universidade eminentemente noturna
:: destruição do aparato governamental com o ideário neo-liberal num país de estrutura comunitária deficiente
:: ufanismo ainda presente: sublime e parceiro versus tosco e bizarro.

.b salvação
:: ou seja, precisamos pensar em inventar um novo Brasil, pois reconstruir o antigo não vale a pena
:: reformas democráticas que conduzam ao socialismo
:: algumas ações para a reconstrução:
:::: voto voluntário
:::: parlamentarismo
:::: voto distrital
:::: orçamento público universal
:::: eliminação de poderes redundantes (Senado, Poder Judiciário e Estados, fazendo apenas federação de municípios)
:::: emprego público: renda básica (substitui o salário mínimo), Serviço Municipal (brigada ambiental mundial)
:::: imposto de renda :: incidência sobre fatores e instituições e apenas nos bens de demérito dos produtores

POWER 15
:::: globalização e internacionalismo :: chegou a hora de resolver o problema de coordenação que impede que o crescimento seja global e a distribuição seja local
:::: geração de valor exclusivamente nas finanças

:: problema da inflação mundial :: ainda não entendo, nada li e pouco pensei a respeito
:: naturalmente, com minha equação do valor, fui levado a crer na relevância dos conceitos de NAIRU e Produto Potencial para orientar a política econômica de curto prazo
:: ou seja, se
MV = PQ
e
1 = V/P
então
Q = M = Y,
mas aí entram as condições NAIRU e Produto Potencial, pois há evidentes ligações entre o desemprego - U e a contração monetária, o que La Salle chamava de “lei de ferro dos salários”
:: e aí pulamos para
M = f(U),
como vemos na condição de equilíbrio geral (dos mercados de bens, monetário e de trabalho) do modelo IS-LM
:: isto significa que precisamos, com a MIP, determinar os canais por meio dos quais os juros penetram o sistema econômico:
.a desejos de antecipação do consumo
.b planos de investimento
.c expansão do crédito para atender a e b
.d encargos da dívida pública
:: e ainda: como é que a taxa de câmbio mesmo de uma economia não lá muito aberta afeta o nível de preços domésticos? como é que – dizem alguns – “a inflação gera doença, mas o câmbio gera morte”.

Então depois disso tudo estampei aquele powerpointezinho que não recebeu o tradicional n. 16, mas dizendo

"Obrigado!"


DdAB

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