03 março, 2017

O Mundo das Palavras e o Economista


Querido diário:

Também o economista vive no mundo das palavras. Gosta tanto dele que até criou uma linguagem própria: o economês. Diz ainda que a análise econômica pode ser discursiva, gráfica ou matemática. Pelo isomorfismo das palavras econômicas com os números, a última encontra-se em franco progresso. Mas será que o mundo das palavras que tanto serve ao economista pode, também, ser servido por ele? Depende. Talvez o economista possa servi-lo ao contribuir para que entendamos quais as relações econômicas subjacentes à atividade cotidiana de se ganhar a vida.

Praticamente todo mundo ganha a vida explorando as palavras, ainda que cada um desenvolva seu jargão, seu estilo, apropriando-se de palavras e dando-lhes significados pessoais. Mas não há sentido em uma língua de um único falante, pois sua essência é precisamente facilitar a comunicação entre dois seres. Neste contexto, a própria linguagem é trabalho morto, ou seja, foi criada com o trabalho vivo, tentativas e erros de inúmeras gerações e cristalizou-se na forma de um léxico e regras gramaticais que servem como instrumento de trabalho para as gerações subsequentes. Um exemplo é o código de Hamurabi, que sistematizou regras e padrões de comportamento, viabilizando os primeiros passos do progresso civilizatório em larga escala. O próprio Sigmund Freud diz à p.102 do livro Introdução à Psicanálise: “A linguagem constitui a cristalização dos conhecimentos acumulados”.

O genial historiador italiano Carlo Ginzburg fala sobre como surgiu a escrita: talvez depois da leitura. E que os diviners tratavam de mantê-la em segredo. Nos tempos modernos, cabe à informática moderna expandir como nunca a indústria do conhecimento.

Os neologismos resultam de novas manifestações do concreto. Em particular, a indústria, como geradora de produtos, é uma grande geradora de palavras: rádio, xerox, fotografia, TV, vídeo-cassete, binóculo, aquecedor, e tudo o mais

A língua portuguesa foi fundada oficialmente com a famosa canção da ribeirinha. Se fui forçado a lê-la, minha vingança é que a esqueci quase completamente ("minha pastor, fremosa senhor", e olhe lá). Precisaria mais do que a prometida força humana para torná-la inolvidável para mim. Mas quem inventou as palavras? A palavra “português”, por exemplo, é do século 13 e economia é do século 16. Mas sem economia não teria havido português, ao passo que, sem português, não haveria a ciência econômica.

DdAB

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