Querido diário:
Há uns 30 anos, qualquer reunião que fazíamos parecia um golpe no regime militar. Naquele ambiente, alguns economistas "nacionais" eram convidados a falar em Porto Alegre, trazendo alento, mostrando que nem tudo estava perdido. Hoje lembrei de Lauro Campos, professor da UnB, emigrato do PT ao PDT por discordâncias ideológicas e éticas. Vi-o na Faculdade de Economia da UFRGS (Av. João Pessoa, 52) falando sobre Keynes. Lembro de algumas coisas, as notas que fiz esmaeceram-se, mas não ao ponto de impedir-me de lembrar que ele disse ter lido a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, se bem lembro, mais de 60 vezes.
Sempre entendi que "a leitura é um dos o combustíveis do pensamento" e, desde setembro de 2004, por uma influência cruzada de Carlos Henrique Horn e Eugênio MIguel Cánepa, tenho lido regularmente (ainda não cheguei nem a dez ou 20...) o livro "Dialética para Principiantes", de Carlos Roberto Cirne-Lima.
Ontem, ao ler por aqui e por ali, mais uma vez, deparei-me (não o fizera antes?) com a frase "Ergo a ciência não é pós-moderna, i. e., ciência não é tolerância". O livro é impresso, claro, a frase é manuscrita, vê-se in loco.
Ao matutar sobre isto, vem-me à cabeça uma profissão de fé na ciência e no progresso, isto é, no iluminismo! Sou levado a pensar na ciência econômica, no ensino de introdução à economia e minhas tradicionais imprecações contra os que lançam imprecações contra o conceito de equilíbrio. Mas meu radicalismo ("sou contra o impeachment e contra o governo") não para aí, vai mais longe. Vejamos Cirne, páginas 17-18:
"A razão pós-moderna põe um subsistema ao lado de outro subsistema, e mais outro, e ainda mais outro, sempre um ao lado do outro, sem uma unidade mais alta e mais ampla, que os abranja: os interstícios entre os vários subsistemas ficam vazios. A razão pós-moderna nega a existência de princípios ou leis que sejam universalíssimos, que interliguem os diversos subsistemas, ou seja, que sejam válidos sempre, em todos os âmbitos, em todos os interstícios e para todas as coisas. Mais, ela diz que - a rigor - não há proposição que seja universalmente válida."
Ou seja, "ciência é coisa de quem foi criado guacho e não fica dizendo 'eu acho, eu acho'". E foi por isto mesmo que me entusiasmei ao entender que ciência afirmativa é aquela que consegue preencher todas as lacunas de seus subsistemas, amarrar os pontos adequados por meio de um conjunto de axiomas. Na ciência econômica, posso dar alguns exemplos, ocorrendo-me agora aqueles que regem:
.a. a teoria do comportamento do consumidor
.b. a teoria dos números índices.
Segue-se, ou melhor, sigo dizendo que o verdadeiro iluminista (a Esquerda A e seus corifeus) é aquele absolutamente tolerante com as pessoas, mas radical com o abandono do cânone, antes que este seja substituído por outro ainda mais rico e, assim, mais radical!
P.S. esta é a capa do CD que contém materiais laterais ao livro, encantados com a maravilhosa arte de Maria Tomaselli (Cirne-Lima).
DdAB
P.S.S.: transcrição do Facebook.
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