30 outubro, 2015
Teleologia do Mundo Econômico
Querido diário:
A maior parte dos estudiosos do comportamento humano na esfera econômica considera que um dos anseios perenes do homem contemporâneo consiste em elevar seu nível de consumo de bens e serviços. Aumentar a oferta para atender esta demanda é possível através de dois caminhos: usar mais recursos ou usar mais eficientemente os recursos disponíveis. Claramente , o primeiro caminho é mais fácil de ser trilhado, mas não pode sê-lo por muito tempo, dada a finitude dos recursos das empresas, da cidade, do país e, por fim, do próprio planeta em que vivemos. Assim, o caminho do uso mais eficiente dos recursos é o único que apresenta-se sustentável a longo prazo, tão longo quando seja necessário para abandonarmos este habitat, pois bem sabemos que é perigoso morar em planetas.
É por tudo isto que se pode sustentar ser o progresso técnico de importância fundamental para, por meio da distribuição de seus frutos, elevar o padrão de vida dos indivíduos. De sua parte, identificar sua magnitude é importante pois tem consequências sobre a distribuição da renda e da acumulação de capital.
DdAB
Imagem daqui.
Marcadores:
Economia Política
28 outubro, 2015
Pelo Impeachment do Judiciário
Quando olhei esta foto (que não consigo rastrear o site de origem, além de Facebook, Jānis Bērziņš)), fiquei pensando em quanto uma enorme massa de brasileiros se engana ao levar tão a sério a palavra de ordem de impedir a presidenta Dilma. Tenho desenvolvido umas equações que apontam para a vilania nacional nascendo bem no poder judiciário, sua morosidade e sua incompetência.
A mais nova medida judicial é ridícula. Aquele remédio que alegadamente cura o câncer (e que não tem evidência clínica nem aprovação da ANVISA) teve uma ordem de fabricação emanada de um juiz, forçando a USP (or whatever) a ingressar numa seara que em absoluto não lhe diz respeito.
Uma coisa seria a lei dizer "quem quiser que compre", como deveria dizer há séculos com relação às drogas (aliás, acho que o crack deveria ser distribuído gratuitamente em salas de consumo). E a outra é forçar órgãos governamentais ou não não propriamente a entrar no mercado, que não o há, mas a produzir gratuitamente. Falta de noção. Este juiz devia ser condenado a estudar a teoria da escolha pública.
Mas existe um precedente que considero até mais vergonhoso: o furo na fila do transplante. Um juiz, seguido de outros incontáveis luminares, acolheu um pedido de um advogado (e outros incontáveis) dizendo que a saúde é direito constitucional de seu cliente, logo os doentes sem clientes poderiam aguardar repescagens nas filas.
E mais: sei que, na UFRGS, volta e meia, um juiz manda aprovar alunos. E o récord foi um estudante que insurgiu-se contra a iniciativa de um professor que reprovou o aluno por desempenho insuficiente nas aulas práticas de atendimento ao paciente humano. A justiça disse que nada a ver com aula prática e reprovação e mandou aprovar o estudante.
Finalmente: os juízes são saqueadores do tesouro, com salários milionários.
DdAB
Marcadores:
Economia Política
26 outubro, 2015
Tou pensando que a Dilma tá certa!
Querido diário:
Pelo menos, na visão/autodefinição de Agostinho Neto. Ao se dar conta de que a direita o chamava de esquerdista e a esquerda o chamava de direitista, ele concluiu que estava mesmo era certo. E tá cheio de gente de direita que acha que a Dilma é mais comunista que Luiz Carlos Prestes. Eu, da esquerda (tão esquerda que já fugi do círculo trigonométrico de raio unitário, hehehe), acho que a Dilma faz um governo de direita.
Em outras palavras, sou contra o impeachment e contra a Dilma! (E, infelizmente, não sou a favor de ninguém, ou melhor, sou a favor de alguma liderança jovem que talvez, como disse Moraes Moreira, "quem sabe tem mais de um quebrando a casca do ovo?").
Aliás, quando falamos de impeachment, devemos escolher qual dos 32 pedidos é o que tem apoio ou repúdio da turma do programa de auditório.
DdAB
Imagem daqui. Postagem espelhada do Facebook.
Marcadores:
Besteirol,
Economia Política
25 outubro, 2015
As Origens de Meu "Problemão" de Microeconomia
Querido diário:
Todo mundo conhece o problemão da parte de microeconomia dos cursos de introdução à economia que vim ministrando com galhardia desde o primeiro semestre de 1982? Pois ele está aqui, com as respostas criadas pelo hoje contador Paulo Eduardo Dresch Kronbauer. E de onde veio este exercício? De várias aulas e fontes de estudos diversos, tanto na condição de aluno como na de professor. O fato é que a lista foi parar nas mãos de meus papeis de introdução à economia, mas bem lembro de haver começado a fazê-la quando iniciei minha carreira docente, em 1976, na Unisinos (prof. João Acyr Verle), com a disciplina de microeconomia.
Mas não foi apenas em minhas anotações, ou melhor, minhas anotações também se valeram de materiais que me passou o prof. Achyles Barcellos da Costa, meu eterno amigo. E sempre procurei dar créditos dos méritos havidos em minha lista ao já finado prof. Alfredo Steinbruch, um dos patrimônios da educação/matemática do Brasil.
De tudo isto, volta e meia vinha-me um friozinho na barriga por achar que estava sendo excessivamente literal com os exercícios dados pelo prof. Steinbruch, merecendo -por parte de pessoas de maus bofes- o epíteto de plagiário. Pois há poucos dias, encontrei as listas do prof. Steinbruch, guardadas por mim com zelo, mas que nunca me detive em procurá-las. Em meus registros, elas resultam de um curso de especialização ministrado por ele em algum ano anterior a 1975, contemplando cursos elementares de cálculo diferencial e integral e também de álgebra de matrizes.
No que segue, vou transcrever as listas de exercícios contidas nesse impresso apenas referentes ao cálculo diferencial, especialmente, o mundo das derivadas de uma função já devidamente aplicadas à teoria econômica. Como não poderia deixar de ser, darei algumas editadas no material, pra mode de facilitar a transcrição e a leitura.
PRIMEIRO PROBLEMA
Temos uma tabela contendo dados sobre diferentes quantidades produzidas e seus correspondentes níveis do custo total. Ele pede que se determine uma equação para essa nuvem de pontos. E a partir dela, a equação, pede:
.1. estabeleça a equação do custo total em função da quantidade produzida.
.2. calcule o custo fixo.
.3. calcule o custo total para uma produção de 100 unidades.
.4. calcule o custo médio para uma produção de 100 unidades.
.5. calcule o custo marginal para uma produção de 100 unidades.
.6. calcule o custo médio para uma produção de 25 unidades.
.7. calcule o custo marginal para uma produção de 25 unidades.
.8. calcule o custo médio para uma produção de 50 unidades.
.9. calcule o custo marginal para uma produção de 50 unidades.
10. calcule a quantidade que deve ser produxzida para que o custo médio seja mínimo.
11. calcule o custo médio mínimo.
12. calcule a elasticidade do custo para uma produção de 100 unidades.
13. calcule a elasticidade do custo para uma produção de 25 unidades.
14. calcule o valor da quantidade produzida para a qual a elasticidade do custo é igual a 1.
SEGUNDO PROBLEMA
Suponha que o fabricante, cuja produção é referida no item anterior, tem o monopólio sobre um mercado no qual a equação de procura é:
q = 80 - 4p,
onde q é a quantidade procurada e p é o preço de cada unidade.
.1. calcule a receita quando a quantidade vendida é de 50 unidades.
.2. calcule o preço quando a quantidade vendida é de 50 unidades.
.3. calcule a receita quando a quantidade vendida é de 30 unidades.
.4. calcule o preço quando a quantidade vendida é de 30 unidades.
.5. calcule o valor da quantidade para a qual a receita é máxima.
.6. calcule o valor da receita máxima.
.7. calcule o preço de monopólio no caso da receita máxima.
.8. calcule a elasticidade da procura em função da quantidade procurada.
.9. calcule a elasticidade da procura em função do preço.
10. calcule a elasticidade da procura quando o preço é 7,5.
11. calcule o valor da quantidade procurada para o qual a elasticidade da procura é igual a 1.
12. calcule o lucro quando a quantidade vendida é de 50 unidades.
13. calcule o lucro quando a quantidade vendida é de 40 unidades.
14. calcule o valor da quantidade procurada para o qual o lucro é máximo.
15. calcule o valor do lucro máximo.
TERCEIRO PROBLEMA
Suponha que o monopolista, além do mercado referido no item anterior, disponha de outro mercado no qual a equação da procura é:
z = 36 - 2s,
onde z é a quantidade vendida e s é o preço, e que deseja distribuir a produção de 50 unidades nos dois mercados de modo a obter a receita máxima.
.1. calcule as quantidades q e z a serem destinadas ao primeiro e ao segundo mercado, respectivamente
.2. calcule a receita total obtida nos dois mercados.
.3. calcule o preço de venda em cada mercado.
.4. calcule o lucro obtido nos dois mercados.
Eu pensei que algum leitor diligente deste blog (ou amigo do amigo que lê) poderia resolver todos os exercícios e divulgar por aqui mesmo!
DdAB
Marcadores:
Economia Política,
TER Equilíbrio
23 outubro, 2015
Ensinando "Introdução à Economia"
Querido diário:
Primeiro: "Introdução à Economia" não é uma disciplina em si, no sentido de que o são as "Finanças Públicas", a "Econometria" ou a "História do Pensamento Econômico". Parece-me que seu objeto eterno deve ser transmitir uma visão da ciência econômica moderna para iniciantes, de modo a capacitá-los a continuar estudando outras disciplinas, integrando-se no todo. Acredito, alternativamente, que o egresso de "Introdução à Economia" não terá condições de discutir temas muito avançados, precisamente pela razão de que ele/iniciante não tem tempo nem formação para aprofundar-se na teoria. Exagerando um pouco, parece que um objeto sensato para este curso consiste não em estudar a realidade econômica, mas sim conjuntos de teorias que permitam sistematizarmos o conhecimento dessa realidade, de modo a começar a entendê-la. Com sorte, o aluno, ao final dos quatro anos de curso de graduação, e somente por aí, estará apto a manter conversação a respeito dos da empresa e da economia agregada.
O tradutor para o espanhol do livro de introdução à economia de Richard Lipsey apresenta o que me parece o ideal em termos de um curso de "Introdução à Economia (página VI da 1a. edição de 1972):
un curso introductorio vendría dado por quatro partes, una primera dedicada al estudio de la formación evolutiva del concepto, siguiendole otra sobre questiones metodológicas, una tercera sobre sistemas y formas de organización económica y por último la concerniente al analysis económico. (ênfases no original).
A experiência ensinou-me a não falar em método antes de ensinar teoria. Deste modo, inicio o curso falando naquela aula inaugural sobre o mundo visto sob a luneta do economista, despontando as empresas e o movimento do sistema como um todo (produto, emprego e preços). Em seguida, falo no papel dos modelos econômicos na construção da teoria, falo do modelo elementar da formação do preço e do modelo do fluxo circular da renda (hoje em dia, certamente, falaria no modelo completo daqui). Em seguida, dou cursos elementares de microeconomia e macroeconomia. No primeiro, mostro a determinação do preço em um mercado do qual se conhecem as curvas de oferta e procura. No segundo, basicamente também mostro isto, mas levo o aluno a percorrer todo o percurso do modelo IS-LM.
Claro que torna-se necessário abrir um item chamado de "problemas contemporâneos", ou algo similar. Neste caso, deve-se discutir um conjunto de grandes questões, como "capitalismo monopolista", "empresas multinacionais", "finanças internacionais", "socialismo realizado", "rearmamento", "subdesenvolvimento", "racismo", "sexismo", "estagflação", "crescimento econômico", "meio-ambiente", e outros.
DdAB
A linda e resplandecente imagem lá de cima veio daqui.
Marcadores:
Economia Política
22 outubro, 2015
O Feissi
Querido diário:
Sigo minha aventura de novato no Feissi. Claro que Face é anglicismo e a pronúncia de "fêissi" não daria pedal com aquele feissi que intenvei (não é "feicí, não é, pois não?). Quem olhar detidamente a imagem que selecionei para ilustrar meu Besteirol de hoje verá que exibo a condição de professor auxiliar de ensino da UFRGS, o que me remete a mais de 30 anos back to the past.
Qual é o problema? É a inteligência artificial rebelde, pois não era isto que eu queria dizer. Já fiz outras traquinagens, ou melhor, a inteligência artificial é que o fez, como por exemplo, registrar-me como solteiro e, ao me dar conta do que isto significava (falsidade ideológica, termo que aprendi nos tempos da Sociedade de Economia do RGS), corrigi para "casado" e comecei a receber congratulações pelo mau passo (que a esposa não me ouça)...
DdAB
20 outubro, 2015
Vacas e Hienas
Querido diário:
O caderno Campo e Lavoura de Zero Hora de hoje, em sua página 3, tem a manchete e texto:
Produção de leite por vaca no RS é a maior do país
Após inúmeras operações para conter a fraude na produção de leite no Estado, uma notícia alentadora para os gaúchos. Dados do IBGE mostram que o RS teve a maior produtividade por vaca ao somar 3.034 litros, acima da média do país, de 1.525 litros em 2014.
E prossegue. Mas eu parei por aqui. Primeiro, a vaca local produz o dobro da vaca nacional. Por um lado, eu mesmo conheci vacas produzindo apenas 4,5 litros por dia. Esta cifra originou-se de uma pesquisa de campo feita, em 1976-7, em pleno rebanho leiteiro da bacia das cercanias de Porto Alegre. Eu disse 4,5. Aqueles 3.034 dão até mais de 10 litros por animal. Por outro lado, não nego que haja vacas subdesenvolvidas mesmo no Rio Grande do Sul, subestimando o potencial do rebanho de pedigree, o mesmo acontecendo -até com mais razão- no restante do país.
Mas tem o segundo daquele primeiro: não posso deixar de considerar que o início da notícia me inquieta dia-e-noite. Será que não será que essas cifras ganharam o ímpeto milagroso precisamente em virtude (virtude?) das fraudes? Será que a metade da produção do leite de escol não foi mesmo ureia, água e outros artifícios de expansão do volume e "teor de gordura"? Fraudar o leite da vaca só pode ser prática de hienas.
DdAB
Imagem aqui.
Marcadores:
Economia Política
19 outubro, 2015
O Roquenrou e as Políticas Públicas
Querido diário:
No Segundo Caderno do jornal ZH do sábado que passou, páginas 6-7, há uma extraordinária entrevista (humana e cabeça) feita pelo jornalista Juarez Fonseca com uma das legendas do roquenrou gaúcho, o cantor e compositor Fughetti Luz (Liverpool transformado em Bixo da Seda e carreira solo). Rola muita informação interessante sobre ele e -acho genial, humano e natural- a natureza humana. Nas duas questões finais, que transcrevo, Juarez Fonseca sai do rock'n''roll e vai para a política. Tempos áridos, respostas sábias:
JF - Te interessas por política?
FL - Claro, tenho várias ideias para o Brasil. Por exemplo: se agente vive numa democracia, por que somos obrigados a votar em vez de sermos livres para votar? Se não votamos, não nos dão documentos. Acho que os Estados têm que ser independentes, com leis próprias, o país seria melhor. O povo não aguenta mais o atual sistema, está velho e arcaico. O país está em 'desordem e regresso'. E temos que ver a origem do dinheiro dos candidatos, os caras têm que ter ficha limpa desde o início. E não pode ter religiosos na política, essa panelinha tem qu acabar. Sei que são pensamentos utópicos, mas é o que eu acho.
JF - E o que mais?
FL - Quero energia limpa, eólica e solar, pararmos um pouco de agredir a natureza. Quero o país todo ligado por trens. O sistema prisional também precisa mudar, penso que os presos devem plantar sua própria comida e ser separados pelo tipo de crimes que cometeram. Deveria haver professores nas cadeias. E agora, pelo contrário, os professores estão apanhando da polícia. Vi na TV professores sangrando em Curitiba e aquilo me cortou o coração. Pensei em minha mãe, que era professora. E ainda ganham uma miséria de salário. Sem professores bem tratados, o que será de nós?
Achei especialmente interessante que ele refere dois portmanteaux a que volta e meia eu recorro para descrever a sociedade igualitária. Educação na prisão! A escola precisa de professores, dentistas, cozinheiros, motoristas. E também ginásios esportivos, bibliotecas, e por aí vai. E as prisões, além dos guardas, juízes, promotores, precisa exatamente destes demais ingredientes.
DdAB
P.S.: quem não é gaúcho sabe que "bixo" é como os veteranos da faculdade designam os calouros? Seriam os últimos tão burros, sendo incapazes de escrever "bicho" para autodefinir-se. E que seda -será em todo Brasil?- pode ser entendido como "colomi"? Da imagem daqui:
Marcadores:
Economia Política
18 outubro, 2015
Desigualdade Ainda Ontem
Querido diário:
Pois bem, chegou o horário de verão. Em compensação, o blog de Leonardo Monasterio (aqui) enviou-me para o local de onde recolhi a imagem acima.
Que diz ali? Magnifique a imagem e verá. Os 1% mais ricos do Brasil detêm 25% da renda brasileira, elevando-se o estonteante percentual para 54% quando passamos a falar dos 10% mais ricos (dados de 2012, ontem, para padrões interestelares). Sempre digo que não conheço praticamente ninguém abaixo destes 10% ou, se conheço, deixo por desconhecidos os que se situam abaixo dos 20%. Talvez conheça algum mendigo, algo assim. Mas o resultado é que "sou da classe alta" e mantenho relações apenas com assemelhados.
E tem gente que é contra a bolsa família e não é contra a renda básica, pois nem sabe que ela poderia amenizar a desigualdade local.
Será que precisa redistribuir renda no país? Se algum dia criarmos um partido que decida assumir esta missão, vou dizer-lhes:
.a. aumentem o gasto público com saúde, educação, essas coisas manjadas
.b. aumentem o imposto de renda.
E será que com estas duas legendas, nosso partido não seria natimorto?
DdAB
P.S. E você, onde anda? Diga-me, sabendo que naquela fonte a desses 1% de ricaços é igual ou superior a R$ 18,5 mil mensais (em 12 parcelas perfazendo R$ 223 mil no ano).
Marcadores:
Economia Política
17 outubro, 2015
Horário de Verão: ontem e hoje
Querido diário:
Todos bem já sabemos que, em 1995, lancei meu primeiro livro: A Cura da Época Futura. Porto Alegre: Ortiz. 239p.
E que nas páginas 63-66, reproduzo o artigo
Todos madrugando, alguns lucrando. [que reproduzi aqui]
E que o original foi publicado (em português) no Bulletin of the Oxford University Brazilian Society. n. 3 p. 6-7, em outubro de 1989.
E que meu argumento era que o horário de verão que estava começando por aqueles dias no Brasil (e mais ou menos terminando lá no reino em que, então, eu morara) gerava mais-valia relativa e absoluta. A mais-valia relativa queria dizer que aquela simples mudança nos ponteiros do relógio levava a uma economia de energia, elevando a produtividade do sistema, sem distribuir seus ganhos aos trabalhadores. E a mais-valia absoluta era que se lhes roubava uma hora em outubro, devolvendo-a, sem juros, apenas em fevereiro.
Hoje no jornal as duas páginas centrais inteirinhas tratam do assunto. Primeiro, dizem que o horário de verão está completando 30 anos no país, depois do período getulista em que foi ativado e desativado... Acho que combate era mais à ditadura do que às economias da prática. Segundo, no domingo, começa o horário de verão 2015-2016 nas regiões centro-oeste, sudeste e sul. Uma população atingida de 129,4 milhões de habitantes.
Segundo o jornal, a economia de energia será de cerca de 2,5 mil Mw. A isto se chama de mais-valia relativa, pois é um ganho de produtividade originário do melhor uso dos recursos por parte de toda a população (trabalhadora). Como sabemos, um chuveiro gasta lá seus 2.500 mega watts. E o récord monetário foi de R$ 405 milhões (creio que a preços correntes em 2013-2014. No ano seguinte, o valor monetário da economia foi inferior em R$ 127 milhões (creio que roubados por políticos). No ano gordo, a economia foi de R$ 3,2 por habitante destas três regiões do Brasil. Em termos físicos, a economia é de 19,3 watts por habitante. Lá naquele artigo, pelos cálculos que fiz em minha -então- moderna calculadora Sharp, a economia teria sido de 6,1 watts por habitante para todo o Brasil. Ou seja, há uma certa discrepância um tanto inaceitável. Sei lá se confio no Bulletin of the Brazilian Society ou na Zero Hora.
Mas tem um cálculo que não muda, a não ser a taxa de juros. Que acontece caso eu separe uma unidade do que quer que seja, por exemplo, uma hora de meu tempo e a aplique a uma taxa de juros de 5% a.a. durante os 126 dias da encrenca (com aquela dubiedade do limite ser 20 ou 21/fev/2015). Então
Ct = C0 x (1 + 0,05/365)^126 = 1,017
ou seja, nossa mais-valia absoluta é de 1,7%.
Que quero provar com isto? Muita coisa, inclusive lembrar que uns anos antes de ter escrito o artigo eu começara a usar os instrumentos analíticos que me foram dados pelo conhecimento que adquiri da teoria econômica para pensar no outro lado das questões. Em geral, era o lado que sobrava para o povo. Passei a interessar-me mais agudamente pela questão distributiva. A verdade é que eu estudara em microeconomia aquela xaropada neoclássica da formação do preço dos fatores. Caí na verdadeira real sobre o mercado de trabalho apenas alguns anos depois, quando comecei a lecionar macroeconomia.
DdAB
P.S. A encrenca termina no dia 21 de fevereiro, ou melhor, o 21/fev é um domingo e acho que o negócio termina à meia-noite de sábado. Em outras palavras, no dia 21 não haverá mais economia.
Marcadores:
Economia Política
14 outubro, 2015
O Miniporco Brasileiro e a República Popular da China
Querido diário:
A grande questão é se a China chegou no desenvolvimento de tecnologias de produção de miniporcos coloridos e aí se industrializou ou vice-versa. Tenho argumentado que o Brasil poderia ter baseado seu desenvolvimento econômico precisamente neste tipo de desdobramento da base agropecuária nacional, muito mais propícia a voos tecnológicos que o gigante asiático.
Se alguém anda pensando que sou um gênio futurista, basta lembrar, para colocar-me no chão novamente, que vi o filme Blade Runner, Caçador de Androides. Aquela distopia fascinante deixou claros os limites do desenvolvimento capitalista: ilimitado. Volta e meia, falo em perspectivas infinitas para a medicina (galgar a eternidade), os transportes (lua de mel nos anéis de Saturno) e, naturalmente, as finanças (seguros generalizados).
E por que falei em miniporco brasileiro lá no título? Porque aqui ainda levaremos quatro ou cinco séculos para colocar os meninos de rua na escola.
DdAB
Olha aqui:
A grande questão é se a China chegou no desenvolvimento de tecnologias de produção de miniporcos coloridos e aí se industrializou ou vice-versa. Tenho argumentado que o Brasil poderia ter baseado seu desenvolvimento econômico precisamente neste tipo de desdobramento da base agropecuária nacional, muito mais propícia a voos tecnológicos que o gigante asiático.
Se alguém anda pensando que sou um gênio futurista, basta lembrar, para colocar-me no chão novamente, que vi o filme Blade Runner, Caçador de Androides. Aquela distopia fascinante deixou claros os limites do desenvolvimento capitalista: ilimitado. Volta e meia, falo em perspectivas infinitas para a medicina (galgar a eternidade), os transportes (lua de mel nos anéis de Saturno) e, naturalmente, as finanças (seguros generalizados).
E por que falei em miniporco brasileiro lá no título? Porque aqui ainda levaremos quatro ou cinco séculos para colocar os meninos de rua na escola.
DdAB
Olha aqui:
Laboratório na China vende miniporco 'sob medida'; dono pode escolher
cor
ANJANA AHUJA
DO "FINANCIAL TIMES"
14/10/2015 17h00
A reputação técnica do BGI, antes conhecido como Instituto de Genômica
de Pequim, é invejável. Suas realizações incluem o primeiro sequenciamento dos
genes do arroz e do panda gigante; colaboração na descoberta dos segredos
genéticos dos grãos de sorgo e soja; e assistência nas investigações para
desvendar a estrutura do vírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars).
Agora, a instituição chinesa desenvolveu uma nova linha de trabalho como
fornecedora de animais de estimação. O instituto cria porcos em miniatura para
teste de remédio e vem editando seus genes a fim de manipular as dimensões e
outros traços dos animais. Em uma recente conferência de cúpula mundial sobre
biotecnologia, o BGI anunciou que começaria a vender animais produzidos sob
encomenda. Os miniporcos, que aparentemente roubaram a cena na conferência,
custarão 10 mil yuan (US$ 1.500). No futuro, os compradores poderão especificar
certas características, como a cor dos pelos. O dinheiro servirá como uma
modesta fonte de receita para complementar o verdadeiro rio de dinheiro que o
BGI recebe do Banco de Desenvolvimento da China.
Não só os cientistas agora se sentem suficientemente confortáveis com a
edição de genes para comercializar animais feitos sob medida como a história
sobre os miniporcos produzidos sob encomenda surgiu no mesmo momento em que era
anunciado outro grande avanço porcino. Biólogos da Universidade Harvard
conseguiram extirpar 62 retrovírus das células renais de um porco. Essas
remoções são necessárias se o objetivo é explorar órgãos de porco para
transplantes humanos —extirpar os vírus reduz o risco de rejeição.
Miniporcos e pequenos animais de estimação
Esse momento de domínio sobre o genoma suíno não chegou sorrateiramente;
na verdade, já apareceu correndo: apenas três anos depois que a tecnologia de
edição de genes ganhou reconhecimento mais amplo, os seres humanos estão
transformando criaturas emendadas em animais de estimação ou fornecedores de
peças de reposição. Estamos remodelando outras espécies para nossos fins.
Os cientistas da China têm motivos válidos para a criação de uma linha
de pequenos porcos. Os animais são um equivalente fisiológico mais próximo ao
ser humano do que os ratos ou camundongos, para o teste de medicamentos. Mas o
tamanho importa: criaturas de grande porte requerem doses altas, e os
medicamentos experimentais tendem a ser dispendiosos.
Assim, os pesquisadores decidiram que reduziriam os objetos de suas
experiências, e escolheram uma variedade de porco pequena, a raça bama, como
ponto de partida. Enquanto um porco adulto da variedade regular pesa cerca de
100 quilos, os porcos bama atingem metade desse peso. Os pesquisadores do BGI
usaram embriões de porcos bama e desabilitaram um ou dois genes receptores de
hormônios de crescimento. Isso criou animais que chegam apenas aos 15 quilos.
O cruzamento de machos bama geneticamente miniaturizados com fêmeas bama
de tamanho normal produziu ninhadas nas quais metade dos filhotes tinham
tamanho reduzido. Os miniporcos, que foram usados para estudar células-tronco e
nanismo, podem servir para atender à demanda por animaizinhos de colo. Alguns
cientistas, no entanto, ficaram perplexos e preocupados com a incursão incomum
do BGI ao reino do comércio.
Os porquinhos anões foram criados usando uma tecnologia de edição de
genes relativamente antiga. Na verdade, é uma técnica mais recente, conhecida
como Crispr - sigla em inglês para aglomerados de repetições palindrômicas
curtas com interespaçamento regular -, que está revolucionando o campo. O
método, na forma empregada pela equipe de Harvard, emprega tesouras moleculares
para aparar porções do genoma, que em seguida são repostas e reparadas. É tão
simples que alunos de pós-graduação são capazes de executar o processo.
A tecnologia está avançando rápido, e não só nos porcos. Ela está sendo
usada no combate a doenças hereditárias e ao câncer, em ratos de laboratório, e
também para criar safras agrícolas mais resistentes e biocombustíveis. A
precisão está crescendo.
Como disse a professora Jennifer Doudna, uma das inventoras do Crispr, a
marreta está se tornando um bisturi. De fato, da mesma forma que temos a Lei de
Moore para descrever o ritmo de avanço do poder de computação, poderíamos ter a
Regra de Doudma para capturar a velocidade cada vez mais acelerada com que
estamos embaralhando e cortando as cartas genômicas que a natureza nos deu.
Neste ano, um pesquisador da Universidade Sun Yat-sen, em Guangzhou,
editou o genoma de um embrião humano para eliminar o gene da talassemia, um
grupo de doenças hereditárias do sangue. Ao adaptarmos outras espécies às
nossas necessidades, certamente aceleraremos a reformulação da nossa.
Tradução de
PAULO MIGLIACCI
Marcadores:
Economia Política
Impeachment: então era mesmo golpe
Querido diário:
Por que esta postagem é carimbada como economia política? Pois economia política é economia e política, não há economia sem política, nem o contrário. Claro que não estamos falando exclusivamente da teoria econômica, que conhece tanto de política quanto os triângulos sabem medicina.
E que tem de economia? Tem que a instabilidade criada no Brasil contemporâneo já mostrou-se penalizadora da classe trabalhadora, com um e meio milhão de empregos destruídos. Isto que nem chegou o fim-de-ano. E que mais? Déficit público escandaloso, inflação escandalosa e câmbio escandaloso. E juros escandalosos. E política?
Pois a lei dizia que o presidente da câmara dos deputados (hoje o insondável deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro) tem poder de receber e processar ou arquivar pedidos de impeachment do/a presidente/a da república. No caso de aceitar o pedido, abre-se uma comissão que chega, em determinado momento, à votação pelos deputados (depois vai ao Senado). Esta votação requer dois terços dos 513 deputados, ou seja, 342 votos pela destituição do máximo mandatário. Até aí nada de original.
O que de original juntou-se ao descontentamento de setores da sociedade com os rumos do que uns chamam de lulo-petismo e outros, apenas o governo Dilma, é que houve um acordo do presidente da câmara dos deputados com "as oposições" para que ele recusasse o pedido e algum deputado descontente com o arquivamento recorresse ao plenário. E daí? Daí é que, dias antes de se deflagrar um dos vários pedidos de impeachment (parece que o arquitetado pelos advogados Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr.), o deputado presidente da câmara criou uma nova lei que, neste caso, a maioria parlamentar não seria de dois terços do plenário, mas apenas a metade, isto é, 267.
Isto não é golpe? A Dilma merece que se a mantenham no cargo? A resposta sensata é um enfático "sim, era mesmo golpe!" para a primeira questão e um estrondoso "não" para a segunda. Mas a segunda é algo volitivo, nada tem a ver com o programa de auditório em que se converteu praticamente toda a vida social brasileira (e mundial, não é mesmo?). Eu, em especial, acho que o governo de Dilma assumiu um caráter tão à direita que chega a fugir do zero grau do círculo trigonométrico de raio unitário e se insere em outro de raio 1000. Mas nem mesmo em outras eleições chego a pensar, pois acho que teremos mais do mesmo. A mudança deverá ocorrer apenas quando o mais modesto dos professores de escola ganhar mais que o mais apaniguado dos juízes.
E se não fosse golpe? Seria o mesmo tipo de casuísmo que a milicada praticou ao proibir que Lula, lá naqueles tempos, fosse candidato a deputado usando o apelido. E o casuísmo de nosso ex-presidente foi revidar incorporando o nome do
Molusco cefalópode, dibranquiado, decápode, loliginídeo (Loligo brasiliensis), do Atlântico, de coloração amarelada com manchas escarlates, podendo mudar de cor segundo o meio ambiente, corpo alongado, com nadadeiras triangulares do lado oposto à cabeça, provido de dez tentáculos com ventosas, dois dos quais são mais finos e alongados. Sua carne é muito estimada. [Enfase adicionada por este eleitor].
a seu nome para poder ser candidato como Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não deixei de notar que nascia a dinastia dos Lula da Silva, enfim o povo, ou o que pôde escapar, no poder.
DdAB
P.S.: O comentário de Felipe que reproduzirei adiante (e que se pode ler no local pertinente) permitiu-me ver que cometi um erro de edição. O original que ele comenta exibia no quinto parágrafo a seguinte sentença: Isto não é golpe? A Dilma merece que se a mantenham no cargo? A resposta sensata é "não" para a duas questões.
Ou seja, claro que a resposta da primeira questão não é não! A prova que cometi um erro de edição é que dali a pouco digo: "E se não fosse golpe?". Se não fosse é por que é, não é?
P.S.S. Comentário de Felipe:
Não é golpe???????
Como não?????
No que segue em seu comentário, em linhas gerais, ele refere argumentos que usei acima, essencialmente aquela questão da ordem constitucional de requerer dois terços para aprovar o pedido do impeachment e a mudança que Eduardo Cunha queria imprimir, para baixar este quorum para a metade.
Marcadores:
Economia Política
13 outubro, 2015
Repercussões Imprensíferas
Querido diário:
Meu ponto é que a repercussão das notícias da imprensa em outros órgãos de imprensa é "são os mesmos", até fazê-lo tornar-se um assunto destacado. Penso que se anteontem não houve declarações mais escabeladas da direita ou da esquerda:
-enforque-se o último burguês nas tripas do último padre
- enforque-se o último padre comunista com as cordas do violão do recentemente finado ad hoc do músico de protesto.
São pontos de vista respeitáveis, admito, mas o melhor mesmo é fazer o que aprendi com FHC e já falei neste blog: o totalitário quer destruir o inimigo, ao passo que o democrata quer atrair o inimigo para seu lado. E tem mais, naquela campanha presidencial admirável de 1989, Lula sempre falou em seus antagonistas não como inimigos mas como 'adversários". Acho que foi o Frei Beto que cantou esta pedra.
E que dizer de Aécio Neves? Nunca se conformou em ter perdido a eleição, com um programa que cheguei a sugerir ser tão parecido com o da eleita que, tibiamente, andei designando aquela encrenca toda como chapa Dilma-Aécio (onde? aqui). Mas teria uma diferença importante: a questão das privatizações.
Para mim, ainda falarei mais sobre o tema, pois tenho-o como um punhal cravado em meu coraçãozinho igualitarista, privatização num país com uma distribuição da renda escandalosa, significa dar a propriedade dos ativos estatais aos ricos. Já pensou se aquele casalzinho de empregada doméstica e motorista de ônibus compram o Banco do Brasil? Com que roupa?
Tanto se falou, Aécio falou, em impeachment de Dilma que a turma dos sem noção passou a gostar do tema e hoje ele virou a grande pegada do estilo programa de auditório da política brasileira.
DdAB
Alguém aí lembra de quem é esta foto? Eu a chamo de "Men on a Wire", em homenagem àquele lindo filme chamado de "Bird on a Wire". E parece que, no Brasil contemporâneo, (e no antigo e no futuro próximo) estamos todos - homens e mulheres - na corda bamba.
Meu ponto é que a repercussão das notícias da imprensa em outros órgãos de imprensa é "são os mesmos", até fazê-lo tornar-se um assunto destacado. Penso que se anteontem não houve declarações mais escabeladas da direita ou da esquerda:
-enforque-se o último burguês nas tripas do último padre
- enforque-se o último padre comunista com as cordas do violão do recentemente finado ad hoc do músico de protesto.
São pontos de vista respeitáveis, admito, mas o melhor mesmo é fazer o que aprendi com FHC e já falei neste blog: o totalitário quer destruir o inimigo, ao passo que o democrata quer atrair o inimigo para seu lado. E tem mais, naquela campanha presidencial admirável de 1989, Lula sempre falou em seus antagonistas não como inimigos mas como 'adversários". Acho que foi o Frei Beto que cantou esta pedra.
E que dizer de Aécio Neves? Nunca se conformou em ter perdido a eleição, com um programa que cheguei a sugerir ser tão parecido com o da eleita que, tibiamente, andei designando aquela encrenca toda como chapa Dilma-Aécio (onde? aqui). Mas teria uma diferença importante: a questão das privatizações.
Para mim, ainda falarei mais sobre o tema, pois tenho-o como um punhal cravado em meu coraçãozinho igualitarista, privatização num país com uma distribuição da renda escandalosa, significa dar a propriedade dos ativos estatais aos ricos. Já pensou se aquele casalzinho de empregada doméstica e motorista de ônibus compram o Banco do Brasil? Com que roupa?
Tanto se falou, Aécio falou, em impeachment de Dilma que a turma dos sem noção passou a gostar do tema e hoje ele virou a grande pegada do estilo programa de auditório da política brasileira.
DdAB
Alguém aí lembra de quem é esta foto? Eu a chamo de "Men on a Wire", em homenagem àquele lindo filme chamado de "Bird on a Wire". E parece que, no Brasil contemporâneo, (e no antigo e no futuro próximo) estamos todos - homens e mulheres - na corda bamba.
Marcadores:
Economia Política
12 outubro, 2015
Empate Político: Lia Luft
Querido diário:
Hoje li em Zero Hora uma longa entrevista com a escritora Lya Luft. Caderno PrOA, páginas 8-9. Ela diz muita coisa interessante, em geral com um viés, digamos, conservador. Mas faço-lhe eco a
Como nosso governo virou um mercado persa, um balcão de negociação, não tenho muita esperança de que mude tão cedo.
Pensei: benvinda a meu clube, que tenho declarado a amigos não esperar nada pelos próximos dez anos. E talvez até 12 anos, quando eu completar meus 80. Mas precisaríamos conceituar governo: executivo, legislativo, judiciário, federal, estadual, municipal, situação e oposição: tudo que ganha dinheiro do tesouro nacional. E até andei falando algo sobre este modismo do impeachment que ela diz algo parecido:
ZH: É a favor do impeachment?
LL: Não sei se impeachment. O legal seria que ela dissesse: 'Ó, boa noite, vou pra casa'.
Em minha opinião, este seria o modelo do Capitão Nascimento, que chegou à corrupção vista de Brasília, há muitos anos. Mas não sei se seria realístico: ninguém abandona o poder sem ser forçado a fazê-lo. Aliás, se o fizessem, teríamos uma debandada de Brasília.
Mas agora vem a visão naive da parada, uma discussão importante que volta e meia recebe respostas ingênuas.
ZH: A senhora afirma no livro [que deu origem à entrevista] ser contra as cotas nas universidades. Por quê?
LL: Não acredito muito, Sempre me dá a impressão de que o melhor era proporcionar estudo de qualidade para todos, pobres, pretos, pardos, amarelos. As cotas não dignificam a pessoa. Tenho dois netos que têm sangue negro direto e poderiam ter usado as cotas, mas não quiseram. Entraram na universidade pelo próprio mérito.
Derreado com esta saída, os netos, outros falando na administração do país como em sua família, aquelas coisas. achei que no máximo poderia sugerir à escritora que aumentasse o tamanho da amostra, contemplando também outros netos. Por exemplo, os dos meninos de rua.
DdAB
Imagem: aqui.
Marcadores:
Economia Política
10 outubro, 2015
Como Fazer Amigos...
Querido diário:
No outro dia, por erro de manipulação, por ser novato no Facebook, levei amigos a pensar que eu estava me casando, que me casara no início de outubro. É que eu estava aparecendo como solteiro, ou algo assemelhado, e isto causou certa confusão e apreensão da parte de meus familiares: teria eu sido despachado por quem de direito?
E ainda no outro dia, o jornal Zero Hora, que leio com exação, publicou a seguinte piada: um homem e uma mulher encontram-se virtualmente num chat e decidem um encontro real. Não se gostam, a garota vai ao banheiro, o carinha pede ao garçom para ligar para seu número telefônico escondido. A garota volta do banheiro, o garçom toca o telefone, o valente diz para a garota que morreu-lhe a avó. E a garota comenta: "Que sorte, pois -em mais alguns minutos- seria a minha que iria morrer."
Pois comovo-me com este tipo de história e fiquei imaginando o incentivo e a tecnologia para esse não-casal voltar a investir no afeto, no carinho, no amor ou na amizade e criei o seguinte:
CÓDIGO DE AÇÃO NO CHAT
.1. Ação: se achas um/a cara interessante, propões um chat (no próprio Face?, em sites especializados?), dizendo coisas do seguinte estilo:
.a. gosto de teu nome
.b. gosto de teu sobrenome
.c. gosto de teus óculos
.d. gosto de teu sorriso
.e. [para santarrões:] gosto de teu escapulário
.f. teu sobrenome evocou-me um personagem de Machado de Assis [e com isto abrem-se as portas da literatura universal, com milhões de nomes e sobrenomes. Não recomendo o médico Simão Bacamarte, de "O Alienista"...]
.g. evocação de nomes e sobrenomes de pintores, escultores, cientistas, amigos, parentes, etc.
.h. pareces um amigo de infância que não vejo há muitos anos.
.i. "não fomos colegas no Julinho [na faculdade, na academia, no show de Nenhum de Nós, no ônibus Glória, na Churrascaria Parrilla del Sur"?
.j. os nove itens acima não se restringem a nove estratégias, mas a mais de um bilhão delas, praticamente uma para cada chinês/a.
A evidência da eficácia do estilo é a verdadeira infinidade de casais já formados, outros em formação e os milhares de bebês que sobrevieram ao chat.
DdAB
Imagem daqui. Trata-se de uma pintura de William Baumol intitulada Sistina 4. A propriedade, pelo que imagino, é daquela galeria. E por que Baumol? Ainda falo mais nele, mas por ora é para botar pressão na turma que distribui o Prêmio Nobel de Economia (ver o blog do Leonardo aqui).
Marcadores:
Besteirol,
Escritos,
Vida Pessoal
09 outubro, 2015
Solow, o Meio-Ambiente e o Lixo da História
Querido diário:
Solow: Robert Solow, prêmio Nobel de economia de 1987. Lixo da história: demagogia barata feita por mim. Mas já explico, pois ainda deixei sem registro o meio-ambiente do título. Neste mundo de buscas constantes de radicalização, veio eu com meu meio-termo, minhas meias palavras, minha crença iluminista no progresso da humanidade inspirado na tecnologia, ou melhor, na inventividade humana.
Nunca me opus à concessão do prêmio referido a ele, pois dez anos antes da consagração, eu lera dois ou três artigos (à época dificílimos, hoje impenetráveis). Lembro o que está indo para o lixo, mas não posso esquecer de referir o de 1957 (?) sobre o progresso tecnológico (que até hoje fascina meu colega e professor Adalmir Marquetti). Parece óbvio: se existe lei da entropia, as funções de produção planetárias devem crescer a taxas decrescentes (isto é, mais recursos geram mais produção, mas menos que proporcionalmente). E não adianta dizer que Paul Romer matou a questão, pois existe um horizonte de planejamento em que as atuais tecnologias (e que são espantosamente mais agudas que as de 60-70 anos atrás) geram gerações de funções de produção, todas com retornos decrescentes (e nem estou falando em rendimentos decrescentes do fator, que também me parece uma obviedade). Alongo-me, bem o sei. Talvez abrevie o cerne da viagem.
Então: lixo. É que uma vez contei bem contadinhas minhas caixas A-Z com fotocópias de artigos guardados e poucos relidos desde os tempos em que comecei a estudar para valer (1975, mestrado do atual PPGE-UFRGS e, no caso, 1977, mestrado em Sussex), acumulando conhecimentos e xerox. Contadinhas, empilhadinhas, organizadinhas, tive 72 caixas. Não todas abarrotadas, pois organizava-as pela ordem alfabética do nome do autor e havia espaços quando uma caixa se desdobrava, sabe como é?
Então dias atrás comecei a limpeza de uma das caixas com autores de sobrenome iniciado com S. Pimba, cheguei em Solow. E que artigo está indo para o lixo? Antes vejamos por que está indo para o lixo: pois é só querer reler que o encontro no JStor. No caso,
SOLOW, Robert (1974) The economics of resources or the resources of economics. American Economic Review. V. 64, n. 2. Maio, p. 2-14.
Fiz-lhe um xerox em, digo lá, outubro de 1977. E que vi dele? Um neoclássico falando mal do livre mercado no que diz respeito à conservação do meio-ambiente. Não vou aprofundar-me nisto. O que desejo dizer é que os mal-entendidos que regem a visão de que a ciência econômica não dá respostas a problemas correntes em nosso tempo deveriam resolver-se pela aceitação de que, sim, ela dá. E boas respostas, na maior parte dos casos.
E tudo começou com ele? Claro que não. Ele mesmo na página 1 do artigo cita outra peça sobre o tema:
HOTELLING, Harold (1931) The economics of exhaustible resources. Journal of Political Economy. April. V. 39, n. 1 p.137-175.
Falei 1931? Falei. E que foi feito? Uma guerra mundial, milhares de guerras localizadas, incentivos à produção de automóvel, descaso com a explosão demográfica, uma pilha de coisas que deveria consagrar os economistas e vilipendiar os políticos e seu curto-prazismo. E nem estou falando no Brasil, terra, em minha opinião, cada vez mais, um entreposto comercial da Europa na América, cujos acionistas majoritários volta e meia trocam de mãos. E há relutância generalizada em se criar aqui uma democracia.
DdAB
Imagem daqui. Vemos que a imagem tem a propriedade de deixar qualquer um doido...
P.S.: quem lê minha conta no Facebook terá notado que mudei o frontispício (com perdão da palavra) por razões de gramáticas, ou melhor, diagramáticas, a gramática do espaço reduzido.
P.S.S.: No wonder, eu teria que inventar a escola de pensamento cognominada de neo-heterodoxa, pois vejo a maior sensatez neste tipo de abordagem. Felizmente, embora seja o único integrante vivo, estou bem certo de que gente como Oskar Lange mandaria fazer carteirinha.
P.S.S.S.: e quem foi meu aluno em Introdução à Economia (e talvez em Microeconomia) ter-me-á ouvido falar no metrô de Moscou (onde nunca estive) e que talvez tenha-me inspirado em Lange. Precisava-se decidir se haverá preço (e até hoje precisa, mas hoje a resposta é óbvia). E, se a decisão fosse por dar preço à viagem, qual deveria ser o valor deste? Pelo custo médio? Pelo custo marginal? Por subsídios cruzados? Por subsídios generalizados, aquelas coisas todas que fazem a farra dos professores de Microeconomia?
P.S.S.S.S.: e será que sai hoje anúncio do prêmio Nobel de economia de 2015?
Marcadores:
Economia Política,
Vida Pessoal
06 outubro, 2015
Até os Mortos Sabem
Querido diário:
Até os mortos sabem que "não há justiça neste país". Chico Xavier? Não: Érico Veríssimo. Fala Érico pela boca do finado Cícero Branco, advogado que, em vida, era um lambe-botas das atrabiliárias e corruptas autoridades de Antares (lá pena metade do capítulo 51 da segunda parte do último romance da legenda literária sul-riograndense).
Eu morro de rir quando vejo uma turminha pregando que o impeachment de Dilma vai salvar o Brasil. Impedindo nossa amiga Dilma far-sei-a justiça? Ou faz-se justiça reformando profundamente o sistema judiciário nacional, esta nau de mordomias e incompetência. Penso que iludiu-se quem achou que sairia algo permanente nas incursões do velho Joaquim Barbosa pelos meandros da corrupção. E agora, penso o mesmo com o jovem Sérgio Moro. E tem mais: não acho que haja justiça, que vivamos em uma sociedade justa enquanto mesmo os ladrões de galinha e outros ladrões, com o supermercado, a telefônica, o rádio-táxi, o militante partidário, o pesquisador universitário, uma curriola enorme de malfeitores e desalmados, toda essa malta não for trancafiada.
Seria que seria o impeachment de Dilma o começo da salvação nacional? E por que não teria sido o de Fernando Collor, já consagrado como governador de Alagoas (novamente, depois de cassado) e senador (atual, inclusive inocentado dos crimes de que foi acusado precisamente pelo poder judiciário)?
E que foi mesmo que disse, já morto, o doutor Cícero? Não era bem "não há justiça...":
O nosso famoso 'grafófobo', o coronel Tibério Vacariano, o espertalhão que sempre recusou assinar papéis, até mesmo os legais, dessa vez caiu na ratoeira: sem saber deixou gravada a sua voz no meu tape, e o que ele então disse poderia levá-lo à cadeia se houvesse justiça neste país.
Por que grafófobo? Pois o caudilho erudito (há indícios de erudição no livro, talvez dos anos em que "é bruto só que morou no Rio") tem fobia por assinatura, hehehe. A visão de Érico sobre o incidente do dia 13 de dezembro de 1963 tomou forma, como diz o prefácio (de Maria da Glória Bordini) da edição que tenho:
Dia oito de maio de mil novecentos e setenta. Andava caminhando com minha mulher pelas colinas do Alto Petrópolis quando a ideia me voltou com tanta força que comecei a trabalhar nela mentalmente. [...] Quando cheguei à esquina da Carlos Gomes com Protásio Alves, o livro já estava estruturado.[sic]
1970? Brasil bicampeão de futebol, Médici na presidência da república, ladroagem e tudo aquilo mais.
DdAB
A imagem é daqui. Será calúnia? E o que andei ouvindo, com inveja, sobre o presente de formatura em economia, um cargo de diretor da Caixa Econômica Federal, que até hoje me cobra para emitir talões de cheque?
Marcadores:
Economia Política,
Escritos
05 outubro, 2015
Teoria do Estado de Alfa: novas abordagens
Querido diário:
Quem me acompanha oral ou por-escritamente sabe que me declaro especialista em meia dúzia de temas. Dos que mais me agrada destacar nestas paragens há três:
.a. primeira sentença do Capital: a riqueza das sociedades humanas em que rege o modo de produção capitalista é dada por uma imensa acumulação de mercadorias. Nelas portanto inicia nosso estudo.
.b. a primeira sentença de Ulysses: Majestoso, o gordacho Buck Mulligan acercou-se do alto da escada, portando um vaso de barbear carregado de espuma imersa na qual repousavam um espelhinho e uma navalha.
Mas tem mais: tenho o maior orgulho em também declarar-me estudante de introdução à filosofia. Diria Jânio Quadros, fi-lo aqui, ou melhor na postagem citada, faço uma listinha de livros de introdução à filosofia usados como texto padrão para o ensino pré-universitário brasileiro. Naquele ambiente, um dos livros citados permitiu-me fechar outro, diria Eduardo Cunha -talvez referindo-se a um tiro na bancada da bala- furo em minha mente, meu conhecimento.
E qual desses livros teve esta propriedade miraculosa de permitir-me avançar na compreensão dos conceitos que regem parte de minha inserção no mundo? Ei-lo:
COTRIM, Gilberto e FERNANDES, Mirna (2010). Fundamentos de filosofia. São Paulo: Saraiva. [Saraiva? Saraivíssima, a mesma de nossos conhecidos livros de metodologia e técnicas de pesquisa e de teoria dos jogos].
Novo parágrafo: também se vão muitos anos desde que -lecionando microeconomia no nível de pós-graduação na PUCRS- criei o que designei como teoria do estado de alfa microeconômico, sobre a qual há uma boa meia dúzia de postagens no Planeta 23. Ela nada mais dizia respeito que à resultante das motivações humanas sobre sua ação (ver nota 1). Vejamos:
A = a x Eg + (1 - a) x Al
onde A é o índice que mede a ação humana, a é um coeficiente variando entre zero e a unidade, Eg é a ação egoística e Al é a ação altruísta.
Pois bem, filosofia, Cotrim, reflexões, aprendizado (rever nota 1), autocrítica, Marx, Engles, Lênin, Stálin, mais autocrítica, achar que a saída para a extinção (não me entenda mal...) dos meninos de rua encontra-se em meu horizonte de vida, essas coisas. E que refleti?
Bem no comecinho do capítulo sobre ética de Cotrim & Fernandes (página 290), fui inspirado (um 'a' um tanto grande para a teoria do estado de alfa aplicada ao plágio) a fazer o esquema lá de cima. Achei que a inserção mais geral daquele "ser, saber" contrastado com "fazer" diria respeito a "estar no mundo", o que contemplaria pedras e bactérias. Mas filosofemos:
.a. sabemos que as bactérias e pedras estão no mundo,
.b. mas não sabemos se elas sabem disto,
.c. sabemos que as pedras não são 'se-moventes', mas as bactérias o são,
.d. logo as bactérias móveis fazem movimentos provavelmente irrefletidos
.e. e aí chegamos à ação humana: provavelmente estamos no mundo (filosofia realista), provavelmente sabemos que estamos e chegamos à teoria da decisão. Agimos (como as bactérias) desenvoltamente, condicionados, claro, por alguns fatores. Diferentemente das bactérias, temos consciência das nossas ações, a maior parte delas, na verdade. A dupla Cotrim & Fernandes passa a discutir ética. Eu volto à teoria do estado de alfa. O índice cardinal que mede nossas ações é uma combinação linear (não poderia ser multiplicativa?) entre motivações egoísticas e outras altruísticas.
Digo mais: quando um indivíduo avalia seu A e mostra-se contente com a forma como combinou a, Eg e Al, direi que ele se encontra em equilíbrio. Sem -ironia prá cima dos críticos do conceito- tornar-se uma bactéria imóvel. A equação estava com validade para o período t e, no período t+k, qualquer destas três componentes pode variar (o parâmetro a e as variáveis Eg e Al).
DdAB
Uma vez escrevi algo para Gustavo Franco, Pérsio Arida, uma desta turma graúda, que não respondeu a meu ponto, mas ensinou-me algo: "Nunca me canso de aprender". Pois não é que eu também? Pois não é que logo hoje pensei pela primeira vez na equação dimensional da teoria do estado de alfa. Se o lado esquerdo é medido em "unidades de ação", então o lado direito também deve ser, em ambas as componentes. Mas, como todo mundo sempre pensou, aquele 'a' não tem unidade, o que implica que Eg e Al devem ser medidos em "unidades de ação", não é mesmo? Como chegar a esta correção na equação fundamental da teoria? Só mesmo medindo A, Eg e Al em índices, não é mesmo?
Marcadores:
Economia Política,
TER Equilíbrio
04 outubro, 2015
Mercados no "Martin Fierro"
Querido diário:
No Canto 14 de Martin Fierro, o clássico da literatura argentina, de autoria -como sabemos- de José Hernández, o segundo filho do protagonista do livro, de sua parte, protagoniza uma situação severa, mas com lições para o economista político. E até de boa aplicação no Brasil contemporâneo, local onde o vício tornou-se virtude, quero dizer, o roubo -além de consagrado pelos membros da família- deixa estupefatos mas inertes -por inermes- os demais vizinhos e demais cidadãos dos réprobos.
O segundo filho de Martin Fierro, que tomara o mundo para fugir de morte certa ou el na carcel ou nas mãos da polícia, deixara os filhos em situação de risco. Como a que hoje vivem milhões de brasileiros. Adotado por uma tia, o segundo filho passou a viver bons tempos até que a bondosa senhora morreu. Então o juiz local (haverá diferenças com a invejável competência do Brasil?) deu-o em adoção para um velho "que era medio cimarrón, muy renegao, muy ladrón", que amava os cães, como gente já nossa conhecida (aqui e aqui e que até hoje devo maiores comentários, pois mudei pilhas depois de lê-lo).
Então o homem de costumes abrasileirados de políticos diz:
Andaba rodiao de perros
que eran todo su placer,
jamás dejó de tener
menos de media docena,
mataba vacas ajenas
para darles de comer.
Carniábamos noche a noche
alguna res en el pago,
y dejando allí el rezago
alzaba en ancas el cuero,
que se lo vendía a un pulpero
por yerba, tabaco y trago.
Ou seja, como os políticos brasileiros, ele se apropriava da carne (como valor de uso) e do couro, pensando em tornar o último um valor de troca, ou seja, colocá-lo à venda e vê-lo virar mercadoria no momento da venda, no momento em que viraria valor, no momento em que daria seu salto mortal.
E que diabos de salto mortal era esse? Ele comprava erva, fumo e bebida produzidos por terceiros, uma relação perfeitamente mercantil, ainda que mais primitiva do que aquela que nossos patrícios entretêm com o setor financeiro suíço.
DdAB
A linda imagem é do lindo site aqui.
Marcadores:
Economia Política
Assinar:
Postagens (Atom)