15 março, 2024

Mais Filosofia da Aritmética do 1 e do 2

 


Quando é que

1 = 2?

É quando estamos usando os algarismos 1 e 2 apenas como taquigrafias, o mesmo ocorrendo com o sinal de igualdade. Queremos, no caso, apenas dizer: o primeiro (argumento) é igual ao segundo.

DdAB

03 março, 2024

Pressupostos Econômicos: realismo versus instrumentalismo

Uma equação de preço e valor



O Século XX mostra com clareza duas correntes na ciência econômica:

  1. uma, destinada a fazer o sistema funcionar ( qual o preço do sorvete ).

  2. outra, destinada a entender seu modo de funcionamento para, talvez, modificá-lo estruturalmente.

Da primeira, emergiram as chamadas vertentes neoclássicas e da segunda a economia marxista.

Em ambos os casos, a fim de proceder à verificabilidade (falseabilidade) das teorias propostas, tratou-se de buscar dados de apoio, em virtude da natureza de ciência social da própria ciência econômica e tudo o que já foi dito sobre a relação sujeito-objeto.

Particularmente, a economia neoclássica, preocupada que estava em dar respostas a problemas prementes, como o preço do sorvete, mas também a quantidade ótima de moeda em circulação e outras, passou a desenvolver métodos quantitativos estatísticos para qualificar suas respostas.

Hoje também a economia marxista utiliza amplamente estes métodos. Um exemplo é a teoria do valor trabalho, tachada de metafísica por Joan Robinson, que hoje pode ter o vetor do valores das mercadorias produzidas em um sistema derivado de uma simples matriz de insumo-produto.

DdAB

30 outubro, 2023

Eugênio Miguel Cánepa, meu querido amigo



Hoje busquei na internet o nome de meu querido, mas finado, amigo Eugênio Miguel Cánepa, nosso inesquecível Cánepa. Eu queria uma foto, mas encontrei aqui um obituário. Reproduzi-o com dor, que me alcançou à época do falecimento, mas a memória não não me permite datar, se em 2021 ou 2022. O obitiáruo fala em uma quarta-feira, 24 de março. A quarta-feira recente é de 2021. Fixo assim a data do passamento. 

E que me traz a estas tristes considerações? Faço então um registro duplo (ou triplo...). Estou terminando de ler o espetacular

MENZIES, Gavin (2021) 1491; o ano em que a China descobriu o mundo. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil. Tradução de Ruy Jungmann.

Trata-se de um livro de um conteúdo informacional tão profundo quanto surpreendente. A presença da China pelos campos da geografia mundial foi omitida de mim desde os primeiros anos de estudos da geografia e história do ensino pré-universitário. E seguiu razoavelmente omissa nas disciplinas que estudei na faculdade. Mas eu já ouvira traços, talvez rastreados pela profa. Neíte de Castilhos (do colégio Júlio de Caudilhos), que me ensinou geografia do Brasil no terceiro ano do hoje chamado ensino médio. Era um ano dedicado a estudar as disciplinas que entravam no exame vestibular para o curso de economia. E o ano de 1968, com fraudes abafadas na prova de geografia... pura ironia.

Pois estou seguindo uma carga de leitura paralela, ou melhor, carga vídeo-montada, pois às folhas tantas, vi referência a uma cidade perdida na Amazônia que Menzies chamou de Moribeca, mas o YouTube apresentou como Muribeca.

Mas volto ao título da postagem: eis que achei nas páginas 367-368, duas referências a um talvez antepassado de nosso amado Cánepa: Albino Cánepa, possivelmente vivendo no século XV, sendo cartógrafo e talvez trabalhado com base no mapa de Fulano Pizzigano.

Se Eugênio era um sábio meticuloso, imagino que, se é o caso, um antepassado foi quem lhe deixou tal carga genética.

DdAB

31 agosto, 2023

O Amor na Era da Ciência: um parágrafo de Marcelo Gleiser

 

(Tava ouvindo o U2 e digitando o texto do Gleiser)

Pensei que já tinha falado no livro de Marcelo Gleiser:

GLEISER, Marcelo (2016) A simples beleza do inesperado; um filósofo natural em busca de trutas e do sentido da vida. Rio de Janeiro, São Paulo: Record.

Mas não achei aqui no motor de busca do próprio blog (aliás, parece que andei publicando duas vezes as mesmas ideias expressas de maneira ligeiramente diversa. E agora quero referir um texto das páginas 109-110 que acho um verdadeiro breviário de combate ao obscurantismo que, infelizmente, tomou conta de boa parte d@s adult@s brasileir@s. (E ao usar o genérico @ para homens e mulheres já vou atraindo a ira de muit@s amig@s e até parentes.

[...] Onde alimentar nossa espiritualidade num cosmo regido por uma precisão calculista?

   Alguns optam por ignorar os achados da ciência, entregando-se ao extremismo religioso, submetendo-se ao dogmatismo de alguma ortodoxia. Isso, vemos em certos movimentos fundamentalistas, como Al-Qaeda ou ISIS, onde assassinar aqueles que se opõem aos seus valores é perfeitamente justificável pela sua fé. Ou mesmo em seitas não violentas, mas nem por isso menos fundamentalistas, como certos grupos cristãos ou judeus ultraconservadores, cujos valores permanecem firmemente ancorados no passado distante. Acho um tanto irônico encontrar um rabino ultra-ortodoxo, de barba longa, chapéu alto, vestido como seus antepassados o faziam séculos atrás, usando um GPS ou um celular, ou, quando vem alguma doença, tomando antibióticos ou recebendo terapias de radiação. Como conciliara o fato de que essas tecnologias são produto das teorias quânticas e relativísticas da física, da teoria da evolução e da genética na biologia, as mesmas que trouxeram uma visão de mundo tão antagônica à sua? Como conciliar o fato de que a mesma ciência que usamos para construir esses instrumentos e terapias é usada na datação de fósseis e da idade da Terra, ou na evolução das espécies de bactérias a pessoas? A inconsistência é absurda. Mesmo assim, milhões de pessoas optam por esse tipo de cegueira dogmática, sem se preocupar com o paradoxo de sua escolha.

A única saída que encontro para meu desespero lendo essa passagem e entendo que há montes de gente que não se flagra dessa contradição é citar Carlos Drummond de Andrade: 

Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.

DdAB

28 agosto, 2023

Mais Reflexões sobre o Lado Alegre do Capitalismo

 


No outro dia, em conversa franca, fui indagado sobre qual minha opinião sobre o capitalismo, o modo capitalista de produção. Claro que fiquei em cima do muro, dizendo nem sim nem não, ou sim, sim e sim, não. Mas nunca disse não, não. Primeiro, na linha de Elias Jabbour e associado, a China é um país contemporâneo que apresenta o modo socialista de produção. Segundo, lembrando que a sociedade humana criou estruturas econômicas que foram classificadas como modo de produção primitivo, modo de produção escravista, modo de produção feudal, modo de produção capitalista, modo de produção socialista e modo de produção comunista. 

Sempre pensei que a evolução entre esses modos de produção tinha a ver com os ganhos da sociedade em termos de evolução comunitária e aparente restrição de direitos de propriedade:

modo de produção primitivo: a propriedade dos recursos e dos bens e serviços disponibilizados pela natureza e pela escassa margem de trabalho embutido nos bens de caça, pesca e coleta, são de propriedade comum

modo de produção escravista, com direitos de propriedade praticamente nulos, pois nem a propriedade pessoal era assegurada aos escravos (e talvez aos outros que poderiam também ser tornados escravos)

modo de produção feudal, em que os direitos de propriedade  vedam o direito de vida e morte sobre os servos. Estes, no dizer de uma das frases famosas de Karl Marx, são duplamente livres: livres para ir e vir e livres de qualquer propriedade...

modo de produção capitalista, eis que no capitalismo o trabalhador tem o direito de ir e vir, garantindo-se à classe capitalista o direito à propriedade privada dos meios de produção.

modo de produção socialista, quando a propriedade privada é abolida, sendo as máquinas, equipamentos, fazendas, edifícios, todos propriedade estatal 

modo de produção comunista, em que os direitos de propriedade individual ou mesmo coletiva são todos abolidos: ninguém é dono das fábricas e nem mesmo de seu trabalho. Claro que para dizer que estamos falando numa sociedade avançada em matéria de abundância de bens materiais, vale a legenda de Marx: a cada um segundo suas necessidades e de cada um segundo suas possibilidades.

Quando esta classificação foi criada, ainda não havia "socialismo real". E quando este surgiu exalando sangue, suor e lágrimas por todos os poros, na União Soviética, ocorreram tantos desmandos, distanciando crescentemente a classe trabalhadora da camarilha dirigente que nem nos admira que tudo tenha ido para o museu dos modos de produção da história da humanidade. Mas tudo recomeçou, sigo Jabbour, com a China.

Então passo agora a falar sobre o tal lado alegre do capitalismo. Claro que, comparativamente ao feudalismo, já vemos um enorme lado alegre: acabou o cerceamento ao direito do trabalhador ir e vir. Mas há mais coisas boas a colher. Vou falar, na condição de professor de economia política neo-heterodoxo, em duas abordagens para a questão. A primeira é o conceito de eficiência que vim a retirar da literatura que dominei da economia de empresas. E a segunda é minha visão do problema sob a ótica marxista.

Para a economia de empresas, os três mais importantes desdobramentos do conceito de eficiência são:

a) Eficiência alocativa - quando o custo marginal é igual ao preço.
b) Eficiência distributiva - quando o custo médio é igual à receita média, ou seja, o lucro extraordinário é nulo.
c) Eficiência produtiva - quando o custo médio é mínimo..

E qual delas me levou a louvar a existência de um lado alegre do capitalismo? Exatamente a existência, em seu domínio de eficiência produtiva. A busca pela eficiência leva as empresas a usarem os recursos a seu dispor da forma que gera maior produto por unidade de insumo utilizado. Em outras palavras, em geral, isto significa produtividade do trabalho elevada, conduzindo ao crescimento econômico (mais recursos ou melhor uso dos recursos existentes).

A segunda abordagem para entendermos o lado alegre do capitalismo também tem a ver com a eficiência produtiva tratada nos moldes como o fiz pela chamada economia neoclássica. Mas agora estamos falando na abordagem da economia política radical, em particular a economia marxista. 

Aqui estamos firmando a base de nossa argumentação na diferença entre preço e valor das mercadorias. Sabemos que o valor, para os economistas clássicos e mesmo os economistas políticos radicais contemporâneos, é dado pela quantidade de trabalho socialmente necessário embutido nas mercadorias. E o valor total (V) produzido pela classe trabalhadora em determinado período é dado pela média dos valores dos trabalhos individuais de Li trabalhadores:

V = V1/L1 + V2/L2 + ... + Vn/Ln.

Explicando: a empresa 1 contrata L1 trabalhadores, a empresa 2 contrata L2 trabalhadores, e assim por diante. 

De sua parte, passando a falar no preço, temos

RT = pm x qm 

onde RT é a receita total obtida com a venda da mercadoria m e qm é a quantidade vendida. Segue-se que

pm = RTm/qm 

para o total de mercadorias produzidas, sendo individualizado como:

pm = RTm1/qm1 + RTm2/q2, ...

Sabemos que Marx postulava que Vm = pm,

ou seja, o valor médio da mercadoria é idêntico a seu preço médio. Agora estamos prontos para notar que os valores de RTmj e Vmj não necessitam ser idênticos, mais provavelmente sendo diversos.

Então a empresa que produz um valor Vmj menor que o preço pmj, isto é, que tenha a produtividade do trabalho menor que o preço, produz 

Vmj < pmj. 

Então ela produz menos valor e mais preço, o que a coloca numa posição privilegiada para acumular mais capitais ou distribuir o excedente de lucro para os proprietários.

 DdAB

P.S.1 JABBOUR, Elias e GABRIELE, Alberto (2021) China: o socialismo do século XXI. São Paulo: Boitempo. (Aqui temos uma resenha bibliográfica: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM/article/view/14788/14892)

P.S.2: pedi ao site GPT para conferir minha aritmética. Ele escreveu:

Aqui estabelecemos a base de nossa argumentação na distinção entre o preço e o valor das mercadorias. É sabido que o valor, de acordo com os economistas clássicos e até mesmo com economistas políticos radicais contemporâneos, é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário incorporado nas mercadorias. O valor total (V) produzido pela classe trabalhadora em um determinado período é calculado pela média dos valores dos trabalhos individuais de cada trabalhador:

=11+22++.

Explicando em detalhes: a empresa 1 emprega 1 trabalhadores, a empresa 2 emprega 2 trabalhadores e assim por diante.

Falando agora sobre o preço, temos:

=,

onde é a receita total obtida com a venda da mercadoria e é a quantidade vendida. Daí segue:

=,

para o conjunto total de mercadorias produzidas, individualizado como:

=11+22+.

É sabido que Marx postulou que =, ou seja, o valor médio da mercadoria é igual ao seu preço médio. Agora estamos preparados para observar que os valores de e não precisam ser idênticos; mais provavelmente, serão diferentes.

Assim, a empresa que produz um valor menor do que o preço , isto é, cuja produtividade do trabalho seja menor do que o preço, produzirá:

<.

Isso significa que ela produzirá menos valor e mais preço, colocando-a em uma posição privilegiada para acumular mais capital ou distribuir o excedente de lucro para os proprietários.

Se você desejar mais clarificações ou ajustes em alguma parte específica, sinta-se à vontade para perguntar.