02 junho, 2022

Pensando no Futuro

 


João Bosco: quem não conhece? Eu mesmo ouvi pela primeira vez "O Bêbado e a Equilibrista" no ano de 1977, na cidade de Reading. Very interesting, rende uma história, uma postagem, umas 25 postagens que, talvez, nunca venham a acontecer. Em compensação seu filho -dele, João Bosco- deu uma entrevista para o Caderno DOC do jornal Zero Hora. O jornal, que volta-e-meia designo como Zerro Herra pelo conservadorismo, decidiu entrevistá-lo nas páginas 2-4 da edição de 28 e 29 de maio deste ano corrente.

O jornal, como acabo de denunciar, é conservador e -creio- só entrevistou Francisco Bosco pois este "falou recentemente no Fórum da Liberdade", também uma iniciativa de grupos conservadores. Mas, aparentemente, o filho de João Bosco, não é lá tão direitoso assim, se não o ofendo com este "não é lá tão"... O entrevistador foi o jornalista Daniel Feix (daniel.feix@zerohora.com.br) que fez perguntas inteligentes e recebeu respostas educadas. A última pergunta feita por Feix foi:

Por que a pauta de costumes é tão importante em um país com tanta desigualdade social e índices de pobreza e fome altos e hoje crescentes?

A resposta de Francisco Bosco mexe com uma questão que apenas sinuosamente me é familiar:

Porque somos humanos e a espécie humana se define precisamente por transcender a dimensão material. É claro que a fome, o abrigo, a saúde serão sempre questões fundamentais e urgentes. Mas as pessoas têm outras necessidades fundamentais, também, entre elas o senso de comunidade, de pertencimento. A religião, a família, a tradição, essas são instâncias imateriais fundamentais para muitas pessoas. O paradoxo da sua pergunta se situa aqui: quanto mais precarizado materialmente, mais o indivíduo precisa dessas instâncias fortalecedoras, mais elas têm centralidade em suas vidas. A religião oferece pertencimento espiritual e social, numa sociedade com pouco sentido comunitário. A família é o laço incondicional num país em que o Estado falha no processo de reconhecimento de grupos sociais vulneráveis. A tradição protege psiquicamente num mundo em que tudo que é sólido se desmancha no ar. Portanto não é difícil entender o porquê da força da pauta de costumes - difícil é descobrir como conciliar os valores conservadores com a legitimidade moral dos grupos que reivindicam seus plenos direitos políticos e sociais, como o dos indivíduos LGBTQIA+. Esse é um nó difícil de desatar. Minha sugestão [...] é que o caminho deve ser sobretudo indireto: melhores condições materiais, moradia digna, cidadania digna, acesso à boa escolaridade; tudo isso tende a aumentar a secularização da sociedade, tudo isso tende a enfraquecer a centralidade da religião na vida das pessoas. Ora, por mais que existam muitos cristãos liberais, ou apenas moderadamente conservadores, é também verdade que o núcleo do reacionarismo brasileiro é cristão. Com uma maior secularização, a agenda progressista teria melhores condições de prosperar.

Muito interessante, não é mesmo? Lembrou-me da hierarquização das necessidades humanas feita por Abraham Maslow que transcrevo daqui deste blog (https://19duilio47.blogspot.com/2010/10/dilma-e-sus-americanos-e-maquinas.html) mesmo:

Em 1943, [ele] classificou as necessidades humanas que se costuma resumir em:
a) necessidades fisiológicas (metabólicas),
b) necessidades materiais superiores (segurança e estabilidade),
c) necessidades sociais (reconhecimento e afeição derivados de se pertencer a um grupo), e
d) necessidades superiores (evolução pessoal ligada à busca da verdade e significado da vida).

Alinhadas na seqüência articulada por Maslow, tudo indica que não nos dispomos a trocar um prato de comida pela audição de um poema: apenas de barriga cheia é que teremos aguçada nossa sensibilidade artística.

E pensei no grande clube da baixaria brasileiro -que não juro venha a resolver-se com a Chapa Branca sendo eleita - em que convivem cirurgias delicadas, de R$ 500 milhões e outras mais e menos caras e a prosaica barriga d'água, os médicos treinadíssimos e os professores analfabetos. no dia em que os políticos tomarem doses de baixo preço de vergonha cívica, o orçamento universal começará a disciplinar estes despilfarros de recursos. in the meanwhile, vai votando na Dilma aí, sô!


Corrigendum: "vai votando na Dilma" deve ser lido como "vai votando no Lula, se queres social-democracia".

E mais esta postagem, mais pedagógica aqui: https://19duilio47.blogspot.com/2009/11/maslow-sempre-maslow.html.

Falando em Dilma e Lula e o lulismo, agora temos a chance de, em outubro, voltar a votar na social-democracia nos moldes que já conhecemos. Basta seguir o programa de Francisco Bosco: " melhores condições materiais, moradia digna, cidadania digna, acesso à boa escolaridade".

DdAB

A imagem que nos encima veio daqui: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/hierarquia-de-necessidades-de-maslow-o-que-como-funciona/

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