(um presidente)
Tudo começou com este anúncio no Facebook:
Lembra que andei falando que 2021 seria um ano para esquecer?
[Exceto que 57 milhões votaram no jacaré]
Falava eu da última postagem de 2020. Então o prof. Conrado de Abreu Chagas entrou no assunto:
Quando daqui a alguns anos (os que sobrevivermos, claro está) nos lembrarmos destes amargos tempos (o tempora! o mores!), alguns de vergonha desejarão esquecê-los. "Em quem tu votaste, vovô?", ou "E a vovó, de que lado estava?", etc. Ai, ai, ai!
E acrescentou:
A propósito, acima aparecem exemplos do futuro do subjuntivo, uma peculiaridade dos que nos comunicamos em português.
Aí, fui perfungando-lhe:
Professor: e aquele "if I were" do inglês?
E ele respondeu, dando-me a ideia de encadear esta explicação nos marcadores de título "Conradianas":
Duilio
, bem lembrado. É um caso de subjuntivo, mas não de futuro, e sim, as you well know, de passado do subjuntivo. Creio que em inglês se use ainda, num registro elevado, o futuro com a forma "be", como ilustra a forma praticamente congelada "be it as it may". Observa, ainda, que mesmo a forma subjuntiva aconselhada "if I/she/he were", ao menos na Inglaterra, e com certeza na fala, é muito pouco usada. A galera usa "was" instead. Aliás, há flagrante preferência por "was" em outros contextos, pois não é incomum ouvir os britânicos dizerem "we/you/they WAS" no past simple. Voltando ao subjuntivo, esse modo amplamente usado no latim clássico, vem perdendo espaço nas línguas modernas: no inglês praticamente não existe, no francês se resume ao presente e no português já se lê na literatura do século XIX o imperfeito do indicativo no lugar do do subjuntivo, à moda do que se passou no francês a partir do século XVIII. Pergunta: estaríamos em vias de viver num mundo sem subjuntivo?Claro que me emocionei e pedi:
Peço permissão para editar tudo isto e colocar no blog, propagandeando aqui, como faço sempre.
E ele:
Claro, Dondo. Mete bronca. Feliz 2021, meu amigo. Abraço
Estávamos festivos. Estávamos ávidos de saber mais e não esquecer o que já aprendêramos. [Como sabemos, "Dondo" é meu apelido familiar que tentei esconder dos amigos extra-família durante 50 ou 60 anos.]
Dias atrás, veio-me à mente o verbo "ornejar", talvez homenagem de fim-de-ano ao presidente Bolsonaro, se bem que nem sei como se chama a voz do jacaré. Olha aqui. Então, quando eu falava em
Lembro, lembrei, lembrava, lembrara, lembrarei, lembraria
podia ter substituído por ornejo, sempre homenageando o desastrado presidente da república
ornejo (ele), ornejei (ele), ornejava (ele), ornejara (ele), ornejarei (ele), ornejaria (ele).
E o subjuntivo: que eu (ele) orneje, se eu (ele) ornejasse, quando eu (ele) ornejar.
DdAB
Nenhum comentário:
Postar um comentário