29 março, 2018

Igualitarismo e Consumo per Capita


Querido diário:

Quais são as evidências de que grandes diferenças no consumo per capita são perniciosas à vida comunitária? Em termos específicos, o consumo de whisky, cachaça, saúde, previdência, educação, polenta e outras iguarias da cozinha universal devem ser vistas com suspeição, pois podem gerar pinguços, doentes, carentes, analfabetos, peso excessivo. Sob o ponto de vista agregado, torna-se mais claro que Joan Robinson estava a toda corda quando falou que uma das questões centrais da filosofia econômica consiste em indagar o que permite que determinadas famílias vivam em luxuriante ostentação, ao passo que milhares de outras enfrentam o inferno para colocar comida na mesa três vezes por dia.

Claro que estes casos de desigualdade são uma presença inevitável em qualquer sistema econômico monetário, pois há divõrcio estrondoso entre geração, apropriação e absorção do valor adicionado. Nem sempre quem absorve está próximo a quem produz. E os desníveis no consumo per capita estão a atestar a pobreza moral do planeta neste início de século. E por que se fala em renda e não em consumo? Primeiro, porque é mais fácil mensurar a renda do que o consumo. Segundo, outra aproximação de renda é que esta é uma proxy da renda pessoal, esta sim determinante do consumo pessoal.

Então falemos mais sobre as diferenças de renda, eis que elas oferecem diferentes graus de poder não apenas sobre o quê e quanto produzir, mas sobretudo sobre a terceira questão: como distribuir. Significa que os que têm mais poder ficaram com uma parte substantiva, talvez em virtude da pleonéxia (Característica de uma pessoa que pensa erroneamente estar credenciada a uma parte maior do excedente econômico de uma comunidade do que aquela que legitimamente lhe cabe). Ou seja, há pessoas, bem as conhecemos, que sempre estão insatisfeitas com o que ganham, comparam-se a outras e aí mesmo é que reclamam, até que se apropriam daquela fração do excedente que, por mecanismos moralmente elevados, caberiam a terceiros. Neste clube encontram-se os avarentos, que nunca se consideram saciados em termos de poupança e patrimônio.

Que outros problemas perenes há na desigualdade exacerbada, como a que vigora entre os 1% mais ricos do Brasil (pelo que ouço, ela é maior que a média da população)? Ora, sabemos que a renda determina o consumo e este é um dos fatores determinantes do grau de felicidade sentida pelo indivíduo. Em outras palavras, sociedades que têm enormes desníveis do consumo per capita também deverão enfrentar enormes desníveis no grau de felicidade!

DdAB
Imagem: achei-a pois achei-a muito pertinente. Um país em estado estancado de progresso e com dívidas do porte da brasileira para a provisão de bens públicos e de mérito é de infelicitar.

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