29 junho, 2017

Emprego Público e Desigualdade


Querido diário:

Acabo de postar este blim-blim-blim aqui no Facebook:

Queridas, queridos:
A idade ainda far-me-á (como disse o rapaz que deveria era mesmo praticar um harakiri) esquecer todos os meus pecados (nenhum deles requerendo harakiri). No caso, não consegui rastrear um comentador do mural de Juarez Fonseca que referiu-se a informação constante da Wikipedia sobre a participação do emprego público no emprego total em diversos países do mundo.
A aposentadoria não me requer apresentar matérias com caráter científico, ainda que não me proíba fazê-lo. No caso, decidi correlacionar essa 'share' do emprego público com o índice de desigualdade de Gini, também disponível na Wikipedia para vários países do mundo.
Aposentado, esqueci como fazer gráficos no Excel (eu, que já fizera milhares) e em meu amado atual Ubunto, nem se fala. Pedi ajuda ao prof. Adalmir Marquetti, que fez o gráfico que vemos em seguida, mas pediu detalhes que passar-lhe-ei (Fora Temer) assim que possível.
Seja como for, quem acredita em mim saberá que, pareando o Emprego (E) com a desigualdade (D), pensei na equação D = f(E), ou seja, a desigualdade é uma função da participação do emprego público no emprego total. Minha expectativa teórica era que esta relação seria inversa, ou seja, baixo emprego público seria um preditor de alta desigualdade na distribuição da renda. E consegui parear 74 países, no que o Michelzinho, no futuro, vai chamar de amostra de conveniência.
Parece óbvio que podemos esperar mesmo que mais emprego público deve reduzir a desabotinadamente escandalosa desigualdade que perpassa a sociedade brasileira. Parece óbvio que não será com o governo (fora) Temer que teremos algo parecido com o aproveitamento dessa informação.


DdAB
P.S. Campeei um pouco mais e achei: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_public_sector.
E o índice de desigualdade de Gini está aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_income_equality.

P.S.S.: Comentários

Corina Dick: Fato!

Duilio De Avila Berni: Eureka: tá lá no mural do Ju, publicado às 19h30min de 24 de junho. E o autor da informação sobre a informação (hehehe) é José Antonio Meira da Rocha.

Jorge Maia Ussan: Está no Planeta 23?

Duilio De Avila Berni: Grande (enorme) prof. Jorge: publiquei aqui e passei para lá. Estou tentando chantagear o prof. Adalmir para trabalharmos seriamente no tema e fazermos um artigo acadêmico. O gráfico, bem notaste, trocou os eixos, invertendo a causalidade que proponho, pois falei que a desigualdade é explicada pelo baixo emprego público.

Jorge Maia Ussan: Pois é, as variáveis não estão ali. Não reclamo, isso é prerrogativa da aposentadoria...

Álvaro Magalhães: Com a EC 95, que congela os gastos públicos (essa sim uma jabuticaba venenosa), a relação entre emprego público e população iria diminuir e reverter a queda de desigualdade de renda verificada até 2014. Em 2015, com o ajuste fiscal, inicia a reversão de tendências nessas curvas. Não foi imposto por nenhum FMI da vida. É suicídio mesmo.

Duilio De Avila Berni: Quando digo que os governistas praticam a mais escalavrada desfaçatez não quero excluir simpatizantes que pensavam que a simples deposição da presidenta Dilma iria ajudar o Brasil a melhorar. Penso muito no harakiri a que uma turma de economistas deveria devotar-se. Mas o que mais me surpreende é a diferença de visão sobre o maior problema do país: uns acham que é gerar "emprego e renda", o que depende das "reformas" dos encastelados no poder, quando outros acham que é mesmo a desigualdade, o que requer mais setor público:
.a com a tributação progressiva
.b com o gasto público regressivo.
Aquele negócio de congelar o gasto público por 20 anos é uma piada de mau-gosto, pois é impossível que a recomposição da vida social brasileira (por exemplo, com mais segurança pública) possa ser alcançada sem profunda mudança na estrutura tributária, reduzindo drasticamente os impostos indiretos e metendo imposto de renda nas costas da turma (a macacada que ganha mais, digamos, de R$ 5 mil por mês, que parece representar 94% de todos). E gasto: gasto em educação, gasto em saúde, gasto em segurança, gasto em administração pública. Sabe-se lá que mais, Álvaro.

Paulo Roberto Nunes Ferreira: Se me permite, professor, proponho que junto a este futuro estudo, haja uma tentativa de correlacionar renda per capita com a participação do emprego público. Talvez também haja relação inversa. Obs.: sou servidor público. Grande abraço!

Álvaro Magalhães: Paulo: colega, se tu me indicares um único país de renda per capita alta com estado fraco, já seria um começo.

Paulo Roberto Nunes Ferreira: Álvaro Magalhães, humildemente, estou propondo o estudo nos mesmos moldes exatamente para ver se a minha percepção faz sentido quando olhada para o todo. Pelo que percebo em meu país (no meu dia a dia de trabalho), haveria também esta correlação inversa.

Duilio De Avila Berni: Assim faremos [, Paulo]. Minha intuição já vai dizendo haver relação direta, uma variante da chamada lei de Wagner.

Guilherme de Oliveira: Prof.: Pareando países semelhantes em todas as dimensões e contrando por outros fatores que podem explicar as variacoes da desigualdade, será que a intuição sobrevive? Abcs.

Duilio De Avila Berni: Como disse antes, Guilherme, espero chantagear o prof. Adalmir para responsabilizar-se pela seriedade acadêmica da pesquisa. Obviamente a realidade humana é mutável, de sorte que resultados empíricos simplesmente não podem garantir sólidas conclusões para a implementação de profundas mudanças econômicas.
No caso, minha intuição vale-se de muitos anos de estudo da desigualdade e de minha visão de que seu principal antídoto é mesmo o emprego em geral. Um país com uma parte substantiva da população desfrutando de empregos formais (empregos decentes, na linguagem da OIT) tende a exibir melhores indicadores de desenvolvimento. Meu ponto é que muito emprego significa, por exemplo, que um sargento da força pública pode ter evoluído (como foi o caso de Erechim no RGS) da situação de menino de rua. E aí começa o círculo virtuoso da geração de igualdade via emprego: o filho do sargento pode ter aulas de piano com uma professora que, otherwise, estaria desempregada. A filha da professora, como presente de 15 anos, ganharia uma viagem à Disneilândia. O agente de viagens terá o filho consultando um dentista. O dentista terá o filho estudando economia. Os professores de economia é que deveriam ganhar aumento...

Juarez Fonseca: Me desculpem, mas não entendo essas contas...

Duilio De Avila Berni: Creio que nem a maior parte da audiência da Rádio GreNal, hahaha.

Ricardo Holz: Emprego publico ehnso concursado? Ex: politicos e terceirazafos dos correios entraram na amostragem?

Ricardo Holz: Funcionarios do dmlu estao nessa?

Duilio De Avila Berni: Meu vigilante amigo Ricardo: ficou sem dizer que não fui capaz de verificar exatamente o conteúdo da informação (emprego público e mesmo o Gini) dos diferentes países. Em particular, o caso do emprego precisa mesmo dessas qualificações, em particular, se é apenas administração direta. Parece-me óbvio -hás de concordar- que emprego na Petrobrás ou no Banco do Brasil não deve ser considerado como emprego público, nem com nepotismo, empreguismo e sindicalismo.

Ricardo Holz: Perguntei de curioso. Sao questionamentos q me vieram a cabeca na hora...

Duilio De Avila Berni: Ricardo Holz : mas isto não exclui elogios para tuas intuições. E não falei por não gostar de "palavrões": o diagrama de dispersão poderia estar exibindo um problema para a estimação dos parâmetros de uma curva chamado de heteroscedasticidade. Parece que a variância das informações com menores níveis de emprego (eixo horizontal) é maior do que a média de toda a amostra de conveniência que compus.

Paulo Kronbauer: Duilio, competente professor da PUCRS. E, o origami, Mestre Duilio?
Abrcs

Duilio De Avila Berni: Querido Paulo: sabes que ainda ontem mexi na lista daqueles 100 exercícios de "teoria elementar do preço" cujas respostas determinaste? E mexo sempre. O origami macroeconômico encontra-se aqui:
http://19duilio47.blogspot.com.br/.../ontem-na-fadergs.html


abcz
E agora (25/set/2017) acrescento:
Naquelas lucubrações sobre a relação entre desigualdade e emprego público, pensei numa série de regressões. Nos manuscritos de 1987 or so, tenho outras sugestões com a renda setorial sendo função da governental (que, na realidade é o pagamento dos funcionários públicos)
. Agr = A(Gov)
. Ind = I(Gov)
. Serv menos Gov = S(Gov)
. comércio, transportes, etc.

. poderia pensar nos bens públicos e meritórios

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