Querido diário:
A revista Cult é minha mais nova conquista literária. Há outras de qualidade similar, como a Piauí, e outras que fogem agora. No início de junho, recebi o número de maio, com um artigo de Vladimir Safatle, que bem conheço das páginas da Carta Capital, minha número um que, por afetiva, cognominei de "Capital dos Carta", especialmente por ser mais nacionalista que eu gostaria. Pois Safatle fala no fim da democracia liberal, liquidada pelo neo-liberalismo que tomou corpo a partir do final dos anos 1970. E o ano de 1970, a meu ver, consagrou o fim da União Soviética, quando Nixon, a mando de Henry Kissinger, invadiu a China.
Então o que vou dizer foi pensado antes de eu começar a sofrer com essa nova concepção de que vivemos um tempo de golpe mortal para a democracia. Mas, ainda assim, penso existir uma brecha para a democracia: precisamente o aprofundamento da social-democracia, em novos moldes, sem aqueles ranços nacionalistas que me incomodam na Carta Capital e até sem o pessimismo do Safatle, que aciona apenas muito de leve com o governo mundial ou com o nacional-desenvolvimentismo, as empresas estatais, aquele pesadelo todo que o Brasil vive até hoje.
Então o que quero falar sobre greve/s poderia parecer apenas um arroubo de erudição, pois vou falar nela, greve, em três línguas. A primeira, o português, que incorporou esta palavra, se bem lembro, no século XIX. E a incorporou do francês: grève. E que quer dizer greve no Dicionário Google? Diz:
substantivo
Rivage.
La grève est couverte de coquillages .
Cessation collective du travail pour la défense d’intérêts communs.
Une grève tournante, une grève générale .
verbo
Faire supporter de lourdes charges financières à.
Des dépenses qui grèvent un budget .
Ou seja, quem tá pra greve não tá pra conversa. E em inglês? Temos strike, dado pelo Dicionário Google como:
substantivo
a refusal to work organized by a body of employees as a form of protest, typically in an attempt to gain a concession or concessions from their employer.
dockers voted for an all-out strike
a sudden attack, typically a military one.
the threat of nuclear strikes
verbo
hit forcibly and deliberately with one's hand or a weapon or other implement.
he raised his hand, as if to strike me
Então, depois de ter estudado a teoria dos jogos (que se expressa também por meio de uma revista chamada "Journal of Conflict Resolution) e, em particular, a teoria da barganha, comecei a pensar que Greve com G maiúsculo é a greve geral e que greve com g minúsculo são as demais greves. Ou seja, Greve, grève e strike. A greve geral é soberana, é a forma central e fundamental com que a classe trabalhadora pode trancar os mal-feitos da classe capitalista e até do governo. Quem entra na greve geral tem consciência de classe e quem não entra pode ter falsa consciência ou mesmo ter problemas psicológicos de tal magnitude que nem a mãe ubérrima poderia conter.
Então que deve ser feito para substituir as greves particulares? O momento não é bom para falar, como sugeri pelo diagnóstico lá de cima de autoria de Vladimir Safatle. Depois que ele, momento, passar, poderei sugerir que se crie uma corte arbitral e uma barganha assistida para cada vez que os trabalhadores de determinada empresa ou setor (mas não de todos, o que deflagraria greve geral) mais explorados que o razoável, peçam a deflagração do processo, que culminará com redistribuição dos ganhos daquela/s unidade/s produtiva/s.
Se houver renda básica universal (rendimento incondicional) e emprego no serviço municipal (rendimento em contraprestação a serviços comunitários), os benefícios para a classe trabalhadora são de tal magnitude que as greves locais tornam-se perfeitamente substituíveis por barganhas arbitradas por agentes reconhecidos por ambas as partes.
Há razões teóricas e empíricas para entender que todos sairão ganhando com essa prática, mesmo sem me elegerem presidente da república em 2018.
DdAB
Não foi por outra razão que não se associasse à salvação da humanidade que a profa. Brena e eu fizemos o livro que nos encima.
Adendo: fica faltando, para salvarmos o mundo, providenciar emprego público para todos os interessados no Serviço Municipal. E, principalmente, ceder a administração das coisas -inclusive as coisas da política- às mulheres. Todas as sociedades matriarcais de que tenho notícia são muito mais pacíficas que as regidas por homens.
Por falar em adendo: disseram-me que alguns cálculos insuspeitos confirmam que apenas 1% de corrupção é algo tolerável e até sensato. E fiquei pensando o que quer dizer "sensato" para um negão do porte do aécio, temer, prisco, gedel, essa macacada toda. Mas dei-me conta de que é bem sabido que a sociedade não se dispõe a pagar o custo que incidiria para chegar naquela tolerância zero, ou seja, nada de corrupção. E que custo seria este? O custo da privacidade quebrada em níveis além do tolerável. Por exemplo, obrigaram-me a exigir a nota fiscal ao comprar meu baseado, sei lá.
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