31 agosto, 2016

Sobre impeachments e penas de morte

ForaTemer
Querido diário:
Primeiramente, Fora Temer!
Até hoje estou estupefato não apenas com o nível da política brasileira, mas também com as falcatruas generalizadas até no ambiente judiciário. Mas quero referir apenas duas.
A primeira é a cara de pau da senadora Ana Amélia Lemos (RBS/RGS) que disse considerar que a presença de Dilma Rousseff naquela sessão do senado federal era prova de democracia. A isso arguí ontem que é a mesma democracia que elegeu Castelo, Costa, Médici, Geisel e Figueiredo.
E a segunda é judiciária: aquele ministro do supremo (R$ 40 mil + extras) que foi entrevistado por uma cliente de um shopping center no Rio de Janeiro, ela gravando com um telefoninho celular. Ele disse: "o impeachment está previsto na constituição". E muita gente de Q.I. estranho saiu alardeando que Dilma deveria ser impedida.
E agora eu complemento, em desprezo à foto que estampo em seguida, verdadeiro atentado aos sensos democráticos da turma. Impeachment e pena de morte estão previstos na constituição. E nem por isto devem ser usados, a não ser que haja pré-requisitos. No primeiro caso, crime do/a presidente/a da república e, no segundo, guerra.
DdAB
p.s. nada combina mais adequadamente com a imagem que coloquei ontem. E esta foto veio do site do jornal -destemido quando se trata de recomendar opressão aos menos aquinhoados- O Estado de São Paulo. Aquele "Fora"..."Temer" é de minha autoria, claro.

30 agosto, 2016

Da Baixaria


Querido diário:

Confesso que tirei o time há alguns dias. Mal vi e tomei contato com a sessão do senado que -dizem- teve um ou dois tópicos de dignidade a mais relativamente ao da câmara dos deputados. Tomo a referência da senadora da RBS/RGS, sra. Ana Amélia Lemos.
Disse-nos a senadora que a maior prova da inexistência de golpe é que a presidenta Dilma compareceu ao senado. Eu fiquei abismado, pois busquei analogias com o tempo em que a própria oradora estava "lotada" no gabinete de seu finado marido (emprego sob a guarida de parente no setor público é...) e havia eleições periódicas para militares: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo.
Aquelas eleições, para o entendimento de muita gente, atestavam a qualidade da democracia no Brasil. Hoje é quase unânime a referência àqueles tempos como ditadura militar. Agora tem um golpe civil, como o/s de Getúlio Vargas.

DdAB
Imagem: aqui.
P.S. busquei uma foto para ilustrar "baixaria", não deu coisa boa, pois já estamos acostumados no Brasil. Aí procurei o mais baixo nível do que posso conceber como baixaria, o inferno. E veio este velho Hades, que -segundo ouço- liberou Temer por um século.

24 agosto, 2016

Ministro Escalafobético & a Previdência Social


Querido diário:

Ler jornal, nos dias que correm, é um teste para o autocontrole. Página 2 do Jornal do Comércio, seção "Frases e Personagens":

O déficit da Previdência no ano passado foi de R$ 86 bilhões. O déficit da Previdência neste ano será de R$ 146 bilhões. Para o ano que vem, está projetado déficit entre R$ 180 bilhões e R$ 200 bilhões. Como não vamos aumentar impostos, não vamos cobrar mais nada da sociedade, essa diferença temos que tirar de algum lugar. Também [que já dera outra declaração escalafobética] Eliseu Padilha. 

Eliseu Padilha, bem sabemos, é ministro chefe da casa civil do governo de Michel Temer. Temer, como sabemos, é parte ativa de um complô que se vale de interpretações da constituição e dos bons costumes para aboletar-se no poder, seguindo o programa PSDB-PMDB, que não ganhou nenhum voto na eleição de 2014.

Não quero estender-me, pois mais tempo dedicado ao tema iria favorecer minha perda de controle, de autocontrole, digitando no Excel cada vez com mais força, até -talvez- chamar a atenção do próprio Bill Gates. É que fiz o seguinte cálculo:

Déficit médio das estimativas para 2017: R$ 190 bilhões.
Déficit anunciado pelo controverso ministro em 2015: R$ 86 bilhões
Diferença 190-86 = R$ 104 bilhões.

Ora, a pensão máxima que a Previdência paga no Brasil é de cerca de R$ 5 mil reais. Ora, ora: dividindo R$ 104 bilhões por R$ 5 mil, ocorre que chegamos ao número de novos pensionistas: 20,8 milhões, ou seja vinte ponto oito milhões de novos pensionistas. 20.800.000. 21 milhões vão entrar na aposentadoria ganhando o máximo que a previdência paga? Recebendo no topo, isto é, tendo contribuído com cerca de R$ 1 mil pelos últimos dez anos? Sabemos que isto representa uma fração de 10% da população brasileira? E um quinto do emprego total, inclusive o sem remuneração?

Que diabos de ministro é este, que diabos de assessores irresponsáveis são os dele? Que diabos de governo é este da aliança PMDB-PSDB? Que diabos de país é este em que vivemos sob os auspícios do recalque de Aécio Neves por ter perdido aquela eleição? Que diabos de comentarista sou eu, que fico pensando nessas barbaridades, dando-lhes atenção?

DdAB
Fonte da imagem aqui.

22 agosto, 2016

Jornalismo Escalafobético


Querido diário:

Não aguentei mais o jornal que, por seis feitos e desfeitas, recebeu o epíteto de Zero Herra. Passei a ler o Jornal do Comércio de Porto Alegre há alguns meses, o que me dá certa intimidade com a encrenca.

Pois então: na capa da edição correspondente ao tríduo 19-20-21 deste agosto, temos uma chamada para a p. 5:

Economia do Brasil recuou 4,3% durante o primeiro semestre

Pois agora: na capa do jornal de hoje, em letras garrafais (voltarei ao tema em instantes), somos capazes de ler:

Resistência da inflação desafia governo federal

Pois é: e na contracapa de hoje, no primeiro drops da coluna da esquerda:

Investimentos
   A melhora na economia a partir do último trimestre já rende apostas em títulos privados cujos rendimentos são isentos de Imposto de Renda, como as debêntures de infraestrutura e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). Também podem ganhar atratividade os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

E, na página 8, na coluna Observador, do veterano jornalista Affonso Ritter, lemos:

A economia brasileira vem dando sinais positivos de reação, entre eles, o recuo da taxa de inadimplência, observado pelo SPC [...].

Sinais positivos? Reação? Tomando a parte pelo todo! Claro que existe alguma correlação positiva entre otimismo e crescimento do valor adicionado nas economias monetárias. Mas vemos neste Brasil de Aécio-Temer a tentativa de impingir o otimismo a golpes (sem trocadilho) de imprensa.

Por falar em "tomar" e "garrafais", culminei por buscar no armário das ferramentas, enrustida entre duas latas de graxa automotiva, uma garrafa de... you know what.

DdAB
Imagem daqui. Olha a legenda da Desciclopedia, que foi onde cheguei ao pedir o adjetivo "escalafobético": Rollmops é uma tradicional porcaria encontrada em botecos e ingerida por pinguços que já não têm mais papilas gustativas, e por isso não percebem a nojeira que estão comendo.

19 agosto, 2016

Escolas Macroeconômicas: visão interessante


Querido diário:

Este diagrama colhi-o há pouco tempo do mural do Facebook de Roberto Rocha. O título fala em "schools of economics", mas o texto deixa claro que se está falando apenas em escolas macroeconômicas. É interessante e fica fora apenas a teoria da escolha pública, toda a microeconomia da formação do preço, teoria do investimento da firma e a teoria dos mercados contestáveis perfeitos. Saber economia significa saber montes de teorias e escolas. Aliás, quem não sabe HPE bom sujeito não é.

DdAB

18 agosto, 2016

Ontem na Fadergs


Querido diário:

A Fadergs está aqui. E eu lá, sendo filmado por todos os lados. Nunca fui tão avaliado cenicamente, fora a aula propriamente dita.

Fui convidado pelo prof. Christian Velloso Kuhn, meu dileto ex-aluno, um dos mais instigantes que já tive. E falei em sua aula inaugural da disciplina de macro com o título

Macroeconomia: fundamentos e aplicações.

Quem me acompanha no blog há de saber sobre o que preparei: matriz de contabilidade social, fluxo circular da renda e origami macroeconômico.

Ao estudar um paper cuja leitura originou-se de uma dica que me deu o prof. Sabino Porto Jr., cheguei a uma conclusão bem comportada: parece-me que o origami macroeconômico pode ser visto como um quadro de referência geral, com supostos específicos (muito muito específicos). O origami, que nada mais é que um quadro estilizado do equilíbrio geral macroeconômico, com suas funções lineares de duas variáveis), é um quadro de referência para, a partir dele, começarmos a impor "complicações", como a não-linearidade, a perturbação das escolhas por ilusão monetária, por racionalidade ausente ou incompleta, e por aí vai.

DdAB
P.S. E quem não "acredita" em equilíbrio? Esse pessoal não é interlocutor para este tipo de modelagem, ainda que mereça viver sua vidinha desequilibrada...

16 agosto, 2016

Economia Política da Desfaçatez


Querido diário:
Terceiro artigo produzido para o Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático publicar no JornalJÁ. Aqui, repetimos aqui:

Desfaçatez, substantivo feminino, observada nos atuais escalões decisórios da política econômica brasileira, sotaque café-com-leite, isto é, pronuncia-se como a dupla Aécio-Temer. Além da propaganda em torno da qualidade técnica do novo Mãos-de-Tesoura, o banqueiro aposentado e com hobby na política Henrique Meireles, o que vemos é um pacotaço de decisões abalando os fundamentos do já combalido estado de bem-estar social brasileiro. Podemos falar em uma economia política neoliberal sem desfaçatez? Difícil, especialmente quando vemos o governo interino apelar quase ipsis litteris ao receituário da candidatura mal urdida dentro do PSDB em 2014 e derrotada nas urnas pela finada aliança PT-PMDB. Em que consiste a economia política da desfaçatez?
Iniciemos considerando as posições de contrariedade entre mundos possíveis. A primeira delas talvez tenha sido realizada apenas nos alvores da humanidade, configurando o estado natural num mundo de liberdade individual absoluta. Cada um dá a sua existência o destino que bem entende, mas, por isso mesmo, vive uma vidinha solitária, pobre, repugnante, bruta e curta. Nesta descrição de pesadelo de Thomas Hobbes, não há muito espaço para a atividade econômica, pois numa terra de desrespeito a qualquer propriedade privada, inclusive a vida, os incentivos para a produção de riquezas são quase tão escassos quanto… no Brasil XXI. Tão impossível e indesejável quanto esta posição é o elogio ao “irrestrito jogo das livres forças do mercado”. Desfaçatez.
A segunda posição extrema é mais moderna e carrega em seu âmago um mundo real em que – no dizer de Marx – “tudo vira mercadoria, inclusive a honra”, posição esta que foi levada ao limite por meio do conceito criado por Kenneth Arrow de seguros generalizados. O medo que nutrimos sobre o futuro, aquele medo que congela a vida societária no estado da natureza, não existe, pois cada cidadão pode contratar um seguro que lhe permite ser indenizado contra o risco de cair em situações desagradáveis, perniciosas ou mortais. Nesse mundo, estaremos seguros contra tudo, incêndios, tempestades, frustração de casamento, quebra de safra na lavoura, derrota no jogo de pôquer, golpes de estado, corrupção de políticos. E quem gosta, por exemplo, de risco e montanhismo, poderá contratar até mesmo um seguro de ressarcimento contra escaladas monótonas.
Em resumo, uma das posições extremas é o elogio da supremacia política a todas as demais dimensões da vida social, ao passo que a outra é um arranjo econômico (atuarial), com o resguardo absoluto a qualquer abalo ao ramerrão, que pode ser até a vida sob risco de ausência de riscos. Nesses casos extremos, ninguém de nosso tempo escolheria viver naquele mundo hobbesiano. Ao mesmo tempo, muita gente abdicaria da vida no ambiente arrowiano, por considerar que uma existência sem risco é tão insípida quanto… a dupla Aécio-Temer. Parece que a solução judiciosa é a existência de um ambiente intermediário que limite nossa liberdade de fazer o que queremos à custa da liberdade dos outros que também permita pensarmos que um número finito de seguros pode induzir à realização de maior bem-estar social. Por exemplo, a sociedade poderia criar um seguro contra o desemprego cujo mecanismo de implantação não seria outro que a renda básica universal.
Mas é precisamente neste ponto que se vê uma enorme expressão de desfaçatez por parte de muitos economistas conhecedores da história econômica. Entusiasmados com a tarefa de destruir o estado de bem-estar social, eles negam a socialização do risco de desemprego. Ao mesmo tempo evitam pronunciar-se sobre o caráter malévolo do capitalismo no que diz respeito às questões distributivas, ao trato ambiental, e ao resgate de recursos humanos que vêm sendo desperdiçados há gerações por não terem relevância funcional para a manutenção do sistema.
No mundo em que vivemos, homens e mulheres, tal como os vemos nas ruas e campos, nós mesmos e nossos ancestrais, não existiríamos sem o abrigo da sociedade. Moldados pela sociedade, homens e mulheres são condicionados/convocados a expressar preferências sobre uma enormidade de cursos de ação, desde sair da cama na manhã fria, tirar o leite do refrigerador, ir ao trabalho, comprar um par de sapatos à vista ou a prestação. Um conjunto igualmente gigantesco destas preferências e escolhas é semelhante às que determinam escolhas feitas por subconjuntos de integrantes da sociedade. Ao longo do tempo, a própria sociedade vem criando várias formas de agregar as preferências de seus agentes.
Nova manifestação de desfaçatez pode ser observada neste contexto, quando o trio agregador de preferências individuais encapsulado pelo mercado, pelo estado e pela comunidade cede espaço ao monocórdio elogio ao mercado. No livro texto convencional, aprendemos como fazê-lo para o caso das funções de procura e oferta de mercado, a partir de curvas dos consumidores e produtores individuais. A desfaçatez esconde que, nos livros de nível intermediário, discutem-se os problemas carreados à sociedade por meio de imperfeições no funcionamento do mercado, como é o caso do monopólio e da produção de bens públicos (saneamento, segurança) e insuficiente provisão de bens de mérito (educação, saúde). A omissão em falar nos demais integrantes do tripé não pode ser prova de ignorância, pois quando são forçados a fazê-lo, os arautos dos interesses vinculados à destruição do breve estado de bem-estar social do lulismo pulam imediatamente para denunciar as imperfeições no funcionamento do estado, como é o caso do nepotismo, da corrupção ou da troca de votos nas câmaras legislativas. No contexto, ou melhor, fora dele, omite-se qualquer referência à agregação de preferências sociais pela comunidade, como é o caso dos clubes, sindicatos e igrejas. Portanto nem chegam ao começo do entendimento sobre formas de combater suas imperfeições, como a segregação racial, sexual ou religiosa e… os linchamentos. Em resumo, há diferentes graus de combinação sobre o grau de imperfeição no funcionamento nas três formas citadas de agregação de preferências sociais. Que dizer da discussão sobre formas honestas de superá-las?
Mais uma desfaçatez consiste em dizer que o estado é grande, quando sabem que os serviços que ele presta na produção de bens públicos ou de mérito são deficientes, ao mesmo tempo em que há uma profusão de funcionários governamentais enviesando os gastos públicos para um rumo desigualitário de “salários” estratosféricos. Ou seja, alardeiam problemas no lado da receita pública, ou seja, no simples ato que leva o governo a arrecadar tributos para financiar o gasto público. É desfaçatez sugerir que o problema do setor público brasileiro reside nos impostos, deixando omissa a referência a sua composição, que poderia substituir a enorme carga indireta pela taxação sobre a renda, o patrimônio e a herança. Ainda nesta linha, além do enorme gasto no pagamento dos serviços da dívida pública, transparece a visão elitista dos arautos da privatização. Sendo o Brasil um país de espantoso grau de desigualdade na distribuição da renda, privatizar significa retirar a propriedade diluída sobre a população e transferi-la à elite econômica. Qual o grau de isenção no processo, quando se considera que o Brasil é um país classificado como de renda média, mas com menos de 10% da população detendo meios para adquirir o que quer que seja além das despesas do cotidiano? Sem desfaçatez, podemos sugerir que, se é para reduzir a participação do governo nos setores produtivos, mais vale recorrer-se à criação de um fundo nacional de desenvolvimento, distribuindo uma e apenas uma cota intransferível a cada brasileiro, ainda que autorizando-o a alugá-la.
Vejamos outra prova da desfaçatez dos arautos do conservadorismo. Ao confrontar a liberdade pré-hobbesiana com seu moderno oposto arrowiano, torna-se claro que nenhuma dessas configurações é interessante no mundo em que vivemos. Por isto, pensar em atribuir aos mercados o caráter soberano na regulação das relações sociais é, para cientistas sociais educados, manifestação de desfaçatez. Ao mesmo tempo, sabendo da existência de falhas de mercado, governo e comunidade, não é sensato à sociedade desejar apoiar-se centralmente em algum dos elementos do tripé. A sabedoria exibida em alguns países, e inacessível a outros, localiza-se precisamente em uma combinação entre eles.
Mais desfaçatez aparece quando vemos a argumentação dos arautos do estado mínimo, por desprezarem o papel da política econômica nas áreas fiscal (gasto e tributos) e monetária (crédito ao empreendedorismo). Mesmo que o estado servisse apenas para, digamos, promover a segurança nacional e a diplomacia, ingressaríamos no debate sobre como financiar esse gasto. Mas, já que existe inarredável necessidade de tributação, começa-se a pensar sobre a conveniência de usar impostos diretos ou, por contraste, indiretos. Além disso, também devemos cogitar da conveniência da expansão dos atributos do estado, provendo o consumo de bens de mérito (insulina) e reduzindo o dos bens de demérito (aguardente).
Haverá maior desfaçatez do que a ação do senado federal de tornar Dilma ré? Ré de um crime de ficção, um crime controverso, um crime não-crime, uma acusação que não resiste a foros da decência. E que mostrou novamente a troca de favores do governo interino com os senadores, a influência do executivo sobre as verbas orçamentárias a distribuir aos senadores, também exibindo o caráter de políticos que se acovardaram, impedidos de pronunciar a palavra golpe.
É por tudo isso que, ao vermos as sucessivas medidas adotadas pelo programa de governo de Aécio-Temer, somos forçados a pensar em desfaçatez, devendo – ato contínuo – pensar nas formas de desmascará-los. Precisamos contribuir para que o povo tome consciência de suas precárias condições de vida num país de tão severas desigualdades. Como proporções da população, há mais ricos do que pobres vivendo como nababos, contrastando com a multidão formada mais por pobres do que por ricos vegetando nas prisões nacionais. Não há saída: a partir de suas precárias condições de existência é que deve surgir a organização destinada a preservar o lulismo contra sua substituição conservadora e golpista.

Eleições Municipais: começa o suplício?


Querido diário:

Não que eu me lembrasse, não que eu ache relevante. É que meu atual jornal (o do Comércio de Porto Alegre) tem na capa uma chamada interessante:

Sem recursos, os candidatos vão ampliar contato com os eleitores

Pensei: uma das medidas mais revolucionárias da história da república foi a iniciativa do supremo tribunal (aqueles doidivanas...) de proibir o financiamento empresarial para as campanhas eleitorais.

Mas isto não é suficiente. Se é verdade que meu jornal nanico (em formato...) capturou a concretude da realidade tridimensional com essa chamada de capa, o próximo passo será os políticos terem algum bom-senso e concentrarem seus recursos em uma pequena área. E, milhares de anos depois, começarem a pensar que o voto distrital é que é o canal.

DdAB
Imagem daqui. Eu pedi no Google Images "eleitor pobre", mas ele entendeu "pobre eleitor", não é mesmo? E a legenda original de minha busca para esta montagem foi "

12 agosto, 2016

Vita Dificile



Querido diário:

Primeiramente, tempos de luto com a declaração de Dilma como ré daquelas acusações que constituem um acinte ao bom senso. Em segundo lugar, fora Temer.

Ouvi falar que o juiz Sérgio Moro tem toda família e 1 (hum) cachorro militando no PSDB, que avalizou a descaracterização como crime de uma fuga de capitais de meio trilhão de reais, que recebeu indicações para ser presidente da república, deter vários ministérios, que foi convidado a dar e receber carinhos em foros privados, que deveria ser primeiro ministro no, assim criado, parlamentarismo, que deveria fazer a reforma do judiciário, ocupando dois ou três cargos de ministro do supremo tribunal, todos simultaneamente e que deveria mudar a legislação penal, de sorte a acabar com a impunidade.

A vida é difícil, pois há propostas atribuídas a ele (e, na verdade, mais velhas que a bisavó da otoridade) que são socialmente relevantes, como:

.a. reforma do judiciário
.b. redução da impunidade
.c. usar provas colhidas de boa fé, mesmo que confrontem os rituais que foram criados precisamente para fomentar a impunidade (minha redação esperançosa)

Exemplo da importância do item .c. foi o caso do Detran de Porto Alegre. Agora vemos que aquele montante era uma ninharia, parece-me que uns R$ 50 milhões de reais. No caso, ainda lembro que o tribunal declarou as provas contra o deputado Otávio Germano ilegais. E o tribuno comemorou num artigo no jornal Zero Hora (tristes tempos em que pagava para lê-lo) sua inocência. Eu filosofei: se houve provas não aceitas por terem sido coletadas ilegalmente, só pode ser que ele não era inocente.

Vita dificile. Como aceitar o bem, mesmo quando vindo de um indivíduo que tem praticado o mal, desde inscrição de um cachorro num partido político (pobre do cachorro, lógico), como ouvir e divulgar ilegalmente gravações em que participa a presidenta da república, conduzir forçadamente o presidente Lula para uma entrevista com um policial em Viracopos.

Nós, cidadãos de boa vontade, não nos deixamos enganar:

.a. desfilia o cachorro
.b. pune pelos desmandos
.c. aceita as propostas que, aliás, nem são dele, de acabar com a impunidade, reformar todo o judiciário, reduzir a margem de manobra de advogados pouco afeitos às regras da moral e da ética e que se especializaram em derrear as provas de crimes de seus clientes.
.d. neste caso, claro, o problema é a legislação feita para a burla e inviabilizar a justiça.

DdAB

11 agosto, 2016

O Impeachment de Dilma, a Ré


Querido diário:

O presidente interino Michel Temer recebeu, nesta quarta-feira, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que há duas semanas teve denúncia do Ministério Público Federal (MPF) aceita pela Justiça, em investigação de manipulação de julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Pela manhã, Trabuco esteve com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao lado de outros colaboradores do Instituto Talento Brasil.

Além do presidente do Bradesco, foram ao gabinete presidencial outros parceiros do instituto, como Jorge Gerdau (presidente do conselho do grupo Gerdau), Vicente Falconi (presidente do conselho da Falconi Consultoria), Pedro Passos (copresidente do conselho da Natura), Pedro Moreira Salles (presidente do conselho Itaú/Unibanco) e Carlos Alberto Sicupira (3G Capital - grupo Ambev/Inbev).

Trabuco recusou convite para ser ministro da Fazenda da presidente afastada Dilma Rousseff no fim de 2014. O ministro escolhido [por determinação de Trabuco] foi Joaquim Levy. Luiz Carlos Trabuco foi indiciado pela Polícia Federal no fim de maio, com outros nove executivos. Há duas semanas, um juiz da 10ª. Vara Federal do DF aceitou a denúncia do MPF. Eles foram indiciados por tráfico de influência, corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.


A Gerdau, representada na reunião com Temer por Jorge Gerdau, também é investigada pela Operação Zelotes, suspeita de ter pago propina para manipular resultados no Carf em ações entre 2010 e 2012. Os executivos da Gerdau e do Bradesco são alvo de processo em ação coletiva nos Estados Unidos.

Ok, ok, o cabeçalho desta notícia que colhi no Jornal do Comércio, página 8 da edição de hoje é "Temer recebe Trabuco no Palácio do Planalto". E tu deve ter notado que -embora eu não tenha dado destaque- aquela redação jornalística que acabamos de ler não é minha, mas precisamente matéria não assinada na página "Economia" e capitulada por "Relações Institucionais". A negadinha afeita à teoria da escolha pública sabe que estamos falando de um presidente da república que recebe um lobby formado por réus. Mas, no mundo das sombras, é a presidenta Dilma Rousseff quem vai ser condenada.

DdAB
P.S. O desenho lindinho que nos ilustra capturei-o (roubei-o?) da internet e é de fácil rastreamento, diferentemente dos crimes de colarinho branco no Brasil. Trata-se de resposta do programa a meu pedido de "Ali Babá", e nem precisei falar nos 40 ladrões. O punctum -diria Roland Barthes- é aquele urubu informando que o mundo das sombras, no governo Temer, é mesmo a realidade.

10 agosto, 2016

Teorias, Modelos e a Realidade

Querido diário:
Pelo que entendi, o mundo começou de um jeito que não testemunhamos e, como tal, apenas podemos teorizar a respeito. Depois do mundo vieram, como disse Richard Dawkins, "os seres unicelulares, as amebas e... nós mesmos." Claro que, mesmo antes de nós e depois das amebas, ele não referiu -mas não há de discordar deste pobre comentador- o surgimento dos animais sociais, como as cobras e os humanos.
Tá cheio de gente querendo entender o comportamento das células (por que uma célula 'tronco' sabe como diferenciar a formação da mão humana do cérebro?), das amebas, das cobras, lobos e de nós mesmos.
O começo do assunto é escrever um parágrafo sobre ele, ordenando os seguintes itens, que andei chamando de teoria dos 7Cs: começar, conceituar, classificar, contrastar, comentar, concluir e continuar [este 'continuar' depois do 'concluir' é para dizer que, se não sabemos direito como é que o mundo começou, que dizer de se ele vai e como acabar].
Em nosso caso, já temos uma pilha de conceitos, por exemplo, mundo, seres unicelulares, comportamento. E por que, dos 7Cs, separei apenas o 'conceito'? Pois é a partir de conceitos que podemos não apenas falar sobre eles mas, principalmente, relacionar um com o outro. Por exemplo, posso dizer que, hoje em dia, tenho uma renda maior do que a que me cabia quando eu tinha 15 anos de idade (ou escolaridade...). E que hoje em dia meu nível de consumo é maior que o anterior. Então já fiz uma relação entre dois conceitos, pois não precisava tê-la feito desta forma. Por exemplo, poderia falar em ter mais cáries hoje do que naquele tempo, sei lá, tanta coisa. Mas adstrinjamo-nos [claro que o Blog e o Facebook sabem o verbo adstringir, mas não sabe conjugá-lo e pintou-o de vermelho quando digitei].
É que, quando eu digo que meu nível de consumo depende de minha renda, dado que já fiz conceitos para consumo e renda e que, neste processo, defini variáveis, como é o caso da dupla consumo e renda, pois -como sabemos- variável é tudo o que varia. No caso, meu consumo e minha renda não dependem apenas daquele dia específico em que olhei no orçamento doméstico e vi os níveis de cada um. Eles são variáveis, pois num mês tem um valor para C, no outro, valor diferente para Y, e assim por diante. E que isto tem a ver com teoria?
Um dia encontrei (ou penso que tê-lo-ia encontrado), casualmente, numa academia de ginástica (pois a escolar fugiu-lhe e ele a ela) o governador Rigoto. Indaguei-lhe: qual a diferença entre teoria e realidade. Ele não respondeu, apenas sentenciou: "na realidade, a teoria é outra". Mas fiquei matutando sobre o que ele quis dizer com isto, pois parece óbvio que existe um mundo das ideias e outro dos seres tridimensionais, como os ratos e os homens, para citar Steinbeck. Logo, na realidade, a teoria é a teoria. Falando em governadores, evoquei o sucessor da economista Yeda Crusius, minha professora e colega. Disse, mutatis mutandis, o novo luminar da governança estadual, ele referindo-se a "transparência":
A é teoria e é por isto que a chamam de teoria.
E o Aurelião? Peguei as duas primeiras acepções:
1. Conhecimento especulativo, meramente racional. 
2. Conjunto de princípios fundamentais duma arte ou duma ciência. 
Fiquemos com especulação. Claro que é uma especulação de minha parte associar não apenas a minha renda, mas a de todo o resto da macacada, com os correspondentes consumos. Ao mesmo tempo, temos aí um princípio fundamental da ciência econômica. Que sabemos, então, até agora, de nossa teoria? Que o consumo se relaciona com a renda. E mais, temos razão para crer que, quanto maior a renda Y, maior será o consumo C, ou seja, eles, C e Y, mantêm uma relação direta, como a que lamento dizer existe entre meu peso e minha ingesta de açúcar. 
E para que será que servem as teorias e os modelos nelas inspirados? Falo mais especificamente da ciência econômica, ainda que muitos outros ramos do conhecimento científico experimentarão variantes com relação a este quinteto de que já falarei. Um modelo serve para permitir-nos fazer cinco blim-blim-blins: compreender, descrever, explicar, prever, recomendar. Não vou falar sobre isto, deixando estes conceitos como perguntas a serem respondidas pelo leitor diligente...
E aí caímos no mundo da modelagem, no mundo dos modelos. 
Num livro muito do maneiro, lemos (?) a seguinte definição de modelo: modelo é uma encrenca que, quando articulada logicamente, pode deslocar-se para um plano puramente abstrato, permitindo a problematização de aspectos paralelos e inexistentes neste mundo. 
Então posso falar agora em três níveis da modelagem, ou seja, três tipos de modelos, o que farei com nossos já grandiosos conhecimentos da teoria econômica:
.a. modelo teórico: C = f(Y+) - o consumo é uma função positiva da renda,
.b. modelo empírico: C = a + bY - o consumo é uma função linear e positiva da renda (isto é, C e Y variam diretamente)
.c. modelo experimental: C = 3 + 0,65Y (em trilhões de reais, pode ser o caso do Brasil)
E se não fosse 3 e sim 3,1416? Aí a gente mudaria o 3 pelo 3,1416 e voltaríamos ao melhor dos mundos. E se não fosse 0,65? Idem, mutatis mutandis. E se não fosse linear, al´no .b.? Aí a gente metia outra função, uma não linear, como aquela que a professora Abigahil ensinou-nos a chamar de função potência, alguma outra, senóide, logarítmica, tem tantas... E se o consumo não fosse função da renda no item .a.? Aí a gente tentava descobrir de que o consumo é função. Por exemplo, o consumo de maiôs depende da estação do ano, o consumo de Artrodar depende da idade. Mas, no final das contas, poderíamos ter uma função linear (ou outra) contemplando não apenas a renda, mas uma pilha de outras variáveis que achamos seja dependente do consumo? E não haverá erros absolutamente imprevisíveis? Claro que haverá e aí a negadinha coloca na equação .a. uma variável estocástica encarregada de capturar essas influências imprevisíveis? E se ainda assim não capturar? Tenta outra, e assim por diante.
E nunca, nunca de núncaras nos daremos por satisfeitos com os resultados, pois estes -bem o sabemos- estão intrinsecamente errados, uma vez que somos incapazes de saber tudo o que se passa no universo, tudo o que influencia tudo. O que fazemos é dar golpes na realidade, felizmente, no caso, golpes mentais, tanto é que ela nem se abala com eles. Então para que servem a teoria e os modelos? Para representar de maneira caricata e parcial a realidade, de sorte a permitir-nos fazer aquelas cinco palavras: compreender, descrever, explicar, prever, recomendar.
Como disse uma amiga: "Não reli. Azar."
DdAB
P.S. Os governadores Rigotto e Sartori e seu partido são homenageados hoje, que o senado federal, no governo de seu partido, ontem, declarou Dilma ré de uma acusação escalafobética. Só bebendo! E a foto é do Jornal do Comércio e eu a editei.

09 agosto, 2016

Teoria da Escolha Pública no Facebook


Querido diário:

Como sabemos, vivo falando que devemos saber (cientistas sociais, políticos, todo mundo) pelo menos rudimentos da teoria da escolha pública. Pois não é que acabo de olhar algo na Wikipedia que me lembrou razões para temer desqualificarmos o governo, que não estudou sua parte e tem a arrogância peculiar a ditadores legítimos (legítimos?).
Como estou escrevendo para pessoas inteligentíssimas que, como tal, fugiram do estudo da ciência econômica, preciso caracterizar intuitivamente o que é "ótimo de Pareto". Pois então. Trata-se de uma situação alcançada por uma sociedade em que o bem-estar geral está organizado de tal forma que nenhuma melhoria poderá ser implementada para alguns cidadãos sem que o bem-estar de outros seja reduzido. Por exemplo, estava tudo calmo na rua em que moro e aí decidi trocar de motocicleta. Só que comprei uma com o cano de descarga avariado, o que faz uma barulheira desgraçada, deixando doido mesmo um vizinho quase surdo. Se isto ocorrer, a nova situação não é um ótimo de Pareto, pois é pior pelo menos para o vizinho citado. Se, por contraste, eu comprar uma garrafa de (digamos) champanha para cada vizinho -a fim de "suborná-los" quanto à moto com cano de descarga decente-, aí a nova situação será um ótimo de Pareto com relação à situação inicial.
Segue-se minha tradução (de pé quebrado, ou melhor, um texto que passo a chamar de meu, mas fortemente baseado no original em inglês) do trecho da Wikipedia:
O consentimento [social, num contexto ético] assume a forma de um princípio de compensação [de perdas e ganhos] para a implementação de mudanças na formulação de políticas. E unanimidade ou, pelo menos, nenhuma oposição para o início do processo para a escolha social.
Pensei no aumento dos juízes, nas mudanças propostas nos sistemas de aposentadoria, nos ministros corruptos, tudo aquilo que levou ao "Fora Temer", inclusive o banimento dos cartazes com "Fora Temer" e fiquei coçando a cabeça com o garfo, pois estava na hora de comer meu mamãozinho das 11h00 de infatigável reflexão sobre o futuro do planeta.
DdAB
Imagem daqui.

08 agosto, 2016

Voto Inútil...


Querido diário:

Dizem que a temerosa cidade de Porto Alegre, nos confins do mundo contemporâneo, terá oito candidatos a prefeito nas eleições municipais que, com cheiro de comédia, se aproximam. Gelei, degelei, tornei a gelar, pois pensei que o bom mesmo seria que não houvesse nenhum candidato. Ok, ok, o melhor mesmo é haver eleições sistemáticas, pois ainda lembro dos tempos de Célio Marques Fernandes e Guilherme Socias Vilela, prefeitos escalados pelas forças armadas.

Bem, bem, bem, figuras carimbadas que renovaram a política há 50 anos reaparecem com um vigor realmente transilvano: Júlio Flores, Luciana Genro, Nelson Marquesan, Raul Pont e Sebastião Melo. Os outros três, nomeadamente, Fábio Osterman, João Carlos Rodrigues e Maurício Dziedricki, ou também se encontravam ocultos numa sombra antediluviana ou concorrem para incrementar sua promoção pessoal, buscando preparar alguma popularidade que os guinde -in due time- a cargos de mais prestígio e remuneração.

Prefeitura: darei um voto inútil, a ser definido quando o eleitorado flutuante (eu incluído) escolher: votarei no esquerdista (a definir) mais cotado. O voto é inútil, pois, por exemplo, entre Marquesan e Osterman, terei que empinar um litro da velha cachaça de Santo Antonio da Patrulha para dirigir-me à chamada cabine inviolável.

Isto é da parte deles. 'E nóis'? Nós todos eu não sei, mas de mim já posso falar. Ao ver a portentosa lista em meu jornal, pensei direto no filho de César Maia, atual presidente da câmara dos deputados, aquela de Brasília, aquela... O caso da eleição daquele presidente da câmara dos deputados e a ridícula posição dos partidos de esquerda (definindo por enumeração mnemônica, PT, PSOL, PSTU, o partido da Erundina, cujo nome foge-me). Chega-se a elogiar 15 petistas que declaradamente se omitiram do segundo turno da votação.

Omite-se que, caso o filho de César Maia não fosse ungido, teria sido eleito o pastor Rosso, apaniguado de Eduardo Cunha, o homem bomba, com sua possível delação premiada de crimes escalafobéticos. Não tenho dúvida de que, com todo mal que já vimos praticado pelo dep. Rodrigo Maia, nem seria o começo, comparado com o pastor.

Negou-se o conceito de voto útil, que significa sempre escolher o menos pior. Não se dão conta de que a organização da esquerda tem como ambiente não a sessão plenária da câmara dos deputados mas a discussão pela base, antes mesmo das candidaturas a cargos eletivos. Um partido decente, claro, não o que hoje vemos e seus magotes de candidatos a tudo. A criação de partidos e coalizões partidárias deveria começar antes da eleição, nunca depois dela, para evitar os afamados conchavos palacianos. Lembro com saudades de minha alegria quando lia o dístico de propaganda "Discuta Política", ou seja, devemos voltar esta consigna, devemos voltar a pensar em discussões nas fábricas, nas organizações comunitárias, nos escritórios, no meio rural. Devemos pensar em começar tudo novamente.

DdAB
Imagem: aqui.

06 agosto, 2016

As Olimpíadas: visão dos afogados

Querido diário:

Sobre a alegria provocada nas pessoas de bem pelo espetáculo da abertura das Olimpíadas. Tem gente pensando em qual será o destino dos netos de Sexta-Feira, numa clara captura de ideias de Stephen Hymer naquele famoso artigo intitulado: "Robinson Crusoé e o Segredo da Acumulação Primitiva".

Eu comentei num mural amigo (mutatis mutandis):

Tem gente imaginando um jogo terrível: quanto eu pagaria de bolsa de estudos para um menino de rua cujo bisneto (daqui a poucos anos) irá assassinar-me para "reter" meus óculos de sol bifocais, mas tudo poderia ser evitado, se o bisavô fosse tornado num famoso clarinetista, num professor de latim, sei lá. Falei que não há mercado para este tipo de transação e segui meu -até agora- calmo curso de vida.

DdAB
P.S.: e tu sabias que "Facebook também é cultura" e "blog... nem se fala"? É que a imagem que segue fala em "Robinson Crusoe", mas we Brazilians falamos em Robinson Crusoé. Isto quer dizer que a negadinha não sabia inglês e, quando chegou a hora de aproveitar o sucesso mundial do livro de Daniel Defoe, apelou para a versão francesa, o que delega ao acento agudo o papel de fechar o som, do "e" final, também forçando o ditongo, afinando-se com a pronúncia inglesa.. E a foto veio da Wikipedia.
P.S.S.: e acabo de colocar o link da tradução que Adalberto Alves Maia Neto e eu fizemos do artigo de Stephen Hymer no Google Documents:
https://drive.google.com/file/d/0Bw_-ONgRpg6GTWk1OUtqNlNpWjQ/view?ths=true, publicada pela finada revista Literatura Econômica (do IPEA velhos tempos. A editora da revista era Ana Luíza Ozório de Almeida, que fez um trabalho extraordinário adicionalmente ao nosso).

02 agosto, 2016

Estilo Sensacionalista [só que verdade]


Querido diário:

Sensacionalista*: Observadores do Museu do Louvre em Paris estão nutrindo crescentes suspeitas de que a Mona Lisa tem uma barriguinha de gravidez de três meses.

Sérgio Moro: Caso estranho, mas se as suspeitas forem confirmadas, não há dúvida de que o responsável só pode ser Lula.

DdAB

01 agosto, 2016

Golpismo é Fogo


Querido diário:

Primeiramente Fora Temer! Sem falar em política, informo que passei o fim-de-semana tentando decifrar a seguinte carta enigmática

1o. 2o. 3o. 4o. 5o. 6o. 7o. x incendiou.

Cheguei à seguinte conclusão intermediária:

Primeiro segundo terceiros quarta quinta sexagenária sete vezes incendiou.

E finalmente:

Primeiramente (seria o 'Fora Temer'?), segundo (de acordo com) terceiros (outros, ou seja, não era constatação individual, original), a quarta (havia outras três) quinta (uma granja de poucos recursos) sexagenária (havia outras quintas não-sexagenárias, mas não as anteriormente referidas como as três anteriores à quarta), sete (numeral correspondente ao número sete, ou seja, o evento repetiu-se sete vezes, ou melhor, ocorreu uma vez e aí mais seis) incendiou (pegou fogo, e só poderia ser falta de investimento do governo em benefício do corpo de bombeiros, só podia ser Henrique Meireles, o novo mãos de tesoura, só podia ser Temer, o naufragado do porto das docas de Santos, pois falta apenas um grande incêndio [outro?] naquela região para acabar com a investigação de roubo).

DdAB
Imagem daqui.