12 novembro, 2015

Cansei de Estrabismo


Querido diário:

Título provocativo. Evoco, a partir dele, o artigo assinado de hoje da página 39 de Zero Hora. Seu autor é Wesley C. Cardia. Não que discorde em mais de 10% de todo  o texto, mas há uma passagem que me deixa de cabelo em pé e denuncia o estrabismo conceitual e empírico do autor.

Vamos à passagem glosada. Antes dela, há uma pergunta retórica da qual compartilho completamente: "Que raio de sociedade é essa que não se dá conta de que o Estado não tem dinheiro?"

Mas prossegue, com estrabismo conceitual e empírico:

Governo não produz riqueza. Consome. E quase sempre atrapalha quem quer produzir. Nós, trabalhadores e empresários, é que pagamos a conta desse descalabro.

Parece que o descalabro (com o qual concordo) é que o ladrão de carros Dieguinho, figurinha carimbada do bairro Moinhos de Vento, atua livremente por aquela zona. Mas parece que a miopia surge em sua cabeça precisamente por não entender que ele queixa-se precisamente de uma omissão da ação do governo, a falta de segurança pública (aliás, compartilhada por praticamente o mundo inteiro).

Primeiro, depende de como conceituamos riqueza. Claro que governo produz riqueza pela contabilidade da renda nacional, por exemplo, ao gastar na promoção da justiça ou da diplomacia. Segundo, aí temos problemas, pois estamos falando do conceito de bem público, algo que não pode ser provido pelo mercado. Justiça atrapalha quem que produzir? Terceiro, claro que não, ao contrário, a insegurança jurídica é uma das causas do baixo desenvolvimento econômico de montes de países.

O que parece uma confusão comezinha é pensar que o lado alegre do governo é a provisão de bens públicos e meritórios (no Brasil, até centenas de bens de demérito, como é o caso indubitável do automóvel de passeio) e que para fazê-lo não é necessário arrecadar impostos. Já não estou centrando minha crítica em Wesley C. Cardia, claro. É que tem gente que pensa que "estado minimo" é "estado nulo". E eu, que nem concordo com estado mínimo, ou melhor, penso que é papel das sociedades civilizadas proverem uma fração crescente dos bens meritórios (pra não falar nos bens públicos) da estrutura de consumo da população.

DdAB
A imagem é daqui.

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