27 janeiro, 2010

Amar o Grêmio

bom dia, meu amado blog:
tudo bom? esta é uma carta pessoal. quero falar de amor. o marcador, claro, é "Vida Pessoal", mas poderia ser os demais, nomeadamente, "Escritos" e "Economia Política". trata-se de "Escritos" porque não são "Falados", item que não consta de minhas indexações. trata-se de "Economia Política", pois nada há de mais distante da "Política Econômica" do que o que seguirei a escrever.

mulheres gremistas? gremistas petistas que desfraldam bandeiras azuis? gremistas GLS que agitam bandeiras multicores? nunca esquecerei uma reportagem do um tanto obfuscado jornal Zero Hora sobre harmonia das "torcidas", em que um par de garotas, com camisas Gre-Nal, mostravam intensa felicidade em estarem juntas, em amarem clubes diversos, adversários, e se amarem fraternalmente. chamou-me a atenção cada detalhe da foto. o que destaco (e não é o mais importante, apenas é importante para o tema) é que a garota com a camiseta do Grêmio, puxou o tecido com o punho cerrado bem sobre seu coração. amor ao Grêmio, amor à amiga, amor, por que negar?, à idéia do jornal de vê-las harmonizadas.

hoje apenas os gaúchos mais primários, brutos ("um bruto", parece-me ter lido em Graciliano, já não lembro se o rapaz de "Caetés" ou o próprio Paulo Honório (de "S. Bernardo") ou um terceiro, que me fugiria com as preás, a Baleia. e Graça botaria esta última vírgula?), repito, brutos, pensam na rivalidade universal como única alternativa à convivência com o - chavão - coirmão. elas eram coirmãs. e são. e amam seus clubes, e tem lá seus outros amores. ninguém ama apenas um objeto. nem ninguém pensa no objeto amado o tempo inteiro. no outro dia, falei que Freud referia-se a seus - hoje sabemos - algozes como "meus amados charutos". quando li isto, engasguei.

pois bem, a literatura moderna divide-se em contos, fábulas e apólogos, não é isto? bem, talvez não seja tão moderna assim, pois terei aprendido isto lá por 1965... seja como for, o conto fala de gente, a fábula fala de bichos que falam e o apólogo fala de objetos que falam. "Uns braços" é um conto, "O Leão e o Burro" é uma fábula e "A aguia de Haia" é um apólogo (n.b. "aguia" pronuncia-se "agúia" e não "águia".). não é isto?

por isto, somos forçados a concluir que podemos amar coisas, como fez Freud com os charutos, seus milhares de objetos de uso, desde as obras de arte até as camisas e o terno que, se ainda lembro, dos anos magros, era único e ele preciava deitar-se até que a Frau o lavasse e passasse, pois nada mais tinha de roupa. estranho esse velhinho. eu disse "esse" e não "este".

no outro dia, minha cunhada LP falou que fora ao jogo do Grêmio (acompanhada de sua irmã LP), este fora derrotado, em virtude de falhas gritantes do árbitro, do time adversário, da própria "torcida", de tudo e de todos, exceto a falhas do Grêmio itself. eu percebi o sofrimento e indaguei o que a fazia "apoiar" o Grêmio. ela, especialista no tema, disse ser amor. aqui em Pescara, às vésperas de receber CA, pensei em ZP (Zizzi Pozzi) e seu disco: "per amore". ligando Grêmio e charutos, obras completas de Machado e cadeiras de açoita-cavalo, canetinhas stábilo e tapete turco, vejo que amo pilhas de objetos materiais. e não sou materialista: materialista é quem ama a matéria intocada pela mão humana. quem ama um televisor é menos materialista do que quem ama uma cachoeira. quem ama um televisor e desconhece o segredo do fetichismo das mercadorias é porque não leu a seção 4 do capítulo 1 do volume 1 d'O Capital. não falei que tudo tem a ver com "escritos" e "economia política"?

DdAB
P.S. E o açoita-cavalo tem como nome científico Luehea Divaricata. Mas também achei na internet um chá Luehea Candicans e outro de Guazuma Ulmifolia.

3 comentários:

Sílvio e Ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sílvio e Ana disse...

Amamos coisas que inventamos em substituição aos verdadeiros objetos de nosso amor. Por que será que é tão difícil demonstrar diretamente nossos sentimentos? Quanta censura nos impomos! Tudo isso é culpa da "mãe do Freud".
(Sílvio)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

amado:
(não é retórica...). não sei bem se eu quis dizer que devemos usar a palavra "amar" com mais desenvoltura. talvez fosse apenas isto. amar o Grêmio é pedir incomodaçao... mas acho que amar o que quer que seja também, desde a mãe da gente (que ajuda-nos a dividir, diz Freud, o mundo em "seio bom" e "seio mau", aquelas coisas). em Jaguari era proibido dizer que achávamos "homem bonito". avaliar a beleza masculina era tarefa de outros gêneros, que não o verdadeiramente masculino. já naquele tempo, eu achava o James Dean bonito, mas só confesso agora, com quase 50 anos de defasagem. mas preferiria morrer a confessar, o que -de qualquer modo- seria uma condenação à morte.
DdAB