Querido Diário:
Houve por bem transcrever para cá nova postagem do Prof. Ellahe, tentando responder ponto a ponto, fazendo, de lambugem, alguns cálculos. O tema, diz o marcador, diz Ellahe, é a renda básica universal. Pedi ao Sr. Google para buscar imagens de "pão e rosas". Se bem lembro, esta foi a legenda de um movimento de trabalhadores americanos, requerendo o direito à vida e à liberdade. Mais literalmente: pão = trabalho e rosas = ócio (ou lazer).
O Prof. Ellahe (4 de Junho de 2009 14:27):
Sob estímulo dos espaços livres para comentários que tem caracterizado suas últimas (digo, mais recentes) blogagens, atrevo-me a voltar à sua presença portando o fardo das (muitas) dúvidas que assolam alguém que, como eu, assume decididamente a postura de aprendiz diante de seus escritos. Por hoje, são duas:
a) não consegui explicar a uma aluna sua idéia de um estipêndio mínimo(renda? provento? seguro?) para cada membro (adulto) da comunidade humana mundial, a ser financiado por 5% do PIB de todos e cada um dos países ... a "bolada" toda seria dividida igualmente entre todos os viventes do planeta? a gente aqui ganharia uma ajudazinha mensal de valor igual à de um cidadão de outro país cujos 5% representem, em termos absolutos, dez vezes mais do que a contribuição do nosso (Brasil) para esse sistema mundial de "bolsa -indivíduo"? Foi-me perguntado se isso não seria a reedição daquela utopia dezenoveana: "de cada um segundo sua capacidade; a cada um segundo sua necessidade" - supondo necessidades mínimas iguais, claro. Mas - ponto crucial - caso aceita e desejada por todos, a sua concetização não daria muito problema operacional, como o Bolsa-família tem dado, vez por outra, aqui e acolá ... imagina isso em escala mundial! Imagina na India (lá tem gente pra caramba!) ou, como dizem os Cassetas: imagina ma Jamaica!
Respondo:
Sim, a bolada, isto é, a renda mundial (ou seja, o dinheiro emitido pelo futuro Banco Central Mundial) será dividida entre todos. Quem são "todos"? Qual a "bolada"? Quem é o Banco Central Mundial?
.a.1 O banco central é o banco dos bancos, o que já evitou milhares de crises de liquidez e vidas, pois o linchamento de banqueiros americanos, em particular, já deu o que falar em milhares de filmes de faroeste.
.a.2. Quem são todos? Precisamos definir com cuidado para permitir que a renda básica universal seja instrumento de controle (mais gente ou menos gente, dependendo das condições de carregamento do planeta, ou seja, da tecnologia). Ou seja, não faz sentido, em época de combater a explosão demográfica, pagar, por exemplo, para bebezinhos, o que incentivaria mães irresponsáveis a terem milhares de filhos não tanto motivada pela doação de amor materno, mas pelo recebimento dos estipêndios dos rebentos.
.a.3. Qual é a bolada? Apenas para ilustrar, o PIB per capita do Brasil é, corrigido pela paridadedo poder de compra, cerca de US$ 8.000. O PIB mundial é, digamos, de US$ 40 trilhões, passível de divisão por 6,6 bilhões de humanos, digamos que apenas 4 bilhões de adultos. Neste caso, o PIB per capita do adulto que cresceu em Gaia é de (preciso do Excel para dividir estes números escandalosamente grandes) US$ 10 mil. Epa, até maior do que a estimativa que fiz para o Brasil. Fora a taxa Tobin, os 5% significam US $ 500 per capita, inclusive o Sr. Gorbachov, a Sra. Hilary Clinton, os herdeiros (maiores de idade) de Jerry Lewis, José da Silva (cidadão sem compromisso), e por aí vai. Isto é mais do que "a dollar a day", a legenda de combate à pobreza. Este valor poderia ser aumentado. Por exemplo, os indivíduos que recebem mais do que, digamos, US$ 100 por dia poderiam ser liminarmente excluídos do programa. Ou isto ou ambos: convidados a doarem ainda mais US$ 1 por dia pare benefício público. Em segundo lugar, ele pode ser incrementado com a elevação da participação da taxa no PIB mundial, por que não 10% dentro de 50 anos e 49% dentro de mais 250 anos? Mais ainda, a taxa tobin poderia ainda aproveitar a expansão mais ou menos inevitável do cassino financeiro internacional. Por fim, se o Banco Central Mundial agir realmente como banqueiro planetário, haverá lucros sistêmicos carreados ao racionador do crédito, lucros estes que poderão ser transferidos aos donos do planeta. Já estou calculando mais de R$ 500 reais por mês, o que é o que os loucos e criminosos chamam de valor do salário minimo legal brasileiro.
O Prof. Ellahe:
b) a mesma angústia me assola, porém em dose dobrada, no tocante à questão dos direitos autorais. Acontece que estou bastante inclinada a escrever obra autobiográfica, a ser publicada por uma editora alternativa. Já prevejo que será reapropriada e reeleborada sob a forma de roteiro para filme, peça de teatro (o Sr. sabe, hoje em dia vai-se muito rápido do divã aos palcos) e mesmo como inspiração para outras trajetórias individuais - modalidade que, a meu ver, já configuraria plágio. Então, pergunto: onde (e como) poderia eu cobrar a fração correspondente à minha obra sobre os 0,001% do PIB mundial (destinados a esse fundo específico)? Teria que recorrer a algum desses "economistas inuspeitos" que a que o Sr. se refere?
Respondo:
Teria e eu myself, por módicos estipêndios poderia encarregar-me oficialmente de fazer a cobrança. Naturalmente, quem de direito seria o Banco Central Mundial. Mas mais sério do que este problema estritamente contábil é a possibilidade concreta de que a biografia do renomado professor já tenha caído mesmo no gosto popular, por ter sido cantada em literatura de cordel.
O Prof. Ellahe:
c) Por fim, minha maior dificuldade é - confesso - entender essa idéia de que se "usasse mais eficientemente, mais ganharia na forma de lucros". Não me soa a utopia e, sim, a pragmatismo. Me parece contraditório. E sem comprovaçào empírica: por vezes, a gente usa com a maior eficiência e pouco lucra.
Respondo:
Admito que há uso eficiente de recursos que não geram lucros. Simplesmente a ausência de lucro deve-se ao fato de que não estaremos falando de relações mercantis. Eu, por exemplo, nada lucro, embora o faça com exação, ao cortar-me as próprias unhas, ou recitar poemas de Cecília Meirelles, como aqui apareceu com autoria trocada há dias, ela que me acompanhou há uns quatro anos, quando visitei Ouro Preto e aquelas ambientações modernas. Fi-lo, se não fujo do assunto, acompanhado dos dois discos de Milton Nascimento: Gerais e Minas. Se fugi, volto anyway: existe, nas economias monetárias, um sistema de incentivos que é o mais -ele próprio- mais eficiente, quando falamos destas coisas: concorrência, buscar diferenciais nas taxas de lucros, inovar, cavar a própria cova, pois produtividade alta é preço baixo e, como tal, lucro baixo. São estas contradições que caracterizam as condições normais de temperatura e pressão. Caso o Universo permaneça com o epíteto de "conhecido", estas coisas permanecerão intocadas: concorrência e cooperação. Concorrência e monopólio. Leis mais sentidas do que a própria atração gravitacional. Haja vista que menos aviões estatelam-se sobre estádios de futebol do que o fazem, not to speak of parachutes...
O Prof. Ellahe:
Perdoe, Prof., se me alongo, mas a aluna que tenho a meu lado é impertinente (como costumam ser os alunos inteligentes) e constantemente me cobra respostas.