25 março, 2019

Racionalidade, Equilíbrio, Socialismo, Trocas e Dinheiro

Você conhece raças de gado bovino? - Canal Rural
(naquele tempo o gado (pecus), 
daí a pecúnia, era usado como proto-dinheiro)

abcz seguir no "Dinheiro e Troca"


Quem sou eu
Tudo começou quando me dei conta de que odeio a teoria da grande conspiração. E parti para a prática daquele dito que se atribui a Allan Kardec: é preferível negar 10 verdades a aceitar uma mentira. Hoje qualquer notícia que não se insere no modelo portmanteau que me anda pela cabeça, já vou tachando logo de grande conspiração. Por exemplo, que são os judeus ou os banqueiros que desejam a miséria da Nigéria.

Ao ler

ALCHIN, Nicholas (2003) Theory of knowledge. London: Hodder Murray.

aprendi um sentido mais cotidiano da expressão "concepção de mundo". Esta, como talvez eu nunca tenha revelado, veio a meu conhecimento por meio de um livro de Roger Garaudy, um marxista (que, parece, virou católico) muito popular, digamos, nos anos 1960. Só que, francesamente, muito menos cotidiana. Alchin (página 181) fala em "padigma moderno", constando de cinco itens:

a) seres humanos são acidentes evolucionários
b) a humanidade é um dos bilhões de espécies biológicas
c) não existe Deus
d) não há um propósito para a vida
e) não há um caminho para se alcançar a verdade.

No contexto daquelas páginas, tomei a liberdade de falar numa escalada das lições que a modéstia  trouxe ao ser humano:

a) a Terra não é o centro do Universo
b) o homem é um primo do chimpanzé
c) o universo conhecido é apenas uma das manifestações de incontáveis outros formadores da transa Universo, a julgar pela asserção de que ele é constituído em cerca de 30% de matéria escura, ou seja, um componente de que pouco ou nada se sabe.

Encorajado com esta lição de modéstia, dialeticamente, pensei em minha "concepção de mundo":

a) o ser humano é um acidente evolucionário
b) o ser humano é gregário
c) o ser humano é livre
d) o ser humano é proprietário
e) o ser humano não gosta de desigualdade.

Por que valorizo o conceito de equilíbrio para a construção da teoria econômica
Meu papel de fundador (modéstia à parte) da escola neo-heterodoxa levou-me a estudar algumas teorias da economia marxista e, nesta condição, entendo que a lei fundamental do capitalismo é a lei da concorrência. Sem concorrência, não haveria lei do valor. Ao mesmo tempo, sem a existência de equilíbrio na formulação do modelo (esquema, como falei no outro dia), obviamente a lei do valor não teria sentido. Com efeito, é exatamente no momento em que os trabalhos sociais dos diferentes setores realizam-se na produção das mercadorias e estas são vendidas que o valor é reconhecido. Trata-se do momento em que a mercadoria dá, no dizer de Marx, seu "salto mortal". Aliás, se a mercadoria não for vendida, nem terá usado trabalho social nem terá qualquer valor. Quer dizer, sem o conceito de equilíbrio, sem a igualdade entre oferta e procura, não haveria uma lei do valor em funcionamento.
E aí, como é que se explicariam os preços das mercadorias? Volta a dialética: a explicação pura da iteração entre oferta e demanda para os preços das mercadorias é, sabidamente, vulgar. Ao mesmo tempo, intermediada pela lei do valor, é essa iteração entre oferta e procura que dá sentido às variações menos erráticas dos preços. Mas agora a lei da oferta e da procura abriga-se em nova roupagem. Não estaremos falando em oferta e procura de bens e serviços, mas de oferta e demanda de (força de) trabalho. Querendo dizer que a ação da lei do valor, dado o nível de emprego dos trabalhadores, encarrega-se de nivelar as necessidades e disponibilidades de mão-de-obra para produzir, ao menor custo possível o que a sociedade necessita. Se tem gente trabalhando demais, haverá excesso de oferta dos bens e serviços e os preços vão cair. E se tem gente trabalhando de menos é sinal de que há escassez de um conjunto de mercadorias, pois há escassez de trabalho social devotado à produção desse conjunto.

O Postulado da Racionalidade sem Melindres 
Sobre o postulado da racionalidade: "A razão é serva das paixões", conforme David Hume. Talvez por isso é que o capitalismo tenha alcançado tanto sucesso nos últimos três ou quatro séculos. Sua lei de funcionamento fundamental, a saber, a lei da concorrência, induz as empresas a se tornarem inovadoras ou - o que tem os mesmos e nefastos efeitos sobre o emprego - os imitadores. Ou seja, a empresa que se descuida da ação racional de minimização de custos vai à falência, com perda de capitais, novos donos, novas práticas gerenciais e nova lucratividade.

Mesmo em concorrência monopolística, mesmo trabalhando de graça, o pequeno empresário é forçado a ater-se a comportamentos racionais, minimizadores de custos. Obviamente não estou dizendo que o capitalismo é ou não racional, perspectiva antropocêntrica muito do fora-da-moda. Usar sua racionalidade é um atributo humano, aliás, negado por muitos pensadores contemporâneos da ciência econômica. Em boa medida, podemos refrasear o que acaba de ser dito como um atributo do capitalismo que requer de seus agentes produtores. Naturalmente a racionalidade no comportamento do consumidor também é importante para o sucesso de seu processo de escolha de bens e serviços (e poupança).

Queremos socialismo?
Já alegrei a vida de meus leitores dezenas de vezes citando o prof. Gerônimo Machado, que disse-me uma vez e bastou: "Não queremos o socialismo, mas as reformas democráticas que podem conduzir a ele." A sabedoria da frase que me marcou desde que a ouvi em Floripa lá pelos idos de, digamos, 1996, veio cada vez a fazer mais sentido em minha forma de pensar. Mesmo naquele tempo eu já tomara contato com a economia institucional e dado importância a seus achados, quando examinados sob uma perspectiva igualitarista e, atrevo-me a dizer, de esquerda. Neste caso, há pouco tempo, comecei a citar duas reflexões que me parecem relevantes:

a) o próprio Marx dizia que nenhum sistema econômico se extingue antes de alcançar seu pleno desenvolverimento. Às vezes brinco que o capitalismo acabou há mais de 15 dias, mas -por outro lado- não é difícil de entendermos que ainda há "muito campo pra queimar". Hoje vejo na praticamente eterna expansão dos setores de saúde (vida eterna...) e transportes (lua-de-mel nos anéis de Saturno) uma possibilidade ainda convencional. E nos intermediários financeiros, um cassino cada vez menos ligados aos tradicionais setores produtores de bens e serviços, mas de amplas possibilidades de crescimento. Ok, ok. Mas tem outro ponto.

b) aparentemente a humanidade não criou instituições adequadas para apoiar uma sociedade socialista. Claro que houve a tentativa na URSS. Como é que se criam novas instituições? Uma que se encontra no nascedouro é a renda básica da cidadania que luta com sangue, suor e lágrimas para emergir. E há outras menos imponentes e outras talvez até mais. Especialmente estas que ainda faltam não são identificadas precisamente por serem diferentes daquilo que a humanidade conheceu até este ponto de sua evolução. Entendo que a educação é que constitui essa atividade capaz de elevar-nos ao ponto de criticar as instituições vigentes e permitir-nos vislumbrar novos arranjos.

Dinheiro e Trocas
Dinheiro antecedendo a troca? Não entendo e Bowles documenta o contrário com aquele Al Battuta.
Nunca esquecendo Hobbes, Locke e Hume e a filosofia política que vê no contrato social um elemento que diferencia o homem do bicho.
A racionalidade é o antídoto da violência.
E os canais de TV com a vida dos bichos na selva mostram o que é “guerra de todos contra todos”.
De acordo com Locke, a comunidade é um conjunto de indivíduos que abre mão de sua liberdade absoluta pela segurança dada ao indivíduo pelo estado.
abcz
Wikibooks: https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Eg%C3%ADpcia/Per%C3%ADodo_pr%C3%A9-din%C3%A1stico
[Por volta de 4.500 a.C.:]
Quanto a agricultura, já havia um certo desenvolvimento agrícola, de modo que o cultivo de cereais como o trigo e a cevada, além do linho se tornou uma fonte de riqueza. Todo o excedente era trocado entre os nomos.
E isto:
https://en.wikipedia.org/wiki/Economy_of_the_Maya_civilization
The Maya economy had no universal form of trade exchange other than resources and services that could be provided among groups such as cacao beans and copper bells. Though there is limited archeological evidence to study the trade of perishable goods, it is noteworthy to explore the trade networks of artifacts and other luxury items that were likely transported together.
While subsistence agriculture played a central role in daily life, the Maya had a sophisticated mechanism for economic exchange between settlements, which was capable of supporting specialists and a system of merchants through trade routes
E seguimos:
SHARER, Robert J. (2009). Daily life in Maya civilization(2nd ed.). Westport, Conn.: Greenwood Press. ISBN 978-0313351297OCLC 290430059.
abcz

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