14 julho, 2018

Zero Herra e seu Repórter Paulo Germano


Querido blog:

Alguns domingos atrás (9 e 10 de junho passado), li na página semi-final do caderno DOC do jornal Zero Hora -que carinhosamente chamo de Zerro Herra- um artigo de Paulo Germano. Quem o conhece proximamente sabe que ele estudou no Colégio Farroupilha. Eu não o conheço proximamente, mas sei disto da mesma forma.

O artigo que ele Paulo escreveu foi intitulado A Hora da Autocrítica (página 23 do Caderno Doc A Reportagem no Foco. Creio que esta atitude é bastante elogiável, o que não me impede de seguir pensando haver pontos-chave da encrenca toda que são tratados de modo equivocado por ele.

Chamou-me a atenção vê-lo usando argumentos de que eu mesmo lancei mão em torno dos eventos que culminaram com o impeachment da presidenta Dilma. Mas na verdade a burrada -deles, não confundamos- começou bem antes. Nem sei se na campanha eleitoral, mas certamente no dia em que os resultados da eleição foram divulgados e que Aécio Neves, candidato derrotado no segundo turno, ficou histérico, inconformado, canino, desabotinado por ter sido derrotado. Não precisamos falar das qualificações de Aécio Neves para qualquer cargo público. Seu cargo deveria estar em um presídio ou uma clínica de reabilitação de narcisistas. Pois a turma do impeachment considerou que as palavras de ordem bradadas por esse político brasileiro eram suficientes para iniciar o movimento de quebra das regras institucionais.

Meus argumentos daquele tempo e outros tempos se espraiam até os dias de hoje, nas postagens no blog e conversas nos bares e na mesa do almoço familiar, achei que poderia copiar algumas ideias para deixar registradas.

Pois bem. Em seu tópico frasal, ele usa um plural majestático ou um argumento ampliado que não me captura:

Sejamos humildes: erramos. [...]

com aquele "s" grandão, capitulado. Claro que eu não errei. E, se o fiz, foi erro de não ter concebido com mais clareza esses argumentos que o próprio Paulo vai usar no que segue. Eu é que não vou citar verbatim. E por que digo que o Paulo é de direita, intrinsecamente de direita? Pois ele inspira-se para escrever esse artigo de Zero Hora numa matéria da revista Época de título Os paneleiros arrependidos. E já vai tentando livrar sua própria barra:

[...] quando todos apontam o dedo atrás de culpados. Ora, ninguém é culpado: o governo Dilma era um desastre absoluto, e as pessoas protestaram por um país melhor. O governo Temer é uma vergonha mundial, e as pessoas começam, agora, a enxergar o outro lado - o de que seria menos traumático e mais democrático se tivéssemos esperado. [...]

A palavra "culpa", claro, tá condenada. Mas -se a trocarmos por "responsabilidade", tá na cara que a responsabilidade pelos infaustos eventos é em primeiro lugar de Aécio Neves e em seguida de seu séquito e da turma que crescentemente foi-se associando a ele naquele clamor de vingança. Paulo Germano e outros são responsáveis por terem se colocado sempre a favor do movimento. Como não seriam responsáveis se ajudaram a formar multidões nas ruas e na imprensa querendo a derrubada da coroa? E é claro que seria menos traumático se a força fosse usada de outra forma, tentando contornar os desvios.

Felizmente não foi responsabilidade exclusiva de Paulo Germano, inclusive por ter havido gente dentro do próprio PT que jogou o jogo de inviabilizar o governo da coroa. Esses caras também devem ser responsabilizados, pois o partido não acabou e eles devem ser enquadrados como traidores. As chances de uma frente de esquerda eleger-se em outubro são bastante elevadas e, como tal, é necessário que os "termocéfalos" deixem as pessoas mais capazes dirigi o país, fazer as negociações entre executivo e legislativo, e -óbvio- mudar radicalmente o estilo do judiciário.

Minha piada a respeito do tema era que essa macacada esperava que, na linha sucessória de Dilma, não estivessem Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, mas -por sagrado contraste- o Papa Francisco I. E será que é mesmo piada? Vai saber! Segue ele:

[...] O fato é que, aos poucos, parece avançar sobre o Brasil a consciência de que aquilo foi um erro.
   Um erro, não um golpe. Teve uma denúncia fundamentada, teve a soberania do Congresso e teve um Supremo aprovando o rito. Só que o rito garantiu a legitimidade, a constitucionalidade do processo, não garantiu que o processo tenha sido justo. De fato, havia elementos que configuravam crimes de responsabilidade, mas um impeachment precisa de mais do que isso.
   Um impeachment, em um regime presidencialista, é grave demais para ocorrer sem consenso. E nunca houve consenso em torno do impeachment de Dilma - nem na esfera jurídica, nem na política, nem nas ruas. A população queria puni-la pela corrupção e pelo governo horroroso, mas governo horroroso não é motivo para impeachment. Ninguém foi às ruas bradar contra os decretos de créditos suplementares ou contra as pedaladas fiscais.

A consciência de que o impeachment foi um erro sob a responsabilidade inicial de Aécio Neves é claro que sempre foi de uma enorme fração da população brasileira. Mas dizer que o erro, no caso, não se confunde com um golpe é pura retórica. Ademais, os argumentos são razoavelmente contraditórios, descontado o julgamento de valor que houve mesmo as tais pedaladas. A propósito, hoje noticia-se que o ministro do TCU que avalizou o quadro inteiro está se vendo às voltas com a polícia, acusado precisamente de corrupção, o senhor Augusto Nardes.

Mais adiante, Paulo vai falar:

   Faltou a materialidade, a concretude, a dimensão necessária para caracterizar um ato que justificasse o afastamento de uma presidente da república. Faltou a incontestável certeza de que sim, aquilo merecia uma expulsão sumária, como a corrupção de Collor mereceu - e como, aliás, essa enxurrada de escândalos que atropela Temer mereceria.

Pronto: já tá novamente pensando na saída de Temer e na entrada do Papa Francisco I. Mas ele segue argumentando e agora nada poderia ser mais de minha autoria:

   Não estou defendendo Dilma, estou defendendo uma entidade abstrata e disforme chamada instituições. Algumas se esfrangalharam depois do impeachment. Quando não há consenso na sociedade, quando um grupo desmonta sozinho uma instituição tão medular como a presidência, é este grupo que ganha força - não a sociedade inteira. E este grupo, sem o aval da sociedade, sente-se legitimado a praticar os desvarios institucionais que bem entender.

[...]

   Mas que os paneleiros erraram, erraram. Paciência, em uma jovem democracia, é assim que se aprende. Da próxima vez, melhor deixar um governo péssimo sangrar até o fim. Deus queira que não haja próxima vez - merecemos, em outubro, um presidente melhorzindo do q ue os últimos dois.

Pois claro concordo com essa visão, e uma que nem referi, mas que ele falou, que o destino de Temer e seus asseclas é "o xilindró". Mas a questão é perene: a turma que acompanhou Aécio naquela trajetória de ódio (outros nem sentiam ódio) para levar ao impeachment da presidenta Dilma, essas pessoas, deram um fora, um tremendo fora. Agora, que estamos prestes a ver nova campanha eleitoral ganhar a televisão, torna-se claro: o governo Temer é um fracasso, um bando de incompetentes acuados por órgãos policiais, um pega-ladrão diário. Como vai-se governar, tendo como apoio um partido de ladrões e um congresso nacional majoritariamente auto-interessado?

DdAB
A imagem é daqui. E a farsa é filha da farsa que é filha da farsa, ad nauseam.

12 julho, 2018

O Trenzinho Inglês


Querido blog:

Tá na foto o trenzinho inglês. Tá no cantinho o logo da Rede Globo (a rede globo, como sabemos, te faz de bobo). Eu assisti a uma boa meia dúzia de jogos da copa do mundo, incluindo todos os do Brasil e mais alguns outros explicáveis pela psicanálise ou pela astrologia. Eu um dia disse a um aluno "meu interesse pela realidade é apenas parcial" e lembrei ao evocar que meu interesse pela copa do mundo é apenas parcial.

Não olhei os jogos  de esforço para pensar em jogos de estratégia, embora -óbvio- sem estratégia hoje em dia dificilmente um time ganha uma partida de futebol. Mas, falando em jogos de estratégia, no outro dia, tentei salvar o Brasil mostrando os pay-offs (que escrevi pay-offes) de um jogo cooperativo na política, um correlato de um dos dilemas de escolha social conhecido como "caça ao cervo". O que é melhor, quando saíres a caçar com um amigo: cooperar e levar para casa meio cervo ou não cooperar e levar apenas uma lebre?

Pois, pensando na copa, pensando em jogos, vi aquela interessante inovação (para meus olhos) do chamado trenzinho inglês: a turma fica em fila, esperando a bola na cobrança de um escanteio ou uma falta hábil que virá de um jeito que os coloca em situação privilegiada comparativamente a seus oponentes. Se a bola vier a sua feição, até aquele baixinho tem a chance de fazer um gol.

E fiquei imaginando quanto tempo essa nova estratégia, essa inovação institucional no jogo de futebol, levará para ser imitada. Meu palpite é que não levará nem um ano!

Outra observação que fiz, de certa maneira, não nesta copa do mundo, mas no finado estádio olímpico em, digamos, 1962, deixou-me tonto e, como tal, terreno fértil para ver semeada a teoria dos jogos. É que quando o jogador do time adversário perde um gol daqueles feitos, ou seja, até atrapalha o curso normal da bola, a torcida rival o vaia. E pensei: será que a torcida rival queria que o carinha fizesse uma boa jogada? E até agora penso nisto e não sei a resposta. Nem mesmo sei se esta prática foi totalmente banida.

DdAB

09 julho, 2018

Jogos: palhaços judiciais e a eleição de Lula


Querido blog:

Dia de hoje está difícil. Aquelas cenas do poder judiciário protagonizadas aquém e além-mar foram de corar. Corado, tomei a cor vermelha, do coração, do PT, e fiz moldura com este joguinho eleitoral que imagino ter concebido por volta de junho de 1992. Eu disse "1992".

Já declarei considerar que Lula comete um erro em não indicar o candidato a vice-presidente em sua chapa. E mais ainda, lançar seu manifesto eleitoral (dizem que Fernando Haddad está coordenando um time que o está elaborando). Então olha o que escrevi, no século passado:

Para fazer aliança é fundamental ter programas
e mesmo planos de governo a partir dos quais negociar.

E acho até mais que isto. Parece-me que a política partidária no Brasil virou um grande forró, com muito quentão e cachaça, obnubilando a percepção de muita gente. Agora parece que critiquei nosso grande timoneiro. Mas, quando ele começou a falar em governo paralelo, naquele 1990 das arábias, e sob inspiração de José Graziano, fui um dos primeiros a saudá-lo com o maior otimismo. Já imaginaram se, agora, tivéssemos quase 30 anos de experiência neste tipo de atividade a cargo da oposição (ou até da posição...)?

Se minhas adivinhações estão corretas, vale muito mais a pena que a esquerda se una, credenciando-se a um pay-off de 10 anos (5 + 5, que foi a duração do lulismo), contrastando com os miseráveis 2 (isto é, 0 + 2, 2 + 0 e 1 + 1).

DdAB

05 julho, 2018

Minha Candidatura à Vice-Presidência da República (final)


Querido blog:

Uma conjunção de fatores interessante cruzou por minha cabeça. Uma frase como esta dá o que pensar. E fiquei pensando nas eleições de 2018. E acho que, desde aquela eleição de 2016, também ficou claro que a turma não está ligada na política. Deu-se uma vitória arrasadora do PSDB (very suspicious) sobre tudo e especialmente sobre o dismilinguimento (substantivo a registrar no dicionário do blog) do PT.

A conjunção de fatores de que falo tem as seguintes componentes:

.a minha postagem daqui, quando tornou-se claro que fui cogitado (por terceiros, sublinhe-se) para assumir a candidatura para a vice-presidência da república, o que me faz aproveitar a oportunidade para relançar meu programa mínimo sem o qual as alianças em busca de mais tempo de TV serão inviabilizadas:

... luta pela implantação do governo mundial
... voto universal, secreto, facultativo, periódico e distrital
... república parlamentarista.

Torna-se claro que, mantendo posições que assumi aqui, considero que a esquerda brasileira precisa urgentemente de saber qual será a composição da chapa da candidatura de Lula. O minimum minimorum é o cargo de vice-presidente e o rascunho do manifesto eleitoral. O caveat dessa encrenca é que até agora não informei a ninguém partidário sobre esse programa mínimo sine qua non. E vejam que, mal passei a me considerar candidato, já comecei com o latinório.

.b minha leitura da resenha do novo livro de André Singer, ou melhor, uma entrevista que ele deu à revista Cult, páginas 16-19 do número 235, de junho do ano corrente. Título da entrevista: Torço pela retomada da democracia.

... primeiro, é um bom título. Claro que eu também torço, inclusive com a vitória da seleção brasileira na copa do mundo da finada União Soviética. Eu tenho medo, talvez ele não tenha, de um desvio ditatorial. Tenho medo de um mundo ainda mais ditatorial do que aqueles tempos da guerra fria.

... segundo, foi-lhe feita esta pergunta como sexta da entrevista:
Há um paradoxo na combinação de relativa ascenção social no período Lula-Dilma com a onda de conservadorismo político após junho de 2013?
É um fenômeno mais antigo. A partir de 2006 você tem os setores populares em bloco com o lulismo e a classe média em bloco com o PSDB. Esse movimento decorre de uma repulsa de setores da classe média ao PT, movidos pelas denúncias de corrupção do chamado mensalão. De 2013 até 2016 aparece um segundo componente, que é a profunda rejeição da classe média à ascensão dos mais pobres. Essa diminuição das distâncias provocou uma reação pública mobilizada inédita. Parece que se revelou um amor pela desigualdade que nós não sabíamos que existia no Brasil. 

E eu, que digo? Acho atraente a ideia de que em 2006 havia um antagonismo direto entre setores populares com o PT e a classe média no bloco do PSDB. E me parece que "a repulsa de setores da classe média ao PT, movidos pelas denúncias de corrupção" é a mais legítima forma de expressar... repulsa a esse partido que se deixou predar por ladrões de modo tão singelo. Quanto ao ódio aos mais pobres, não tenho opinião formada. Imagino que, se não houvesse filas no atendimento do SUS, do aeroporto, do hotel da praia, do açougue, não haveria descontentamento. Ao mesmo tempo, entrar em banheiro sujo, ver gente furando fila, evadindo-se do pagamento da entrada, não é privilégio da classe baixa, cabendo muita responsabilidade a essa turma que alegadamente odeia os pobres.

... terceiro comentário que faço a Singer endereça-se agora à pergunta:
Você sugere que, mais do que um sentimento, esse amor pela desigualdade tem um papel estrutural na conformação da sociedade brasileira?
Isso remete às teses de Francisco de Oliveira sobre a capitalismo brasileiro. O Brasil se desenvolve com base em excedente de mão-de-obra, que eu chamo de sub-proletariado, seguindo um conceito formulado por Paul Singer. O nosso capitalismo não é atrasado, mas se desenvolve de maneira peculiar. Há uma desintegração que parece ser necessária ao sistema. O que considero original no livro é a tentativa de ligar essa formulação crítica sobre o capitalismo brasileiro ao nosso sistema partidário e pensar esse sistema como representativo das grandes contradições de classe do país. Os três grandes partidos que existem no Brasil desde 1945, que eu chamo de partido popular, partido da classe média e partido do interior, representam ainda que indiretamente as classes que essa formação específica do capitalismo produz. Por exemplo, o PT, que é originalmente um partido da classe trabalhadora, acaba se transformando num partido de tipo popular, parecido com o antigo PTB, porque ele tem que lidar com esse enorme sub-proletariado. No lulismo esse sub-proletariado ascendeu parcialmente, e talvez essa ascensão seja uma das explicações da recente interrupção de seu projeto por um partido de classe média.

Lamento dizer que Singer erra ao falar que "nosso capitalismo não é atrasado". De minha parte entendo que o capitalismo brasileiro é espantosamente atrasado, se comparado com países com que tenho mais familiaridade, como a Inglaterra e a Alemanha. Mas também minha visão de cinema do capitalismo americano, de visitas a outros países desenvolvidos europeus não me impede de ver que "aqui é o fim-do-mundo". O resto da resposta me parece interessante, um tanto além de meu horizonte intelectual, mas que permite:
... dizer que o confronto PTB, PSD e UDN de antigamente se espelha no PT, PSDB e PP de hoje em dia, uma direita furiosa que
... é liberal na economia (estado mínimo) e fascista na vida social (nega direitos às minorias).

.c minha leitura da crônica de Luis Augusto Fischer na página 3 do Segundo Caderno de Zero Hora de 3 de julho corrente. Usando a eufonia "Medo ao Mundo Moderno" como título, ele também parece ter lido o livro ou a resenha do ensaio de André Singer:

... "[...] o MDB [...] liderado por Sartori [...] é no fundo o Partido do Interior, de que tem falado André Singer. Um partido de prefeitos e lideranças cujo horizonte é sempre local, que não vê sentido em apoiar mudanças estruturais que apontem para a superação da dependência tecnológica e desse absurdo ultracentralismo brasileiro.
... "[...] parece haver um traço forte de ressentimento, muito mais interiorano do que metropolitano, contra alguns aspectos da vida social e mental moderna. Casamento de pessoas do mesmo sexo, ecologia, direito ao aborto, reconhecimento de direitos de afrodescendentes e indígenas, rechaço ao feminicídio e à opressão contra as mulheres, essas causas que a última geração viu ganharem força e voz na praça pública, justamente essas causas parecem ser tidas como coisa diabólica em muitos círculos do Interior."
... Não quero generalizar: estou tentando entender a voga notável de reacionarismo e mesmo de autoristarismo que se viu no episódio da greve/locaute dos caminhoneiros (demanda por intervenção militar, por exemplo) [...]

Embora eu não seja especialista nos estudos dessa greve específica, não vejo nela um caráter intrinsecamente reacionário, ou melhor, vejo em qualquer greve a centelha da revolução. E, se a esquerda não a usou para fazer proselitismo é que estamos perdidos mesmo. Com isto fecha-se o ciclo do que glosei da entrevista de André Singer. É claro que não existe razão mais forte para a classe média romper com o petismo do que a corrupção. É claro e evidente que eu votarei em Lula se este for candidato. E no candidato a vice-presidente, se Lula não for candidato. Mas entendo que se não houver uma conferência de pessoas bem-intencionadas de esquerda e talvez fazerem emergir um novo partido (o quadragésimo, hahaha), não haverá saída tão cedo.

Então: sendo realista, não serei candidato a nada. Aliás, para mim o voto será facultativo! Mas, no devido tempo, direi em quem vou votar. Lamento dizer -cultivando aquelas eufonias lá do velho Fischer- que, se Lula-presidente for ladeado por Calheiros-vice, abandono minhas esperanças que já são mais ralas do que seria a própria cabeça do Renan se não tivesse feito aqueles intelectualíssimos implantes capilares: boto meu voto no mato. Um gênio da nacionalidade do porte de Renan não pode competir comigo, um pigmeu honesto: abro mão de tudo. O problema é que, se decidir não votar, caberia a pergunta: "o que que tá fazendo com que esse pinta se meta nesses assuntos?"

DdAB
Imagem; estará Batman (Lula) perdido de seu amigo menino prodígio (eu)?

03 julho, 2018

Lula Cá: meu ingresso na parada

Querido blog:
Ainda estou estupefato. No mural de Volnei Picolotto do Facebook, vemos que há uma referência a meu nome no site Intercept (aqui), conforme transcreverei abaixo em fonte graúda. O texto encontra-se logo após minha assinatura na presente postagem, meu nome está lá pelo 13o. parágrafo (PT é 13, né?). Volnei escreveu:

Duilio, acho que lançaram o seu nome como candidato do Lula. Confere?
Estamos com você e Lula.
#LulaLivre
#LulaPresidente

Eu comentei:

Obrigado pela ligação (hehehe), Volnei. Tenho defendido que Lula já deveria ter indicado seu vice e colocado mais à vista seu programa. Certamente esta indicação irá para meu currículo. Já falei no blog no Imperador Duilio (que não existiu) e no São Duilio (que parece ter sido cassado por um daqueles papas mais ranzinzas). Eu não aceitaria concorrer no lugar do Lula, mas ser seu vice já é outro negócio. Sobre o candidato ao meu lugar, o prrefeito e ministro Fernando Haddad, acho que ele ainda não está maduro para o cargo. 😁😁😁😁

O tema é palpitante. Não li com suficiente atenção para formar uma opinião sobre a validade estatística deste tipo de pesquisa. Ainda assim, não tenho nada contra o uso do método de obtenção de informação por telefone. No livro que organizei com Brena Fernandez para a Editora Saraiva, temos um capítulo muito maneiro sobre amostras e o cálculo de suas entranhas.

BÊRNI, Duilio de Avila e FERNANDEZ, Brena Paula Magno (2014) Teoria dos jogos; crenças, desejos, escolhas. São Paulo: Saraiva.

Em minha terra -Rio de Janeiro- ou minha terra2 -Jaguary- não lembro de haver rua em meu nome. Mas em Sum Paulo, há, como o demonstra a foto:

DdAB
Texto citado por Volnei Picolotto que refere meu nome:


BATE-BOCA ENTRE DIRETORES EXPÕE ENTRANHAS DE PESQUISAS ELEITORAIS NO BRASIL
Rafael Moro Martins
29 de Junho de 2018, 17h48

UM DEBATE ENTRE figuras-chave de três dos principais institutos do Brasil expôs algumas das entranhas do universo das pesquisas eleitorais. Mauro Paulino, desde o final dos anos 1990 diretor do Datafolha, Márcia Cavallari, do Ibope, e Fernando Rodrigues, do Data Poder360, trocaram farpas – embaladas em generosas doses de ironia – para defender os próprios métodos de trabalho. Na plateia, jornalistas que foram a São Paulo participar do 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. Inclusive do Intercept Brasil.

Cavallari e Paulino uniram forças para bombardear o sistema de trabalho do Data Poder360, o instituto fundado há pouco mais de um ano por Rodrigues para realizar pesquisas para o portal que ele comanda em Brasília. O Data Poder360 faz pesquisas apenas por telefone, usando um sistema automatizado – algo inédito no país. Rodrigues defende que a dele é “a que menos errou em 2016 na eleição de Donald Trump”.

Nas sondagens do Data Poder360, o militar de extrema-direita Jair Bolsonaro tem, sistematicamente, registrado índices de intenção de voto maiores do que em outras sondagens. Segundo Rodrigues, seu instituto tem uma base de dados com 200 milhões de números de telefone, fixos e celulares, para a qual são disparadas ligações aleatórias pelo sistema automatizado de pesquisa.

“O que o Data Poder360 faz é enquete, não pesquisa”, disparou Cavallari. Para quem não é do ramo, as pesquisas eleitorais costumam utilizar uma amostra da população selecionada a partir de critérios (renda, região do país, entre tantos outros) que refletem um corte fiel do eleitorado – pelo menos em teoria. Na enquete, ao contrário, a participação é aleatória e definida por quem escolhe responder, não pelo pesquisador.

“Eu acho, com todo o respeito a vocês dois: século 21, gente. O que a gente faz se chama pesquisa, nos EUA só se faz esse tipo de pesquisa. Lá se chama pesquisa, e aqui é assim também”, replicou Rodrigues. Pouco antes, ele – que durante anos foi o principal repórter da Folha de S. Paulo em Brasília – fizera troça do Datafolha, que se orgulha de realizar apenas pesquisas presenciais, ou seja, realizadas pessoalmente por um entrevistador.

“O Datafolha faz pesquisas no Largo do Batata”, zombou o jornalista, fazendo referência a um tradicional ponto de partida da manifestações políticas em São Paulo – boa parte das marchas de junho de 2013, na cidade, partiu dali. Paulino reagiu irritado: “Não é verdade. Você escreveu sobre nossas pesquisas durante 20 anos e sabe disso.”

Gangorra de percentuais
Para Paulino e Cavallari, a metodologia usada pelo Data Poder360 é responsável pela alta pontuação que Bolsonaro registra nos levantamentos do instituto. “[No Brasil] Quem não tem telefone é 9% da população. Se pegar a pesquisa do Fernando e ponderar com isso, vai baixar de 2 a 3 pontos o Bolsonaro, e aumentar de 2 a 3 pontos candidatos como a Marina. Essa é a diferença”, sugeriu a diretora do Ibope.

“Sessenta por cento dos eleitores do Bolsonaro são brancos, têm menos de 34 anos, moram em grandes cidades e têm acesso costumeiro à internet. Ele vai estar mais motivado a atender uma ligação automática [como a do Data Poder360] e responder porque também é o eleitor mais engajado nesse momento”, acrescentou Paulino.

“Tá faltando a imprensa pensar um pouco mais, ser mais crítica em relação a pesquisas.” Mauro Paulino, do Datafolha.

Rodrigues reagiu: “O Bolsonaro, ao contrário do que o Mauro disse, é o voto mais duro. As pessoas respondem com vontade. Sobretudo quando não têm que olhar no olho de alguém. [Senão] Ficam com vergonha. E no telefone, não”, disse, para protestos dos concorrentes. Ele continuou: “Então, existe viés de todos os tipos. O que está na cabeça das pessoas é que no mundo democrático todos podem ser transparentes como estamos sendo, demonstrando qual a nossa metodologia de pesquisa”, falou, frisando a palavra pesquisa. “A não ser que nos EUA só se faça enquete”, completou, sobre boa parte das pesquisas eleitorais americanas serem feitas por telefone.

“Recebo muitas ligações de jornalistas [perguntando]: você não acha estranha a pesquisa do Data Poder360? Eu respondo não sei, pergunta pra ele”, ironizou Cavallari.

O chefe do Datafolha foi além: colocou em dúvida levantamentos como os realizados por uma corretora de investimentos financeiros, a XP. “Pesquisas influenciam o mercado financeiro. Quando uma empresa de investimentos faz uma pesquisa colocando o [ex-prefeito de São Paulo] Fernando Haddad como candidato do Lula, é completamente errado, a não ser que dissesse que o Alckmin é o candidato do Fernando Henrique Cardoso”, criticou, antes de disparar: “Tá faltando a imprensa pensar um pouco mais, ser mais crítica em relação a pesquisas, e dar a devida divulgação a algumas coisas muito estranhas que estão acontecendo”.

“Eu gostaria de ter tantas certezas quanto o Mauro quando ele fala que alguma coisa está errada”, ironizou Rodrigues. “Quem aqui nesta sala gostaria de saber como reagiriam os eleitores no dia da eleição se votassem no Duílio e ele fosse apontado como candidato do Lula? Alguém não teria curiosidade de saber? É uma pesquisa. Qual o problema de fazer essa pergunta? Nenhum.”

Perto do fim do debate, Paulino voltou a provocar Rodrigues, desta vez pelo acesso do jornalista à elite do Judiciário. “Quero fazer um pedido ao Fernando: marque uma audiência do presidente da Abep [entidade que reúne os principais institutos de pesquisas do país] e dos diretores do Datafolha e do Ibope – e você mesmo, se quiser participar – com os 11 ministros do Supremo. Nem precisa ser os 11; só o Fux [também presidente do Tribunal Superior Eleitoral]. A gente está tentando isso desde o ano passado…” A provocação foi uma resposta à afirmação de Rodrigues de que a metodologia do Data Poder360 foi aprovada por todos os integrantes da corte suprema, em audiências presenciais dos ministros com pessoas do site.

“Isso aqui tá pior que debate de candidato. Vocês criticam os candidatos, mas estão piores do que eles”, ironizou, já perto do final do encontro, o mediador José Roberto de Toledo, editor do site da revista piauí. “Acho que é uma riqueza que a gente possa ter essa discussão. Acho que todos fazem um trabalho excepcional, e nós fazemos um trabalho absolutamente correto, transparente ao extremo”, contemporizou Rodrigues.

No meio da troca de farpas, sobressaiu-se uma concordância: os diretores de Ibope e Datafolha disseram que uma pesquisa de intenção de votos nacional, com 2 mil entrevistas, custa pelo menos R$ 270 mil. Os preços praticados pelo Poder360 são bem inferiores a isso.

Ao final, quando todos já estavam em pé para ir embora, Rodrigues protagonizou um gran finale: subiu numa cadeira para chamar a atenção. “Uma última informação”, gritou. “Eu gostaria de falar de sintaxe. Eu não sou um instituto de pesquisa. Sou uma empresa que faz pesquisa”, disse. Mas era tarde: o barulho das cadeiras e das conversas da plateia e abafou o esclarecimento.