10 novembro, 2017

IstoÉrra

Querido diário:

Sabemos que leio o jornal Zero Herra e a revista Capital dos Carta com regularidade. O que não leio, aliás, fui assinante e há 20 anos deixei de fazê-lo, é a revista IstoÉ, por sua linha editorial de direita e de pornografia. Declarei-a morta. Mas hoje-ontem caiu-me às mãos o número 2.499, de 8 de novembro corrente, um -para mim- revival. Li um artigo do -para mim- também finado Bolívar Lamounier, páginas 22 e 23. O indigitado sociólogo usa o título "Raízes Históricas da Criminalidade" para uma arenga sobre a origem e males do descaramento brasileiro. Ao invés de reclamar da desigualdade referendada pela economia de empregos no sistema judiciário (policiais e juízes, ascensoristas e cozinheiros), ele incrimina o "narcotráfico", como observamos em suas frases finais:

[...] Polícias mal pagas, mal armadas e porosas à corrupção enfrentam os exércitos privados do narcotráfico. Armamento pesado e a droga entram facilmente por nossas fronteiras. E vivemos na ilusão de combater a oferta sem combater a procura. Não queremos entender que o consumo sem restrições perpetua o mercado que interessa ao crime organizado.

Um amontoado de lugares-comuns e um erro lógico: temos ilusão de combater a oferta ou combatemos a oferta? Temos, combatemos? Claro que eu não tenho nada a ver com isto, pois minha solução é a criação de muito mais emprego no sistema judiciário, ou reprimindo crimes (combatendo...) ou atraindo criminosos de chinelo sujo (contrastando com os de colarinho branco). E esta faceta de incriminar as vítimas, só mesmo partindo para puxar um fumo...

Mas isto seria suficiente para recriminar a revista IstoÉ, tachando-a de IstoÉrra? Pois temos erro gordo na colocação de crase numa notícia da página 25 que até me parece do bem (IstoÉrra fazendo o bem? só pode ser erro, hehehe):

TRANSPORTE
LA LA UBER
Inspirados em cena do filme "La La Land", motoristas do Uber manifestaram-se em São Paulo. Exigiam que parlamentares e governo os deixem ganhar a vida em paz, trabalhando. O Senado foi sensível à (sic) tal apelo e aos eventuais votos de 17 milhões de usuários: aboliu, entre outros pontos, a obrigatoriedade de autorização das prefeituras para os carros circularem. 

Não é o fim-do-mundo? Não seria o começo depormos o vampiresco presidente e começarmos políticas públicas voltadas a coibir a desigualdade por meio de gasto social regressivo, tributação progressiva e pilhas de empregos nos setores produtores de bens públicos e de mérito?

DdAB
P.S.: Há um ano, escrevi o texto que segue no Facebook. Hoje ele, o algoritmo, ofereceu-me "a lembrança": Maníaco, serei maníaco? All of a sudden, como diria Frank Sinatra, veio-me à cabeça esta canção que eu associava ao Sinatra brasileiro, nomeadamente, Nelson Gonçalves ("dentre as manias que eu tenho, uma é gostar de você"). Por tudo isto, fiquei pensando em machismo: como é que amar uma mulher é mania? Mas fiquei surpreso ao dar-me conta de quem tem essas manias (de amar homem) é Dolores Duran.
P.S.S. e a imagem é de lá do Facebook mesmo.

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