14 julho, 2017

Ainda a Prisão de Lula


Querido diário:

Pois ontem aqui neste blog falei contra a prisão de Lula. E recebi  comentários meu mural do Facebook. Um deles marcou-me negativamente. O eminente jaguariense Anor Filipe disse mais ou menos o seguinte:

Todos os corruptos, independente de qualquer partido, cor ou gênero, devem ser punidos pois roubaram dinheiro do Brasil, prejudicando a todos os brasileiros.... Portanto, não podemos e não devemos defender nenhum deles... Não podemos mais passar por idiotas, como eles querem... Chega de sem vergonhices no Brasil.... Basta!

A este desabafo, redarguí, colocando agora algumas edições no texto que lá joguei:

A sentença do juiz Moro, um abobado que nem sabe português, diz "[...] considerando que a prisão cautelar de um ex-presidente não deixa de envolver certos traumas, a prudência recomenda que se aguarde o julgamento pela corte de apelação antes de se extrair as consequências próprias da condenação." Sabe português? E aquela voz passiva sintética que o garoto não soube expressar? E isso diminui a validade da sentença? Se fosse apenas isto, já seria o caso de lançarem-lhe uma reprimenda: com o que ganham os juízes devem exibir sentenças que não atentem contra a língua pátria. Mas ao mesmo tempo pensar que esse juiz tem isenção para julgar Lula (como sabemos, 'juiz moro' é oximoro, hahaha) é saber se Lula está incluído na tua chamada a "todos os corruptos". 

Olha aqui o que diz uma coroa sobre as chamadas provas usadas pelo juiz Moro:

"[Fernanda Carneiro] observa que a ausência de provas 'cabais' é da natureza dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. [Diz ela:] Não há um contrato assinado pelo ex-presidente dizendo que realmente era o proprietário. Então tem de se levar em conta uma série de provas que, isoladas, poderiam ser consideradas circunstanciais, mas, no conjunto, têm uma força muito maior. Esses crimes são praticados justamente com o intuito de esconder a propriedade do recurso, o que torna muito difícil que haja uma prova definitiva que esgote o assunto."

Sigo eu, DdAB. Então há ausência de provas cabais. O que parece ter sido julgado é a possibilidade de impedir Lula de voltar a presidir o Brasil formulando políticas públicas em benefício dos menos aquinhoados. Ao reclamar da visão de direita sustentada por muitos brasileiros de boa vontade, tenho presente que Lula pode voltar a contribuir substantivamente para a redução da escandalosa desigualdade que caracteriza o Brasil há séculos.


Quem leu a encrenca do Facebook ainda pode beneficiar-se de um argumento que se encontrava escondido em minha mente no momento em que revelei meu sofrimento com os absurdos praticados contra o maior político de todos os tempos. Que, lembremos, tinha como presidente do Banco Central o atual ministro da fazenda, só que conduzido a rédea curta, a fim de impedi-lo de fazer as tropelias que hoje vemos. E que Pedro Fonseca denunciou na Zero Hora de ontem: qualquer estudante de faculdade de economia sabe que, com capacidade ociosa, com recessão, com depressão, políticas públicas adequadas são de elevar o gasto público ou reduzir a tributação. No caso, digo eu, para que não role déficit dessas medidas, deve-se substituir os impostos indiretos pelos diretos. Em outras palavras, com Lula, Meireles estaria precisamente fazendo as políticas que Roosevelt implementou na Grande Depressão de 1929-1933 nos Estados Unidos muito loucos.

Então meu ponto agora é que nem sempre nossas críticas devem ser feitas em momentos em que poderiam enfraquecer nossos aliados. E meu ponto tem duas ilustrações. Mas antes dela vou contar uma piada. É uma espécie de oração a ser recitada pelos membros do Partido Comunista, talvez criada por Lênin:

.a se o partido está certo e você também, fique com o partido
.b. se o partido está certo e você errado, fique com o partido
.c se o partido errado e você errado, fique com o partido
.d se o partido está errado e você certo, fique com o partido.

À primeira ilustração cito de memória. Li (você adivinhou: em Zero Hora) alguns anos atrás que Sérgio Faraco, depois de voltar de sua mal-sucedida experiência de estudante (de quê?) na Universidade Patrice Lumumba, de Moscou, escreveu o livro "Lágrimas na Chuva", desancando o que testemunhou de influência do socialismo real sobre a vida comunitária daquela macacada metedora de trago. Pois Faraco procurou Érico Veríssimo e mostrou os originais do livro. Érico, em plena ditadura militar, disse apenas que aquele não seria um bom momento para levantar críticas ao lado esquerdista do planeta. Faraco aquiesceu e publicou o livro apenas quando a ditadura sumiu do mapa.

E a segunda li no próprio (impróprio) Karl Popper e cito verbatim da página 55 do livro

POPPER, Karl (2008) Busca inacabada; autobiografia intelectual. Lisboa: Esfera do caos.

   Precisei de alguns anos de estudo antes de me sentir confiante em relação a ter captado o núcleo do argumento marxiano. Consiste numa profecia histórica, combinada com um apelo implícito à seguinte lei moral: Ajuda a que ocorra o inevitável! Mesmo nessa altura não tinha intenções de publicar a minha crítica de Marx, porque o antimarxismo na Áustria era pior que o marxismo: dado que os sociais-democratas eram marxistas, o antimarxismo era praticamente idêntico a esses movimentos autoritários que mais tarde foram apelidados de fascistas. [...]

É como se, durante nossa ditadura militar, neguinho começasse a criticar, digamos, Pedro Simon, por ver nele problemas enquanto líder político. Ou hoje fortalecer o capitão Bolsonaro: militar, não, muito obrigado! Nem sempre nossas críticas devem ser feitas em momentos em que elas poderiam enfraquecer nossos aliados. Concluo repetindo:

Nem sempre nossas críticas devem ser feitas 
em momentos em que poderiam enfraquecer nossos aliados.

DdAB
[Citações retiradas da publicação de ontem em minha página do Facebook e da página 12 do jornal Zero Hora de hoje. E tomara que eu não tenha feito nenhum erro de português, hahahaha).]
E não fica charmoso eu dizer que sou contra os contra-Lula?
E tem este trecho da nota do PSOL, que retirei do mural do Fb de Rodrigo Ghiringhelli:

No caso da condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sérgio Moro, no processo referente ao chamado triplex, consideramos que a ação penal é frágil em termos de materialidade e provas, reforçando a tese do arbítrio e da ação persecutória que se materializou na condução coercitiva de Lula e na divulgação ilegal de áudio contendo diálogo entre Dilma e o ex-presidente, procedimento duramente repreendido pelo então Ministro do STF Teori Zavaski.
abcz

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