Querido diário:
Já despido da condição de novato no Facebook, andei repercutindo algumas notícias que me chegaram precisamente por essa via. Ontem falei em dois casos escabrosos de nepotismo: o de João Campos, filho do finado Eduardo Campos, e de Aécio Neves, sobrinho de Tancredo Neves e primo (ao que me parece) de Francisco Neves Dorneles. João Campos, em tenra idade, acaba de seguir os passos de seu encantador pai, ao assumir o cargo de chefe de gabinete -resumo- do governador do estado (prefiro vê-lo presidente da república a morrer precocemente...). E Aécio? Economista por formação, ganhou uma rádio para iniciar a carreira? Não, não, ganhou foi o cargo de diretor da Caixa Econômica Federal, em decreto sem número assinado pelo inesquecível José Sarney e seu primo (?) Francisco Neves Dorneles.
Conheço pilhas de economistas que geraram economistas, culminando com alguns rapazes e moças filhos de pai economista e mãe economista. Não consultei estatísticas de netos e bisnetos. Por circunstâncias familiares também conheço pilhas de advogados e dentistas gerados por progenitores advogados e dentistas. E talvez até conheça mais, em amostras de tamanho maior que a unidade, jogadores de futebol, cantores, jornalistas, médicos e tutte quante e anche di più. Isto até que me abala um pouco, pois coloca facetas medievais no mercado de trabalho: guildas recheadas de parentes.
E conheço políticos do bem, os Trudeau no Canadá, e do mal, os Bush nos USA. E aí chego no Brasil. Além de Aécio e João, temos os rebentos de Luiz Inácio Lula da Silva (ouvi que um deles tem, nos negócios, a mesma habilidade que Ronaldinho tem no ludopédio), Tarso Genro (cuja filha já lhe expropriou a fantasia de ser candidato a presidente da república, ela -claro- presidenta, usando o termo de Wrana, Dilma e -agora sei- da dirigente máxima da Escola de Samba de Salgueiro), José Sarney (já vemos netos em ação? e sabes o que quer dizer 'maranhão'?), Lindolpho Collor (caso avoengo), Mendes Ribeiro (locutor de futebol, jornalista e político que transmitiu o talento de ação política ao filho e este a seu filho. Este caso foi especialmente explosivo, conforme eu mesmo postei aqui.
E agora virei fofoqueiro? Claro que não (nem estou falando em nomes de ruas, pontes e palácios). O que estou fazendo é apenas trazer contraexemplos ao conceito de sociedade justa trazido à discussão na ciência política por John Rawls (aqui postei um texto enorme, comentando Ronald Hilbrecht em que apresento três conceitos de sociedade justa. Nem entendo tanto do assunto para achar que há contradições fundamentais entre eles. E foco no de Rawls por ser o primeiro dos tempos modernos). Vai lá, John Rawls:
1. Todos têm igual direito à mais ampla liberdade compatível com a dos demais indivíduos
2. A desigualdade social e econômica deve ser organizada de modo a
a) permitir que as oportunidades de emprego sejam abertas a todos
b) gerar o maior benefício aos detentores de menos posses
Parece óbvio que ninguém é livre no Brasil, pois -por exemplo- minha liberdade é incompatível com a de assaltantes (do setor privado ou do setor público). Além disso:
Parece óbvio que o nepotismo contraria o item 2.a.
Parece óbvio que a existência de uma legislação de imposto de renda vergonhosa contraria o 2.b.
Parece óbvio que já me alonguei.
DdAB
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