11 dezembro, 2024

Indagações Individuais: o começo

 


Tudo começou quando li o livro de Jessé Souza intitulado "A Tolice da Inteligência Brasileira". E tudo seguiu quando vim a perceber que essa rematada tolice é não entender que o verdadeiro problema do Brasil (não é a casa-grande-senzala, não é a casa-e-a-rua, não é o brasileiro cordial), é não entender que tudo se escolta por trás da negativa de que tudo se restringe à enorme desigualdade na distribuição da renda e do patrimônio. Nos anos 1980, ou seja, 40 anos atrás, ao lecionar a disciplina de Macroeconomia no curso de graduação em economia da UFRGS, estudando o mercado de trabalho, cheguei à mesma constatação: tudo gira em torno da desigualdade brasileira.

Segue-se que desde o livro de Jessé, tenho pensado em fazer um questionário (com 200 milhões de cópias) indagando a cada brasileiro sobre questões básicas de seu cotidiano. Exemplifico com duas questões:

a) você concorda que algumas famílias vivam na miséria, enquanto que outras vivem num nível de consumo incompatível até com a renda per capita do país?

b) você considera que seu padrão de vida melhor ou pior que o de seus avós (pais)?

c) você vê a seu redor pobres e ricos ou não consegue distingui-los ou catalogá-los?

DdAB

Imagem: busca no Google. Vemos indicações de três países com populações além de sua capacidade produtiva, ou seja, enormes contingentes vivendo dire straits.

09 outubro, 2024

O GPT e minha filosofia da mente

 


Apresentei a seguinte frase ao GPT: "A mente é uma propriedade do cérebro da mesma forma que a visão é uma propriedade do olho?"

Ele respondeu:

Sua asserção está parcialmente correta, dependendo de como interpretamos os conceitos de "mente" e "propriedade" no contexto filosófico e científico.

Correção na analogia:

A visão é, de fato, uma propriedade do olho — ela emerge diretamente da função biológica do órgão ocular, que capta luz e a converte em sinais nervosos para o cérebro processar. O olho tem uma função muito específica e mecânica que resulta na visão.

Por outro lado, a mente não pode ser facilmente reduzida a uma "propriedade" simples do cérebro da mesma maneira que a visão é do olho. O cérebro processa a percepção visual, mas a mente é um conceito mais complexo e abrangente. Ela inclui não só a percepção sensorial, mas também pensamentos, emoções, autoconsciência, raciocínio e a experiência subjetiva.

Posições filosóficas

Dependendo da posição filosófica, a analogia pode ser vista de formas diferentes:

:::: Fisicalismo/Materialismo: Sob essa visão, a mente é inteiramente produto da atividade do cérebro. Nesse sentido, a mente seria vista como uma "propriedade" emergente das interações biológicas e químicas no cérebro. Assim, a frase faria sentido, mas seria necessário enfatizar que a mente é o resultado de processos cerebrais altamente complexos.

:::: Dualismo: De acordo com o dualismo, mente e cérebro são entidades separadas, embora interajam. O dualismo sustentaria que a mente não é simplesmente uma propriedade do cérebro, mas uma entidade distinta.

:::: Emergentismo: Há também teorias que sugerem que a mente é uma propriedade emergente do cérebro, ou seja, é resultado da complexidade da rede neural e das interações, mas não se reduz simplesmente à função do órgão físico.

Conclusão

A frase citada pode ser considerada correta em uma perspectiva materialista, onde a mente é vista como produto da atividade cerebral. No entanto, é uma simplificação, pois a mente envolve uma série de processos e experiências mais complexos do que a visão, e o funcionamento do cérebro vai muito além do papel específico que o olho tem para a visão.

Retomo: parece que ele foi mudando de ideia à medida que ia "pensando" em montar a resposta. No final das contas, atribuindo-a à posição filosófica fisicalista/materialista, ele deixa claro que a analogia é válida. E parece que pode ajudar a resolver muita controvérsia na área religiosa. 

DdAB

03 outubro, 2024

Babel, Borges e o GPT


Hoje de manhã, escrevi para o GPT: Bom dia. Hoje inicio o expediente com uma atividade de lazer. Estou relendo pela terceira vez (ou melhor, relendo duas, pois a primeira foi leitura e não releitura) o livro "Narraciones", contendo contos de Jorge Luis Borges, com edição de Marcos Ricardo Barnatán. Ontem li o conto clássico intitulado "A biblioteca de Babel". Na página 109, diz o conto: "No puedo combinar unos caracteres dhcmrlchtdj que la divina Biblioteca no haya previsto y que en alguna de sus lenguas secretas no encierren un terrible sentido." Fiquei pensando que você pode me ajudar a tomar cada letra e fazer uma frase (em português) que não tenha esse "terrible sentido". Que me diz? E ele disse:

"Da hora, Chico malha todo dia, já corre leve."

Achei um tanto esdrúxulo. Mas ele fez o dever de casa. Todas as letras do conjunto dhcmrlchtdj estão na frase, e, pela ordem alfabética, temos c c d d h h j l m r t. Tem algumas repetições, mas está ok.

Aí segui na viagem pelo alfabeto, e falei na frase famosa "The quick brown fox jumps over the lazy dog", que envolve todas as letras do alfabeto inglês. São 36 letras em nove palavras. Aí o GPT me ofereceu outra com menos letras: Waltz, nymph, for quick jigs vex Bud, traduzida pelo Google Tradutor como: "Valsa, ninfa, pois danças rápidas irritam Bud". Ela tem sete palavras, com 28 letras, em inglês, repetindo apenas o "i" e o "u".

DdAB

27 setembro, 2024

GPT: margem de erro e nível de significância

(Fonte do gráfico pictórico: Infomoney)

 Querido blog:

Nesta época eleitoral, em que serão escolhidos, como sempre, os piores candidatos (pois, pela adaptação da Lei de Gresham de acordo com a qual a moeda má (digamos, o ouro) expulsa a moeda boa (digamos, a prata) do mercado monetário, temos aqui o fato de que o mau político expulsa o bom do mercado político), não consegui dar uma boa explicação para um amigo do significado entre margem de erro e nível de significância. Nos dias que correm, aposentei meus livros de estatística, pois todos eles encontram-se no âmago do GPT. E o ativei:

Indaguei ao GPT sobre nível de confiança e margem de erro:

As expressões "nível de confiança" e "margem de erro" são fundamentais na interpretação de resultados obtidos a partir de amostras de uma população. Vou explicar cada uma:

### 1. **Nível de confiança** (95%, no seu exemplo):

O nível de confiança indica a probabilidade de que o intervalo de confiança (ou seja, os resultados obtidos a partir da amostra) realmente contenha o valor verdadeiro da população. Em outras palavras, se repetíssemos a pesquisa inúmeras vezes, 95% das vezes o resultado estaria dentro do intervalo estimado. No seu exemplo de 95%, isso quer dizer que há uma confiança de 95% de que o valor real da população está dentro dos limites estabelecidos pela pesquisa.

Por exemplo, se você faz uma pesquisa eleitoral com um nível de confiança de 95%, isso significa que, em 95 de cada 100 pesquisas semelhantes, os resultados estarão corretos dentro da margem de erro. [Em outras palavras, de cada 20 amostras, 19 estarão realmente capturando dados comme il faut da população; e 1 não o faz.]

### 2. **Margem de erro** (2%, no seu exemplo):

A margem de erro indica a variação ou a "folga" em torno dos resultados da amostra que reflete a incerteza inerente ao processo de amostragem. Se a margem de erro for de 2%, significa que os resultados da pesquisa podem variar em até 2 pontos percentuais para mais ou para menos em relação ao valor estimado. [É a amplitude do intervalo criado a partir do ponto médio da estimativa.]

Por exemplo, se uma pesquisa indicar que 50% de uma população apoia uma determinada medida, e a margem de erro é de 2%, o valor real de apoio pode estar entre 48% e 52%.

### Como eles funcionam juntos:

Com um nível de confiança de 95% e uma margem de erro de 2%, você está dizendo que há 95% de probabilidade de que o valor real da população esteja dentro de um intervalo de 2 pontos percentuais para mais ou para menos em relação ao valor encontrado na amostra.

Isso é comum em pesquisas estatísticas e ajuda a interpretar a precisão e a confiabilidade dos resultados.

Retomo. E assino:
DdAB

05 setembro, 2024

A Política e meu Aliado GPT: as 13 chaves



Qual é o nome do cientista político norte-americano que, desde 1984, tem um modelo de 13 questões que o candidato que faz um escore maior que o outro candidato é eleito?

O ChatGPT disse:

O cientista político norte-americano que desenvolveu o modelo de 13 questões para prever eleições presidenciais é Allan Lichtman. Desde 1984, Lichtman usa seu modelo, chamado de "The Keys to the White House" ("As Chaves para a Casa Branca"), para prever com sucesso o resultado das eleições nos Estados Unidos. Esse modelo baseia-se em fatores que avaliam o desempenho do governo e o ambiente político, em vez de pesquisas de opinião.

Eu redargui: 

Essas 13 questões são de seu conhecimento?

EO ChatGPT disse:

Sim, as 13 questões do modelo de Allan Lichtman, conhecidas como "The Keys to the White House", são indicadores que preveem o resultado de uma eleição presidencial com base no desempenho do governo em exercício. Elas são formuladas como perguntas de "sim" ou "não". Se seis ou mais respostas forem "não", o partido no poder tende a perder a eleição. Aqui estão as 13 "chaves":

  1. Mandato de Meio de Termo: O partido que está na Casa Branca ganhou cadeiras nas eleições de meio de mandato anteriores?
  2. Primárias: Houve uma contestação séria dentro do partido para a indicação presidencial?
  3. Candidato Incumbente: O atual presidente está concorrendo à reeleição?
  4. Terceiro Partido: Existe uma candidatura significativa de um terceiro partido ou independente?
  5. Economia de Curto Prazo: A economia está em recessão durante a campanha eleitoral?
  6. Economia de Longo Prazo: O crescimento econômico real per capita durante o mandato do presidente é forte?
  7. Mudanças Políticas Importantes: O governo implementou grandes mudanças na política nacional?
  8. Agitações Sociais: Há inquietação social generalizada durante o mandato?
  9. Escândalos: O governo está envolvido em um grande escândalo?
  10. Fracassos Estrangeiros/Militares: O governo sofreu um fracasso importante na política externa ou militar?
  11. Sucessos Estrangeiros/Militares: O governo obteve um grande sucesso na política externa ou militar?
  12. Carisma do Candidato do Partido no Poder: O candidato do partido no poder é carismático ou um herói nacional?
  13. Carisma do Candidato Opositor: O candidato do partido opositor é carismático ou um herói nacional?

Essas questões analisam fatores estruturais e circunstanciais em vez de focar diretamente em políticas ou debates eleitorais.

Retomo a palavra:

Fiz os cálculos para a eleição da prefeitura de Porto Alegre e constatei que o PT vai vencer. Ou isto não é mais que “wishful thinking"?

DdAB

04 setembro, 2024

O Amor, esse Objeto do Desejo

 


O segredo de meu bom humor é estar sempre enamorado. Mas hoje decidi testar se estou mesmo amando alguém. Aí decidi pedir ao GPT um questionário que me permita investigar meus sentimentos com a mesma franqueza com que consulto um espelho. Ele respondeu no que segue.

DdAB

Criar um questionário que ajude a avaliar se amamos alguém é uma tarefa delicada, já que o amor é uma emoção complexa e multifacetada. No entanto, é possível elaborar perguntas que explorem diferentes dimensões do amor, como a conexão emocional, o compromisso, a empatia, o desejo de bem-estar da outra pessoa e a compatibilidade de valores e objetivos. Aqui está um exemplo de questionário:

Questionário: Avaliando o Amor

Instruções: Responda às perguntas a seguir de forma honesta, utilizando a escala de 1 a 5, onde:

1 = Discordo totalmente

2 = Discordo

3 = Neutro

4 = Concordo

5 = Concordo totalmente


#### Conexão Emocional

1. Sinto-me profundamente conectado(a) emocionalmente com essa pessoa.

2. Confio plenamente nessa pessoa com meus sentimentos e segredos.

3. Sinto que essa pessoa me entende melhor do que qualquer outra.

#### Compromisso e Lealdade

4. Estou disposto(a) a fazer sacrifícios para garantir o bem-estar dessa pessoa.

5. Imagino um futuro ao lado dessa pessoa.

6. Permanecer ao lado dessa pessoa em momentos difíceis é uma prioridade para mim.

#### Empatia e Cuidado

7. Eu me preocupo genuinamente com o bem-estar dessa pessoa.

8. Sinto dor quando essa pessoa está sofrendo.

9. Faço o possível para alegrar o dia dessa pessoa, mesmo que esteja passando por um momento difícil.

#### Compatibilidade e Respeito

10. Respeito profundamente os valores e opiniões dessa pessoa, mesmo que sejam diferentes dos meus.

11. Sinto que compartilhamos objetivos e valores importantes na vida.

12. Valorizo o tempo que passamos juntos e sinto que temos interesses comuns.

#### Desejo e Atração

13. Sinto uma atração física forte por essa pessoa.

14. Desejo estar próximo(a) dessa pessoa, tanto emocional quanto fisicamente.

15. A ideia de estar com essa pessoa me traz alegria e satisfação.

Reflexão e Crescimento

16. Sinto que me tornei uma pessoa melhor desde que conheci essa pessoa.

17. Estou disposto(a) a crescer e mudar para melhorar nosso relacionamento.

18. Sinto que nosso relacionamento me inspira a ser a melhor versão de mim mesmo(a).

##### Interpretação dos Resultados

- **18-36 pontos:** O relacionamento pode ainda estar se desenvolvendo ou pode haver áreas a serem exploradas e fortalecidas.

- **37-54 pontos:** Há um forte sentimento de carinho e conexão, mas talvez alguns aspectos precisem ser trabalhados.

- **55-72 pontos:** O amor parece estar presente em várias dimensões, com uma forte conexão emocional, compromisso e empatia.

Este questionário não deve ser visto como uma ferramenta definitiva, mas pode ajudar a refletir sobre os sentimentos e o estado do relacionamento. É importante também considerar as nuances e complexidades do amor que vão além das respostas a um questionário.

21 agosto, 2024

Ulysses: uma questão técnica de primeira relevância

 

Tanto tempo fa que não falo no Ulysses, a masterpiece de James Joyce. E hoje, há dias, na verdade, me ocorreu que talvez ainda exista uma lacuna no estudo daquele que o cara disse que manteria os comentaristas ocupados por 1.000 anos.

E o que ainda não vi é um livro de algum bibliófilo que teve acesso a todas as reedições com revisões do próprio autor. Imagino que seria útil destacarem todas as inserções que ele ia fazendo ao longo de cada revisão das provas, um transtorno para o pessoal da gráfica.

Minha tese é que essa obra ainda por escrever (ou já foi escrita e estão escondendo de mim?) vai dar razão àquele comentador no jornal Independent da Irlanda que disse que "faltou editor" para a encrenca toda.

DdAB