Querido Diário:
O maior desejo que eu tenho com relação a minha vida, meus traços vitais, aquelas coisas, é o que li como cabendo ao economista fisiocrata Richard Cantillon. Com esse nome, ele poderia ser inglês, francês e talvez até comportar mais 198 nacionalidades (ainda que esse número estratosférico de países só tenha sido alcançado há uma ou duas décadas). Pois então. Ninguém consegue afirmar, pelo que li, a rigor não se sabe nem se esse nome era o pseudônimo de algum outro homem. Em outras palavras, não é garantido que tenha existido um Richard Cantillon fisiocrata de carde-e-osso. E não nego que esta ideia me atrai: será que existo ou é alguém que escreve em meu nome? Será que existo ou apenas penso existir nos instantes de folga de um programa de computador que trabalha em time sharing?
Sigo elusivo. Volta e meia acuso ter andado bebendo (super gerundismo, pois encadeei, encordoei, diz o gaúcho, quatro verbos) e deixo algumas pessoas que acreditam em minha existência física desmentindo-me.
Uma das possíveis testemunhas de minha existência e da surpresa que o abate ao pensar nas declarações que faço sobre o às vezes imoderado consumo de cachaça é o prof. André Scherer. Pois então number two. Ontem ele apresentou um belíssimo seminário sobre as relações econômicas Brasil-China. Aprendi muita coisa, saí de lá com novas questões, como é de praxe nos ambientes intelectualmente férteis. Por exemplo, em seu tempo de "Brasília", isto é, governo temporariamente deposto, ele envolveu-se em negociações comerciais com "os chineses". E descreveu-os -em geral- como jovens de 30-35 anos de idade. E, se bem entendi, na China há um instituto de aposentadoria precoce, o que me parece:
.a. contrastar com a macacada brasileira que deve trabalhar até os 75 anos e, em breve, deverá encarar 80 horas semanais. Imagina a combatividade de um macróbio de 74 anos, depois de ter labutado por 79 horas na semana e ter que terçar ideias antagônicas à moçada do sol nascente.
.b. ser, provavelmente, um dos maiores responsáveis pelo estonteante crescimento econômico daquela turma, pois grandes taxas de crescimento exigem grandes projetos de crescimento, muito mais facilmente enfrentáveis por jovens do que por velhos.
Pois então III. Depois do seminário, ele, sem fôlego e de garganta seca, foi conclamado a "empinar uma birita", como falou um fã. Fomos. E bebemos. E ele fez sua autocrítica de ter-me chamado de abstêmio, quando se comprovou que sou um biritão respeitável.
E até discussão houve sobre a unidade de medida de minhas cangebrinas. Eram as cervejas/chopps modernos. Falava-se em 560 ml e apenas após ver o copo é que me dei conta de que era minha familhar 'pint', em espanhol e em inglês . Bebi uma para cada tipo de pronúncia. E o prof. André saudou alegremente. Mas, quando eu comecei a indagar como se pronuncia essa 'pint' em outras línguas vivas, em particular as faladas na Índia, André mudou de assunto e fomos embora.
DdAB
P.S. Imagem identificável. E usei meus principais marcadores para esta postagem.
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