10 março, 2016
Racionalidade: positivo ou normativo
Querido diário:
Estava, distraidamente, coçando a cabeça com o garfo (e quem o faria deliberadamente?), quando assaltou-me uma questão de que falarei e que, penso agora, extrapola defesas da teoria dos jogos a ataques ímpios. No caso dos defensores ardentes da teoria dos jogos, diz-se que um jogo que tem "melhor maneira de jogar" (e qual não teria?) passa a transferir o caráter normativo ao positivo. Explico-me: se existe melhor maneira de jogar, mesmo que permeada por milhares de suposições sobre o comportamento dos agentes, dos pacientes, dos enfermeiros e do pessoal da portaria, além de outros, que não citarei, de sorte a não tornar esta sentença infindável e, o que seria ainda pior, ininteligível, então segue-se logicamente que essa trilha alcançada por meio da já referida "melhor maneira de jogar", alcançada por meio de lucubrações positivas, transforma-se em ditame normativo: quem não joga assim é porque é abobado (e não posso deixar de inserir neste parágrafo enorme elogio a mim próprio, a Campos de Carvalho e James Joyce, que usamos duas vezes os dois pontos na mesma sentença).
Em outras palavras, frase mais curta, também temos a relação simétrica: alguma proposição visivelmente normativa, como as regras de trânsito, passam a ter o caráter positivo: se a lei manda que eu ultrapasse pela esquerda, posso prever que a maioria estrondosa da turma também o fará. Notará o sábio linguista que, no final, esta frase ficou com a recomendação de menos de quatro linhas, ainda que com 46 palavras, o que transcende um volume razoável de informação a ser absorvido de uma só vez.
Ok, ok, evado-me, admito. Feliz. Parece óbvio: o conceito de racionalidade, alcançando o status de regra normativa, passa também a ser usado para fazer previsões de comportamentos de gente que lhe segue os ditames.
Quer mais resumo? o preceito normativo que é incorporado à ação cotidiana passa a valer como positivo. As pessoas procuram ater-se às regras. Trânsito, claro. Boas maneiras, evidente. Ser honesto na política, agora encrencou...
DdAB
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