08 março, 2016

8 de Março: festa feminina


Querido diário:

Mulher é, em média, a classe dominante, enfrentando uma variância desgranida. No peso, na altura, na idade e nos rendimentos. E em outras variáveis que um professor de economia de meu porte não consegue enumerar, ok, ok, educação, número de livros lidos, número de filhos paridos, número de filhos adotados, número do sapato, número de sapatos no armário, bolsas, óculos, e por aí vai. Número de viagens, número de minutos gasto lavando a calcinha durante o banho, e por aí vai.

Um dos assuntos em que a variabilidade em torno da média da mulher é desgramada é a posição em relação ao aborto provocado. De minha parte, costumo dizer -associado a outros homens igualmente sensíveis e portadores de desconfiômetro- que "aborto é assunto de comadres". E por isso mesmo é que decidi pedir a palavra. Meu referencial, o interlocutor que pauta boa medida dos temas que trago a público, é, como quase sempre, o jornal Zero Herra (com quem vivo atualmente uma fase de desamor que pode culminar com o cancelamento da assinatura Tão à direita que até usei para ela uma frase lapidar que ouvi endereçada ao cachorro Tupy em Jaguari: "Vai te deitar!").

Pois bem. No dia 5/sábado (edição conjunta para sábado e domingo), já foi disponibilizado o tradicional e até então dominical caderno "Donna", que é como a "nona" designava "senhora", não é isto? Talvez no dia 13, associando-se ao movimento "Não vai ter golpe!", o jornal fale mais sobre mulheres, seu dia e... o aborto provocado, um problema escandaloso dos países pobres e, especialmente, "esta terra descoberta por Cabral'.

Pois bem melhor. Li com a atenção que pude editorial, colunistas, artigos sem assinatura e não percebi nem sequer uma única e curta palavra sobre o tema. Digamos que havia e que eu não a percebi. Mas, se era, então era tão curta que minha visão já enviesada como o prova meu designativo de "Zero Herra". E fiquei pensando: não leem meu Facebook. Não assistiram a minhas aulas, não têm jornalistas mulheres e alguns nomes que parecem femininos (Ana, Brena, Cláudia, Duilia, e similares) não têm opinião sobre o aborto enquanto problema que assassina milhões de congêneres por ano. Variância escandalosa para a pergunta: "já fez aborto provocado"? E esta "É a favor da descriminalização o aborto provocado?" E mais esta: "Acha legítimo que uma sociedade patriarcal sinta-se no direito de legislar sobre o corpo feminino?" E finalmente: "Qual sua opinião sobre a política e o político brasileiros?" E, post mortem: "Você já foi vítima de um aborto provocado ilegalmente que a levou à morte?"

No outro dia, andei relembrando um dístico de relativo sucesso que andei lançando nas eleições municipais, talvez do ano bissexto de 2004: "Abrace a política. Sufoque o vereador". E um pouco depois: "Política no Brasil? Não vote. Ou, se tiver que votar, anule o voto."

DdAB

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