01 janeiro, 2019

2019, ou melhor, 1984bis

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Querido diário:

Tenho desejado à turma, exceções de praxe, que o ano que hoje inicia seja leve como os diáfanos mantos angelicais. Mas não posso deixar de revelar minha apreensão com o futuro político do país, incluindo aí o balanço da desigualdade e suas consequências na falta de educação, de saúde, de segurança, de esgotos... Neste clima, li há dias na revista Cult de dezembro, na página 25, dentro do primeiro parágrafo do artigo de Antonio Quinet, uma frase que me ajudou a entender o verdadeiro grau de dificuldade dos dias que correram e os que começam a correr hoje mesmo.

Diz ele:

[...] Esse tempo ["um tempo de incitação ao ódio e à violência"] não começou ontem [por isso falei em 1984, livro escrito em 1949, na euforia do pós-guerra e antes da guerra-fria]. Ele é velho como o mundo. A diferença dos tempos atuais para os velhos tempos de sempre é que há hoje um discurso legitimador do ódio e da violência que apresenta uma sinistra evolução do mal dirigido ao outro: o mal é autorizado, banalizado e em seguida legalizado.

Pode ser brincadeira do novo presidente da república, mas ele andou falando em fazer o mal para os opositores políticos, inclusive usando termos como metralhar e exterminar. E pode ser brincadeira que, como diz o autor citado, desde sempre, surjam figuras tragicômicas. Ainda assim, há e sempre houve um excessivo número de tiranos, déspotas, sátrapas e assemelhados tolhendo o progresso da humanidade.

E o otimismo compatível com o início do ano? Parece que ele me nutre todos os dias, ao pensar no futuro da humanidade como sendo luzidio, intermediado por um longo período de social-democracia, isto é, a organização das políticas econômicas e sociais em torno dos princípios que regem a sociedade igualitária. Pensar com simpatia num futuro que transcenda nossos horizontes de vida é indício de altruísmo (egoísmo racional, se quisermos, pois haverá alguém a valorizar nosso legado...) e pode ajudar-nos a viver melhor nosso presente, nossos dias, nossos tempos. Tomara que não estejamos descritos nas páginas do livro de George Orwell!

DdAB
P.S. Minha ilustração para esta postagem caiu num livro que estampa George Orwell na própria capa, como se fosse um Big Brother.
P.S.S. Quando falo em educação como panaceia, ocorrem-me duas dimensões que estão num hiper-espaço da felicidade: a primeira é a frase que entreouvi assim que cheguei na Grã-Bretanha, em minha segunda tentativa de tornar-me doutor: a educação te ajuda a descobrir teus objetivos na vida e te dá energia para lutar por eles. E a segunda é mais recente: apenas com povo educado é que haverá um esforço deliberado para reformar as instituições retrógradas e aperfeiçoar as boas.

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