Querido diário:
Dias atrás, como que sentindo saudades de amigos queridos, decidi reler "O Senhor Embaixador", de Érico Veríssimo. Começa que o exemplar de minha biblioteca já apresentava tantas releituras e anotações que comecei a achar monótono reviver, além dos amigos, minhas observações. Comprei um novo exemplar e decidi nada anotar nele, o que não cumpri.
O certo é que as primeiras leituras que fiz deste romance perderam-se na noite brumosa do tempo. A primeira primeiríssima ocorreu tipo em 1966, eis que o livro fora lançado em 1965. E mesmo naqueles tempos antigos, digamos, então já nos anos 1970s, reli uma ou outra vez.
Se a jura era de não fazer nenhuma anotação, como falei, rompia-a, pois volta e meia me batia uma vontade incontrolável de fazer alguma. O que segue é uma amostra do que andei fazendo, riscando.
Primeira parte: dois blim-blim-blins
I Polifemo e Galateia (citado por Érico às folhas tantas): fiquei olhando daqui e dali e não demorou que achei melhor direcionar minhas inquietaçõas ao Chat GPT:
A ligação entre Polifemo & Galateia e Pigmalião não é direta no enredo, mas há um parentesco temático na mitologia greco-romana: ambos são casos de amor idealizado e impossível.
Pigmalião (na Metamorfoses de Ovídio) é o escultor que, decepcionado com as mulheres reais, cria uma estátua perfeita — Galateia — e acaba se apaixonando por ela.
Afrodite (ou Vênus, na versão romana) dá vida à estátua, concedendo-lhe o amor desejado. Polifemo e Galateia (também narrados por Ovídio) mostram o oposto: um amor não correspondido, em que o amante (o ciclope) nunca conquista a amada, e a história termina em tragédia.
A coincidência curiosa é que o nome “Galateia” aparece nas duas histórias: Na de Pigmalião, é dado posteriormente à estátua que ganha vida (embora Homero e Ovídio não usem explicitamente esse nome, ele é adotado pela tradição posterior). Na de Polifemo, Galateia já é uma personagem da mitologia, uma ninfa marinha. Resumindo: o ponto comum é o motivo literário do amor idealizado por uma figura bela e inatingível, e o nome Galateia funciona como um elo nominal e simbólico entre as duas narrativas.
II Segunda parte: A Morte fala que língua?
Na página 128 de minha edição do Clube do Livro, lemos dentro de um parêntese:
Uma amiga lhe dissera um dia: "se a morte fala alguma língua, aposto como é sueco."
Que fiz eu? Pedi ao Google tradutor para colocar esta sentença em sueco:
Om döden talar något språk, så slår jag vad om att det är svenska.
Se o leitor desejar, pode colocar de volta esta sentença lá no próprio Google tradutor e pedir-lhe para foná-la. Eu ouvi e reouvi e pensei que visitar a Escandinávia é muito caro e ficarei com esta amostra, concordando: é mesmo um estilão que a Morte herself pode verbalizar.
III Terceira parte: enriqueça seu vocabulário (citas em diferentes páginas)
alpondra: substantivo feminino cada uma das pedras que formam, de uma margem à outra de um rio, um caminho que pode ser percorrido a pé; passadeira, pondra.
arquedo: a imagem que nos encima é um Constelation Arquedo. Veja só!
casula: substantivo feminino Paramento religioso que o sacerdote coloca sobre a alva, para a celebração da missa.
escarmento: substantivo masculino Experiência de sofrimento; provação; castigo.
fescenino: adjetivo Obsceno, licencioso, lascivo: poesia fescenina.
surdir: verbo intransitivo Sair, aparecer, brotar: surdiam gafanhotos do solo.
Claro que talvez tenha ocorrido um enorme volume de palavras desconhecidas que decidi não registrar. E aquele "arquedo" teria que voltar ao livro para ver se copiei mal.
IV Um hai-kai do Planeta 23
O Érico tem uma história entre Pablo e Kimiko (?) que se correspondem, ambos moradores de Washington DC, em hai-kais. Millôr Fernandes foi quem me ensinou a amar o hai-kai, tanto e que a Editora GangeS fez um livro de Aldo de Avila mostrando hai-kais que eu mesmo fiz. Mas nem Millôr nem eu seguimos o cânone japonês de ter os canônicos três versos com cinco, sete e cinco sílabas. Sem muito esforço fiz o que segue com o singelo título
Hai-Kai 5-7-5
Cantando feliz
o dia amanhece lento:
busca diretriz.
DdAB
P.S. Tudo indica que terei que ler o volume mais uma vez talvez no próximo outono.
