05 junho, 2019

O Desmonte que Vem de Fora

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Dias atrás, li estupefato no jornal que o Ministério Público do Rio Grande do Sul estava solicitando à assembleia legislativa a criação de 41 cargos de confiança, os afamados CCs. E fiquei boquiaberto ao ler o jornal de hoje e saber que os próprios solicitantes, dada a reação que a iniciativa provocou na opinião pública, ou sei lá aonde, voltaram atrás e pediram para cancelarem a tramitação do pedido.

Logo eu, que considero que o emprego público é obrigação do estado, como já prescrevia a constituição da república que regeu meu nascimento, ou seja, eu, de 1947 e ela, de 1946: "todos terão direito a um emprego que lhes possibilite existência digna". E que vim a aprender, na minha longa convivência com a literatura igualitarista, que o "governo é o empregador de última instância".

Então, como é que vou conciliar querer menos cargos públicos? É que John Rawls diz que a sociedade justa terá seu governo gerido por empregos abertos a todos. "Todos" não quer dizer os parentes dos procuradores do ministério público, nem dos deputados, nem dos juízes, na troca de nomeações, já que a nomeação direta está proibida no país da impunidade...

Em compensação, parece que já falei que andei lendo a revista Época, número 1090, a da maconha. E nas páginas 78 e 79, temos um comentário, um balanço sobre o desmonte do estado norte-americano que deixa qualquer um de cabelo em pé:

   [...] o resultado [do desmonte, se bem resumo em uma palavra] é parecido [ao que ocorre na retirada de poder do Foreign Office, o da diplomacia]: diplomatas sentados nos bastidores, políticas sendo feitas em outros lugares.
   A queda livre do Foreign Office continuou através das eras Obama e Trump. Em 2012, 28% dos cargos do Foreign Office no exterior estavam vagos ou eram preenchidos por funcionários de nível inferior, trabalhando acima de sua experiência.
   Em 2014, a maioria dos funcionários tinha menos de dez anos de experiência, um declínio até mesmo em relação aos anos 90. Menos funcionários do que antes foram promovidos à liderança em 1975, mais da metade dos funcionários chegará a postos superiores: em 2013, apenas um quarto uma profissão [no Foreign Office] que, nas décadas anteriores, recrutara as mais brilhantes mentes das universidades americanas e do setor privado agora estava enferma, se não morrendo.

Se meu início foi falar nos 41 cargos em comissão, que sou contra, sigo para uma conclusão com matéria também do jornal. O ministro Paulo Guedes disse que não haverá concursos públicos nos próximos quatro anos. E pode ser que Bolsonaro seja reeleito. E pode ser que, mesmo saindo do poder pelo voto majoritário, essa turma deixe uma herança como a  que ficou de Temer, com aquela lei esdrúxula dos 20% de aumento no gasto, algo assim, que felizmente não lembro com exação.

Então: Paulo Guedes segue no projeto de secar o estado dos melhores cérebros, da perspectiva da carreira do funcionalismo público (da qual outro câncer, by the way, é mesmo a nomeação indiscriminada de pessoas em cargos em comissão). A macacada terá menos de 10 anos de experiência. A macacada não terá mais promoções a cargos de liderança nem a postos superiores. A macacada não vai originar-se das universidades, pois estas estarão acabadas, a macacada não terá nem mesmo empregos no setor de mercado, pois este também fenecerá e aparentemente os chineses vão preferir trabalhadores chineses: se exportarem 210 milhões de pessoas não vai faltar chinês naquelas bandas.

DdAB
Foto de um desmonte lá no início.

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