10 abril, 2019

Mundo 0 x -3 Zerro Herra




A encrenca é tão canina que, tendo o dia 5 de abril (sexta-feira) como o mais agitado de minha vida, não consegui postar o que quero, esses menos três gols na isenção jornalística, mas vou fazê-lo agora: antes tarde do que nunca. É o jornal Zero Hora, é minha tradicional Zerro Herra. É evidente que não dou pouca importância a Zerro Herra, pois a escolhi para ser minha pauta daquilo que a Art Filmes daqueles tempos chamava de "O Que Vai pelo Mundo". E já vi cada uma, até aquela do morto em Soledade, com três tiros, ou seja, duas facadas na barriga... E dessa Art Filmes nada vi no Youtube.

Em compensação, a página 2 tem aquele "Informe Especial" de autoria do jornalista Tulio Milman. Pois pior em compensação, ele tem a reflexão do dia -se assim posso chamar- intitulada "O que a palavra Tchucuca diz":

Muito se fala sobre a explosão do ministro da Economia, Paulo Guedes, que saiu dos trilhos na quarta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, ao ser chamado de "tchutchuca" pelo deputado Zeca Dirceu (PT-RJ), filho do ex-presidiário José Dirceu. [...]

Pirei, despirei, tornei a pirar: fiquei pensando que, neste caso, também deveríamos dizer o nome da mãe do indigitado deputado... Vim a ler na Wikipedia tratar-se de Clara Becker. Mas e daí? E daí, e daí, e daí? Que teria a ascendência do deputado a ver com a insatisfação do estridente jornalista com os rumos que o humor do ministro da economia escalou naquela tarde/noite memorável? O cara é mau ministro, o cara é mau jornalista. No mesmo parágrafo que trunquei com [...], Túlio prometeu: "Pode-se analisar o episódio, no mínimo, sob duas óticas." Pois, aprendiz de epistemologia que me declaro, agucei o espírito para ver quais seriam essas duas óticas analíticas do jornalista.

Primeira decepção: não há aquelas afamadas entradas paralelas que tanto me ajudaram a galgar alguns degraus nas escadarias os porões do conhecimento, se me faço vulgar... Demonstração: ele começa falando na primeira dessas duas óticas. E, no parágrafo seguinte, terminada a -assim dizendo- análise da primeira, segue dizendo "Feita a ressalva, [...]", cabendo a seu sofrido leitor dar-se conta de que aquela ressalva era da primeira ótica, que tratou do "descontrole do ministro".

A segunda ótica teria, claro, que compensar aquele "descontrole do ministro", pois -em caso diverso- poderiam classificar Túlio no armário dos comunistas. E, para deixar mesmo no opróbio essa sua -digamos- análise, parece óbvio que, ou muito me engano, ou ressalvas não fazem parte a parte central da análise. Vou dar um exemplo. Quando dizemos: "vou analisar o efeito preço", estamos rumando para decompô-lo, analisá-lo. Aí defino o efeito preço: variação na quantidade demandada de uma mercadoria em resposta à variação de seu preço". A análise seguiria com a divisão desse efeito preço em efeito renda e efeito substituição. Neste caso, deveria ser proibido que eu, fazendo uma ressalva, chegasse aos efeitos renda e substituição. Na verdade, isto não é ressalva nenhuma, mas a própria análise. Além do mais, feita a ressalva analítica, mais da metade restante da reflexão sobre o substantivo feminino tchutchuca, transformando-a (à resssalva) em cavalo de batalha para lancetar a esquerda. Chega!

Em compensação, o quarto superior da página 8 diz: "Histeria da oposição ajuda o governo Bolsonaro". Fiquei encafifado. É? Era Rosane de Oliveira, a tradicional porta-voz do reacionarismo sul-riograndense, naquele carimbadíssimo jornal. Farei apenas uma ligeira "análise" (hahaha), citando o primeiro parágrafo da jaculatória da profissional:

Um dia depois do longo depoimento do ministro Paulo Guedes à Comissão de Constituição e Justiça, o que ficou daquela sessão de mais de seis horas? O assunto mais comentado é a falta de educação do deputado Zeca Dirceu (PT-PR), dizendo que o ministro é 'tigrão' com os pobres e 'tchutchuca' com os privilegiados. Um citação totalmente inadequada, que irritou Guedes mais do que todas as provações anteriores e levou ao encerramento da sessão. O ministro, que já estava pelas tabelas, desceu ao nível do Zeca Dirceu e disse que 'tchutchuca' eram a mãe e a avó dele.

Segue a lista de críticas à esquerda que já nos é familiar, e até mais violenta: histeria e catarse. E a defesa do status quo: "O ministro mostrou que tinha estudado os argumentos de quem acha que a reforma da Previdência é desnecessária e tentou desmontá-los, mas a gritaria impediu que as respostas fossem ouvidas e que mitos raciocínios fossem concluídos. [...]"

Em compensação, sempre tem o contraponto com episódicas concessões ao que pensam ser a opinião central da esquerda. Agora pulamos para a página 25. Carolina Bahia tem um quarto de página e começa com uma nota longa intitulada "Caiu a ficha de Bolsonaro", no caso, o presidente teria entendido que "precisa mergulhar em negociações", dizendo como prólogo:

[...] Zeca Dirceu (PT-PR) faltou com o respeito ao chamar o ministro [Paulo Guedes] de tigrão e tchuchuca. Foi baixo. Os governistas também erraram. [...]

E por que considero que minha... análise faz parte de minha inserção naquele mundo da economia política moderna? Um jornalismo isento (que não se resume a, digamos, criticar uma posição errada da esquerda e imediatamente fazer uma concessão com crítica para a direita) jamais faria este tipo de abordagem, abordagem, abordagem, isto é, três jornalistas enviesados com uma notícia banal. Essa de falar apenas no pai do deputado e não referir a sra. Clara Becker é, digamos, machista...

DdAB
Editei uma foto cujo resumo coloquei lá em cima. É para deixar claro que houve sapatadas pra tudo que é lado, cabendo-nos inocentar o que parece um parzinho de sapatos for ladies.

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