05 julho, 2018

Minha Candidatura à Vice-Presidência da República (final)


Querido blog:

Uma conjunção de fatores interessante cruzou por minha cabeça. Uma frase como esta dá o que pensar. E fiquei pensando nas eleições de 2018. E acho que, desde aquela eleição de 2016, também ficou claro que a turma não está ligada na política. Deu-se uma vitória arrasadora do PSDB (very suspicious) sobre tudo e especialmente sobre o dismilinguimento (substantivo a registrar no dicionário do blog) do PT.

A conjunção de fatores de que falo tem as seguintes componentes:

.a minha postagem daqui, quando tornou-se claro que fui cogitado (por terceiros, sublinhe-se) para assumir a candidatura para a vice-presidência da república, o que me faz aproveitar a oportunidade para relançar meu programa mínimo sem o qual as alianças em busca de mais tempo de TV serão inviabilizadas:

... luta pela implantação do governo mundial
... voto universal, secreto, facultativo, periódico e distrital
... república parlamentarista.

Torna-se claro que, mantendo posições que assumi aqui, considero que a esquerda brasileira precisa urgentemente de saber qual será a composição da chapa da candidatura de Lula. O minimum minimorum é o cargo de vice-presidente e o rascunho do manifesto eleitoral. O caveat dessa encrenca é que até agora não informei a ninguém partidário sobre esse programa mínimo sine qua non. E vejam que, mal passei a me considerar candidato, já comecei com o latinório.

.b minha leitura da resenha do novo livro de André Singer, ou melhor, uma entrevista que ele deu à revista Cult, páginas 16-19 do número 235, de junho do ano corrente. Título da entrevista: Torço pela retomada da democracia.

... primeiro, é um bom título. Claro que eu também torço, inclusive com a vitória da seleção brasileira na copa do mundo da finada União Soviética. Eu tenho medo, talvez ele não tenha, de um desvio ditatorial. Tenho medo de um mundo ainda mais ditatorial do que aqueles tempos da guerra fria.

... segundo, foi-lhe feita esta pergunta como sexta da entrevista:
Há um paradoxo na combinação de relativa ascenção social no período Lula-Dilma com a onda de conservadorismo político após junho de 2013?
É um fenômeno mais antigo. A partir de 2006 você tem os setores populares em bloco com o lulismo e a classe média em bloco com o PSDB. Esse movimento decorre de uma repulsa de setores da classe média ao PT, movidos pelas denúncias de corrupção do chamado mensalão. De 2013 até 2016 aparece um segundo componente, que é a profunda rejeição da classe média à ascensão dos mais pobres. Essa diminuição das distâncias provocou uma reação pública mobilizada inédita. Parece que se revelou um amor pela desigualdade que nós não sabíamos que existia no Brasil. 

E eu, que digo? Acho atraente a ideia de que em 2006 havia um antagonismo direto entre setores populares com o PT e a classe média no bloco do PSDB. E me parece que "a repulsa de setores da classe média ao PT, movidos pelas denúncias de corrupção" é a mais legítima forma de expressar... repulsa a esse partido que se deixou predar por ladrões de modo tão singelo. Quanto ao ódio aos mais pobres, não tenho opinião formada. Imagino que, se não houvesse filas no atendimento do SUS, do aeroporto, do hotel da praia, do açougue, não haveria descontentamento. Ao mesmo tempo, entrar em banheiro sujo, ver gente furando fila, evadindo-se do pagamento da entrada, não é privilégio da classe baixa, cabendo muita responsabilidade a essa turma que alegadamente odeia os pobres.

... terceiro comentário que faço a Singer endereça-se agora à pergunta:
Você sugere que, mais do que um sentimento, esse amor pela desigualdade tem um papel estrutural na conformação da sociedade brasileira?
Isso remete às teses de Francisco de Oliveira sobre a capitalismo brasileiro. O Brasil se desenvolve com base em excedente de mão-de-obra, que eu chamo de sub-proletariado, seguindo um conceito formulado por Paul Singer. O nosso capitalismo não é atrasado, mas se desenvolve de maneira peculiar. Há uma desintegração que parece ser necessária ao sistema. O que considero original no livro é a tentativa de ligar essa formulação crítica sobre o capitalismo brasileiro ao nosso sistema partidário e pensar esse sistema como representativo das grandes contradições de classe do país. Os três grandes partidos que existem no Brasil desde 1945, que eu chamo de partido popular, partido da classe média e partido do interior, representam ainda que indiretamente as classes que essa formação específica do capitalismo produz. Por exemplo, o PT, que é originalmente um partido da classe trabalhadora, acaba se transformando num partido de tipo popular, parecido com o antigo PTB, porque ele tem que lidar com esse enorme sub-proletariado. No lulismo esse sub-proletariado ascendeu parcialmente, e talvez essa ascensão seja uma das explicações da recente interrupção de seu projeto por um partido de classe média.

Lamento dizer que Singer erra ao falar que "nosso capitalismo não é atrasado". De minha parte entendo que o capitalismo brasileiro é espantosamente atrasado, se comparado com países com que tenho mais familiaridade, como a Inglaterra e a Alemanha. Mas também minha visão de cinema do capitalismo americano, de visitas a outros países desenvolvidos europeus não me impede de ver que "aqui é o fim-do-mundo". O resto da resposta me parece interessante, um tanto além de meu horizonte intelectual, mas que permite:
... dizer que o confronto PTB, PSD e UDN de antigamente se espelha no PT, PSDB e PP de hoje em dia, uma direita furiosa que
... é liberal na economia (estado mínimo) e fascista na vida social (nega direitos às minorias).

.c minha leitura da crônica de Luis Augusto Fischer na página 3 do Segundo Caderno de Zero Hora de 3 de julho corrente. Usando a eufonia "Medo ao Mundo Moderno" como título, ele também parece ter lido o livro ou a resenha do ensaio de André Singer:

... "[...] o MDB [...] liderado por Sartori [...] é no fundo o Partido do Interior, de que tem falado André Singer. Um partido de prefeitos e lideranças cujo horizonte é sempre local, que não vê sentido em apoiar mudanças estruturais que apontem para a superação da dependência tecnológica e desse absurdo ultracentralismo brasileiro.
... "[...] parece haver um traço forte de ressentimento, muito mais interiorano do que metropolitano, contra alguns aspectos da vida social e mental moderna. Casamento de pessoas do mesmo sexo, ecologia, direito ao aborto, reconhecimento de direitos de afrodescendentes e indígenas, rechaço ao feminicídio e à opressão contra as mulheres, essas causas que a última geração viu ganharem força e voz na praça pública, justamente essas causas parecem ser tidas como coisa diabólica em muitos círculos do Interior."
... Não quero generalizar: estou tentando entender a voga notável de reacionarismo e mesmo de autoristarismo que se viu no episódio da greve/locaute dos caminhoneiros (demanda por intervenção militar, por exemplo) [...]

Embora eu não seja especialista nos estudos dessa greve específica, não vejo nela um caráter intrinsecamente reacionário, ou melhor, vejo em qualquer greve a centelha da revolução. E, se a esquerda não a usou para fazer proselitismo é que estamos perdidos mesmo. Com isto fecha-se o ciclo do que glosei da entrevista de André Singer. É claro que não existe razão mais forte para a classe média romper com o petismo do que a corrupção. É claro e evidente que eu votarei em Lula se este for candidato. E no candidato a vice-presidente, se Lula não for candidato. Mas entendo que se não houver uma conferência de pessoas bem-intencionadas de esquerda e talvez fazerem emergir um novo partido (o quadragésimo, hahaha), não haverá saída tão cedo.

Então: sendo realista, não serei candidato a nada. Aliás, para mim o voto será facultativo! Mas, no devido tempo, direi em quem vou votar. Lamento dizer -cultivando aquelas eufonias lá do velho Fischer- que, se Lula-presidente for ladeado por Calheiros-vice, abandono minhas esperanças que já são mais ralas do que seria a própria cabeça do Renan se não tivesse feito aqueles intelectualíssimos implantes capilares: boto meu voto no mato. Um gênio da nacionalidade do porte de Renan não pode competir comigo, um pigmeu honesto: abro mão de tudo. O problema é que, se decidir não votar, caberia a pergunta: "o que que tá fazendo com que esse pinta se meta nesses assuntos?"

DdAB
Imagem; estará Batman (Lula) perdido de seu amigo menino prodígio (eu)?

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