02 novembro, 2017

Evolução do Conceito de Valor Adicionado


Querido diário:

De que conceito estamos falando? Essencialmente do conceito de valor adicionado. E que é valor adicionado? É o que resulta do esforço produtivo de uma sociedade em determinado período, ou seja, o que a sociedade acrescentou a uma constelação de recursos já existentes no período anterior ao que estamos nos referindo. E que recursos pré-existentes seriam esses? Sementes, máquinas, equipamentos, prédios e instalações.

Então podemos dizer numa equação aquilo que descrevemos no parágrafo anterior:

VAdic = f(Sementes, máquinas, equipamentos, prédios, instalações, vetor)
e agora acrescentamos o recurso "vetor", para dizer que há outra lista de recursos que não fomos capazes de identificar no presente momento, por razões de ignorância pura, enfado, etc. Tal é o caso de combustíveis, ou incomensurabilidade. Ou

VA = f(S, m, E, P, I, V)

fica um tanto mais reduzido, mas mais apavorante para uma turminha. Mas as variáveis S, m, E, P, I e V estão todas encapsuladas pelo valor da produção, em cujo bojo também podemos contemplar os salários, os lucros, os impostos. Ou, na economia simples, pela diferença entre a colheita e as sementes, algo assim. E escrevemos:

VA = g(VP)

Mas VP, por conter M, E, P, I e V, deixou em aberto o principal elemento, sem o qual as sementes não saem dos sacos, as máquinas permanecem desligadas. Ou seja, aqueles salários anteriormente listados são absolutamente fundamentais para coordenar e motivar os trabalhadores a alugarem sua capacidade de trabalho.


(ou seja, a medição feita por suas três óticas de cálculo, nomeadamente, produto P, renda Y e despesa D).

Em 31 de março de 1988, escrevi em meu diário:

Quem organiza o mundo não podem ser os trabalhadores e sim os moradores.


Neste caso, o valor adicionado não é uma conquista metafísica dos trabalhadores, mas uma realização concreta dos moradores (trabalhadores, cônjuges, filhos, parentes aquartelados, achegos, visitantes).

Em 2006 fiz um artigo para a revista do departamento de economia da UFSC falando que a luta de classes deve ser substituída pela luta entre instituições.

Neste outro caso, eu me referia ao bloco B33 (das transferências interinstitucionais colocadas em evidência pela matriz de contabilidade social), que tende a superar em magnitude tanto as transações interindustriais quanto o valor adicionado (P = Y = D).

Depois fiz a correlação entre renda per capita e população, dando um r^2 = 0,6 na postagem de 23.nov.2012

O princípio de tudo é a constatação de que

M * V = P * Q ou = P * Y (a renda, isto é, para nós, Q = Y)

Esta equação informa que, quando V = P = 1, então M = Q = Y, ou seja, o valor gerado na sociedade em uma unidade de tempo é precisamente o montante monetário (um um múltiplo que capture também o escambo, o trabalho doméstico, e outros fenômenos cuja participação (proporção) no todo não varia substantivamente entre períodos.

Moral da história: costumo dizer que o valor da produção é uma função do trabalho (VP = f[Emprego]), mas o valor adicionado é uma função do valor da produção (VA = g[VP)]) e, assim, apenas indiretamente é uma função do emprego, isto é, do trabalho socialmente necessário. E que ganhamos com a eliminação dessa transitividade do valor da produção sobre o emprego para chegar no valor adicionado? Ganhamos que torna-se mais claro que o valor adicionado é uma função da sociedade, mensurada, como o fiz, pelo tamanho da população.

E quais as consequências normativas deste tipo de raciocínio? Essencialmente aquelas capturadas pelo conceito de sociedade justa criado por David Harvey: todos terão direito a uma fração do excedente gerado em determinado período, independentemente de tê-lo produzido (produzido no sentido da função de produção que diz que VP = f(Emprego)).

DdAB
Em setembro de 2017, a partir do site da Revista Circus, vim a conhecer a Modern Monetary Theory. que me parece suficientemente interessante a ponto de requerer further investigation. Pelo que li até agora, intuo que ela, aquerenciada ao keynesianismo, dá papel proeminente para a oferta monetária, nosso M,

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