29 setembro, 2016

Considerações sobre o Papel da Diferenciação do Produto na Indústria


Querido diário:
Segue-se aqui um paper que nunca cheguei a concluir. Agora retiro apenas os erros mais grosseiros, mantendo espaços para preenchimentos que nunca serão feitos, ou melhor, alguns espaços da versão anterior a esta publicação no blog foram preenchidos. Por exemplo, faltava o nome do livro de George e Joll que terei lido antes de 1988, mas cuja referência que agora encontrei na própria internet é de 1994. E referências ainda mais modernas, como o livro de Besanko, da Bookman, que li e amei em 2007 durante meu pós-doutorado em Berlim.

Considerações sobre o Papel da Diferenciação do Produto na Indústria
Porto Alegre, Abril de 1988 (o que é abril/1988? meu primeiro ano integral como professor de dedicação exclusiva na UFRGS, depois do período nov/1978 a jun/1980).
1. Introdução
2. O papel da diferenciação do produto
3. Classificação dos mercados e o grau de diferenciação      
4. A promoção das vendas como elemento da conduta industrial
Notas

l. Introdução
            A contribuição da moderna indústria brasileira para o processo de desenvolvimento econômico tem sido avaliada sob inúmeros aspectos. Discutem-se questões tais como a propriedade do capital, o grau de complexidade do parque industrial, a importância da indústria no processo de substituição de importações, a questão da absorção da mão-de-obra, e tantas outras. Sob o ponto de vista mais restrito do que o da economia do desenvolvimento, o da economia (organização) industrial também estuda uma miríade de aspectos.
            Entre estes, pode-se destacar o debate sobre o ingresso de capital internacional, a concentração industrial, as barreiras à entrada de novas firmas nas indústrias, aspectos da conduta de mercado, e tantos outros. Tantos são, na verdade, os aspectos a se considerar para o estudo do setor industrial que a construção de um objeto de estudo adequado torna-se fortemente uma questão de opção pessoal por parte do pesquisador. O presente trabalho é fruto de um experimento didático em que foi colocado um tema de pesquisa para um conjunto de estudantes de graduação e deste tema deveria surgir uma monografia de cerca de dez páginas, em que aparecessem aspectos teóricos e empíricos da diferenciação do produto por parte da empresa.
            De que tema se trata, em termos mais amplos, pode-se responder ser de Economia Industrial. Mais especificamente, trata-se de discutir aspectos estruturais e de conduta de mercado. Ainda mais fielmente ao título geral, busca-se investigar a diferenciação do produto em algum tipo de mercado local de produtos industriais. Tem-se em mente a possibilidade de o estudante fazer uma pesquisa teórica (bibliográfica) e testar até que ponto pode aproximar-se empiricamente dos conceitos sugeridos pela teoria. Critérios arbitrários levaram à escolha dos eletrodomésticos, em outubro de 1987 e abril de 1988 em Porto Alegre.
            Tal nível de especificação do objeto de estudo ainda é bastante vago. Fogão e vídeo-cassete fazem parte do "ramo duro", mas divergem entre si como a água do vinho. Por outro lado, não apenas o "ramo mole" fica totalmente afastado, como também fica assentado que não se estão estudando insumos, como o cimento, a soda cáustica ou o fermento.
            Ingressando mais especificamente na área da organização (economia) industrial, busca-se auscultar os ruídos emitidos pela turbulenta esfera do mercado. Para efeito de breve classificação, podemos dizer que existem dois tipos de - dando por conhecido este conceito -  mercado: aqueles em que são transacionados produtos homogêneos e outros em que os produtos são diferenciados. O texto seguinte trás nas entrelinhas a seguinte questão relacionada ao desempenho geral da indústria: qual a racionalidade de uma sociedade possuir simultaneamente diversos produtos como substitutos próximos, preços diferenciados e ... falta de alimentos.
            É possível que uma questão assim tão aberta não levasse a respostas sensatas em tempo razoável. Um primeiro elenco de respostas para questões mais restritas encontra-se nas linhas abaixo. A seção 2 estuda o papel da diferenciação do produto na descrição da estrutura e da conduta da indústria. A seção 3 investiga a importância da diferenciação do produto dentro da classificação usual dos mercados. Por fim, a seção 4 examina alguns elementos da promoção de vendas como um dos elementos característicos do comportamento industrial.

2. O papel da diferenciação do produto
            Ao se entender a moderna empresa capitalista como sendo o locus da acumulação do capital, parte-se, de um lado, para trilhar as vielas da microeconomia e, de outro, procura-se explicar como a acumulação de capital  - questão fundamental da macroeconomia -  pode ser analisada em seu nascedouro. Ambos os lados levam a que se insira a problemática da diferenciação do produto como um capítulo do crescimento da empresa. Com efeito, a diferenciação do produto constitui um dos elementos fundamentais para a descrição tanto da estrutura das diferentes indústrias como da conduta das empresas no mercado. Sob o ponto de vista da estrutura industrial, diferenciar o produto significa erigir barreiras à entrada de novas firmas na indústria, não favorecendo a desconcentração.
            No que diz respeito à conduta, estudar a diferenciação do produto remete ao entendimento de uma das maneiras que a empresa tem de expandir seu poder de mercado e, portanto, ganhar algum grau de poder de monopólio. Significa isto a permissão de lançarmos um olhar pela janela indiscreta do capitalismo. Deixando de lado a porta de entrada da fábrica, estudar a diferenciação do produto como elemento da conduta de mercado permite que se apreenda algo com a turbulenta esfera da circulação, ambiente em que a concorrência se mostra visível com a maior nitidez.
            Falar em concorrência, no presente contexto de maior ou menor grau de monopolização, implica trazer do umbral a questão da instabilidade e incerteza características do capitalismo. De acordo com Thompson*1 (p.41), podemos destacar os seguintes fatores como criadores de instabilidade no mundo econômico: a) mudanças na tecnologia, b) deslocamentos nos gostos e preferências do consumidor, c) ingresso de novos concorrentes no mercado da firma, d) incertezas políticas, no que diz respeito a novas legislações, manutenção de tarifas e quotas de importação, e) impactos das políticas fiscal e monetária, g) variações nos insumos, preços, taxa de salários, disponibilidade de mão-de-obra, e outras.
            Os fatores causadores de instabilidade, por se localizarem fora do controle da empresa, criam-lhe um mundo de incerteza, cuja melhor forma de combater é o próprio crescimento. Expandindo-se horizontal e verticalmente e se diversificando, dentro de certos limites, a empresa reage mais apropriadameente a essas pressões desestabilizadoras, o que se traduz em verdadeira compulsão a crescer. "Acumulai, acumulai!", descreveu Marx.
            Ao escrever o Volume 2 d'O Capital, Marx dedicou explícita atenção à circulação das mercadorias. Mesmo dizendo que seu "salto mortal" se dava dentro da fábrica, atribuiu à circulação funções decisivas no processo de desenvolvimento capitalista. Discutiu ele explicitamente a questão dos estoques, da contabilidade e do, em nossas palavras, departamento de compras*2. Aqui, contudo, interessa discutir outro departamento, o de vendas.
            Com efeito, no mundo das mercadorias, é fundamental produzirem-se bens e serviços que atendam às necessidades humanas. Ocorre que, à medida que mesmo as necessidades biológicas assumem contornos definidos pela sociedade, não basta a existência da necessidade para que se efetive o consumo. Isto porque o consumo só pode ocorrer após ao menos duas transações de mercado: a venda de uma mercadoria que propicie dinheiro, o qual será gasto na aquisição da mercadoria destinada ao atendimento da necessidade a ser debelada. Na sociedade que engendrou uma teia de relações sociais voltada à acumulação de mercadorias, estas concorrem entre si. Mais exatamente, os donos de mercadorias concorrem entre si, no sentido de colocar sua produção nas mãos do consumidor, em troca de seu dinheiro*3. Por isto é que os bens e serviços que são levados ao mercado necessitam de uma campanha de promoção de vendas.
            Nestas circunstâncias, interessa-nos aprofundar o entendimento da concorrência que tem lugar entre os produtores. Esta pode ocorrer com base nos preços, situação em que um preço mais baixo é mais competitivo do que um mais alto. Os economistas (Galbraith:187) falam em um preço de mercado, um líder de preços, etc., enquanto que o fato observado é que praticamente cada produto tem um preço diverso dos demais. Não obstante, pelo menos desde os anos 20, discute-se a questão da rigidez de preços, isto é, até que ponto as empresas competem entre si reduzindo seus preços. Também neste caso, há evidência de que existem reduções de preços no mundo dos negócios, haja vista as liquidações de fim de estação, as "ofertas da semana", "queimas de estoques", e similares.
            Esta problemática tem, até os dias atuais, gerado celeuma, mas foge ao escopo do presente trabalho discuti-la em maior profundidade*4. O que importa reconhecer aqui é que também existe um grande potencial de concorrência entre as empresas, que se dá por meios diversos da política de preços. Aliás, se houvesse concorrência apenas com base em preços, é possível que permanecessem na indústria apenas as empresas de grande escala, com muito mais nítida tendência à concentração. Parece, assim, que quanto menor o grau de diferenciação, maior a possibilidade de monopolização. Considerando que o capitalista individual foge da concorrência como, por assim dizer, o diabo da cruz  - na medida que esta reduz os lucros monopolísticos -  é natural que tenham surgido formas menos letais de diferenciação do produto que não as associadas à guerra de preços.
            Deste modo, é lícito sustentar que a diferenciação do produto aparece como um elemento da conduta industrial enquanto destinada a reduzir as pressões no sentido de rebaixar os preços, o que  - tal como o fênix -  faz surgir nova forma de concorrência: aquela que não se baseia em reduções de preços. Ao contrário, a diferenciação do produto bem feita torna cada produtor um monopolista, situação em que ele pode ... elevar os preços.
            Mesmo as indústrias mais circunspectas, como é o caso da produção de aço, oxigênio, cimento, ácido sulfúrico e outras, cujo produto não é fisicamente diferenciável, com frequência se lançam a promover as vendas. É o que informa, por exemplo Caves (abcz), ao mencionar um estudo que refere os gastos com clientes em clubes noturnos. Tais gastos, na classificação adiante referida, receberá o título de relações públicas. Não é difícil contabilizar-se tal tipo de gasto deve ser descarregado no preço do produto, elevando-o.

3. Classificação dos mercados e o grau de diferenciação do produto
            No texto acima, foi mencionado diversas vezes o termo indústria. Dada sua importância não menor que ambiguidade, é forçoso apresentarem-se algumas considerações sobre ele, mesmo que isto implique em novas considerações sobre o conceito de produto. Com efeito, as definições de indústria e produto são complicadas e sujeitas a amplas controvérsias. Todavia, é pacífico que o conceito de mercado deve auxiliar no entendimento da questão.
            O conceito de indústria operado por Alfred Marshall informa que se pode tratar homogeneamente ao conjunto de empresas que produz um produto similar, lançando mão de um processo similar. A primeira crítica a este conceito apareceu em 1925, originando-se do economista italiano Piero Sraffa. Mencionar o argumento sraffiano, lançando mão do trabalho de Clifton, implica reconhecer que as empresas produzem bens substitutos, mas que dada a inter-relação entre suas demandas pelo mesmo elenco de insumos, as variações na demanda pelo produto de uma delas hão de repercutir nas curvas de custos das demais. Isto implica a destruição do conceito de oferta da firma e, por consequência, na destruição marshalliana da própria curva de oferta de mercado. Não havendo oferta de mercado, tampouco se pode conceber a existência de uma indústria, no sentido de Marshall.
            Independentemente de Sraffa, por essa época, Chamberlin (abcz) chegava a conclusões similares, que estão expostas no livro A teoria da concorrência monopolística. Enfatizando o papel da diferenciação do produto como prática corriqueira no mundo real, Chamberlin substitui o conceito marshalliano de indústria pelo conceito mais restrito de grupo, que pode ser definido a partir da magnitude do conceito de elasticidade cruzada da demanda*4.
            No atual contexto, pode-se estabelecer o conceito de indústria como sendo o conjunto de empresas que produz um produto relativamente homogêneo, utilizando processos produtivos relativamente homogêneos. Deste modo, por exemplo, mais correto do que referir a indústria do calçado é especificar que se trata dos produtores de pares de calçados de couro para homens. Isto exclui não apenas calçados para mulheres, mas também calçados de borracha. Sem mencionar os calçados de couro sintético, de qualquer modo, ainda permanece a heterogeneidade do produto, dado que sapatos de couro para homens podem assumir tamanhos diversos.
            Usando um outro exemplo, pode-se pensar na indústria do material de transporte, e situar apenas o transporte rodoviário, o que leva à menção de pelo menos cinco produtos: automóveis, caminhões, motocicletas, ônibus e tratores. A rigor, trata-se de cinco indústrias diversas, pois fisicamente caminhão e motocicleta são diferentes. Dependendo dos objetivos, também existe uma grande diferença entre um caminhão com motor a explosão de gasolina de outro movido a álcool e de um terceiro cujo combustível é óleo diesel. E o mesmo se pode fazer ao falar de automóveis como o Santana e o Chevette.
            Em outras palavras, em certo nível de aderência ao mundo real, alguns produtos são homogêneos e outros são diferenciados. Tangenciando a questão da investigação empírica, o mesmo se pode dizer dos eletrodomésticos. De acordo com a classificação usada por seus vendedores ao consumidor, eles fazem parte do "ramo duro", na companhia de mobília e panelas, em oposição a verduras ou bebidas, que habitam o universo do "ramo mole".
            A constatação de que as empresas diferenciam seus produtos é bastante antiga, embora apenas com Chamberlin e Sraffa ela tenha chegado a incorporar-se à teoria. O próprio Chamberlin (p.272) reproduz uma referência de 1742, dizendo que "cada vendedor particular tem sua marca ou selo particular". Isto nos remete à República Veneziana (conf.), que reconhecia não apenas o direito de o inventor explorar com exclusividade seu invento, patenteando-o, como também o papel das marcas.
            Sweezy (abcz) menciona que Sombart também identifica a crescente tendência à diferenciação do produto. Ademais, Baran e Sweezy (abcz:123), citando terceiros, trazem a seguinte passagem de um periódico de 1905, o Printer's Ink:
                        "Estamos na época áurea das marcas registradas  - uma época em que quase todos os fabricantes de um produto digno podem estabelecer as linhas de uma procura que não só crescerá com os anos, além de qualquer coisa que se tenha conhecido antes, como também se tornará, em certas proporções, um monopólio."
            Também Marx identificara este fenômeno, a julgar por sua referência à "fantasia dos vendedores ou fabricantes de termômetros". Parece que se está referindo a certo poder, ainda que temporário, dos ofertantes. Ver Guatarri.
            A obra de Chamberlin vai além da identificação do fenômeno, como já foi dito. Além disso, autores como Bain (1967) dizem que se encontra implícita em sua obra a classificação dos mercados que hoje molda o aprendizado em todos os paradigmas. Como se trata de discutir um tipo particular de poder, o de mercado, pode-se pensar que tal poder é uma função do número de vendedores. Assim, há basicamente três grandes grupos de mercados: os com muitos vendedores, os com poucos vendedores e aqueles com apenas um vendedor.
            Os primeiros podem ser divididos em mercados de concorrência pura (ou perfeita, caso se queira) e monopolística. Os mercados de poucos vendedores são os oligopólios puros ou homegêneos e os heterogêneos*5. Ainda segundo Bain (1967:268), o número de vendedores é absolutamente grande quando há mais de cem empresas. É claro que este é um número tentativo, que não contesta o conhecimento de estatística*6.
            Ao analisar a obra de Chamberlin, Bain (1967:279) chama a atenção para outro aspecto, fundamental para o presente contexto. Trata-se da formulação de uma teoria do preço (ou do valor, como diz o subtítulo do livro de Chamberlin) que contemple também os custos de vendas como variáveis a serem levadas em conta, ao lado das tradicionalmente apontadas na análise marshalliana.
            A contribuição do professor de Berkeley para a história da teoria da firma reside na criação do conceito de condição à entrada. No caso extremo de concorrência pura, como se sabe, o produto é homogêneo e seu preço visto como um parâmetro pelos produtores, os quais têm controle sobre uma única variável - a quantidade a ser produzida. Neste mercado, a concorrência é tão acirrada que a empresa é levada da desejar maximizar sua eficiência produtiva. Com o preço dado, sua única possibilidade de auferir lucros extraordinários é ter um nível de custos inferior ao da média que produz os produtos substitutos (perfeitos) dos seus. No extremo oposto, onde não há produtos substitutos, o monopolista pode estabelecer uma combinação de preço e quantidade produzida que o levam a uma posição sobre sua curva de demanda cuja distância à curva de custo médio é a maior possível, o que o leva a alcançar o objetivo de maximizar lucros.
            Deixando de lado os chamados monopólios naturais, que têm uma componente técnica indiscutível (e.g., não é razoável imaginar-se a existência de vinte empresas prestando serviços telefônicos convencionais num mesmo local), o mundo real é avaro em fornecer exemplos duradouros de monopólios. Isto leva a que a atenção seja centrada sobre as práticas de diferenciação do produto em mercados de concorrência monopolística e oligopólio. Cabe insistir que não se trata aqui de explicar o preço de mercado, mas sim o que leva as empresas a terem um preço de quase monopólio*6.
  
4. A promoção das vendas como elemento da conduta industrial
            Dando como suficientemente explicadas as políticas de preço-quantidade pelos modelos de concorrência e monopólio, o aspecto peculiar dos modelos "imperfeitos" ou "monopolísticos" é a questão genérica da promoção das vendas. Isto não implica dizer que as empresas não usam o preço para diferenciar seu produto. Elas o usam tanto para barrar a entrada de novos concorrentes, como para isto, mesmo sabendo  - e por isto mesmo -  que há produtos de outras empresas que são substitutos próximos: várias empresas produzem automóveis, mas apenas a, por exemplo, Volkswagen produz (ou produzia) o "Fusca, o carro mais querido do Brasil". Seu monopólio, porém, é relativo, pois a Ford, a G.M., a Renault, a Mazda e outras também produzem automóveis.
            Resumidamente, pode-se dizer que há três formas de diferenciar o produto. A primeira diz respeito à diferenciação com o preço, o qual pode exprimir também diferenciais de qualidade com relação aos produtos concorrentes. As outras duas dizem respeito à diferenciação de caráter objetivo (e.g., desenho e outras propriedades físicas da mercadoria) e à de caráter subjetivo (e.g., a publicidade persuasiva e o desenho da embalagem).
            As duas últimas formas de diferenciar o produto implicam a elevação do preço, ou deliberadamente, devido ao aproveitamento da lealdade à marca, ou imposta pela elevação do custo médio de produção. Não se deve confundir a utilização de mecanismos de diferenciação diversos da manipulação do preço com a existência de um preço único no mercado: evadir a concorrência com o preço não implica necessariamente a existência de um preço único. Com efeito, a concorrência sem nenhuma diferenciação de preço torna-se cada vez mais rara, e terá lugar, com base na classificação acima, em elementos objetivos ou subjetivos vinculados a um produto específico, à marca e/ou certas comunalidades a certos elencos de produtos, por exemplo, terem o padrão Gradiente.
            Existem duas funções importantes associadas à publicidade em particular e a outras formas de promover vendas*7. A primeira delas consiste em transferir informação ao comprador e, mais especificamente, ao consumidor, no que diz respeito às características do produto e, portanto, do que o torna diferente dos demais. Costuma-se reconhecer que esta forma de diferenciação carrega claros benefícios para a sociedade. Isto não implica dizer que esta informação será passada gratuitamente. Ela pode elevar custos e preços, uma vez que, cada vez mais, a informação se transforma em nova modalidade de capital*8. Aquilatar se o que se está referindo é um benefício líquido só pode ser julgado caso a caso*9.
            A segunda função consiste em reforçar as preferências do consumidor, isto é, persuadi-lo a adquirir certo produto. Desde Marshall, tal prática é vista como provocadora de distorções alocativas e distributivas. De acordo com Leibowitz e Post (abcz:7), a propaganda de caráter persuasivo se baseia no suposto psicológico de que "a percepção depende em parte das expectativas do observador". Por isto, é visível a inter-relação entre os anúncios e as modificações no comportamento dos compradores. Neste contexto, pode-se dizer que as mensagens mal-sucedidas podem ser modificadas e transformadas em novas campanhas de vendas, o que gera novos hábitos, e assim por diante.
            Esses dois aspectos da diferenciação levaram à criação do adágio que diz que "a propaganda é a alma do negócio". Com efeito, a criação de lealdades a marcas*10 eleva as barreiras à entrada na indústria, aumentando o poder de monopólio das empresas que diferenciam. A curva de demanda da empresa promotora de vendas desloca-se para a direita, experimentando uma rotação que a deixa mais inclinada. Por isto é que se pode afirmar que a tentativa de deixar a curva mais inelástica é a própria tentativa da empresa em se tornar "mais" monopolista.
            A seguir, apresenta-se uma longa listagem, entremeada de breves comentários, das formas correntes de se diferenciarem produtos. A realidade, porém, se encarrega de mostrar que essas formas de diferenciação aparecem, muitas vezes, como complementares. A forma mais direta de promover vendas consiste na criação de um departamento de vendas na empresa produtora, o qual se incumbe de estabelecer a política geral a ser seguida. A atividade mais diretamente controlável da promoção de vendas consiste na criação de um quadro de vendedores da própria empresa, incumbidos de identificar o comprador e lhe apresentar o produto. Esta é a forma mais usual e efetiva da promoção de vendas de insumos e bens de capital, cabendo esclarecer que também é adotada para a comercialização de produtos finais. Neste caso, deve-se mencionar a empresa Avon, que utiliza os vendedores como praticamente o único elo com os consumidores de suas perfumarias e cosméticos.
            Uma estratégia usual adotada pelo departamento de vendas consiste em fazer demonstrações nos locais das vendas a varejo. Também é um elemento importante da promoção de vendas a instalação de postos de vendas da própria fábrica, referendando a legenda: "do produtor ao consumidor". Uma forma um pouco mais hostil para o bem-estar público consiste em realizar o que se tem chamado de "vendas casadas", as quais se caracterizam por forçar o varejista a adquirir produtos de menor procura, acompanhando os produtos de maior colocação no mercado. Por fim, cabe mencionar as subvenções aos varejistas como instrumento de fazê-los deslocar a colocação de produtos concorrentes pelo da empresa promotora.
            Sem dúvida, a forma de promover vendas que alcança um público mais variado consiste na divulgação de mensagens publicitárias. Estas, por apresentarem grandes vazamentos (nem todo o receptor é consumidor), reúnem uma notável massa de recursos. Apesar desses vazamentos, contudo, a publicidade é comprovadamente um meio eficaz de deslocar a demanda pelo produto da firma e reduzir-lhe a elasticidade. A publicidade utiliza amplamente os meios de comunicação social, como o jornal, o rádio, a televisão, e outros, como o cinema, cartazes (outdoors), folhetos, etc., mas também outros instrumentos, abaixo detalhados, no local da compra.
            Podemos agrupar a terceira forma de promover vendas num conjunto de táticas vinculadas aos aspectos objetivos do produto. A problemática da pesquisa e desenvolvimento se enquadra neste grupo, como responsável pelas inovações em produtos, tanto sob o ponto de vista tecnológico (e.g., o degelo automático de um refrigerador), como sob a perspectiva de seu desenho, variação em seu aspecto, o uso de novas formas e cores (por exemplo, no caso do refrigerador, o uso utilitário da parte interna da porta), etc. Esta forma inclui-se a própria qualidade do produto como elemento diferenciador com relação aos concorrentes. Isto, é claro, pode ser reforçado por outros meios de promover vendas, utilizando e reforçando o prestígio da marca. Muitas vezes, o uso de embalagens vem a constituir-se em poderoso instrumento de diferenciação, em virtude das possibilidades de seu reaproveitamento, características anatômicas, ou mesmo a apresentação artística de dizeres e desenhos*11. Por fim, é oportuno referir a controvertida questão da obsolescência planejada, que induz ao consumo de novas unidades do produto ao estabelecer algumas das mudanças aqui referidas nos modelos (formas e cores e outras alterações "cosméticas") e também ao reduzir deliberadamente a vida útil dos componentes*12.
            A quarta forma de diferenciar o produto consiste em manipular a qualidade do serviço que o acompanha*13. A legenda deste grupo estaria associada ao mote de que "informação é dinheiro", o que é mais facilmente discernível na publicidade do que neste grupo. Lá, o caráter do malefício social é mais visível do que nesta forma. Prestação de serviços exige mão-de-obra menos qualificada ou facilmente treinável. Em outras palavras, o custo com vendas mais rentável é aquele que usa menos trabalho humano imputado do que os demais. Esta forma inclui a garantia de qualidade sobre o produto inteiro ou certos componentes. Reduzindo a incerteza associada à compra, principalmente dos chamados bens de experiência ou crença, predispõe o consumidor a preferi-lo. Sua generalização entre esses bens e mesmo para certos bens de busca (e.g., os dizeres de "melhor consumir até" tal data) é o mais eloquente atestado de sua eficiência. Da mesma forma, a assistência técnica garante, em geral, que o produto voltará às mãos de seu dono, pelo menos em iguais condições à chegada (reduz-se o risco de "depenagens", danos em outras partes não defeituosas). Esta pode ser um bom elemento para aproveitar economias de escala dos consertos que escaparam do controle de qualidade e levam à reparação garantida. Este serviço é de tanto melhor qualidade conforme se situe o mais proximamente possível ao consumidor*13.
            Em ambos os casos, trata-se de explorar em seu próprio benefício o conhecimento fornecido aos consumidores. Uma forma um pouco diferente é a emissão de manuais de instruções. Também se pode incluir nesta forma a gentileza do pessoal que atende o público, dos motoristas dos veículos identificáveis com a empresa, de telefonistas, o uso de uniforme, etc. Por fim, cabe referir as atividades de relações púbicas em geral (incluindo o "serviço de assistência ao consumidor"), e as de publicidade institucional e o patrocínio de atividades culturais, recreativas, científicas e beneficentes. Trata-se de fazer gestos de boa-vontade que cativem os consumidores reais e potenciais.
            Outra forma de promoção de vendas relaciona-se à utilização de mecanismos pecuniários. Além das ofertas especiais e de fim de estação, que se associam mais diretamente à diferenciação com preço, pode-se mencionar a condenável prática de suborno ao pessoal do departamento de compras, e as vendas a crédito. Neste caso, a empresa torna-se claramente um intermediador financeiro. Ainda outras formas de diferenciação do produto incluem as vendas pelo reembolso postal e a recente "venda de fim de semana", a distribuição de amostras-grátis e a possibilidade de o consumidor, usar experimentalmente o produto em sua própria casa ("satisfação garantida ou seu dinheiro de volta").
            Além do escrito nas entrelinhas do texto acima sobre as desvantagens da diferenciação, cabe um parágrafo final sobre elas. O modelo de Chamberlin e Robinson permite avaliar-se, sob o ponto de vista estático, a maior desvantagem dos mercados cujos ofertantes têm algum controle sobre a demanda: concorrência monopolística e oligopólio*14. Trata-se do dilema entre utilizar plenamente a capacidade ou minimizar custos. Também se reconhece como desvantagem da diferenciação a retirada do uso produtivo de um certo montante de recursos, aplicando-o na promoção das vendas. Sem a promoção das vendas, segundo Chamberlin (p.273), criar-se-iam "mais empregadores e mais empregados". Por fim, também se reconhece que a diferenciação excessiva também é perniciosa sob o ponto de vista do bem-estar social. Como ilustração deste ponto, vale a pena mencionar o estudo de Marshak (abcz) sobre a indústria de sabonetes americana, no qual refere a existência de uma empresa produzindo os seguintes sabonetes: Camay, Cascade, Cheer, Comet, Dash, Dreft, Duz, Ivory, Joy, Lava, Oxydol, Spic'n'Span, Tide e Zest.

Notas
1. Ver também Chandler (apud Averitt). Este autor incluiria na lista acima a questão do poder de mercado dos próprios compradores.

2. Não me parece temerário dizer que Marx está discutindo o conceito de transaction costs, incorporado pela teoria econômica acadêmica anos depois.

3. A rigor, podemos falar em outros bens e serviços que transitam das mãos do produtor às do consumidor sem passar pelo mercado. É o caso, falando sem maior rigor, do autoconsumo dos agricultores, ou da produção engendrada por instituições governamentais. Mas não é difícil, no mundo das mercadorias, atribuir-lhes preços, o que é feito com os conceitos de custo de oportunidade e preço sombra.

4. Blair (1972) apresenta um bom resumo das controvérsias.

5. A respeito, ver Kaldor (1935).

6. Sylos-Labini fala também nos oligopólios concentrado-diferenciados. Vários outros autores importantes, como Machlup, também trabalham com a classificação acima.

7. Para muitos estatísticos, a partir do tamanho 30, as distribuições t passam a confundir-se com as normais. Na linha do estabelecimento de números cabalísticos (mais ou menos ajuizados), Archibald e Rosenbluth  sustentam que, quando um mercado conta com pelo menos quatro produtos com características diferentes, suas curvas de demanda são independentes, e o grau de independência é uma função direta do número de firmas. Conferir George e Joll, 1995:217-8, onde também se pode encontrar uma exposição moderna da teoria da diferenciação.

8. Isto é feito pela vertente da chamada teoria do preço-limite, cujas postulações originam-se em Bain e Sylos-Labini e foram magistralmente reunidas por Modigliani. Esta abordagem, por seu turno, permitiu o revigoramento de uma tradição que alia a formulação da política de preço à do investimento.

9. Conferir Marshall (abcz).

10. Cf. Locksley abcz).

11. Costuma-se arrolar à diferenciação do produto também um papel de desejabilidade pela sociedade, invocando que esta confere estabilidade à indústria, uma vez que, como resposta aos altos custos com a promoção de vendas, a participação das firmas na demanda da indústria é estável.

12. Tão potente é a ideia da marca para a percepção do consumidor, que entre as metonímias reginais gaúchas encontram-se as de chamar cerveja de brahma  e regrigerador de frigidaire.

11. Desperta interesse a existência de proteção legal para a defesa da originalidade ou da forma de apresentação das embalagens, através de patentes ou copy-rights.

12. Discutindo a questão da obsolescência planejada, Chevalier (abcz:214), baseado em estudos de terceiros, menciona que os aparelhos domésticos europeus lançados na década de 30 possuíam uma vida útil de 34 anos, a qual se reduziu a 8 anos na década de 60.

13. Tauille e Locksley levam-me a crer que esta é uma forma extremamente eficaz de construir a lealdade às marcas e com isto continuar vendendo algo ao consumidor: o produto original, um sucedâneo próximo, ou outro, como é o caso do serviço.

13. Aliás, como o local da venda (ou próximo ou acessível a baixo custo).

14. A análise vale, com pequenas alterações, para o monopólio puro, o qual se defronta, ademais, com o tradicional problema das perdas sociais que inflige.


IDEIAS NÃO USADAS NO PAPER SOBRE DIFERENCIAÇÃO DO PRODUTO EM ELETRODOMÉSTICOS
As vezes, os ofertantes mudam a unidade de medida para parecer oferta muito especial: toalha a quilo. Também há o recorte de três margarinas pelo preço de duas. As feiras de antiguidades ainda trazem sobrevida ao salto mortal das mercadorias. Já anotei que os varejistas dão seu nome a certos produtos? Zaffari com arroz, Budgen com detergente, Panvel com protetor solar. Dont't forget price per hour, as in Berlin's public transport: 2 hours and consume all possible trips. The same with food in some restaurants. Envelopes: um pacote de 100 envelopes mais bonitos por um preço igual a 100. E outro mais feio de mesmas dimensões com 25 unidades por 50. E' óbvio que levo o primeiro, mesmo se quisesse apenas 10 envelopes. Falar sobre flexible specialization e os produtos altamente diferenciados. Hoje sei que isto é consequência do milagre japonês. Seria ridículo pensar, dada a própria forma de grampeador contemporâneo, em vender grampos por unidade, mas exagera-se ao invés de um pente, vender caixas que duram anos a fio, ou são extraviadas. A inflação atua como ajustador de preços: marca um preço alto, não vende, até que esta reduza o preço relativo. Um ajuste de quantidade é aumentá-la a um certo preço: e.g., paga o mesmo, mas a mulher também viaja no mesmo avião. "A Revolução Industrial no fim do século XVIII possibilitou a produção em massa de bens, o que permitiu criar economias de escala que mudaram toda a economia, e a sociedade, de maneira que ninguém teria imaginado na época. [...]"

REFERÊNCIAS
BAIN, Joe ( ). Barriers to New Competition: their character and consequences in manufacturing industries.
BESANKO, D.; DRANOVE, D.; SHANLEY, M.; SCHAEFER, S.. A Economia da Estratégia. 5ª Edição. Porto Alegre: Bookman, 2012.
CLIFTON, James A. Competition and the evolution of the capitalist mode of production. Cambridge Journal of Economics. Vol. 1, No. 2 (June 1977), pp. 137-151.
GEORGE, Kenneth D.; JOLL, Caroline; LYNK, E. L. Industrial Organization: competition, growth and structural change. London: Routledge, 1995.
MASON, E.S. Price and Production Policies of Large-Scale Enterprise. American Economic Review, v. 29, nº. 1, Supplement, Papers and Proceedings of the Fifty-first Annual Meeting of the American Economic Association, p. 61-74, Mar., 1939.
PORTER, Michael.E. Estratégia Competitiva. 7 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986.
SYLOS LABINI, P. "Oligopolio e progresso tecnico, Einaudi, Torino; English translation: Oligopoly and Technical Progress." (1962).
THOMPSON Jr. Arthur. The theory of the firm. Englewood Cliffs: Prentice Hall.


DdAB
P.S.: Pleonexia? é o sentimento que o indivíduo patológico tem de pensar que sua parte na divisão de algum bem ou serviço escasso está subestimada, quando esta está perfeitamente avaliada (não estou falando que era x ou y mas apenas que às vezes todos temos esta patologia, ontem, por exemplo, eu queria ter comido dois torrones no avião, mas ganhei apenas um.
P.S.S: tá na cara que aquela torre da British Telecom pode ser feita tudinho por computador e plantada, com o terconite, sobre a coroa solar, sei lá aonde.

27 setembro, 2016

Um Gráfico Micro e Macro, Ex Ante e Ex Post


Querido diário:

Em meus tempos no ensino de Introdução à Economia (santificada disciplina, que me leva a escrever as iniciais em maiúsculas) e mesmo em outros ambientes, como bares, festas de aniversário, prática do jogging, quando me indagavam o que é a ciência econômica, eu já dispunha de um plano, fruto de incontáveis reflexões no bar, na festa, na pista, etc.

Indo direto ao cerne de uma polêmica centenária, costumava/costumo dizer tratar-se do exame da adequação dos recursos produtivos disponíveis na sociedade -especialmente o trabalho- a suas necessidades materiais. E já vou mostrando direto a figura que nos encima. [No caso de estar praticando o jogging, vou correndo, meu acompanhante também o fazendo, mas dou uma paradinha e, num cantinho de um canteirinho, desenho precisamente este mesmo gráfico].

Essa figura, lá de cima, tem quatro painéis, deixando-se ler ao longo das linhas ou ao longo das colunas. Olhando na horizontal, os dois painéis exibem apenas um ponto lá no meião do gráfico cartesiano.

O primeiro painel tem no eixo horizontal (das abscissas) a quantidade transacionada no mercado de uma determinada mercadoria, fazendo-se acompanhar, no eixo vertical (das ordenadas) de seu correspondente preço. Diz-se que ela representa uma situação de equilíbrio planejado (também designada como ex post), pois estamos falando de algo que aconteceu, pretérito perfeito, aconteceu no passado, acabou, findou-se. E, neste caso, tudo o que foi vendido pelo produtor igualou-se de modo idêntico a tudo o que foi comprado pelos compradores. Então podemos ler que, naquele pretérito perfeito, que foram adquiridas cinco unidades de certa mercadoria, despendendo-se para cada quilo precisamente um dinheiro D$. O par (1, 5) diz precisamente isto.

O segundo painel da primeira linha tem a mesma figura, ainda que com contornos diversos. Agora, no eixo horizontal, vemos o produto interno bruto, ou seja, o resultado líquido da produção de todos os quilos, litros, sacos, unidades (como sessões de cinema, consultas médicas, hospedagens em hotéis) que a região alcançou em determinado período. No eixo vertical, temos o nível geral de preços ao qual atribuímos o índice 1, dizendo que, naquele ano, os preços foram tomados como suas próprias referências, portanto, gerando esse índice unitário. E que nos diz o par (5, 1), que, com os preços vigentes no ano considerado, a economia produziu D$ 5 trilhões. Chamamos a esse par de equilíbrio realizado (ex post), pois a oferta agregada foi identicamente igual à demanda agregada. Tá na contabilidade da economia, tá tudo escritinho, cada venda para quem, cada compra de quem.

Passemos agora ao exame das colunas da figura. Vamos iniciar considerando o painel 2,1, ou seja, o da segunda linha e primeira coluna. Antes faláramos que o painel situado acima deste 2,1 mostra a situação em que a empresa vendeu cinco unidades, cobrando um preço de D$ 1 por unidade, situação ex post. O fato extraordinário deste vetor [5 1] é que houve coincidência entre as ações de compra e venda, ou seja, tudo o que foi vendido igualou tudo o que foi comprado. Diz-se que, neste caso, houve equilíbrio. E como é que poderia ter sido diferente? Algo que foi comprado não terá sido vendido? Roubado? Claro que não, pois tudo o que foi comprado mais tudo o que foi roubado iguala identicamente tudo o que foi vendido mais o que foi perdido por roubo. Não pode ser diferente, não pode dar outra hipótese que não a identidade entre compras e venda.

E daí? Daí é que esta dualidade básica das economias de mercado, dizendo que as vendas foram iguais às compras, inspiram-nos a pensar em duas coisas para amanhã:
.a. quanto será vendido (e, em o sabendo, saberemos quanto foi comprado)?
.b. saberemos, depois de amanhã, quanto foi vendido e comprado.

Então, já que soubemos o de ontem e amanhã saberemos o de hoje, não é difícil imaginarmos que poderemos também adivinhar os valores a serem comprados e vendidos hoje, valores concernentes aos preços e à quantidades. A forma usual de fazermos estas adivinhações será adivinharmos ("estimarmos", diria o estatístico econômico e seu amigo o econometrista) uma função matemática que passe pelo ponto conhecido de ontem e permita associarmos diferentes quantidades com correspondentes preços que mostram como reagem os compradores e os vendedores a esses referidos níveis de preços.

Ou seja, estamo-nos vangloriando de sabermos adivinhar as equações daquelas curvas que no painel 2,1 batizamos como curva de oferta da empresa e curva de demanda da empresa. O ponto antigamente chamado de portador das coordenadas (5,1) agora é apenas um entre muitos, muitos, muitos outros. E até pode ser que, por exemplo, se o preço fosse 0,75 e não aquele 1, houvesse diferença entre as quantidades demandada e ofertada, e diríamos tratar-se de um excedente de demanda, pois o preço de mercado localizou-se abaixo daquele ponto (5,1), que é o ponto de equilíbrio já assinalado anteriormente.

No painel 2,2, passamos a examinar o lado "de toda a economia", configurando a macroeconomia. Mas agora vemos com mais força a analogia estrondosa entre a microeconomia das figuras da coluna da esquerda e as da macroeconomia da direita. Por que a oferta é positivamente inclinada? Pois, à medida que o PIB vai crescendo, para cada nível de utilização da capacidade instalada na economia, há pressões de custos sobre os preços e estes sobem. E por que a demanda é negativamente inclinada? Pois ela resulta das curvas de demanda individuais, quando se mostra intuitivo que preços baixos incentivam compras e preços altos as racionam.

A estas alturas da aula, da mesa de bar ou do aniversário, já falei tanto termo técnico que até dá gosto: oferta, procura, agregação, equilíbrio, ex ante, ex post, e também estrutura, sistema e modelo. Tento explicar cada um deles, mas sugiro que o bom mesmo é ficarmos com as intuições que podem ser reforçadas com a leitura desses verbetes em um dicionário convencional. Tudinho na internet. Se a turma quer saber de exemplo de um modelo, tenho duas saídas. Ou faço as equações das duas figuras da segunda linha, ou desenho o fluxo circular da renda.

DdAB
P.S. Um caixa do supermercado em que adquiro minhas cangebrinas indagou o que quero dizer com aquele D$ 5 trilhões escritinhos lá nos dois painéis da coluna da direita do gráfico. Trata-se, respondi com alegria, de quantidades monetárias, um artifício que imagino ter sido criado por Wassili Leontief, no contexto de seu modelo de insumo-produto. Não podemos somar um navio com um par de cadarços, mas se declararmos que o navio tem o preço de D$ 1 e o cadarço também, então o valor de D$ 1 x (soma, soma, soma, soma, ..., até que chega a 5 trilhões). Por exemplo, D$ 1 x 5 trilhões = D$ 5 trilhões. Quer dizer, a cifra monetária passou a ser uma quantidade, cujo preço é a unidade. Ele olhou para a nota fiscal, só com cachaça, e achou tudo muito natural, as compras e a explicação.

25 setembro, 2016

Punctum, Puncti: os Veríssimos


Querido diário:

Li a edição de fim de semana do jornal Zero Hora, que já me aprontou tantas e boas que às vezes o designo como Zero Herra. É que, amanhã, comemoram-se 80 anos de existência de Luis Fernando Veríssimo. E o jornal publicou esta foto ali que nos encima, do "acervo particular", em que vemos Mafalda, Luiz Fernando, Clarissa e Érico, ou seja, a situação da família antes de 1940, algo assim.

Por que trago a foto para cá? Para deixá-la registrada em minha posteridade, claro. E que desejo evocar? Os Veríssimos e Roland Barthes, ou melhor, os Veríssimos, especialmente o pai e a mãe, fizeram-me evocar Barthes.

No livro "A Câmera Clara", Barthes, em alguma página, fala que selecionou para o livro fotos amadas e fala em dois instantes em que somos "fisgados" por elas. A primeira, chama de studium, e é a sensação geral de felicidade que nos acorre, quando vemos algo belo. A segunda sensação é a do punctum, algo que -digo quase que literalmente, mas de memória- "nos fere como uma flecha", quando olhamos a foto, sua história retira em apenas um ponto, um referente, diria aquela turma.

Em compensação, tornam-se mais próximas do entendimento intersubjetivo as razões que me levaram a selecionar de todo o jornal a foto que nos encima. É que, para mim, há dois puncti: o repartido do cabelo do casal Érico-Mafalda. Poderia ter sido o corte de cabelo do guri, o lacinho do cabelo de Clarissa, mas foram mesmo os dois repartidos centrais. Juro que não pode ter sido fruto do acaso. E não posso dizer que feriu-me como uma flecha, mas que extasiou-me como um anjo.

DdAB
P.S. Não posso deixar de referir outra foto que marcou-me indelevelmente e que ainda chegarei de volta ao original, de uma revista que, se bem lembro, chamava-se Arena. Tinha o cantor Terence D'Arby, vestindo um elegante terno xadrezinho, sentado num sofá forrado precisamente com o mesmo tecido do terno xadrezinho, de sorte que tu ficavas a indagar-te "que é mesmo que estou vendo?", a figura e o fundo confundindo-se, deixando-se distinguir apenas por nuanças.

24 setembro, 2016

Replete with Prices and Profits...


Querido diário:

Parece mentira que mais de um quarto de século depois de ter encontrado a frase de Donald/Deirdre McCloskey e perdido a fonte, voltei a achá-la. A frase foi selecionada por mim como epígrafe de minha tese de doutorado. Então:

McCLOSKEY, Donald/Deirdre (1987) Econometric history. London: Mcmillan Education. Página 41

Se bem lembro, vi este livro em uma viagem a York, UK. Visitava os amigos Stuard e Maristela Coupe, que viviam em Hull. Lembro da visita a York, mas não lembro de ter visitado a biblioteca da universidade. É possível que eu tenha visto este livro, assim, em um sebo/alfarrabista de York. É possível que tudo isto seja impossível, sabe-se lá.

DdAB
P.S. tá aqui a transcrição da frase da epígrafe, destinando-se a facilitar a localização dentro do blog:

Replete with prices and profits, acres and hands, economic life is the most measurable of all human activities.

E estes são os prolegômenos do Facebook:
... acres and hands, economic life is the most measurable of all human activities
Esta frase, completa, é uma das três ou quatro que coloquei na epígrafe de minha tese de doutorado. Há milhares de anos... E daí? Daí é que juro que ela era de autoria de Donald/Deirdre McCloskey, mas nunca mais fui capaz de encontrar a fonte, que -por azar- perdi nem sei como, aliás, sei: como se dão as perdas realmente devastadoras: não deixam pistas. E agora nem lembro como é que a recuperei. Quer saber mais

23 setembro, 2016

O Lobby dos Diretores de Escola


Querido diário:

Claro que não existe lobby de diretores de escola. Mas há um lobby importante, integrado tanto por dirigentes industriais quanto por um coro de economistas neo-desenvolvimentistas. Há milhares de evidência sobre a natureza do lobby industrial. Um exemplo encontra-se na seção "Frases e Personagens" da página 2 do Jornal do Comércio de hoje:

A indústria precisa voltar a ser prioridade no Brasil, e é necessário que seja lançado um plano de desenvolvimento. A economia precisa de uma indústria forte para atender ao mercado interno e internacional. Sérgio Leite, presidente da Usiminas.

Aí pensei em criar minha própria frase, mutatis mutandis:

A educação precisa voltar a ser prioridade no Brasil, e é necessário que seja lançado um plano de desenvolvimento [e não sei se é aquele que ontem foi divulgado com alarde]. A sociedade brasileira precisa de uma educação forte [inclusiva, democratizando as oportunidades e abrindo caminhos para a mobilidade social] para atender ao trio mercado-estado-comunidade.

Bons funcionários, bons empresários, bons políticos, bons funcionários públicos, bons pais e mães e boas associações comunitárias.

DdAB
A imagem é daqui.

21 setembro, 2016

Pulverização da Esquerda


Querido diário:

Como sabemos, Carta Capital -que às vezes designo, com afeto, de Capita dos Carta- circula desde sábado, mas tem a data de capa da quarta-feira. A de hoje é n. 919 e tem algo na página 42:

"Associo a universalização da terceirização ao processo de uberização da força de trabalho no Brasil. A ideia do serviço de táxi desregulamentado do Uber é inviabilizar impostos e tributos."

Gelei, degelei, tornei a gelar. Era uma entrevista com Márcio Pochmann, iniciada na página 41. É que ando preocupado em encontrar um denominador comum de pontos programáticos que permitam pensarmos em uma aliança entre as esquerdas para concorrerem a cargos públicos com uma coalizão, uma frente de partidos de esquerda.

Como balão de ensaio, lancei um quarteto:

.a. luta pela implantação do governo mundial,
.b. voto facultativo,
.c. voto distrital e
.d. parlamentarismo.

Já ouvi até dizerem que este programa caracteriza (-me) como coxinha. Logo eu, que nunca usei esta expressão e nem pensei que poderia ser objeto da ira de algum comentarista contrariado por meio dela.

Nem falei em outras obviedades, como voto universal e proibição de financiamento empresarial para atividade política. E haverá outras que nem chego a sugerir serem atributos exclusivos da esquerda e que tampouco representam mais que clamores por uma política decente, o que não há no Brasil, pelo menos desde o tempo em que posso testemunhar.

Então, Márcio Pochmann é -se bem julgo- gaúcho, formado em economia bem no ano em que comecei a lecionar microeconomia  na UFRGS (e não foi, talvez por isso mesmo, meu aluno). Mal graduou-se, foi estudar na Unicamp. tornando-se mestre e doutor. É figura pública para os economistas em geral, foi presidente do IPEA, e figura pública em Campinas, onde foi candidato a prefeito.

E o que me chamou a atenção é que Marcos Pochmann acha anormal que o Uber se recuse a pagar impostos, acha normal -se bem entendo- que todo mundo que desenvolve alguma atividade produtiva deve pagar impostos.

E aí voltei a pensar: será que toda a esquerda sabe que os impostos -como o que o Uber deveria pagar- são regressivos e desprezam o princípio da capacidade de pagar? Se não sabe, talvez um bom curso de teoria da escolha pública possa ajudá-lo a "clarear as ideia", como diz o gauchês. E será que a esquerda poderá pensar seriamente em uma aliança, dada a existência de visões tão díspares sobre o tipo de tributação mais adequado à promoção do desenvolvimento econômico e a redução da desigualdade? Será que ela sabe que todos -mesmo os incidentes sobre os bens de demérito, como o cigarro- os impostos indiretos são distorcivos sobre o sistema de preços? Será que ela sabe? Será que ela pensa? Perguntas retóricas, eis que tenho a esperança de que uma boa parte da esquerda, aquela na qual me insiro, tenha mais clareza sobre o que nos enfraquece e o que (inclusive nossas prédicas) fortalece nosso inimigo.

DdAB
Imagem: um pulverizador voltado para a esquerda.

19 setembro, 2016

Pulverização Política no País do Futuro


Querido diário:

Por considerá-la de uma beleza aracnídea, chamou-me a atenção a imagem que nos encima. Retirei-a do Facebook de Dinah Lemos, que nos oferece um comentário muito crítico. Como cheguei à imagem? Estava coçando a cabeça com o garfo, quando parei na seguinte página da Wikipedia (em inglês, aqui):

Há um quadro cujos dados originais contemplam mais de 200 países, dos quais identifiquei partidos em cerca 130. Alguns não os têm e outros têm informações que me pareceram confusas.

Um partido: Angola, Armenia, Azerbaijan, Bhutan, Botswana, Burkina Faso, Burma, Cameroon, People's Republic of China, Congo (Brazzaville), Cuba, Curaçao, Djibouti, Equatorial Guinea, Eritrea, Ethiopia, Gambia, Guyana, Namibia, Nigeria, Syria, Tajikistan, Vietnam e Yemen.

Dois partidos: Algeria, Antigua and Barbuda, Bahamas, Bangladesh, Barbados, Belize, Benin, Bermuda, Bonaire, British Virgin Islands, Cambodia, Cape Verde, Cayman Islands, Chad, Congo (Kinshasa), Dominica, Gabon, Gambia, Gaza Strip, Georgia, Germany, Ghana, Gibraltar, Grenada, Guinea, Guinea-Bissau, Jamaica, Montserrat, Puerto Rico, Turks and Caicos, United States, Venezuela e Zimbabwe.

Entre três e cinco partidos: Andorra,  Anguilla,  Argentina,  Bolivia,  Burundi,  Canada,  Central African Republic,  Republic of China on Taiwan,  Comoros,  Cook Islands,  Costa Rica,  Côte d'Ivoire,  Croatia,  East Timor,  French Guiana,  Gaza Strip,  Germany,  Greenland,  Guadeloupe,  Honduras,  India,  Israel,  Liechtenstein,  Nicaragua,  Panama,  Paraguay,  Peru,  Portugal,  Sudan,  Turkey,  Uruguay,  Uzbekistan,  Vanuatu e  Virgin Islands of the United States.

Entre seis e dez partidos: Åland,  Albania,  Austria,  Bosnia and Herzegovina,  Bulgaria,  Chile,  Colombia,  Cyprus,  Czech Republic,  Denmark,  Dominican Republic,  Ecuador,  El Salvador,  Estonia,  European Union,  Faroe Islands,  Fiji,  Finland,  France,  French Polynesia,  Greece,  Guatemala,  Italy,  Japan,  Mexico,  New Zealand,  Philippines,  Poland,  Romania,  Sri Lanka,  Uganda,  Ukraine e  United Kingdom.

Entre os países com mais de dez partidos, destacam-se os 35 do Brasil:

Países
Partidos
Belgium
11
Brazil
35
Tunísia
15
Partidos no mundo
512

Precisa comentar?
DdAB
P.S. A fonte de Dinah é um "infográfico" da Rede Globo.
P.S.S. Falo em "país do futuro" como triste homenagem a Stephan Zweig que -dizem- inventou a expressão. Lá pelo final dos anos 1960, li seu livro, muito do bonitinho, editado pela Civilização Brasileira.
P.S.S.S.: E lá no Fb, coloquei este trechinho: Uma vez que tenho evitado -como Cunha evita a honestidade- inteirar-me dos termos da campanha eleitoral municipal, por razões geriátricas (só dá velho, não tem renovação), fico estupefato apenas ao ver a lista de candidatos (milhares) e coalizões partidárias (centenas) em Porto Alegre, decidi olhar na internet o número de modelos diferentes de bolas de chiclé balão, mas caí num site que me deu umas informações interessantes, que processei da melhor maneira que pude.
Talvez, puxando pela memória, tudo tenha a ver com uma postagem de Dinah Lemos sobre partidos políticos no Brasil, de onde retirei o que batizei -sem excessiva ironia- de aracnígráfico.

13 setembro, 2016

Eduardo Cunha e a Lei de Gresham

Querido diário:
Como sabemos, Eduardo Cunha foi cassado ontem "por mentir" em uma comissão parlamentar. Como não sabíamos, foi uma votação acachapante (450 de 470 presentes). Como disse a deputada Jandira Feghalli, havia 35 inscritos para defender a cassação (dos quais - felizmente - digo eu, apenas uns quatro ou cinco falaram), por contraste a apenas dois que defenderam o mandato de Cunha.
Todos sabemos que Eduardo Cunha é formado em economia? E será que ele estudou (acho que sim, aqueles velhos currículos que liam economia monetária com o livro de Eugênio Gudin) a chamada "lei de Gresham"?
Esta lei vale para sistemas monetários que têm duas moedas circulação simultaneamente. É coisa do tempo antigo, em certa medida, pelo menos na visão -antiga- original. Imaginemos um sistema que usa moedas metálicas, sendo uma delas o ouro e outra uma liga de metal barata. Então imagina que, tendo algum estoque de moedas baratas, recebes por alguma razão umas moedas de ouro do mesmo valor. Parece-me humano que retenhamos as moedas de ouro, tentando gastar as do metal barato. A lei captura este comportamento tão humano e é formulada como "a moeda má expulsa a moeda boa do mercado".
Aqueles sistemas monetários antigos, ainda do tempo das moedas conversíveis em ouro ou prata, feneceram ainda no século XIX, os bancos e o crédito passaram a sepultar essa conversibilidade, emanando a chamada moeda fiduciário, ou seja, uns xerox coloridos que apenas são aceitos pois todo mundo aceita. Ou seja, a formulação original da Lei de Gresham tornou-se caduca. Mas a ideia geral, não. Em condições de inflação elevada, todo mundo faz o mesmo: tenta livrar-se das cédulas de xerox e ficar com bens, como apartamentos, estoques de mercadorias, o velho ouro, moedas menos ameaçadas de industrialização de outros países.
Em outras palavras, a Lei de Gresham, em transcrição moderna segue valendo. E que dizer da política? Também aqui, há alguns anos (digamos, menos de 50, não estou bem seguro), surgiu uma interpretação de que "o mau político expulsa o bom político do mercado político".
E parece óbvio que isto aconteceu nestes já longos tempos de eleições indiscriminadas de jogadores de futebol, comunicadores de rádio e tv, pastores, pessoas de reconhecido trabalho social e por aí vai. E qual é o problema? Um problema reside apenas nos casos em que os compromissos de alguns desses agentes são muito tênues. E outro, mais disseminado, é a renitência em estudar a teoria da escolha pública, especialmente o capítulo das falhas de governo.
Aliás, a carência de noções desta teoria entre economistas, especialmente os assessores de governos e também de políticos, é que ajuda o aprofundamento da corrupção desenfreada e, portanto, a emergência de políticos da linhagem de Eduardo Cunha. E se, em geral, a moeda má expulsa a moeda boa do mercado, parece até que ontem, na câmara dos deputados, o que vimos foi um enorme conjunto de maus políticos expulsar um péssimo político do exercício de suas vilanias.
DdAB
A imagem veio da wikipedia inglesa, quando pedi 'Gresham' e é a biblioteca da cidade de Gresham, Oregon/USA (aqui).