29 abril, 2016

Mesmo Antes da Hora de Redesenhar o Futuro...

Querido diário:
... quero dizer algumas coisinhas. Tudo começou numa festejada postagem de Davi Chiaradia Freitas (27 de abril às 23:27). Entusiasmei-me e fiz comentários complicados. Vejamo-los:
"Ainda não me conformei com a derrota. Mas acho que chegou a hora da reconstrução do projeto da esquerda para o país. Na condição de economista, penso que se faz necessário um "aggiornamento" da esquerda, abandonando posições retrógradas, como o nacionalismo e o elogio do excesso de participação do estado na economia."
Então há mensagens: talvez o governo agora sim do PT (antes era PT-PMDB, um troço destes) esteja mesmo derrotado. Talvez não, nunca se sabe, nem sei bem o cálculo do número de senadores responsáveis pela fraude. Talvez haja reação, parece que começa a cair a ficha que Michel Temer carregaria como vice-presidente da república um réu da -autointitulada- mais alta corte judicial do país.

Andei dizendo ser contra o impeachment e contra o governo. Contra o impeachment é coisa óbvia: o governo PMDB-PSDB é uma composição revanchista, uma frente conservadora e cheia de “boas intenções” em desviar a distribuição da renda ainda mais para o clube dos ricos, tirando as conquistas sociais dos menos aquinhoados e cedendo-as à classe capitalista. Eleva-se a taxa de lucro, cessa a greve de investimentos e sinaliza-se a elevação taxa de crescimento da economia.

E contra o governo? Agora nem falo do governo, by the way, falo mais amplamente na esquerda. Pedi o aggiornamento, pedi o abandono a posições retrógradas, como é o caso do nacionalismo (“um projeto nacional de desenvolvimento”) e a participação do estado na economia. Óbvio que não acho que esta seja adequada, antes ao contrário. Cada menino de rua do país mostra precisamente a falência da família, da comunidade e do governo. E seria excesso de ingenuidade esperar que, sem incentivos adequados, surgissem empresas privadas encarregadas de acolhê-los e desasná-los.

Então: contra o nacionalismo - parece-me excessiva crença dos preceitos redigidos no século XIX achar que, na era do capitalismo global integrado, um país como o Paraguay ou a Nigéria têm alguma chance de montar estados nacionais que resgatem o dumping social. E o Brasil? Imagino que a situação deste indigitado país tem precisamente as mesmas propriedades autonomistas que estes dois citados. E imagino que temos pago enormes dividendos em fome, miséria e imperialismo por não termos feitos o aggiornamento. Pensa-se, em muitos ambientes que frequento, nessa autonomia nacional, enquanto -ok, ok, não é bem assim- se masca chiclé, usa calça Lee e fuma Parliament. Que fazer? Penso que a nova esquerda deve sinalizar em seus manifestos que deseja a integração internacional (econômica e cultural) com os países amigos. E integrar. Parar de enganar a torcida sugerindo que deseja livre-comércio daqui a 20 anos. A integração econômica requer tarifas aduaneiras nulas.

E que dizer da moçada que agora fala como bandeira de esquerda na reindustrialização? Penso que este é outro erro de concepção da própria função do governo na economia. Creio que, depois de encher a barriga e a cabeça (tabuada, leitura, redação, um pouco mais de matemática) dos meninos de rua é que o país deve passar a alocar recursos para a produção de aviões, soda cáustica, e mesmo serviços bancários. Tenho um ex-aluno que, sempre que o encontro, diz nunca ter esquecido que, naquela pueril questão dos livros-texto de introdução à economia, substituí a fala de canhões x manteiga por rede pública distribuindo alimentos x rede pública distribuindo gasolina. Nem tínhamos tanta evidência sobre o ninho de ladrões que se alojou dentro da Petrobrás (organismo saudável atrai predadores; organismo abobado não os repele). E não foi o mesmo que ocorreu exatamente dentro do PT? Organismo saudável, atraiu predadores e foi incapaz de detê-los, deter seu ingresso e sua ação nefasta.

Aggiornamento já!
DdAB
Postagem espelhada de meu mural do Facebook.
P.S. Nunca esquecendo as razões que nos levam a sinalizar como importante o rompimento com o modelo nacionalista. Nesta postagem (e lá no Fb), falei de duas áreas interligadas: as políticas de comércio exterior e cambial estão relacionadas com aquela encrenca da reindustrialização. Se tivermos livre-cambismo, torna-se ainda mais ridícula a opção por levar-se a ação governamental a produzir petróleo e não prover justiça, educação, etc.

Nunca deixando de registrar que não entendo as razões de quem diz que o desenvolvimento econômico é função da indústria e não das instituições.

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