27 janeiro, 2016

Papeleiros: the truth


Querido diário:

Não sou pobre, mas porto a maior simpatia pelos menos aquinhoados. Porto também simpatia pelos ricos, por todos os indivíduos humanos. E tanto admiro os ricos, sua educação, seu estado de saúde, sua distância do cárcere, seu perfume, sua nutrição, sua decisão por prole pequena, que acho bem sensível que a sociedade tenha um bom plano de promover a riqueza dos pobres a ponto de equalizá-los aos ricos. Mas desejar enriquecer os pobres não pode ser declarado como 'ser contra pobre', é lógico.

Ocorre que existe uma confusão com relação à percepção das atribuições reservadas aos papeleiros pelos pobres, remediados e ricos. Tem gente que considera que aquele trabalho -para mim notoriamente precário- é um meio digno de "ganhar a vida". Tenho dito que eles respondem a uma terceirização odiosa por parte da prefeitura. Como pode o prefeito deixar uma fração substantiva da limpeza urbana por conta de trabalhadores que não sejam detentores de empregos decentes (com direito a repouso semanal remunerado, feriados, férias e aposentadoria)? Como pode essa fração da população apoiá-lo, apoiar este arranjo que nem mesmo serve para manter a cidade limpa? Um arranjo mal ajambrado e que permite o tratamento discricionário dessa fração da população. Nem falei dos vícios e doenças que lhes empanam e encurtam a vida. Volta e meia, ao conversar com papeleiros, percebo-lhes um hálito de cachaça, o que não é bom hábito (productivity enhancer) durante o horário de expediente.

Estes senhores papeleiros são pior que pobres (talvez tenham uma renda razoável, ganha como fruto de seu trabalho), mas são socialmente desvalidos, terceirizados perversamente.

Quem me lê com frequência há de saber que há muitos anos estudo a distribuição da renda, uma preocupação acadêmica tomando foros adequados e dando vasão aos valores morais e éticos que venho cultivando. Estes valores morais e éticos conduziram boa parte de minha reflexão e pesquisa enquanto economista. Nesta linha é que desde -provavelmente- minha segunda infância, comecei a tomar consciência da terrível diferença entre as oportunidades oferecidas a meninos pobres, em contraste com os meninos ricos.

DdAB
Imagem da tragédia veio daqui.

25 janeiro, 2016

Mais Diálogos sobre o Impeachment de Dilma


Querido diário:

Como sabemos, o ciclo econômico tem sete fases:

contração - recessão - nadir - recuperação - expansão - zênite - recessão - contração

Epa! Falei sete e escrevi oito. É que eu quis deixar claro que, se é ciclo, é mais repetitivo que ir à praia e pegar chuva, mais repetitivo que votar e ser ludibriado, e assim por diante.

Pois então. A sra. Contração disse: "Impeachment já". A sra. Recessão falou: "Minha filha, se tu quer mesmo o impeachment é porque andas recalcada. Vou te comprar umas roupas novas e te mandar passar a páscoa na Base Aérea, em Salvador e você voltará louca de vontade de trabalhar." E aí a sra. Nadir disse o óbvio: "Estamos no mínimo, no nadir". Ouvindo aquilo, a sra. Recuperação redarguiu: "Com estas medidas, nem o PDS insistiria no impeachment, pois o setor turístico, as fábricas, a roupa, a alimentação, etc., retomariam seu curso ascendente." Claro que falar nisto, foi trazer a sra. Expansão à conversa. Ela aditou: "É que aí aquela turma do desemprego abandona esta condição e começa a comprar mais roupa, alimentos, viajar para Salvador, voltar, ir a Buenos Aires, voltar, e assim por diante." Mas aí, a sra. Zênite disse: "É que, com tanta expansão, especialmente, com aquele montão de emprego, não há como impedir os preços de subir, começar-se a ver tensões inflacionárias. É que é a Lei de Ferro dos Salários, como disse o monsieur Ferdinand Lasalle."

P.S. É que eu já conheci uma sra. Nadir e outra sra. Zenith.

DdAB
Imagem daqui.

19 janeiro, 2016

O Clube Mundial da Baixaria

Querido Diário:

Eu ia falar mais longamente sobre três crimes que me deixaram afônico, atônito, agônico:

.a. o assassinato do menino indígena
.b. o assassinato que vitimou o motorista de táxi
.c. o assassinato que os três motoristas de táxi perpetraram.

E ia lembrar a frase de Jorge Luis Borges, depois de ter testemunhado um crime gratuito em Sant'Anna do Livramento (era assim que ele escrevia). A história é que ele e seu parente estavam nesta cidade, tomando um café e um bêbado "meteu a mão" com um cidadão também no bar. Seu capanga (sic) meteu dois balaços no inconveniente.

Borges escreveu sobre o incidente: "A vida própria e alheia valiam tão puco que se matava por uma irritação casual e momentânea; às vezes por menos." [Página 38 do livro "A fronteira onde Borges encontra o Brasil", de Carmen Serralta.]

Mas há algo ainda mais extraordinário a chamar-me a atenção: de maneira escabrosa, é uma resposta àquilo que David Harvey chama de 'acumulação por desapossamento": mendigos e trabalhadores precários tomaram as ruas de Delhi (Índia), mas outros "empreendedores" passaram a alugar-lhes cobertores e mesmo cobrar-lhes pelo direito de deitar o corpo.

DdAB
Imagem daqui. Este seria um dos poucos gatos do bem? Fora o livro de Gladstone Mársico (aqui). Esta postagem reflete, mutatis mutandis a do Fb.

12 janeiro, 2016

El Chapo e o INSS


Querido diário:

Uma das mais importantes missões que me atribuí ontem era postar sobre a captura do sr. Joaquín Gusmán, codinome de El Chapo. A página 18 de ZH de ontem, não era isto?, fala que poucas semanas antes de sua prisão, ele deu uma entrevista ao ator Sean Penn (acompanhado da atriz Kate del Castillo) e que foi recentemente publicada na revista Rolling Stone.

El Chapo disse algo que serve como colomi para minha visão madre-teresesca do mundo melhor, da sociedade do futuro, da luta que se descortina para aqueles que consideram que os piores males da sociedade contemporânea se desvaneceriam sob o funcionamento da sociedade igualitária. Diga lá, El Chapo:

   A Rolling Stone também divulgou um vídeo em que Guzmán afirma  que trafica drogas desde antes dos 15 anos porque em sua cidade natal, La Tuna, 'não havia oportunidades de trabalho'.

Será apenas uma declaração irresponsável desenhada para nos deixar culpados pelos atropelos da vida, inclusive aquele que denunciei há dias e que teve como physique du rôle o menino Wellington Menezes de Oliveira (aqui), ou apenas a expressão da verdade que teria salvo a vida do xará do político Wellington Moreira Franco, governador do Rio de Janeiro, quando o primeiro nasceu e, no devido tempo. assassinou a petizada? Quero dizer, sem emprego decente, sem educação decente, não há cidadania decente. Enquanto houver um tresloucado rapaz (Wellington) ou um talentoso rapaz (El Chapo) deixados ao léu, teremos a oportunidade de ver espetáculos degradantes.

Emprego para Wellington? Claro, por exemplo, ele poderia ser, pelo menos, o handy-man da própria escola, o quebra-galho, ou o porteiro, ou o motorista do ônibus da escola que costumeiramente leva e trás crianças para as atividades de visita a museus, cidades históricas. Ou porteiro de museu? Ou motorista, ou sargento da força pública, regente de sua banda, violonista, violinista, químico industrial, sei lá? El Chapo, mesmo sem instrução formal, se é que entendo bem que ele teria fugido da escola aos 15 anos, procurando trabalho, poderia ter estudado numa business school da filial mexicana ou da própria matriz americana.

Sabemos que William Baumol, em um daqueles artigos acadêmicos de deixar louco quem jurou que ele ganharia o prêmio Nobel de economia, dividiu os empresários schumpeterianos em produtivos, rent-seekers e destrutivos. Obviamente, se Henry Ford ou Bill Gates, são classificados como produtivos, Eduardo Cunha, Prisco Vianna, etc., são rent-seekers, cabe a Fernandinho Beira-Mar e ao próprio El Chapo caírem na classificação dos empresários destrutivos. Até onde teriam ido Beira-Mar e El Chapo, digamos, dentro da lei? Distribuição de drogas rima com indústria farmacêutica? Com indústria do entretenimento?

Escancaram-se duas lições, pelo menos. A primeira é que a sociedade perde tanto em não investir na educação de suas crianças (e demais indivíduos, numa concepção de escola para a vida inteira) que não consegue avaliar e nem mesmo ligar causa (Wellington Menezes não recebeu tratamento decente durante 23 anos de vida) com efeito (o assassinato das crianças e o tráfico de drogas). A assistente social que poderia ter saldo Wellington poderia, de sua parte, contar com escolas adequadas para dar vazão ao talento pianístico de seu filho caçula, cuja professora teria um marido tomando conta do sistema de iluminação pública da cidade, este teria a filha, etc. O círculo virtuoso do emprego, a variável chave da sociedade igualitária, claro!

Em compensação, a página 13 do mesmo jornal, com data de hoje, tem uma notícia que insere outra que me faz rir. Rir? É que:

   O presidente da Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Cobap), Warley Gonçalves, criticou o reajuste [das pensões e aposentadorias]. Segundo ele, as perdas salariais alcançaram índice de 86% nos últimos 17 anos, de acordo com cálculos da entidade.
   -De 1991 a 2016, estamos com 86% de perda salarial, somando todos os anos. Do jeito que as coisas estão indo, vamos todos começar a ganhar salário mínimo, então. Se o governo quer que todos os trabalhadores se aposentem com o mínimo, que faça uma medida provisória, apresente um projeto. Pelo menos assim ninguém será enganado.

Estava eu coçando a cabeça com a mão direita, o que me fez espichar a esquerda até o copo de cachaça que, providencialmente, localizava-se ao lado esquerdo da mesa. Dei um valente gole e pensei que não é impossível que o sr. Warley ou seus assessores também tenham fugido da escola (ou empinarem da que matou o guarda ao prepararem a entrevista). Primeiro, a renda se divide em salário (remuneração dos empregados) e lucro (excedente operacional bruto) e ainda os impostos indiretos líquidos de subsídios.

Pelas regras em vigor na língua portuguesa, o substantivo salário não é sinônimo de rendimento das aposentadorias e pensões. Estas, por sinal, não fazem parte da renda nacional, se não me torno vulgar com esta redundância, e -para evitá-lo- falo das transferências interinstitucionais da contabilidade da sociedade. No caso, os aposentados e pensionistas ganham dinheiro que lhes é repassado pelo governo ou de mão beijada ou por terem contribuído para um fundo de pensão que não tenha sido roubado, como é o caso do dinheiro do INSS do Brasil.

Tão desastrada é aquela referência ao ano de 1991 que imediatamente fiquei indagando por que não se toma como base da vida nacional o ano de meu nascimento. Ou, por que não?, o ano de 1994, quando o Brasil sagrou-se tetra-campeão mundial de futebol?

Por contraste a esta visão de que o salário mínimo é um indexador do que quer que seja que não o piso das remunerações no mercado de trabalho leva a que o PIB do Brasil (ou qualquer país idiotizado que usasse o salário mínimo como indexador generalizado) seja afetado de maneira perversa. Isto é, o salário mínimo deve ser um instrumento de punição para as empresas ineficientes e, como tal, um economizador de trabalho, isto é, um instrumento para forçar a elevação da produtividade do trabalho em toda a economia. Empresa que não pode pagá-lo deve reciclar-se ou, sendo incapaz de fazê-lo, deve fechar as portas, ter uma desvalorização de capital, ser vendida por um preço mais baixo do que o que vigoraria em caso de sucesso, e levar a nova e atraente taxa de lucro.

DdAB
Pedi ao Google Images "El Charo y el salario minimo" e ele deu-me a imagem que nos encima e rastreável ao clicarmos aqui. Não pude conter pensamentos sobre quem suja mais as praias, se os turistas incultos ou essa garota que ainda pode tornar-se uma milionária traficando drogas ou tocando violino em alguma grande orquestra sinfônica do mundo decente.

09 janeiro, 2016

Onde Já se Viu Guerra Civil...


Querido diário:

Tivemos os maragatos combatendo os ximangos. Antes, no Brazil-com-z, eram ximangos contra jurujubas. Depois, os saquaremas contra os luzias e, no Brasil-com-s, os petralhas antagonizando os coxinhas. E tudo vice-versa. E onde isto vai parar? Lá naqueles ximamgos-maragatos, houve mesmo guerra civil, conhecida pela prática da degola. Ambos os lados passavam a faca na garganta de seus irmãos, antecipando o descolamento alma-corpo.

Aqui, postei longamente sobre pilhas de coisas e destaco a fúria do povo
desgovernado:

Temo, claro, pelo Brasil, temo que a política esteja tão corrompida, os partidos tão corrompidos, o controle do estado pagando pay-offs tão elevados, que pode ser que as manifestações daqui de 2013 pouco ou nada resultem em mudanças e tenhamos o que aconteceu em 1848, conforme lemos [na biografia de Schopenhauer]:

Em setembro de 1848, o parlamento alemão, reunido em Frankfurt-am-Main, aprovou o armistício de Malmö, assinado na Suécia. A Prússia havia declarado guerra à Dinamarca em função das pretensões territoriais desta sobre a Silésia: todos achavam que era uma ação patriótica da parte dos prussianos e a retirada da Prússia foi considerada por muitos como uma traição. A aprovação deste armistício pela Assembleia Nacional Alemã foi considerada como prova de impotência e uma desonra nacional. A isto era necessário acrescentar o desgosto geral dos decepcionados, que haviam esperado muito mais da Revolução de Março, tanto no âmbito político como na área social.


Em 18 de setembro, tudo explodiu violentamente. Uma multidão enfurecida assaltou a Assembleia Nacional. Foram erguidas barricadas pelas ruas de Frankfurt-am-Main e ouviu-se o disparo de tiros. Dois proeminentes representantes da contrarrevolução, que eram membros da Assembleia Nacional e tinham sido capturados durante o assalto, o príncipe Lichnowsky e o general Auerswald foram brutalmente assassinados pela multidão. Lichnowsky foi decapitado e Auerswald teve os braços arrancados antes de se ver transformado em alvo para tiros. Ernst Moritz Arndt, que então já era bastante velho, lamentou-se: 'A enchente que nos inunda a todos foi-se acumulando ao longo de toda uma geração, por causa da estupidez, cobiça e despotismo dos governantes; agora os diques se romperam e toda a lama e imundície que estavam no fundo da represa saltaram sobre nossas cabeças."

E aqui o livro cuja leitura estou praticamente terminando, Susan Sontag, "O Amante do Vulcão", página 276:

   O homem de negro [que era Scarpa, o chefe da polícia de Nápoles] olhava fixamente para o duque [um intelectual napolitano da época], não para seu rosto, mas para o pesado abdômen branco, que se dilatava e se contraía com seus soluços. Seus pés estavam vermelhos - levara tiros nas duas pernas -, mas ele continuava ereto na cadeira, os braços novamente atados nas costas.

   Nem o homem de negro e nem seus guardas fizeram menção de intervir. Mas os atormentadores do duque haviam parado. Embora parecessem saber que ele não os deteria, não tinham certeza se podiam continuar. Todos tinham medo do homem de negro- exceto o barbeiro, que era um informante seu.

   O barbeiro deu um passo à frente, navalha na mão, e cortou fora as orelhas do duque. Quando elas caíram da sua cabeça, um avental de sangue apareceu na parte de baixo de seu rosto. A multidão urrou, a fogueira estremeceu, e o homem de negro cantarolou com satisfação e foi embora, para que o drama pudesse continuar até o final. 
*
   Você viu quando eu fui embora, disse Scarpia no dia seguinte, numa taberna junto ao porto, para um homem da turba que estava a seu serviço. O que aconteceu depois? Ele continuou vivo?
   Sim, patrão, disse o homem. É o que eu estou dizendo. Ele chorava e o sangue escorria pelo rosto e pela cabeça.
   Ainda vivo?
   Sim, senhor, patrão. Mas o senhor sabe o que acontece quando o suor escorre pelo peito da gente -
[...]
   -pois então, o sangue estava empapado aqui no meio do peito, e ele ficava tentando fazer o suor escorrer.
[...]
   Soprando. Sabe como é, patrão. Ficava só sobprando. Só isso. Para fazer o sangue escorrer para baixo. Daí uma camarada nosso achou que ele estava tentando fazer uma mágica, soprar nele mesmo para conseguir desaparecer, e deu mais um tiro nele.
   E aí ele morreu?
   Quase. Perdeu tanto sangue.
   Ainda vivo?
   Sim, sim. Daí chegou mais gente nossa e o pessoal começou a atacá-lo com facas. [...]E aí nos enfiamos o corpo dele no barril de alcatrão e o jogamos na fogueira.

Em outras campanhas, já anunciei: sou Da Paz, sou pela paz. Não gosto de grenal, não gosto de flaflu, não gosto daquela viagem de seio bom-seio ruim. Não gosto de pensar que uma guerra civil diferente da que já vivemos, com milícias armadas, venha a empanar meus últimos anos/décadas de vida.

DdAB
Imagem: trata-se de um dos quadro que George Romney fez da sra. Emma Hamilton. Retirei-o do verbete da Wikipedia (em inglês) sobre o Almirante Nelson. Não posso explicar tudo o que estas sentenças implicam: quem é Emma? Como o Almirante Nelson foi parar em Nápoles? E ela própria? O romance de Sontag contempla estas personagens históricas e alguma ficção, é claro.

07 janeiro, 2016

Pau, Pau e Mais Pau: casos da ABL e da Globo


Querido diário:

Escrevi o que segue, inspirado na postagem de Gerônimo W. Machado. Em homenagem à obrigatoriedade de escrevermos pela nova ortografia, cito algumas coisicas que redigi em meu blog no distante 22/jul/2009:

No livro "Urupês", Monteiro Lobato, escreveu o seguinte:

Não há lei humana que dirija uma língua, porque língua é um fenômeno natural, como a oferta e a procura, como o crescimento das crianças, como a senilidade, etc. Se uma lei institui a obrigatoriedade dos acentos, essa lei vai fazer companhia às leis idiotas que tentam regular preços e mais coisas.

Parece que ainda ontem (sem ter relido o blog), falei a Ana Costa na necessidade (dada a condição de economia monetária) da vigência da lei da oferta e procura. Também amei esta do crescimento das crianças. Como proibir quando o galo insistir em cantar? [Chico Buarque]. Mas o que eu queria dizer era a passagem que Monteiro Lobato cita de Carolina Michaëlis:

A língua é a mais genial, original e nacional obra d'arte que uma nação cria e desenvolve. Neste desenvolve está a evolução da língua. Uma língua está sempre se desenvolvendo no sentido da simplificação, e a reforma ortográfica foi apenas um simples apressar o passo desse desenvolvimento. Mas a criação de acentos novos, como o grave e o trema, bem como a inútil acentuação de quase todas as palavras, não é desenvolvimento para frente e sim complicação, involução e, portanto, coisa que só merece pau, pau e mais pau.

E citei este "pau, pau e mais pau" para homenagear o escrito de Geronimo W. Machado, espinafrando a Rede Globo e louvando o epitáfio de Eduardo Cunha. Diga lá, Gerônimo W. Machado:

Wilian Waac: Este é o ventríloquo da globo, o mais reacionário e direitista empedernido que tenho visto nos últimos tempos.

Um reacionário terrível, mentiroso, enganador, um safado e desonesto, intelectualmente, a serviço da pior direita brasileira e dos interesses ideológicos e comerciais estrangeiros dos antipatrióticos que infestam o Brasil.
Um desprezível ventríloquo da imprensa golpista e das ditaduras.

Um magnífico representante e paladino dos PIGs...
Ontem, quando teve que vomitar o possível afastamento de seu ídolo, o mentecapto Eduardo Cunha, da presidência da Câmara Federal, se contradisse, errou feio e intencionalmente, teve que voltar ao microfone para pedir desavergonhadas desculpas...
Enfim um velhaco da ventriloquacidade brasileira que a classe média medíocre e reacionária adora...

Digo mais algo? Restou algo?

DdAB

06 janeiro, 2016

Educação, Sofisticação e Napoleão


Querido diário:

Estamos vivendo o mundo de Susan Sontag, "O Amante do Vulcão". Meu exemplar tem o selo de qualidade inigualável da Livraria Passos. Veio de segunda mão, mão abençoada que o fez acessível para mim. Mãos abençoadas.

Então tem a sra. Emma, que veio a casar-se com o Cavaliere. Ela, o marido e o -como diz Sontag - Herói, veem-se fugindo de Napoleão (apenas eles?, hehehe) do reino de Nápoles para a Sicília, instalam-se com outros refugiados. Num daqueles jantares refinados, com a presença de Lord Minto e Lorde Elgin, uma constatação deles e suas esposas, do trio que referi, e principalmente da própria Susan Sontag, vemos uma referência à sra. Emma:

   Seu traje: demasiado berrante. Sua risada: ainda mais alta. Sua tagarelice: mais incessante. Na verdade, ela era incapaz da reserva que as pessoas consideram elegante. Não só era palradora por natureza, mas achava que sempre devia dizer alguma coisa, e a arte das meias palavras lhe era tão estranha como a arte de esconder os sentimentos. Estava constantemente se exibindo, ou lisonjeando seu marido e o amigo do casal.

Que posso dizer de pessoas que 

.a. não cultivam a reserva que as pessoas consideram elegante e 

.b. são incapazes de lidar com a arte de esconder os sentimentos?

Que são mal-educadas, como é o caso de, pelo que andei contando, 203.435.544 brasileiros e brasileiras. E qual é a prova do que digo? É que, hoje de manhã, fui comprar numa loja de artigos de R$ 1,99 uma caixa da qual eu precisava conhecer as medidas. Sem espalhafato, pedi a uma vendedora para medir. Primeiro não sabiam se havia na loja que vende trenas trenas. Quero dizer, havia trenas à venda, mas a gerente da loja não sabia que as trenas servem para medir, ou não quis emprestar aquela para este. E -pecado mortal no modo capitalista de produção- nem se interessou por vender-me um exemplar, com ele mediríamos minha caixa, eu pagaria as duas mercadorias e sairia feliz. Pois apareceu a trena e a vendedora mediu a caixa que eu desejava adquirir. Achou 15. 

Olhei e pensei: ou esta caixa tem mais de 15cm ou juro que o banco central está avalizando a inflação no Brasil. Na verdade, as duas coisas. No caso, a garota não sabia -como verifiquei- a diferença entre centímetros e polegadas, nem avaliou criticamente a informação que a trena lhe dera. Une vraie horreur, como diria Napoleão antes e continuaria a fazê-lo depois de invadir Nápoles.

Maneiras elegantes e contenção da demonstração dos sentimentos são as bases sobre as quais se fundamentam sociedades com elevada renda per capita. E é por isto que Tony Blair e eu vivemos dizendo: education, education, education. E digo mais, sem esconder minha simpatia pelos menos aquinhoados: tem muita gente querendo enfunerar eles, inclusive alguns representantes da Esquerda Um, que acham que com a CPMF estarão ferindo os interesses dos ricos.

P.S. Fiquei horas pensando -à la Sontag- se deveria usar a expressão "enfunerar eles" como imitação da plebe rude. Como se vê, usei-a. Aquele 'enfunerar' que me acompanha desde meus tempos das conquistas matto-grossenses parece-me ter algo a ver com 'funéreo', 'funerária', algo muito temido pela classe alta e por todas as demais classes.

P.S.S. e escavei este 'Café Society', onde encontrei a expressão 'plebe rude', de autoria de Billy Blanco e cantado por Jorge Veiga. Mas tenho no ouvido (ambos) uma gravação diferente, mais estilo bossa nova. É? Chi lo sa?

DdAB
p.s. remeti de lá para cá. E postei lá:
Manejo do lixo, lixeiros, trabalho informal, trabalhadores informais, exploração DMLU, serviços urbanos de coleta de lixo.

05 janeiro, 2016

Pobreza x sujeira = Desigualdade


Querido diário:

Nos últimos 30 anos (ou algo parecido), dedico-me a estudar as diferentes dimensões da desigualdade nas economias monetárias (lembra que há anos digo não vivermos mais no capitalismo, que teria acabado há mais de 15 dias?). No outro dia, sugeri que a sujeira na praia de Copacabana se devia à falta de garis (trabalhadores precários não podem fazer trabalho decente...), ou ao excesso de pobreza que faz a sociedade manter-se desorganizada. Pois agora vemos uma foto impressionante sobre um local que não me atrevo a chamar de digno. Jamais saberei, pois não vou ler, ou melhor, já sei tudo (mas palpito ser nigeriano). 

Minha "concepção madre-tereza de mundo" leva-me a pensar que com mais social-democracia (e não com menos) teríamos hoje um mundo com menos pobreza, menos população e menos desequilíbrios ambientais. Menos guerra, menos tráfico de armas, tráfico de gente, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro de políticos.
Na sociedade igualitária, movida a dinheiro, aquela senhora da bacia amarela trabalharia em uma pequena loja, o rapaz inclinado enxaguando roupa seria o regente de uma banda escolar, a pessoa de camisa vermelha mais ao fundo poderia ser gestora do departamento de esgotos, e assim por diante.
Eu manteria minha posição ou, por bondade da turma que gosta deste tipo de ideia, seria convidado a participar do estrato dos 1% mais ricos?

DdAB
Imagem daqui. Replicado do Facebook.

04 janeiro, 2016

Preposições em Inglês: a topologia


Querido diário:

A maior aula de inglês do mundo que já recebi nestes anos todos sobre preposições, preposição, categoria gramatical invariável, ou seja, as preposições não têm plural, mas preposição tem: preposições. Para mim, esta sempre foi uma das encrencas da fala e redação in English. Mas não sou tão iniciante assim, pois dei falta do que me parece ser um sinônimo de "on", nomeadamente, "upon".

Deixo-a aqui em homenagem a minha professora de cidadania, a bacharel Nelnie Lorenzoni.

DdAB