19 março, 2015

Terramoto e Terror


Querido diário:

Meu temor, nas horas de pouca bebida, é que os "evangélicos", como o presidente da câmara dos deputados, sr. Eduardo Cunha (que responde a 20 processos na justiça), tomem conta do Brasil, de Portugal, de Roma e botem na roda nova e Santa Inquisição. Isto implica que gelei ao ler o que segue bem aqui, na página 129 e a nota na página 130:

SHRADY, Nicholas (2014) O dia do fim; ira, ruína e razão no Grande Terramoto de Lisboa de 1955. Alfragide: LeYa.

O terramoto [ocorrido em 1o. de novembro de 1755 em Lisboa] tornou-se assunto de comentários, histórias admonitórias, especulação e debates acalorados nas igrejas, salões, universidades, instituições civis e nas ruas. Para complementar as narrativas carregadas de terror do desastre que iam surgindo na imprensa, depressa começaram a ser incluídas imagens - na sua maioria, gravuras em cobre - que mostravam claramente a tragédia com um pormenor arrepiante, ainda que nem sempre rigoroso. A maior parte das gravuras, sem identificação de autoria, publicadas em jornais por toda a Europa, principalmente em Inglaterra, França, Holanda e Alemanha, foi produzida por gravadores a soldo em tempo recorde para satisfazer o apetite do público por uma referência visual de uma calamidade que parecia ultrapassar qualquer descrição. O rigor na representação da arquitetura ou da paisagem natural lisboetas pouco contavam. Uma imagem publicada na Boémia em 1755, por exemplo, mostrava os edifícios de Lisboa num estilo claramente barroco da Europa Central.  Porém, a fidelidade, dificilmente teria alguma relevância. Bastava mostrar edifícios em ruínas, o rio revoltoso, labaredas a saltar e multidões em pânico para transmitir ao público - grande parte do qual era analfabeto - uma noção das dimensões da catástrofe*. Somente o gravador francês Jacques Philippe Le Bas (1707-1783) procurou conferir um certo realismo ao seu trabalho, mas dispunha da vantagem significativa de trabalhar a partir de desenhos efetuados pelos artistas Paris e Pedegache, que estavam em Lisboa no momento do sismo.
*O assunto gozou de uma longevidade notável. Continuavam ainda no final do século XIX e começos de XX a ser encomendadas gravuras para ilustrar a hecatombe, tendo em vista um público que, nessa altura como agora, manifestava uma atração mórbida por catástrofes.

Quando cheguei na atração mórbida por catástrofes - nessa altura como agora - pensei: é mesmo. Parece que a turma é mesmo chegada nos desdobramentos de catástrofes, acidentes e quebra-quebras. O que me parece bastante promissor é a mudança de atitude que cercou nosso mundo (Brasil, Portugal, all over?) com relação à causa das catástrofes. Da punição divina aos pecados do mundo que floresceu na tragédia portuguesa, chegamos hoje à visão de que morar em planeta é perigoso, sem implicações transcendentais relativas à origem dos descontroles.

Meu medo, como já apontou em 1995 meu colega catarinense Lois Roberto Westphal, o grande perigo são os evangélicos heterodoxos. Agora, eu que comecei falando em Eduardo Cunha e seus 20 processos legais, ouvi dizer que ele -himself- está liderando nova mudança na constituição da combalida república para que ela assegure a seus leitores que a família é esteiada num par homem-mulher. Ou seja, não pode home/cum/home nem muié com muié.

No caso presente, abandonando as crendices, as eduardices, deveríamos ter quatro tipos de família:
.a. homem com mulher
.b. mulher com mulher
.c. homem com homem
.d. qualquer outro arranjo entre humanos (também não me venham com sodomias ou pedofilia).

DdAB
P.S. Já falei a respeito de uma família mais iluminada que a simples homem-mulher aqui, inclusive a imagem.

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