31 dezembro, 2015

Ulysses: o grupo de estudos


Querido diário:

No outro dia, eu estava lendo o livro "O Púcaro Búlgaro", de Campos de Carvalho, quando deparei-me com um anúncio que evocou outro que eu lera em 16/jun/1904 num jornal brasileiro.

Jornal Brasileiro (seção de classificados pagos):
Convidam-se brasileiras ou brasileiros portadores de uma das quatro traduções de "Ulysses", do britânico James Joyce a formar um grupo de estudos com o objetivo de fazer um documentário filmado sobre as discussões a serem levadas pacificamente, na tentativa de -apoiados no original já de posse do coordenador do grupo- reverter esta obra prima para o inglês contemporâneo e iniciar os estudos da língua irlandesa, de sorte a fazer o mesmo com esta. Tratar no telefone, etc., etc.

Gelei: parece que era meu telefone. Liguei para lá, atendi, o que me deixou ainda mais atônito. Mantive um longo -?- diálogo comigo mesmo, um solilóquio, um sei-lá-quê. Tomando novas e insuspeitadas liberdades, indaguei se a dona da casa estava. Do outro lado do mesmo telefone, pedi para ligarem a outro número e falarem com minha mãe. Atendeu-me uma -parece- garota de seus 25 anos, se bem associo idades e vozes. Por falar em vozes, havia vozeirões ao fundo.

Gelei mais ainda. Mesmo assim, o grupo de estudos instalou-se e instei o quarteto, senhor@s Mínteo, Mintena, Mintêgui e Montonera, cada um portanto seu exemplarzinho do "Ulyssses", nas traduções que ainda seriam feitas no Brasil e em Portugal.

Então o sr. Mínteo puxou a tradução de Antonio Houaiss, lendo-nos a página 9:
Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha.

Evocando a página 27 da tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro, a sra.
Mintena leu:
Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba.

Mal esta distinta senhora concluiu sua tarefa, o sr. Mintêgui tomou de seu exemplar, na página 97, o que seria a tradução de Caetano Waldrigues Galindo,
lendo:
Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha.

Fechando o ciclo das leituras da primeira sentença, a sra. Montonera escandiu a tradução de Jorge Vaz de Carvalho, postada na página 9:
Soberbo, o roliço Buck Mulligan veio do cimo das escadas, trazendo uma bacia com espuma de sabão sobre a qual um espelho e uma navalha se cruzavam.

De minha parte, li a seguinte sentença fazendo as vezes do original:
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.

Decidimos todos começar nova sessão, na próxima season, precisamente onde paramos: ler a segunda sentença, ainda mais intrigante por causa das diferentes versões do próprio original em inglês. Nesse ínterim, pensei que, se fosse eu a intentar outra tradução para o português, jamais iniciaria com as quatro traduções já dadas para 'stately'. Iniciaria tentando 'faustoso'.

DdAB
Fui incapaz de dar o crédito desta imagem da Odisseia.

29 dezembro, 2015

Amartya Sen e os Austeritários


Querido diário:

O Clube dos Austeritários. Peguei da página de Roberto Rocha no Facebook o link para este maravilhoso artigo de Amartya Sen, com espantosas lições para o Brasil 2016 (e os anos anteriores, mas especialmente o futuro que precisa cerzir-se de maneira inteligente). Se posso expressar tudo em duas linhas, é que o reequilíbrio de uma economia combalida (pela crise de 2008, pela eleição de 2014) pode-se dar com recessão (austeridade) ou com expansão (clube de Dionísio...), ambos induzidos por políticas fiscais (menos ou mais gasto público, mais ou menos tributos) e monetárias (menos dinheiro ou mais dinheiro para a turma) adequadas ao caso. Em ambos os casos a relação dívida pública/PIB pode cair, só que obviamente o charme reside em reduzir esta relação com aumento do denominador. O professor Sen não é milagreiro, logo está supondo um ambiente que tem capacidade ociosa de homens e máquinas.

Seja como for, para desespero de meus familiares (que sempre me tiveram por doido), tenho uma divergência avolumada com o mr. Prêmio Nobél Man. Ele diz um troço que não me agrada: "There can be little doubt that Europe has needed, for quite some time, many serious institutional reforms – from the avoidance of tax evasion and the fixing of more reasonable retiring ages to sensible working hours and the elimination of institutional rigidities, including those in the labour markets."

Sejamos claro: só acho o fim da picada aquela encrenca de querer manter ou aumentar o tempo de exposição do cidadão ao mercado de trabalho e a eliminação das 'institutional rigidities' sobre o 'labour market'. Por isto é que acho que o velhinho cai em contradição aqui: "Another counterproductive ­consequence of the policy of imposed austerity and the resulting joblessness, for Keynesian reasons, has been the loss of productive power – and over time the loss of skill as well – resulting from continued unemployment of the young. The rate of youth unemployment is astonishingly high in many European countries today; more than half the young people in Greece have never experienced having a job."

Eu já falei algumas vezes querer menos exposição: entrada tardia, saída precoce, mais repouso semanal remunerado, menos horas de trabalho por dia, mais dias de férias por ano, mais "licenças-prêmio por tempo de serviço" (anos sabáticos para todos). Isto implica necessariamente que, se forçares a negadinha a trabalhar até os 100 anos de idade, o desemprego dos jovens alcançará a turma até os 50 anos. Um troço destes.

DdAB
Postagem espelhada do Facebook. E o artigo está aqui.

Volver à Esquerda!


Querido diário:

Não nos iludamos: existem a Esquerda Um e a Esquerda A. Sou, garantidamente, integrante desta última, embora não seja isto o que quero dizer. Existem os liberais e existe a direita. Esta quer os militares de volta, é racista (negros, palestinos, polacos, irlandeses, etc.), é contra a acolhida de exilados pobres, diz e faz horrores. Essa direita atribui todos os males do Brasil ao PT. Neste embarafustamento ideológico, não se dá conta que os mandantes organizam-se em torno de uma coalizão partidária. Se olharmos os últimos 30 anos (e até um pouco mais, com o MDB), chegaremos à conclusão de que todos os partidos com ideários decentes, como o PMDB, o PSDB e o PT, foram capturados por agentes cujas funções de preferência são eivadas de egoísmo predador e baixa porção de altruísmo ou egoísmo racional (não seria melhor para todos que o Brasil tivesse crescido a 7,12% a.a. nos últimos 30 anos?). A Esquerda A não se atemoriza por ter que pregar no deserto.

Pregação: formar um governo de coalizão nacional (Quem? Obama, Luiz Felipe Scolari, Ho Chi Minh, Elis Regina?) e iniciar pela reforma tributária, começando o fim dos impostos indiretos, substituindo-os por diretos.

DdAB

28 dezembro, 2015

Tit-for-tat e Elis Regina


Querido diário:

Volta e meia, retorna-me à mente o modelo Tit-for-tat, criado para tentar explicar o surgimento da cooperação entre agentes auto-interessados. Em outras palavras, o que ocorre se dois prisioneiros 'jogam' diversas partidas. Todos sabemos que, sempre que cairmos em um dilema de prisioneiro, a solução racional é trairmos nosso/a parceiro/a. Neste mundo de Tit-for-tat, se os dois prisioneiros são presos repetidamente, surge a estratégia de cada um cooperar se o outro cooperou na rodada prévia.

Mas o próprio Tit-for-tat recomenda: se você foi traído, vingue-se. A cada olho arrancado, arranque um do oponente (mas, notate bene, apenas um). E que faz o prisioneiro traído? Ele, na jogada seguinte, trai. E o que acaba de ser traído? Trai. E assim por diante. Uma sequência de 'bicadas' que culmina por tirar de campo ambos os prisioneiros. E daí? Tenho percebido gente fazendo associações da economia/política brasileira com um Fla-Flu ou Gre-Nal. E entendo que é necessário o comparecimento de uma força estranha a estes contornos tit-for-tateanos, de sorte a se remover o Brasil deste impasse.

Seria oportuno pensarmos em um governo de união nacional. Mas, mas, mas. Parece que não vai surgir tão cedo. Também tenho pensado que uma pessoa como Elis Regina, que praticamente fundou a MPB, é que seria capaz de iniciar o passo adiante.

DdAB
Imagem aqui.

27 dezembro, 2015

Transição Importante: não acaba nunca...



Querido diário:

Escrevi a encrenca que segue num comentário de Tânia Giesta que foi postado aqui. Lembro: isto ocorreu no dia 2 de setembro de 2011: 

Estamos numa transição importante. Não é mais a transição para a sociedade da abundância, mas a transição distributiva. O crescimento mundial pode ser nulo ou próximo, como já queriam os proto-ecologistas de 50 anos atrás. Claro que pensar em alimentar as crianças africanas é um determinante ético da ação de muita gente. Muita gente, porém, outra gente, não pensa mais do que em seus próprios interesses e não consegue visualizar dificuldades além das questões locais. Quando vejo gaúchos perdendo tempo em odiar o Grêmio ou o Internacional (e até ambos simultaneamente), impaciento-me, pois entendo que estão servindo para atrasar o progresso no rumo da sociedade igualitária.

Escrevo agora: se trocarmos uma ou outra palavra por impeachment, petralha, coxinha, mentira, traição, vingança, e por aí vai, estaremos descrevendo precisamente o Brasil do último domingo de 2015!

DdAB
A imagem veio daqui. A julgar pela renda per capita daquelas duas crianças, estamos mesmo falando em bronca, contradições entre os países capitalistas avançados, hehehe.

26 dezembro, 2015

Ulysses: lições de Julio Cortázar

(balão de fala com três pontos)

Querido diário:

Hoje é sábado, amanhã é domingo. Sabemos, bem sabemos. Também sabemos que todo mundo sabe que este é o começo de um poema de Vinicius de Moraes, levando por título "O Dia da Criação". Ontem falei n"O Dia da Saudade", é justo que o 26/dez/2015 tenha as lucubrações joyceanas que começo a fazer. [Por falar em 'justo', é estupidamente injusto que ainda existam palhaços que comem lixo, como se ouve na canção. E o pior é que seguirão existindo, pois não há o menor sinal de mudança de rumos para uma sociedade igualitária].

Joyce, como sabemos e por aqui postamos, volta e meia escrevia suas frases com dois pontos, mais dois pontos. Pensei ser uma singularidade até dar-me conta de que Guimarães Rosa e Campos de Carvalho também o fizeram. Mas ficou faltando a expansão do modelo analítico e pensar no que teria acontecido com a análise dos três pontos encadeados por nosso autor dublinense.

Dublinense? Sim, dublinense, que talvez tenha inventado a sequência de dois pontos e mais dois pontos (verticais) na mesma sentença. Pois é certo que há controvérsia sobre se as diferentes versões em inglês e traduções que conheço (português e espanhol) carregam o mesmo ponto gordo no final do capítulo 17. Encrenca certa, pois nem todos dividem as três partes do livro nos 18 capítulos que outros dividem.

Minha leitura padrão em português é a tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro. Em sua página 787, final do capítulo 17, temos um pontinho:

Onde?
.

E que tem isto a ver com o imortal Julio Cortázar? Falo agora da edição de 2008 da Alfaguarra de Buenos Aires. Lá na página 379, encerra-se o capítulo 56, o que é sinalizado com três pontos alinhados horizontalmente, no rez-de-chausée, como diriam lá as personagens dele próprio. Não há nada de parecido no "Ulysses" joyceano.

Mas existe no "Rayuela", de Cortázar, outra regularidade que chega a parear aqui e ali com "Ulysses". Trata-se agora de três pontos no plancher, por assim dizer. Vemos a primeira da edição Alfaguarra no primeiro parágrafo do primeiro capítulo da primeira parte, na página 21, na quarta linha:

d  i  st  i ngu  i  r

E Joyce? Joyce teria deixado "Ulysses" para trás? Vejamos a versão Bernardina, que escreve na página 30:

s i f i l í t i c o

Parece que estas evidências não encerram a polêmica sobre sucessões de pontos inferiores a quatro. De fato, o terceiro "i" de "Ulysses" tem o ponto do 'i' e o acento agudo da língua portuguesa, abrindo perspectiva para novas investigações.

DdAB
Imagem daqui.

25 dezembro, 2015

O Dia da Saudade


Querido diário:

Quer misturar igualitarismo com natal, banquetes, feriados? Ouça a partir do minuto 1:02 da gravação de Raul Seixas, O Dia da Saudade. Hoje é feriado, mas não é bem o aniversário de 'seo' Gaspar. Ainda assim, evoquei o palhaço que come lixo. Quantos haverá no Brasil contemporâneo? E no 'resto do mundo'?

E por que a sociedade lgualitária é um ideal não muito vislumbrável no século XXI? Nunca esquecerei ter ouvido Olívio Dutra dizer "trabalhador vota em trabalhador", ou seja, tá aí a encrenca. Trabalhador não vota em trabalhadores que o representem.

Mas qual seria a virtude da sociedade igualitária sobre o lixo que aí vemos? Igualitarismo significa emprego (ainda que não emprego capitalista). É que, com igualitarismo, a sociedade nem teria os tais mendigos de rua, estariam todos de banhozinho tomado, em férias ou em horário de trabalho no serviço municipal ou em clínicas de recuperação, pois é preciso tomar banho, é preciso cortar a unhas e é preciso praticar exercício físico (três horas por dia) e estudar (mais três horas). Recuperar mendigos, organizar banhos de crianças, criminosos ou loucos, servir nas clínicas de recuperação ou prevenção, orientar a prática de atividades físicas, ensinar a estudar, e assim por diante, geram empregos e dão-nos uma leveza cristã. Ou melhor, darão, no século XXII.

DdABPostagem espelhada da publicação no Facebook. A imagem veio da canção "O Dia da Saudade" cantada por Raul Seixas, conforme retirei do YouTube (aqui). Raul está precisamente no ponto de 1min02seg em que pronuncia a expressão "um palhaço que come lixo".

23 dezembro, 2015

Mais Diferenças na Esquerda


Querido diário:

Como sabemos, a esquerda se divide em Esquerda Um e Esquerda A. A direita está mal na foto, querendo a volta dos militares, a "cura gay", pena de morte, estado nacional, eugenia (acrescentei depois de ler a postagem do site que gerou a imagem), essas coisas de arrepiar o carpim (como dizíamos em Jaguary). A Esquerda Um gosta de reindustrialização, cobrar impostos indiretos sobre o que mais puder, explosão demográfica, e coisas (inventei agora) de enrijecer cadarços. Sei lá. Em particular, no que tange ao pagamento de impostos, indago-me se aquela turma que odeia os livros de teoria da escolha pública sabe a diferença entre impostos diretos e indiretos. Em sabendo a diferença:

.a. impostos indiretos: o consumidor paga e o produtor recolhe e
.b. impostos diretos: o agente paga diretamente ao governo.

Hoje no jornal ainda vi uma notinha sugerindo que o governo deve cobrar impostos sobre os bens de luxo. No outro dia, falávamos sobre meu curso de introdução à economia (elogiando-o) e referi a lista de "teoria elementar do preço" que fui criando, a partir de outras (sempre lembro o prof. Achyles, o velho Steinbruch e o livro de microeconomia de Levenson e Solon). Naquela lista, havia 100 problemas (na verdade, para brincar com o número redondo, inseri várias perguntas sob o mesmo número, por exemplo, a questão 32 teria sete perguntas diretas. O último ultimésimo deles era sobre incidência de impostos indiretos. Além de terem aprendido a definição perfunctória que acabo de dar, aprenderam que, num mundo de curvas de demanda negativamente inclinadas, o imposto indireto é pago parcialmente pelo consumidor.

E a elasticidade renda da procura não divide a negadinha em pobres e ricos. Sabemos que, no Brasil, à medida que aumenta a renda, o consumo de perfumes e cosméticos aumenta mesmo na classe baixa. Mas eu prefiro chamar estas mercadorias de bens normais e não de bens de luxo.

Deste modo, meter imposto sobre "bens de luxo" é algo arbitrário e, na maior parte dos casos, resulta de preconceito. Sempre revelei-me a favor de cobrar imposto sobre bens de demérito. Se uma lancha a motor, um iate, uma garrafa de cachaça de R$ 5.000,00 forem considerados bens de demérito, ok, imposto neles. Mas lancha a motor? E se é uma expansão do Uber, é neguinho querendo ganhar dinheirinho no transporte entre o Arpoador e Paquetá?

Sobranceira, a Esquerda A concede que a Esquerda Um, ainda que mais desastrada (e por que a Esquerda A não teria sua componente de equívocos e revisões conceituais e políticas?), tem em comum a defesa do igualitarismo.

Precisamente: o que diferencia esquerda de direita é precisamente o igualitarismo, é a intervenção na sociedade via cobrança de lucros extraordinários das empresas (ineficiência produtiva, alocativa e distributiva), é o gasto governamental regressivo (beneficiando mais os mais pobres) e o imposto de renda progressivo (prejudicando mais os mais ricos). Os impostos indiretos incidem exclusivamente sobre bens de demérito, no sentido de reduzir-lhes o consumo via elevação de seu preço. A Esquerda A considera questão de vida-ou-morte a renda básica da cidadania (e o serviço municipal), a redução do tempo de exposição do trabalhador ao mercado de trabalho (entrada tardia, saída precoce, semana de três dias, férias de 90 dias, essas coisas).

DdAB
Aqui fui direcionado ao site de onde recolhi a imagem e vi o artigo que ela ilustra. E fui atrás da listagem classificatória, descobrindo que ela já se encontra em português aqui. Pede-se asserções de: .a. discordo plenamente, .b. discordo, .c. concordo e .d. concordo plenamente. A figura acima resulta de meu próprio teste.
Aqui vai uma ideia de situações embaraçosas:
Pergunta: As mães podem ter carreiras profissionais, mas seu principal dever é o de ser donas de casa.
Resposta: concordo.
Nem vou explicar, inclusive por não ser mãe.
E tem mais: quem não sabe, e o autor do teste e mesmo o articulista da imagem, o que é teorema do eleitor mediano pode reportar-se a minhas milhares de postagens falando no tema.
Moral da história: sou de esquerda e sou pela liberdade, na verdade, coloco a liberdade em primeiro lugar. Mas, obviamente, minha posição pessoal não obedece apenas a estes dois eixos.

22 dezembro, 2015

Barbosa Chega Lá, hehehe


Querido diário:

O grande ministro da fazenda (critério de peso e altura) começou mal, a meu ver. Temos um governo fraco, claramente preocupado em fazer agrados ao capital e mostrar que as conquistas da classe trabalhadora são um óbice ao crescimento econômico e à própria estabilidade da economia. Se a encrenca voltar a crescer será o maior mistério desde Jesus Cristo.

Diz o jornal Zero Hora de hoje (página 16, coluna de Marta Sfredo) que ele:

[...] aceitou o convite de um grande banco internacional para teleconferência com investidores estrangeiros. [Ele] falou em encaminhar o projeto para fixar a idade mínima para a aposentadoria - além de outras reformas estruturais -, o que deveria ser música para o mercado.

A causa desta declaração de subserviência é antecipada na página 9. Garra de olhar isto, cuja autoria não identifico 100%, Barbosa ou jornal:

[...]
   A previdência tem passado por mudanças em diversos países [...]. As pessoas estão vivendo mais e recebendo aposentadorias por um período de tempo maior. Além disso, as taxas de fecundidade estão caindo - nas próximas décadas, haverá menos contribuintes para cada idoso. Projeções do Ministério do Trabalho e Previdência Social mostram que hoje há mais de nove pessoas em idade ativa para cada idoso no Brasil. Em 2030, serão cinco, em 2050, três, e em 2060, somente 2,3 contribuintes por beneficiário. O déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deverá avançar de 40,5%, em 2016 e atingir R$ 129,9 bilhões. Nessa conta entram benefícios de assistência social pagos pelo governo, como para idosos carentes.

Esta visão de caixa, confusão entre objetivos nacionais, felicidade nacional e déficit previdenciário é uma das coisas que mais me deixa louco. Minha pergunta técnica é "e daí?" Qual foi o íncubo que exigiu superávit nas despesas de previdência, nas despesas de manutenção de uma população cujo segmento trabalhador terá uma produtividade espantosamente maior que a do tempo antigo? O governo brasileiro está tão longe da social-democracia (e nem me dou ao trabalho de falar no também social-democrata PSDB) quanto a eficiência dista do poder judiciário.

Os desempregados, os jovens que nem mesmo chegaram ao mercado de trabalho, os ganhos de produtividade dos trabalhadores ativos passados, presentes e futuros, nada disto é considerado pelo governo ao tentar passar tão tresloucada medida, tão escandalosamente hostil aos interesses de todos os trabalhadores. Obviamente, não estamos frente a um ajuste de esquerda, o qual requereria, para começar, novas alíquotas marginais no imposto de rende de 37,5% e 50%, digamos que a alíquota máxima atual de 27,5% começasse para quem ganha a partir de R$ 10 mil. Ok, ok, então R$ 15 mil, e fim!

DdAB
Imagem: aqui. Não confundir Barbosa com babosa, boa para queda de cabelo.

21 dezembro, 2015

Gente Graúda contra o Impeachment


Querido diário:

Novidades sobre o impeachment: nove senhoras muito do sabidas e educadas enviaram-me um abaixo assinado requerendo a conclusão “da viadagem” sobre o impeachment da presidenta Dilma. A sra. Calíope disse que Dilma deve ficar, por ter bela voz. Disse-nos Clio que as festividades devem ser associadas à permanecia de Dilma até o final de 2018. Muito amorosa, a sra. Erato falou que apenas quem vive de desamores pode ser contra Dilma. Já a sra. Euterpe estirou-se em deleite pela permanência de Dilma que fica mais evidente a cada dia. Já querendo cantar loas a essas madames, a sra. Melpômene confirmou meus sentimentos e pediu ajuda à sra. Polímnia para cantarmos muitos hinos. Florescendo com cartazes contra o impeachment, a sra. Tália começou a dançar, no que foi inspirada nada mais nada menos que por Terpsícore, todas olhando para o céu, em companhia da sra. Urânia.
p.s.: se bem contei, vemos no clichê as nove musas gregas (signatárias do abaixo-assinado a que me referi) e uma décima figura mítica que só pode ser a Presidenta Dilma!
DdAB
Espelhado do Facebook e imagem daqui.

19 dezembro, 2015

Momentos Momentosos


Querido diário:

Três novidades e um comentário:

.a. leio regularmente Zero Hora que batizei, com boas razões, de Zero Herra.
.b. o assunto do impeachment da presidenta é momentoso na república 
contemporânea.
.c. o assunto cassação do deputado presidente da câmara dos deputados é momentoso, idem.

Neste número de Zero Hora deste sábado, não há o menor registro destes dois momentosos temas. E nem de outro que me parece ainda mais escandaloso: a omissão da turma dos juízes. Eles têm o sagrado compromisso de tirar férias de final de ano, até o final de janeiro. E que se dane aquele negócio de agilizar a justiça nos dois momentosos casos que cumprem meus itens a e b lá de riba.

DdAB
(ia pedir ao google images 'morosidade do judiciário', mas me conformei com as dicas para pedir apenas 'moro', pois tenho um sobrinho que nasceu no município de Mariano Moro, combativa comuna de duas mil pessoas, hehehe, esta municipalização, hehehe).
Imagem daqui.

P.S. eu devia também colocar aqui o marcador "TER Equilíbrio", da teoria da escolha racional, pois é ultra racional da parte dos juízes, ao invés de trabaiá, aproveitá e vadiá. O que não parece lá muito eivado de racionalidade é nóis, o povo, ficá sastifeito com isto.

18 dezembro, 2015

Mais sobre o Placar 6x5


Querido diário:

Ontem, meu querido amigo Luciano Luciano M. Braga chamou-me a atenção para um equacionamento diferente do que já pensei sobre os detentores do poder no Brasil. Disse ele que obviamente os militares saíram de cena (mais que nunca tornaram-se classe média), ao passo que a classe alta, a elite, passou a ser o estamento do judiciário. Claro que concordei, sempre considerei escandalosos os "salários" que os juízes (e a decorrente cascata, políticos, delegados de polícia) recebem.

Pois bem, aqueles escores de ontem do supremo tribunal evocam reflexões que já fiz sobre o 6x5 que rolou em uma das decisões.

Dado que o "notório saber", essas coisas, é tão efêmero que leva a dois clusters de entendimento praticamente do mesmo tamanho, recomendei que os cinco derrotados (ontem, claro, mas desde sempre) fosse/sejam demitidos e chamados outros cinco para testar afinidade. Penso que, com isto, teríamos reuniões mais curtas, ou seja, mais agilidade desta elite. Objetividade não é sinônimo de neutralidade. Mas esses 6x5 mostram apenas desordem.

DdAB
Imagem daqui. Também no Facebook.

17 dezembro, 2015

Radicalmente Científico


Querido diário:

Há uns 30 anos, qualquer reunião que fazíamos parecia um golpe no regime militar. Naquele ambiente, alguns economistas "nacionais" eram convidados a falar em Porto Alegre, trazendo alento, mostrando que nem tudo estava perdido. Hoje lembrei de Lauro Campos, professor da UnB, emigrato do PT ao PDT por discordâncias ideológicas e éticas. Vi-o na Faculdade de Economia da UFRGS (Av. João Pessoa, 52) falando sobre Keynes. Lembro de algumas coisas, as notas que fiz esmaeceram-se, mas não ao ponto de impedir-me de lembrar que ele disse ter lido a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, se bem lembro, mais de 60 vezes.


Sempre entendi que "a leitura é um dos o combustíveis do pensamento" e, desde setembro de 2004, por uma influência cruzada de Carlos Henrique Horn e Eugênio MIguel Cánepa, tenho lido regularmente (ainda não cheguei nem a dez ou 20...) o livro "Dialética para Principiantes", de Carlos Roberto Cirne-Lima.

Ontem, ao ler por aqui e por ali, mais uma vez, deparei-me (não o fizera antes?) com a frase "Ergo a ciência não é pós-moderna, i. e., ciência não é tolerância". O livro é impresso, claro, a frase é manuscrita, vê-se in loco.

Ao matutar sobre isto, vem-me à cabeça uma profissão de fé na ciência e no progresso, isto é, no iluminismo! Sou levado a pensar na ciência econômica, no ensino de introdução à economia e minhas tradicionais imprecações contra os que lançam imprecações contra o conceito de equilíbrio. Mas meu radicalismo ("sou contra o impeachment e contra o governo") não para aí, vai mais longe. Vejamos Cirne, páginas 17-18:

"A razão pós-moderna põe um subsistema ao lado de outro subsistema, e mais outro, e ainda mais outro, sempre um ao lado do outro, sem uma unidade mais alta e mais ampla, que os abranja: os interstícios entre os vários subsistemas ficam vazios. A razão pós-moderna nega a existência de princípios ou leis que sejam universalíssimos, que interliguem os diversos subsistemas, ou seja, que sejam válidos sempre, em todos os âmbitos, em todos os interstícios e para todas as coisas. Mais, ela diz que - a rigor - não há proposição que seja universalmente válida."

Ou seja, "ciência é coisa de quem foi criado guacho e não fica dizendo 'eu acho, eu acho'". E foi por isto mesmo que me entusiasmei ao entender que ciência afirmativa é aquela que consegue preencher todas as lacunas de seus subsistemas, amarrar os pontos adequados por meio de um conjunto de axiomas. Na ciência econômica, posso dar alguns exemplos, ocorrendo-me agora aqueles que regem:
.a. a teoria do comportamento do consumidor
.b. a teoria dos números índices.

Segue-se, ou melhor, sigo dizendo que o verdadeiro iluminista (a Esquerda A e seus corifeus) é aquele absolutamente tolerante com as pessoas, mas radical com o abandono do cânone, antes que este seja substituído por outro ainda mais rico e, assim, mais radical!

P.S. esta é a capa do CD que contém materiais laterais ao livro, encantados com a maravilhosa arte de Maria Tomaselli (Cirne-Lima).

DdAB
P.S.S.: transcrição do Facebook.

15 dezembro, 2015

Reflexividade do Impeachment


Querido diário:

Reflexividade do Impeachment:

.a. conceito: uma relação reflexiva ocorre quando um elemento de um conjunto é igual a si mesmo, por exemplo, a relação de igualdade a = a.
.b. um contra-exemplo é observado na desigualdade: se 7>5, então 5 não é maior que 7.
.c. então "Sou contra o impeachment" é reflexivo, pois corresponde perfeitamente a "Sou contra o impeachment de Dilma".
.d. o problema com os que desejam o impeachment é que "Sou pelo impeachment" não espelha "impeachman". Esta última expressão, como sabemos, se decompõe em "in + peach + man", traduzindo, "não aos homens pêssego".
.e. isto implica logicamente que essa turma do "não aos homens-pêssego" é -necessariamente- "sim aos homens-quiabo", "sim aos homens-chuva-na-praia", "sim aos homens-com-chulé", e assim por diante.
.f. conclusão: "Sou contra o impeachment" está logicamente correto.
.g. (corolário: isto não implica que eu não possa ser contra o governo...).

DdAB
Postagem refletida do Facebook. Imagem daqui.
P.S. muito preocupado com o impeachment que agora dizem avizinhar-se, andei lendo as postagens que falam no tema. E li o corolário da letra 'g' e acrescentei um 'não', quer dizer, sou contra o impeachment e contra o governo. Aliás agora é mais fácil ser contra o governo, em se tratando daquele governo interino de meireles e temer, fora o aécio e já foi ou está indo o cunha.

14 dezembro, 2015

Tempos de Solidão: impeachment e enganos


Querido diário:

Depois da linda postagem que rastreamos ao clicar aqui (e que compartilhei com o Facebook), vejamos o que segue. E que também depositarei lá.

É sabido que me declaro especialista na primeira frase de alguns livros:

.a. O Capital - Karl Marx (A riqueza das sociedades humanas em que rege...).
.b. Ulysses - James Joyce (Sobranceiro, o fornido Buck Mulligan...).
.c. Rayuela (O Jogo da Amarelinha) - Julio Cortázar (Encontraria a Maga?).

Pois agora expando minha erudição e, ao mesmo tempo, faço um manifesto político. A verdade é que a primeira sentença de "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marquez deixa-se ler como:

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendia havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

Ou seja, mais um destacado autor latino-americano manifestando-se contra o impeachment de Dilma. Entendi este recorte, ao dar-me conta de que a sentença original dá lugar a "Sou contra o impeachment!". Ao mesmo tempo, devo confessar não ter-me tornado especialista no "Cem Anos de Solidão", pois a memória ainda não reteve a primeira sentença, apenas a equivalente no Brasil/2015.

Temos, assim, como óbvio que o genial autor setentrional (onde é que fica o meridião?) queria a manutenção da ordem no futuro. O desgosto é grande com eleições pretéritas e futuras conspurcadas de cima a baixo com voto obrigatório, financiamentos de campanhas por interesses mesquinhos, alto consumo de cocaína, etc.

DdAB
Imagem: aqui. Esta é a segunda vez que ilustro uma postagem com esta imagem.

13 dezembro, 2015

A Justiça é uma Cega, Porém Rica


Querido diário:

Os butiá ainda não terminaram de me caí dos bolso. No dia 11 do corrente, a página 10 de Zero Hora (a indefectível...) tem uma notícia com o título "TJ detalha medidas de socorro ao Estado". Li daqui e dali e cheguei em um box que me deixou doido, os butiá pulando feito guariba (nota 1):

* Renúncia de R$ 60 milhões, referente à suplementação orçamentária, que deveria entrar na conta do Tribunal de Justiça em 2015.
* Transferência para o Estado, nos próximos três anos, de R$ 1,2 bilhão, correspondente à metade do que o TJ tem direito com os rendimentos dos depósitos judiciais, conforme lei aprovada em setembro passado. O repasse já está ocorrendo. Até o final de 2015, deve somar R$ 150 milhões.
* Adiamento de nomeações de servidores concursados, de 60 novos juízes e de 30 desembargadores, além do cancelamento de licitações para obras d nova sede do Arquivo Geral, e de instalações em Candelária, Herval e Rio Grande. A medida representa suspensão de gastos de R$ 168 milhões que o TJ pretende abrir mão para garantir o pagamento do 13o. salário dos servidores.
* Em 2016, o repasse do Estado para o orçamento do tribunal será o mesmo deste ano, equivalente a R$ 2,99 milhões. O que tende a crescer são as receitas próprias referentes a cobranças de taxas, custas e emolumentos.

Apoplexia, meu caro, apoplexia. Receita própria? 30 desembargadores para 60 juízes? Vou te contar. Nunca esquecerei de um primo afastado que trabalhava na CEEE (há 25 anos, or so) e tinha vergonha de dizer quanto ganhava. Já falei nisto. No wonder, a CEEE quebrou vergonhosamente. No wonder, a justiça também. O sistema judiciário brasileiro acabou. Penso às vezes que foram as drogas, a corrupção de juízes e policiais, mas não é tudo.

DdAB
Nota 1: a vida inteira pensei que guariba fosse um peixe, tipo piava, altamente puladeira. Olhei no dicionário agora e deu bugio, como os há às pencas por estas bandas. A banda de lá tem aquela canção "Convidei a comadre Sebastiana prá dançar e xaxar na Paraíba. Ela veio com uma dança diferente e pulava que nem uma guariba. E gritava A, E, I, O, U, ipsilone." Jackson do Pandeiro!

Imagem: aqui. Parece que encomendei, não é mesmo?

12 dezembro, 2015

Postagem Anti-Impeachment


Querido diário:

Como sabem aqueles que acompanham as obras psicografadas por Karl Heinrich Nietszche, retransmitidas por Chico Xavier e avalizadas pelos antagonistas do impeachment da presidenta Dilma, existem dois -e apenas dois- meios de alguém assenhorear-se da realidade objetiva da concretude de tangencialidade do mundo mundano. A primeira -que não nega a segunda- é assumir que a macacada votou errado: queria a reencarnação de Eduardo Campos e ingeriu uma garrafa de caninha Pitu inteirinha. De dua parte, a segunda é mais consentânea com a ineficiência do sistema judiciário nacional (morosidade = impunidade) e se socorre da impunidade que cercou a adição de soda cáustica na caninha Tremapé e levou os correlatos do chefe substituto do departamento de pessoal a ganhar a loto ("fazer os 13 furos", como se dizia então). E gastar 98% desta cifra "em bobagens", como declarou ao delegado o amigo da vítima, depois de mais uns arroubos machistas, dizer-lhe uns desaforos. Por mediunidade, o delegado encerrou seu parecer com as seguintes sentenças: "dar golpe em 1964, impedir Collor ou tentar impedir Dilma é fria. Da mesma forma que aquele plebiscito sobre a volta da monarquia, a proscrição do uso de armas, e tudo o mais, tudo isso é fria, é roubar tempo, é lavrar um tento, é roubar um tambo, é marcar um tímpano, é ouvir um timbre."

De tudo isto, tirei apenas uma lição: delírio por delírio, sou contra o delírio do impeachment de Dilma. E contra o governo. Diferentemente de Luciana Genro, porém, quero que as eleições sejam mesmo em 2018 e, até, lá, a sociedade discuta política, formando nova assembleia nacional constituinte. A pressa é inimiga da perfeição: precisamos esperar que a coragem da garota da foto permita-lhe desenvolver-se e liderar a construção do Brasil decente.

DdAB
Postagem espelhada do Facebook. A imagem é daqui e foi recortada por mim.

09 dezembro, 2015

O Famoso Q. I. da Política


Querido diário:

Ironias da história: no outro dia (actually, dia 2/dez/2015, às 7h26min), escrevi lá nas minhas novas aventuras, isto é, Facebook:

Pensei que podíamos dar a Zica em doses homeopáticas para os políticos a fim de lhes desenvolver os cérebros.

Pois não é que a capa de hoje do próprio jornal Zero Hora fala que surgiram 513 novos casos de anencefalia, ou algo parecido. Todos os deputados (exceto algum, que o exame não pegou, por estar distraído, erro tipo beta, o famoso falso negativo). No caso de um falso negativo, incluiríamos ainda o vice-presidente da república, com aquela carta de Romeu distraído.

DdAB
Imagem da Wikipedia.

08 dezembro, 2015

Os Juízes e a Oposição: meteram a mão com eles!


Querido blog:

Sim e não. Tornar-me-ei fã do sr. Walter Lídio Nunes (aqui uma postagem falando em seu modelo), presidente da Celulose Riograndense (e seus odores ribeirinhos, odores inodoros)?. Na página 18 de Zero Hora de 2/dez/2015, ele tem um artigo chamado de "A Oportunidade". Destaco:

Na próxima eleição, entre situação e oposição, devemos ficar com o Brasil. Politicamente, tão desqualificada quanto a situação, tem sido a oposição em termos de proposição de mudanças. A oposição tem buscado dividendos políticos à custa do povo brasileiro dentro da 'quanto pior, melhor'.

E esta que me parece condenar a turma que ganha salários estratosféricos: juízes, promotores, delegados, deputados, e por aí vai:

[...]as entidades da sociedade civil devem se mobilizar de forma decidida para orientar a busca por reformas, contrapondo-se às corporações que se apoderaram da máquina pública.

DdAB
Como prova de otimismo, ilustro a postagem com uma foto capturada do Facebook. E por que não publiquei isto no próprio dia 2? Esqueci, a postagem estava pronta. Mas aí eclodiu a vergonhosa notícia de que Eduardo Cunha aceitou um dos 34 pedidos de impeachment contra a presidenta Dilma. E depois aquela viagem do Michel Temer que só agora é que se deu conta de que sua relação com a presidenta nunca foi Brastemp.

07 dezembro, 2015

Explosão Demográfica, Estrago Ambiental e Renda Básica Universal



Querido diário:

Nos tempos da ditadura militar, era proibido falar pilhas de coisas. Ao mesmo tempo, havia bandeiras levantadas pelos acólitos dos governantes que recebiam a repulsa da Esquerda (ainda não havia a divisão entre Esquerda Um e Esquerda A). Já militante da Esquerda A, descobri o conceito de capacidade de carga do planeta, uma obviedade que, a rigor, eu já soubera há milhares de anos, lendo um livro do MEC/Jango que os lemíngues (foto na esquerda) eram bichinhos simpatiquinhos. However, sua capacidade reprodutiva é de dar inveja aos coelhos, periodicamente levando-os a produzir escandalosos excedentes populacionais, migrando desordenadamente, jogando-se ao mar para uma morte certa.

Investido deste conceito de capacidade de carga, vislumbrei a primeira manifestação do ‪#‎Dilmafica‬ (foto da direita. Era mesmo do #DilmaFica?), que me evocou a explosão demográfica humana. Será ela uma fase, claro, como foram as outras. E parece que muito filho é coisa de pobre. O auto-extermínio dos lemíngues bem pode ser comparado com o que poderíamos fazer com os seres humanos: enriquecer os pobres e, com o sucesso econômico, os óculos rayban, o chiclé, a calça lee, a revista Realidade, o fusca, essas coisas, os escandalosos excedentes populacionais cessarão num just like that de dar inveja ao próprio Houdini.

Por isto, quando se fala em problemas climáticos no planeta, sou meu peculiar sorrisinho de mofa e penso que o preço que a sociedade paga por ser desigual é o mesmo dos lemíngues: ser atirada ao mar, ao terrorismo, à penúria, à falta d'água, à perda do gado, do alazão. Claro que, arrefecendo o ímpeto reprodutivo humano, novas tecnologias poderão mais facilmente garantir água aos nigerianos, vacina a seus rebentos, escolaridade para os desvalidos do Nordeste brasileiro, essas coisas que parecem utopia no mundo dos dias que correm.

Segue-se necessariamente ter chegado a hora da instituição do governo mundial, especialmente incumbido de avalizar a criação da renda básica planetária e mais um dinheirinho que leve a turma a oferecer "serviços municiapais" (cuidar de velho, de criança, capinar, reflorestar, tudo num setor não-capitalista, em que o fator importante é ocupar as mentes. E, por tabela, oferecer serviços que o mercado é escandalosamente incapaz de prover.

DdAB
Importado do Facebook

05 dezembro, 2015

Aviões de Carreira


Querido diário:

Mais do mesmo: sou contra o impeachment e contra o governo. Sabe o porquê? Sou contra Zero Herra, mas olha o flagra que li na página 8:

"[Eliseu] Padilha [o demissionário ministro dos aviões de carreira] não escondeu o descontentamento, nos últimos dias, com o fato de Dilma ter retirado a indicação de Juliano Alcântara Noman, seu indicado para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A nomeação ocorreu no dia 23 de novembro, mas logo depois, em 1o. de dezembro, a presidente decidiu voltar atrás. O motivo para o recuo foi um pedido do senador Vicentinho Alves (PR-TO), que quer emplacar na Anac um afilhado seu, Professor Georges. Além disso, o ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Valmir Campelo pressiona o governo pela nomeação de seu filho Ricardo Maia Bezerra."

Fazer da política, dos cargos eletivos, dos cargos em comissão uma carreira é a vergonha nacional da temporada. Nossos heróis seriam os juízes e delegados se não tivessem tanta sede na busca de seu butim.

DdAB
Material compartilhado com o Facebook.
Imagem daqui.

03 dezembro, 2015

Impeachment: Janus e a bagunça


Querido diário:

Consideremos:

.a. foi com tristeza que vi as notícias (e entrevistas) sobre o impeachment da presidenta Dilma ontem na TV. Primeiro, pois isto mostra as tibiezas do próprio governo que -disse-me a imprensa- chegou a negociar com Eduardo Cunha para não iniciar o processo de quebra do decoro com mentiras deslavadas no conselho de ética da câmara dos deputados. Segundo, isto mostra as tibiezas da oposição que, também irada com a derrota eleitoral, lançou desde sempre o grito do impeachment. Terceiro: a estatística diz que o congresso já tem em seu poder 34 pedidos de impeachment, 27 deles sendo descartados, um iniciado. E ainda sobram seis, para o caso de derrota desta iniciativa.

.b. todos sabem que já sugeri que, a cada vez que o supremo tribunal tem alguma questão jurídica ou constitucional vencida por maioria de 6x5, os cinco perderes devem ser demitidos e contratados outros cinco. Não possível haver tão enorme discordância de posição entre advogados.

Mas que dizer sobre o impeachment? ZH de hoje, na página 9, tem a opinião de dois doutos, Dalmo Dallari e Ives Gandra Martins, expressando-se sobre o impeachment ressuscitado ontem por Eduardo Cunha, aperreado com seu próprio mar de lama, que "extravasa as comportas e emporcalha tudo".

Parece até haver conflitos entre os artigos, parágrafos, alíneas e subentendidos da constituição da república. Martins fala, entre outras coisas, nos artigos 84 e 85. Em quais falará Dallari? Vejamos trechos que selecionei.

PRIMEIRO, O DALLARI:
O saque de bilhões da Petrobras, que abasteceu o caixa do PT e dos seus aliados, não é motivo suficiente para um impeachment?
Não, de maneira alguma. A Constituição é expressa: para o impeachment, é preciso responsabilidade pessoal e direta do presidente, por meio de atos no exercício da sua função presidencial. Teriam de ser atos praticados agora.

E os recursos desviados da Petrobras e repassados às campanhas do PT, como se fossem doações oficiais, não caracterizam crime eleitoral?
Não há crime eleitoral. A Constituição diz que, depois da diplomação, não há mais como questionar o mandato. E a Dilma já foi diplomada há muito mais do que 15 dias.

O Tribunal de Contas da União (TCU) reprovou as contas do governo Dilma por conta das pedaladas fiscais. Essa questão consta no pedido de impeachment. Qual a opinião do senhor?

Pedaladas fiscais são um jogo contábil. Ninguém nunca disse que isso traz benefício pessoal. Não houve desvio de recurso público. Tudo continua no patrimônio federal. Não houve o mínimo prejuízo para o patrimônio brasileiro.

Então, para o senhor, mesmo que exista prova definitiva de corrupção, como no caso da Petrobras, não serve como base para o impeachment?
Mesmo que haja comprovação, não serve de fundamento jurídico porque a Constituição exige expressamente que sejam atos praticados no exercício da presidência. E nenhum desses atos caracteriza isso.


SEGUNDO, O MARTINS
Quais são os principais argumentos que justificam o impeachment?
A lei de improbidade administrativa declara que ação ou omissão é crime de improbidade. Ela (Dilma) [sic] foi omissa com tudo que ocorreu quando era presidente do conselho da Petrobras. A lei, em relação à ação ou omissão, é muito clara. Por outro lado, a lei de impeachment tem um dispositivo que diz que constitui crime não supervisionar adequadamente o que está sob sua tutela e é evidente que ela não administrou bem com todos esse assaltos. 


Mas o senhor acha que ela teve participação nos atos de corrupção?
Não estou dizendo que ela agiu dolosamente. Disse apenas que ela foi omissa, negligente, imprudente e imperita, que são os casos de culpa e que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) [sic] já declarou, em dois casos de prefeitos, que deveriam ser afastado [sic] por culpa grave. Ela não foi imprudente no caso de Pasadena quando disse que se tivesse conhecimento maior não faria o negócio? Tinha obrigação de se aprofundar. Era um negócio de bilhões. Reconheceu que foi negligente quando disse que se soubesse não faria o negócio.

Como o senhor avalia a argumentação de que o impeachment é uma tentativa de golpe ou até ruptura institucional?
Se é tentativa de golpe, temos na constituição dois dispositivos golpistas, que são os artigos 85 e 86. Eles dizem o seguinte: quem cometer crime de improbidade administrativa, pode sofrer impeachment.


Moraleja: o troço todo é um julgamento político. Neste caso, o mais sensato é ficarmos com o resultado das eleições e clamar por "education, education, education" para as próximas.

DdAB
P.S.: aquela frase "extravasa as comportas e emporcalha tudo" é uma citação que faço de memória ao romance "O Ventre", de Carlos Heitor Cony, num tempo em que eu o lia com gosto, bem antes de uma daquelas quedas no banheiro, que lhe entortou a cabeça e com ela a sensatez.

Imagem de Janus daqui.

P.S.S. Veio do Facebook do dia 1st de dezembro:
Uber - os militantes da Esquerda A sou radicalmente favorável. Para não falar no "sindicato do crime" que o está hostilizando, pego dois argumentos. O primeiro é que este P2P (peer to peer, eu e meu parceiro) aplicado ao transporte de passageiros é uma nova indústria que, se funcionar bem, não requer nenhuma regulamentação. Se funcionar mal (fraudes, etc.), os pares serão desfeitos, não é mesmo?
O segundo é que há um argumento na cidade de que os carros a serviço do Uber usam a infra-estrutura urbana e não pagam impostos. Argumento de quem não entende que, quanto menos impostos indiretos, melhor para a saúde do sistema de preços. Aliás, é péssima técnica orçamentária atrelar receitas a gastos (como a nefanda CPMF e a saúde).
Terceiro argumento: é um vetor tão longo que fico nos dois antes anunciados.
Quarto: epa!, quatro? É que a foto ali de baixo é uma homenagem ao bom-humor universal. Há anos, vi um filme biográfico sobre Elvis Presley. Quando ele prestava serviço militar em Berlim, seu fã-clube já estava ativo. A certa altura do filme, ele aparece em uma cena, com um muro de fundo, em que se lia: "Elvis über alles" (Elvis acima de tudo). Por aproximação, ao "Elvis", achei este "Eros", que bem combina com a intenção pacífica de pessoas que querem apenas aproveitar o mundo moderno e transportar outras neste P2P ubérrimo.
Nenhuma descrição de foto disponível.

30 novembro, 2015

Facebook, Paris e Nóis Depois


Querido diário:

Retomemos a espetacular denúncia que fizeram Cotrim e Fernandes (COTRIM, Gilberto & FERNANDES, Mirna (2010) Fundamentos de filosofia. Editora Saraiva, página 303), conforme pudemos ler em minha transcrição do dia 11 na conta do Facebook. Como pensei que não era, penso agora que chegou a hora.

Aqui tá ela novamente:

A SITUAÇÃO GLOBAL
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução de recursos e uma maciça extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entr ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

E aqui comento:

Primeiro: o vilão, em minha opinião, é o pessoal incapaz de criar tecnologias de produção e consumo que não devastem o meio-ambiente. Segundo: acho uma pouca vergonha que os benefícios do progresso existente não sejam distribuídos, por exemplo, com a turma da República Democrática do Congo, a espantosamente mais pobre do mundo, e objeto -diz-se- de negócios de nosso luminar Eduardo Cunha. Terceiro: injustiça, pobreza e ignorância e conflitos violentos (inclusive espancamento de mulheres, destacando fração substantiva dos países árabes): horrível. Quarto: já foi tabu -na ditadura militar- sermos favoráveis à contenção demográfica. Vencemos a ditadura. Pensemos que agora isto é uma necessidade, atribuível ao governo mundial (políticas implementadas por enfermeiras, sabidamente as profissionais mais honestas do espectro sanitário). E a ação mais eficiente é levar os pobres a ficarem ricos, pois é sabido que rico tem menos filho que pobre!

E no parágrafo que não citei tem algo para render, já que também sou especialista (doctor of philosophy, sem redundância) na ciência econômica. Dizem os autores na mesma página que citei no outro dia: "o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais."

Como sabemos, a Esquerda A (da qual sou um dos raros representantes) tem enorme simpatia pela teoria da escolha do consumidor racional. Como trocar aquele negócio de ter por ser? Temos que ter algo, não é? E ser? Vem economês: a função utilidade diz que quanto mais consumimos melhor ficamos: U = f(q), sendo q uma lista de bens e serviços. E como fica aquele 'ser'? É um subgrupo da lista, por exemplo, idas ao teatro, meditação transcendental e cendental (hehehe). E por aí vai.

DdAB
Imagem; vi a notícia no Facebook:
Fui investigar. Vi que a fonte é a revista IstoÉ, para mim, finada há muitos anos. E olhei mais: a reserva lá da imagem de cima. Não estamos falando da suíte presidencial, claro. É um hotel caro, claro. Mas será mesmo aquela cifra? Não negligenciemos: sou contra o impeachment e contra a Dilma. E a favor de certa isenção nestes tempos de radicalismo só igualado pelo grenalismo gaúcho.