02 dezembro, 2014

O Fetiche do Investimento


Querido diário:

No número de 15 dias atrás, a página 40 da Carta Capital tem uma entrevista com David Kupfer, festejado economista da UFRJ. Ele sustenta que o grau de utilização da capacidade instalada na ... (índústria? economia?) é de 81%. Em outras palavras, se for elevado o emprego em certo percentual, ainda há espaço para o uso de mais 19% da capacidade instalada, sem recorrer a horas extras das máquinas, equipamentos, instalações, etc.

Em compensação, a balança comercial brasileira encontra-se no desvão deficitário há uns bons meses/anos. Em compensação, nestes debates modernos sobre desindustrialização, nada se fala na balança de serviços, também deficitária. Nada se fala que a Starbucks internacional poderia ter sido uma empresa brasileira, de tanto café que aqui dá há tanto tempo. Ou, ainda mais romântico, uma rede de cafeterias do clube de cafeicultores do terceiro mundo, como a Colômbia e o Quênia, sócios-fundadores e o Vietnam, sócio novato. Por que não? Pois nada se fala no Brasil sobre educação, capacidade empresarial, formação de empresários, busca de mercados externos. Fala-se, claro, em industrialização, favores aos industriais, tentativas de montar uma burguesia nacional industrial.

Hoje também se fala em reindustrialização como consequência daquilo que se batizou localmente (copiando erroneamente o termo britânico) como desindustrialização. Parece óbvio que o que tem ocorrido com a indústria brasileira é muito mais consequência de fatores externos do que internos. Mas não podemos esquecer os internos, como o câmbio escalafobético, os impostos escalafobéticos ao quadrado, as políticas industriais que ajudaram a montar uma distribuição de renda escalafobética ao cubo. Antes, já falara em deseducação, conceito a que não se dá muita bola. No parágrafo anterior, falo em resservicização, pois há tanta coisa a se ganhar mais dinheiro nos serviços internacionais (viagens, seguros, fretes, assistência técnica, e por aí vai).

Resumo da ópera:

.a. o Brasil não precisa de nem um átomo de investimento para aumentar a produção em pelo menos 25% (sem horas extras das máquinas, apenas atraindo mais trabalhadores ao recesso da fábrica).

.b. ou seja, o PIB cresce no caso de crescerem, além do investimento e independentemente dele quando há capacidade ociosa, o consumo das famílias, o consumo do governo e o saldo do balanço de pagamentos em transações correntes.

Como diz um menino de rua que me engraxa sapatos e tem cheiro de cola de sapateiro: "é por isto que o Brasil não vai pra frente".

DdAB
A imagem daquele cheiroso cafezito veio daqui. Quanto já estaremos pagando em royalties para as lojas já instaladas in Brazil?

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