24 outubro, 2014

A Veja e Meu Voto Mexido


Querido diário:

Item 1: parece que não deixei devidamente claro em quem vou votar no próximo domingo. Minhas considerações tornaram-se completamente ideológicas: entre dois grupos de ladrões, escolho aquele que alardeia ser da esquerda. Em outras palavras, votarei em Dilma Rousseff, honesta enfurnada em um grupo de larápios.

Item 2: li a extraordinária postagem de Rosana Pinheiro-Machado (aqui). Nem precisa ler tudo (mas recomendo que o clube do Planeta 23 o faça), pois a primeira frase já diz o que fazer.

A esquerda precisa fazer auto-crítica e entender que é minoria neste país.

Seguimos no item 2: ela diz que a saída é colocarmos o "pé no barro", e entendo isto como o final do artigo: dialogar com quem aceita dialogar. Há gente de consciência reacionária de tal maneira empedernida que chegou a virar fobia. Falar em igualitarismo para esta gente significa pedir briga. Eu, como recomendo (ver livro Teoria dos Jogos) substituir a violência pelo uso da razão, só posso dizer que não discuto com quem argumenta com briga. E que quer dizer, para mim, pé no barro? É voltar a fazer o trabalho de formiguinha que sempre fizemos, digo, eu fiz, entre 1962 e, digamos, 1988. A aproximação do PT do poder, paradoxalmente, fez-me buscar cada vez maiores distâncias.

Complemento ao item 2: aliás nem foi bem no momento em que Olívio Dutra foi eleito para prefeito de Porto Alegre (final de 1988) e até foi depois de sua saída, ou seja, estamos agora em 1992, que me dei conta de que o PT deveria ter democratizado a administração pública municipal e não tê-la aparelhado. Que quereria dizer uma administração petista democratizante? Muita discussão na repartição.

Item 3: em compensação, a página 10 de Zero Hora de hoje está cheia de propaganda, mas tem digamos 300cm^2 de noticiário, ela que se intitula "Notícias". E não deixa de ser propaganda dos destrambelhos da revista Veja. Ela -tudo de acordo com a notícia- antecipou a edição. ZH diz que a Veja fala em "suposta delação de doleiro". Diz o delator que Dilma e Lula sabiam de todos os desvios feitos na Petrobrás. Veja é séria o suficiente para ter este espaço em ZH? A notícia da delação feita pelo sr. Alberto Youssef (nome que, poeticamente rima com Rouseff) parece que foi checada pela própria Zero Hora.

Item 4: intuo que o que segue é por conta de Zero Hora, que decidiu investigar o que lá diz a Veja:

   O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, confirmou que o doleiro prestou depoimento, mas disse não saber da informação:
-Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso (que Lula e Dilma sabiam do esquema da Petrobrás). Não conheço esse depoimento. Estou surpreso - afirmou Basto.
-Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação. 
[o itálico é do original de ZH]

Segue o item 4: era precaução da Veja ou da Zero Hora?

Complemento ao item 4: não lerei a Veja, claro. Pago meu preço para mau jornalismo lendo a própria Zero Herra e a Capital dos Carta, epítetos inspirados em meu ódio à incompetência e à falta de objetividade. Não sou contra a tomada de posição, o que faz com desvelo a Carta Capital e diz que segue grandes publicações do mundo. Nestas circunstâncias, não poderia queixar-me de que Veja é contrária à reeleição de Dilma e, assim, favorece a eleição de Aécio. O que naturalmente me deixa abisurado (sinônimo de absurdado) é a provisão de matérias falsamente objetivas. Antecipar a divulgação da revista? Ok, ainda passa. Mas dizer que o delator disse coisas antagonizando a candidatura de Dilma e o próprio advogado do delator desconhecê-las é estarrecedor. Em que momento o réu declarou coisas à Veja que o advogado não tomou conhecimento? Só bebendo!

DdAB
Pedi ao Google Images "Veja e Beba" e ele me deu isto daqui. Que voto mexido é este do título? É que, quando surgiu a revista Veja, nada havia de tão interessante: uma revista semanal que apresentava o mundo político. Diferente da Manchete. Diferente dos futuros nanicos, com um ponto de vista não-lá-muito-simpático à ditadura militar. Os tempos passaram, a ditadura se foi, mas aquele "centrão" da constituinte de 1988 foi a maior radiografia da consciência nacional que, até hoje, pende para a direita. E a Veja foi mexida de tal modo que não me resta nada a fazer a não ser recomendar que estudemos a seguinte. E eu, que jurara votar em Marina, mexi, pois jurei votar em Dilma.

Lição de dialética:

Tese:
Eu digo: cachaça, cachaça, cachaça.
Antítese:
Blair disse: education, education, education.
Síntese:
Vamo distribuí birita na aula!

P.S. Aos 30/out/2014, mudei o título desta postagem. E hoje, 20/nov/2014, não lembro qual era o original...

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