26 maio, 2014

Imaginação pela Duplicação


Querido diário:

No outro dia, estávamos em um restaurante gramadense quando eu trouxe à discussão o fato de que não havia mais de uma ou duas mesas com pessoas negras. Fiquei falando no argumento que há anos esgrimiu-me o prof. Adalmir Marquetti, na defesa enfática da legislação das cotas raciais brasileiras. Eu, que tinha minhas tibiezas por não ter pensado o suficiente no tema, acedi ao argumento. Inclusive por lembrar de uma tirada de aula de meu professor de pós-graduação em economia, o americano David Garlow, no ano de 1975: comparou o racismo americano com o número de negros que ele viu em torno do pós-graduação em economia da Ufrgs: em três turmas, nunca viu nem o rastro. Era verdade e apenas na quarta turma é que parece ter surgido o primeiro e depois houve outros, mas sempre em proporção enormemente inferior à dos negros na população nacional ou local.

Claro que a proporcionalidade absoluta é tão inviável quanto o viés sistemático contra a maioria sub-representada. Não seria desejável que em tudo quanto é dimensão da vida nacional se repetisse a composição etária. Mas tampouco deveriam ocorrer divergências marcantes em certos segmentos da vida nacional:

.a. não deveria ter sistematicamente mais negros do que brancos nas prisões
.b. idem, idem, entre desempregados
.c. idem, idem, entre doentes
.d. e por aí vai.

E aí o assunto do bar esquentou (pudera, com a lareira ligada...) e eu decidi viajar na história de "se o Brasil tivesse dobrado de tamanho desde 2005". Então comecei a falar algo na linha que segue.

Primeiro, o leitor do Planeta 23 que o examina agora teria a sua frente não um mas dois computadores. Estaria lendo não uma postagem, mas duas, enfim, seria dois e não um... Então decidi refrear esta sanha duplicadora e estabelecer algumas mediações que nos são de todo convenientes. Primeiro, sugeri que o que deveria dobrar não era a população, mas o PIB. Como sabemos, se este crescimento rastejante a que assistimos há 30 ou 40 anos criasse vergonha e passasse a ser 7,12% a.a., teríamos a tão ansiada duplicação. Por exemplo, a estrada Porto Alegre-Gramado teria quatro pistas, etc.

Então, se não dobrasse a população, a disponibilidade de bens e serviços por habitante duplicaria, a produtividade do sistema teria duplicado. Digamos que fosse 100, então ele passaria a 200. E nem precisaria duplicar proporcionalmente, fazendo-se algo até inversamente proporcional à atual participação individual na renda. Explico-me, os 1% atualmente mais ricos ficariam com apenas, digamos 0,001% do aumento, ou 101. E os outros 99% ficariam com estes 99,999%. E assim por diante.

Mas tem algo interessante:

.a. se duplicou a quantidade de computadores
.b. e de postagens,
.c. então teria que haver outra pessoa fazendo a segunda postagem que simultaneamente a esta o leitor estaria examinando

E isto significaria que, se voltássemos ao exemplo de dupla renda mas trabalho uno, então eu é que estaria fazendo apenas a metade de uma postagem e a que agora se lê seria em co-autoria.

Ou seja, todos trabalharíamos apenas a metade do que o fazemos para alcançar os 100% de aumento, quer dizer, a produtividade de nosso trabalho é que teria duplicado. E claro que isto acontece com eleição, com seleção, mas especialmente com educação!

DdAB
Procurando no Google Images as palavras do título, encontrei aqui esta linda e simbólica imagem. J. Wilson é -no site- José Wilson. Por contraste ao Brasil dos ladrões de dinheiros das estradas, há o Brasil que dá certo, com gente como ele dirigindo sobre as que se tornaram realidade.

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