28 novembro, 2013

Ulysses: Nova Tradução

Querido diário:
Recebi a muito querida mensagem que segue, originária do e-mail de Adalberto Alves Maia Neto (ver, indo ao verbete "Duilio Aluno"). Enviei-lhe o registro da postagem daqui e ele, Adalberto, fez sua própria tradução, que se fez acompanhar por inteligentíssimos comentários. Recapitulemos o original:

Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.

Diz aí, meu grande amigo:

Minha tradução: “Majestoso, o gorducho Buck Mulligan veio do alto da escada carregando uma tigela de espuma, na qual repousavam cruzados um espelho e uma navalha.”
1.       Stately. Poderia também ser imponente;
2.       Plump. Prefiro gorducho, porque acho roliço muito afetado;
3.       Came from the stairhead. Veio do alto/topo da escada, surgiu do alto/topo. Tem a preposição de e não pode ser no alto/topo, pois ele usou o verbo ‘came from’. Acho também que a melhor tradução seria “veio”, porque ele usou o verbo to come no sentido de surgir, mas também em português se eu falo que veio do alto da escada eu estou dizendo que surgiu do alto. Quer dizer, acho que aqui a expressão mais correta é veio de. Se ele quisesse poderia ter usado ‘emerged’, ‘appeared’, mas não, ele usou ‘came’;
4.       Prefiro do alto, mais direto, mais simples, que eu acho que era o estilo do Joyce;
5.       Bearing a bowl of lather. É exatamente carregando/portando uma tigela de espuma. Quer dizer, ele está dizendo que o sujeito está carregando uma tigela que é usada para por espuma e fazer a barba. Ele não está dizendo, nesse ponto, que a tigela está com espuma. Depois ficamos sabendo que de fato tem espuma na tigela. Mas será que já tinha espuma desde o início. Se tinha, como é que poderiam lay crossed? Não faz sentido imaginar que o espelho e a navalha estavam mergulhados na espuma, né? Mas porque em português eu não mantenho o mesmo sentido do original, ou seja, apenas uma tigela de espuma? Não precisa especificar que tem espuma na tigela. Se ele quisesse ele diria que tinha espuma na tigela, mas ele apenas se referiu ao instrumento, ou seja, a bowl of lather. Também não tem que especificar que a espuma é de barbear. Isso fica subentendido, pois existe a lâmina e o espelho. Ficaria muito sem graça especificar que a espuma é de barbear;
6.       Razor. Razor, apenas razor só pode ser navalha, pois o sujeito não poderia fazer a barba apenas com uma gilete, pois precisaria de algum aparelho para colocar a gilete, e aí o Joyce usaria outro termo. Me parece certo que deve ser navalha;
7.       Lay crossed. Acho que estavam exatamente um (a navalha) sobre o outro (o espelho). Ou seja, repousavam cruzados. Acho que muda a ordem em português em relação ao inglês.

Sigo eu DdAB. Assim terminou o texto, o que nos deixa ver que sua criatividade e verve engendraram soluções ainda não aventadas pelos tradutores anteriores. Parece que estamos, agora, a carecer de um ensaio específico sobre a comparação de meus palpites sobre as melhores palavras da primeira sentença e as de AAMN. Aqui termina a postagem.

DdAB
Imagem: aqui. Vemos nada mais nada menos do que o Edifício Alcides Maya, na Rua Demétrio Ribeiro em Porto Alegre.
P.S. Em 1/jun/2014, mudei o título para Ulysses.

27 novembro, 2013

Hai-Kai n. 37

Querido diário:
Não é bem contrabando: pelo que fiz em matéria de postagens, este ano terá menos do que meu primeiro ano cheio no Google. Ou seja, em 2009, postei 248 vezes. Este ano, se não fizer duas ou mais por ano, não chegarei a este número. Dito isto, vamos aos hai-kais.

MILLÔR
COM GRANDEZA
ELE SE ELEVOU
ÀS MAIORES BAIXEZAS!

Planeta 23
As maiores baixezas
A todas nos leva
Ir na correnteza.

DdAB
P.S.: minha resposta é inspirada nas notícias dos dias que correm sobre a aquiescência do deputado Genoíno aos intensos esforços que "aliados" fazem sobre aposentá-lo com os proventos de deputado federal (R$ 26 mil, pelo que disseram). Uma vez que ele acha que apenas o tribunal de justiça é que está errado, nada há de errado em aceitar esta prebenda, o que o tornará, ainda mais, um sinecurista.
Imagem: daqui. Um ex-guerrilheiro cardíaco e aposentado devidamente excomungado por um site que, mal olhei, corei de ver tanto reacionarismo. É um país sem noção. Nem a esquerda (a deles, a minha segue altaneira) nem a direita têm a menor compostura!

25 novembro, 2013

Filosofia do Ciberespaço

Querido diário:

E no outro dia me dei conta de que os políticos fazem leis, ao invés de buscar a participação societária. Tem lei para tudo, até para dar nome a rodovias, nomes de políticos, naturalmente. Tem mudança na constituição da república para garantir direitos aos descendentes dos seringueiros que deram borracha para armar os exércitos aliados! Só com voto distrital é que se poderá superar esta distorção. Por exemplo, aquele vexame do plebiscito sobre as armas há quase 10 anos indagando se a negadinha pode ou não ter armas. O 'não' perdeu estrondosamente para o 'sim, pode, claro, com tanto ladrão'.

DdAB


24 novembro, 2013

Fino Humor

Querido diário:

.a. a primeira manifestação da finesse do humor brasileiro vi quando, aos 10 anos de idade, tive um colega, em campo grande mato grosso que se chamava Washington e cujo apelido era vasingueton.

.b. há pouco tempo vim a saber que um rapaz de sobrenome Carneiro passou a ser conhecido como Bode.

.c. por fim, li na sensaborona coluna de Keiton (ou Kledir?) na Zero Hora de tempos atrás tem algo divertido (sensaborona? pode sensaborão escrever coisas úteis?) informa que um músico pernambucano (se a memória não falha) nasceu batizado de Kledir (digamos) e recebeu o apelido Kleiton. Ou nasceu Kleiton e foi apelidado de Kledir.

hehehe

DdAB
Esta imagem familiar é pública, não é, não?

22 novembro, 2013

Hai-Kai n. 36

Querido diário:

Segue-se logicamente ao hai-kai n. 35 (aqui) o que numerei como 36:

MILLÔR
EIS O MEU MAL
A VIDA PRA MIM
JÁ NÃO É VITAL.

Planeta 23
Já não é vital
dizer que te amo:
é mau sinal.

E uma variantezinha mais romântica:

Já não é vital
dizer que te amo:
é sideral!

DdAB
Imagem: aqui. Tornei-me Fulgêncio?

20 novembro, 2013

Ministro, o Sr. Roubou?

Querido diário:
Parece-me que foi ao ex-ministro do Trabalho do governo Collor, um sr. Magri oslt que um repórter indagou: "Ministro, o sr. roubou?" E parece que ele teria respondido: "Veja bem." E desenleado uma justificativa de convencer qualquer um, se não de sua inocência, certamente de que levou os limites da dialética (argumentativa) a cânones nunca antes alcançados.

Em compensação, lê-se na p. 14 de Zero Hora de hoje:

Os petistas presos divulgaram uma carta para agradecer ao suporte dos militantes da legenda. No texto, eles declaram não aceitar a 'humilhação' que estão sofrendo.

Lembrei do velho Marquetti: a natureza proveu-nos com uma boca e dois ouvidos, a fim de que ouçamos duas vezes mais do que falamos. E também da sabedoria brasileira: quem muito fala dá bom dia a cavalo. Parece que a justiça brasileira também é desprezada por altos dignitários da república, não apenas deste Planetinha 23.

DdAB
Imagem: daqui. No instantâneo, José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, todos de gravata.
P.S.: amanhã (hehehe, escrevo às 8h29min de 21/nov/2013), a capa do jornal dirá que o congresso nacional, aquele antro de sinecuristas, está pensando em manter o deputado Genoíno em julgamento até que possa aposentar-se por licença de saúde. Só bebendo!

17 novembro, 2013

Sobre Neblina e Sombrinha: aneto, endro e umbelinas

Querido diário:
Importante momento de meu sábado foi quando, em plena sessão do filme "O Mordomo da Casa Branca", a sra. Oprah agradeceu os elogios feitos por uma conviva a um prato (salada de batatas?) feita pela famosa ex-apresentadora da TV. Esta disse não ser sei-lá-quê-outro-tempero-a-conviva-pensava, mas aneto (como apareceu na legenda in Brazil). Fiquei pensando que também poderei valorizar minhas saladas com tal especiaria. Iniciei com o Aurelião: Aneto: não tem o menor registro. Mas o dicionariozinho do MEC (de 1960, I presume) tem e ainda remete às umbelíferas. "Ah, as umbelíferas", pensei.

Segui à internet: tem pilhas. E um deles dá como sinônimo o endro, tempero de meu perfeito conhecimento e que dá um sabor divino a certos tipos de queijo que atenderiam no Brasil pelo epíteto de queijo-prato, para não falar naqueles Gouda, Edam e assemelhados. A Wikipedia brasileira (de onde vem a ilustração que nos encima) tem coisinhas. Mas com esta de "umbelíferas" ocorreu-me que fui aluno da profa. Umbelina, digamos, em 1963, or so, no Colégio Júlio de Caudilhos. Naturalmente, chamavam-na de Neblina ou Sombrinha, dependendo da eufonia desejada.


Aí procurei livre no Google o nome "Umbelina" e veio algo daqui muito elucidativo:


ORIGEM DO NOME UMBELINA

Qual a origem do nome Umbelina: LATIM

SIGNIFICADO DE UMBELINA

Qual o significado do nome Umbelina: PEQUENA SOMBRA.

Ou seja, em matéria de endro, não vemos sombras oficiais na figura, mas não dá para duvidar que, devidamente expostas à luz, aquelas ervas mostrem contornos sombrios. Então será que Umbelina estaria a designar pessoas sombrias? Creio, mais, que poderiam referir-se a pessoas de pele mais escura, morenas. E talvez tenha mesmo tido um colega erudito ao perceber que "umbelina" rima com "sombrinha".

DdAB

14 novembro, 2013

Graça: outro tipo na Grécia

Querido diário:
Volta e meia falo no Graça-Graciliano. Hoje falo em Osman Lins que escreveu um dos mais belos trechos, principalmente, mais engraçados (non-sense) que já li! Explicando-me: Osman Lins fez a maior graça.

No livro "A Rainha dos Cárceres da Grécia", o mundo e sua novela começa no dia 26 de abril de 1974 (na p.7):

   Muitas vezes, durante o último ano, tão penoso e vazio, mencionei aqui a intenção de ocupar as horas vagas, dar-lhes sentido talvez, escrevendo o que Julia -Julia Marquezim Enone- sempre discreta em relação a si mesma, me contou de sua vida, o que testemunhei e o que depois pude saber.

Não está claro que ela morreu, né? Mas não sei se estrago a história ao contá-lo. Vamos mais diretamente ao ponto. Na página 133, estamos em 27 de março de 1975 (eu mal estava começando a parte teórica do curso de mestrado em economia):

Morta Laura, il passato, il presente
e il futuro, tutto gli è tormento e pena

La vita fugge e non s'arresta una ora,
e la morte vien dietro a gran giornate,
e le cose presenti e le passate
mi danno guerra, e le future ancora;
e'l rimenbrare e l'aspettar m'accora
or quinci or [...]

   Não, Petrarca, teu soneto não é duro bastante para celebrar o aniversário, o segundo, da iníqua morte de Julia, esmagada, cinco meses depois de dar por terminada a sua obra, sob um caminhão GM de cor verde, chassi de oitocentos e oitenta e dois milímetros, eixo dianteiro tipo viga em I (capacidade três mil, setecentos e cinquenta quilos), eixo traseiro flutuante dupla redução (capacidade nove mil e trezentos quilos), tanque para cento e quatro litros de óleo diesel, freios a ar, pneus de doze e catorze lonas, carregado, peso bruto total vinte e dois mil e quinhentos quilos.

Claro que isto me evocou a canção de Adoniram Barbosa, "Iracema", em que o rapaz não se conforma com a morte da garota, mas não lhe dá completa razão, pois ela "travessou contramão". Os detalhes do atropelamento teriam sido transmutados pelo texto de Osman, não é mesmo?

DdAB
Imagem vem de .
Esta passagem de Osman Lins marcou-me tanto que já a postara aqui.

13 novembro, 2013

Controlar a Vontade

Querido diário:

Onde é que se encontra um versinho como o que segue?

Quando de repente vem
Vontade de trabalhar
Eu me sento num banquinho
E deixo a vontade passar.

E que tal, então, cultivar a vontade de sorte a reduzir o ódio que devotamos à humanidade quando

.a. fazemos dieta?

.b. fazemos exercícios físicos?

.c. fazemos um break em nossas vidas privadas, a fim de perder tempo estudando?

DdAB
A imagem é daqui.

10 novembro, 2013

"Ulysses" e o Número Platônico

Querido diário:

PROÊMIO
Recebi do sr. Adalberto de Avila uma mensagem no Twitter que abaixo transcrevo. No hológrafo central da nave, ele acrescentou o que intercalei. Parece tornar-se evidente que estamos frente a um dos mais estranhos comentadores das obras de Homero, James Joyce e Bono (bona fide) com que jamais este blog topou, o que é estupefaciente, como se falássemos da política brasileira bicentenária, ou daquele campeonato em que o Grêmio foi rebaixado.

OS PROLEGÔMENOS
Parece evidente que existem três e apenas três (3 = 3 = 3) traduções de "Ulysses", retirando-o da sua -nos dias que correm- pacata Dublim e reposicionando-o sobre o Rio de Janeiro, São Paulo e a própria Brasília. Para termos uma ideia da variabilidade que engolfa o tema, examinemos a sentença inicial da trilogia. Trilogia? Três: número platônico! Antes, vejamo-la na língua original.

Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.


VOLUME 1


Editora Abril Cultural: São Paulo, 1980 (que adquiri nsq [id est, não sei quando, mas antes de 1990, digamos)]). A tradução original circulou com o selo da Editora Civilização Brasileira, em 1966 (que adquiri nsq, mas antes de 1970) foi feita por Antonio Houaiss (que deve ter nascido Antônio e a lei, em 1973 ou algo assim, mudou para Antonio [mas na op. cit. está Antônio mesmo], pois em Portugal até hoje se escreve António). Corria uma piada, que talvez eu tenha lido no respeitado jornalzinho O Pasquim, que Houaiss levou mais anos traduzindo do que Joyce escrevendo. By the way, Joyce escreveu entre 1914 e 1921.

A imagem que vemos acima é mais feinha que a original.

Primeira sentença (página 9):

Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha.

Número de páginas: 852 - 7, ou 846.


VOLUME 2


Editora Alfaguarra/Objetiva: Rio de Janeiro, 2007, que adquiri em 2013 mesmo e estou lendo. Quase desisti quando aquele enterro do capítulo 6 não acabava nunca. A tradução é de Bernardina da Silveira Pinheiro. O interessante da tradução da professora Bernardina (da UFRJ) é que a tradução foi concluída em torno de seu 85o. aniversário. 

A primeira sentença está na página 27, deixando-se ler como:

Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba.

Número de páginas: 839 - 25 ou 815.


VOLUME 3

Editora Penguin/Companhia das Letras: São Paulo, 2012. Adquiri-o em 2012, coisa rara, pois não me é usual comprar lançamentos absolutos, pelo menos não o faço com a mesma frequência com que pronuncio a palavra "quixeramobim", dando-lhe um sotaque de colono italiano em Bento Gonçalves - RS. A tradução é de Caetano W. Galindo, contendo uma introdução escrita em 1922 por Declan Kiberb, umas 75 páginas que lerei apenas quando a palavra quixeramobim (aqui) tiver como sinônima a permutação mibomarexiuq, que parece asteca. Nesta linha, o Ulisses desta editora pintou como Ulysses (que, ao revés, lê-se como sessylu, como sabemos palavra que significa secilu, em inca e secilou, em francês).

A primeira sentença, depois daquela bruta introdução, posta-se na página 97:

Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha.

Número de páginas: 1006 - 93, ou 913.

ESTIMADORES DE VARIABILIDADE
Exórdio
As três traduções mantêm o número de capítulos delineado por ninguém mais ninguém menos do que o próprio autor: 18.

Medidas de tendência central e de variabilidade
Só comentaremos o número de páginas, eis que 18, 18 e 18 têm média 18 e variância nula. Segue-se que a média dos números de páginas de 815, 846 e 913 é 858,3 e sua variância é 5.128,3.


COMENTÁRIOS FINAIS
Tem tanta coisa, tantos comentadores escrevendo, tendo escrito sobre "Ulisses" que até os deuses duvidam. As três traduções brasileiras mostram algumas comunalidades neste aspecto, sendo mais circunspecta a de Bernardina da Silveira Pinheiro. Inclusive, e não sei de onde saiu, um "passo-a-passo" chamado de "Notas", muito útil, ainda que não sacie toda a fome de todos os leitores. Os três contam com material de apoio desenhado por James Joyce para seus amigos, alguns deles. É o que leio nos verbetes das Wikipedias in English e em português. Que posso dizer para concluir? Riulcnoc (em maia).


DdAB
Curiosum I: primeira sentença em inglês, com tradução do Google: "Imponente, gordo Buck Mulligan vinha do stairhead, tendo uma tigela de espuma em que um espelho e uma navalha estava atravessada."
P.S.: este "stairhead" não foi traduzido, né?

Curiosum II: como não acredito sem ver, cito a fonte que me cedeu a frase que não conheço/conhecia no original. Aliás, o próprio original é sujeito a disputas: qual edição é a melhor? Fonte da frase acima está aqui.

Curiosum III: a fonte da imagem é daqui. Todos conhecemos Jon Elster, não é mesmo? Marxismo Analítico, Teoria da Escolha Racional, não é mesmo?

Curiosum IV: este site aqui é maravilhoso. Tão maravilhoso, actually, que antecipou esta minha postagem, com vantagens, inclusive a de não ter nada a dever a Adalberto de Avila... Olha, por exemplo, o que ele diz aqui e que seria inalcançável pela dupla Adalberto-Myself: "As soluções tradutórias são opções criativas. Houaiss, Bernardina e Galindo tiveram, cada um, o seu encontro insubstituível com Joyce. E por isso já não é apenas Joyce em português. Será Joyce-Houaiss, Joyce-Bernardina e Joyce-Galindo." Tornou-se claro que minha tradução preferida, que estou lendo, é a de Bernardina? Não conferi nos demais este troço (termo, aliás, que ela utiliza) dos quatro pontos (ou seja, duas vezes dois pontos), como é o caso de, por exemplo, na página 149: "Um velho ator: bisavô: ele entende do riscado." Acho interessante esta do Joyce-Houaiss, Joyce-Bernardina e Joyce-Galindo, pois nunca falaríamos em Maughan-Érico/Vallandro, e por aí vai! Só vale a pena dizer isto quando são duas ou mais as traduções. Estudo assemelhado deve ser feito naquele Salinger que teve a tradução brasileira do "Catcher in the Rye" como "Apanhador no Campo de Centeio" e a portuguesa como "Uma Agulha num Palheiro".

Curiosum V:
Começamos com isto:
Google
Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed.
Civilização/Abril Cultural
Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha.
Alfaguarra/Objetiva
Majestoso, o gorducho Buck Mulligan apareceu no topo da escada, trazendo na mão uma tigela com espuma sobre a qual repousavam, cruzados, um espelho e uma navalha de barba.
Penguin/Companhia das Letras
Solene, o roliço Buck Mulligan surgiu no alto da escada, portando uma vasilha de espuma em que cruzados repousavam espelho e navalha.


Curiosum VI
Stately: sobranceiro, majestoso, solene. Sou mais majestoso.
Plump: fornido, gorducho, roliço. Gostei mais do fornido. Ou, diria eu, gordacho, que este editor de texto do Windows não reconhece.
Stairhead: alto da escada, topo da escada, alto da escada. Alto da escada é melhor, mas eu preferiria balaústre.
Bearing: ‘com’, trazendo, portando. Ganha o trazendo. Portando não é mau, talvez também coubesse segurando.
Bowl of lather: vaso de barbear, tigela com espuma, vasilha de espuma. Haveria ou não espuma naquela tigela? A bowl of lather não requer necessariamente a espuma, apenas que seja a bowl da espuma. Mas a sra. Bernardina resolveu a questão, talvez, olhando o texto mais adiante: “[...] ele apoiava o espelho no parapeito, molhava o pincel na tigela e passava a espuma na face e no pescoço.” Ou seja, tinha mesmo espuma dentro da tigela. E não era este troço de vaso de barbear e, presumo, nem de vasilha de espuma. Era uma tigela cheia de espuma para se amaciar a barba antes de cortá-la com navalha ou gilete.
Mirror: todo mundo traduziu como espelho. Sabidos.
Razor: todo mundo traduziu como navalha. Naquele tempo já havia giletes, o que deixa-nos – se não pudermos andar adiante nas investigações – em dúvida sobre se o velho Joyce queria mesmo dizer navalha ou gilete.
Lay crossed: se cruzavam, repousavam cruzados, cruzados repousavam. Fico a indagar-me como é que poderia uma navalha cruzar-se com um espelho. Acho que apenas se pode conceber o espelho sobre a navalha ou esta sobre esse. E o mais plausível é o que diz o Google Tradutor: estavam atravessados, ou seja, a navalha estava colocada em ângulo de 45 graus (ou outro acutângulo) com relação às diagonais do espelho.

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P.S. Acrescentado às 22h40min de 21/jan/2014.
Acabo de ver o site aqui. De lá retirei a seguinte capa do Ulisses em tradução não registrada neste meu blog, pois é de Portugal. Mas talvez ainda venha a adquiri-la e lê-la, comparando-a com as três traduções brasileiras.
Diz lá o texto:
Ulisses | James Joyce
2013/12/01 BY DAS CULTURAS
«Ulisses» é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher.
Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero.
Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza».
Depois de várias dificuldades editoriais, «Ulisses» seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce.
«Mais do que a obra de um só homem, “Ulisses” parece de muitas gerações (…). A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, «James Joyce», 1937]

P.S.S.: também vale a pena olhar aqui. É altamente informativo e altamente erudito. E temos esta capa:
P.S.S.S.: e tem mais. Veio daqui, mas não fui capaz de saber mais a respeito. A não ser que não é a mesma coisa: não é o Ulisses de Joyce.
P.S.S.S.: e agora esta, na Edição Livros do Brasil:

P.S.S.S.S. E agora esta que sempre esteve aqui! (Escrevi isto às 18h04min de 4/fev/2014).
P.S.S.S.S.S. Em 1/jun/2014, mudei o título para Ulysses.

08 novembro, 2013

Duplo Luto

Querido diário:
Duplo luto quer dizer: luto e luto, sofro e sofro, sofre-se e sofre-se, baixaria e baixaria. Pois hoje meu afamado jornal tem duas notícias deixando qualquer um de luto:

.a. aquelas fraudes do leite, lembra?, quando descobriram em Ibirubá e outras progressistas cidades gaúchas uma turminha que metia amônia, sei lá, no leite das crianças. Claro que os rapazes disseram que estavam defendendo o leite das crianças. Uma vez que sou contra a pena de morte e mesmo a tortura, sou de opinião que esses rapazes deveriam mesmo era ler uns dez livros de ética e moral.

.b. aquele negócio das mulheres e os animais (aqui), lembra? pois um tribunal disse que o prefeito não tem razão para nomear sua mulher como secretária de estado (e ter criado uma secretaria para recebê-la, a secretaria dos direitos animais). E outro disse que nada a ver, que tudo bem, que a coroa pode ocupar o tal cargo. Creio que o argumento reza no sentido de que o cargo foi mesmo criado para ela.

.c. e talvez um terceiro luto: sou tão inconformado com meus tempos que chego a pensar que sou mesmo um intelectual, hehehe.
DdAB

07 novembro, 2013

Feira do Livro, Blogs, Azar do Brasil



Querido diário:
Ante-ontem foi o dia mais extraordinário da Feira do Livro de Porto Alegre (ver chamada aqui). E ontem o Caderno da Feira do indefectível jornal Zero Hora tem na capa uma sort of entrevista com a escritora Jasmin Ramadan (do multiculturalismo alemão, I presume). Segue-se logicamente que ela teve um livro lançado em "nossa" feira e tem um blog hospedado no Brasil (aqui).

Ou seja, no dia 30 de outubro, estaria em seu blog (que não vi), segundo ZH:

As construções são feitas aqui, em toda parte, muito juntas umas das outras. Há edifícios altos ao lado de pitorescas casinhas decadentes e, em todas as ruas, pequenas e grandes, incontáveis fios de energia pendem como guirlandas, estendidos, às vezes mais esticados, às vezes frouxamente, de um poste a outro [...].

Eu, volta e meia, comparo o Brasil daqui e dali e agora o que me emocionou da sra. Ramadan foram os "incontáveis fios de energia que pendem como guirlandas". É a construção, não é a construção: mostram claramente os serviços industriais de utilidade pública (os fios de energia elétrica, inclusive alta tensão na Av. Ipiranga da sofrida cidade) e comunicações (os telefones, as guirlandas). O lado menos engalanado deste tipo de arcaísmo no trato urbano é o desemprego, a falta de atividade dinâmica na construção civil, o baixo investimento, a baixa demanda derivada: galerias subterrâneas para a fiação. Além de expandirem a demanda por emprego, essas coisas, ela teria a insuspeita vantagem de ver-se menos vulnerável a tempestades e -fenômeno importante- roubo de fios por parte dos detentores de empregos percários.

DdAB
Imagem: minha foto de um tijolo vindo da fábrica portando um buraco e um prego. Fico pensando se é mesmo azar do Brasil que estejamos vivendo o que muitos chamam de desindustrialização (o que, certamente, não é, de acordo com o conceito de Rowthorn & Wells). Recapitulando Rowthorn & Wells: há três itens:
.a. queda do emprego industrial (transformação)
.b. elevação do produto
.c. elevação da participação no comércio internacional.
Quem sabe, ainda não vamos importar tijolos da China?

P.S. Estava eu olhando o Facebook, distraidamente, no dia 23 de fevereiro de 2021 quando li uma chamada a certa matéria clamando por proteção à indústria de alta tecnologia no Brasil. E lá escrevi: 
Eu particularmente indago como é que a indústria de palitos dentais perdeu tanta qualidade, pois aqueles marca Gina e mais alguns outros quebram-se invariavelmente após palitarmos um ou dois dentes.
E ali embaixo temos a figura de um tijolo que comprei, inadvertidamente, em uma loja de materiais de construção em Porto Alegre. Aquele prego de forma côncava com relação à superfície plana (plana?) do tijolo é mais uma prova de que o Brasil precisa mesmo é começar "por baixo": palitos, tijolos e especialmente esgotos para atender a 100% da população e empresas.
Nenhuma descrição de foto disponível.

05 novembro, 2013

Ensaios sobre a Economia Gaúcha: é nóis

Querido diário:
Hoje foi um grande dia, como podemos olhar por AQUI. Trata-se do livro que Adalmir Antonio Marquetti e eu editamos e hoje lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre. São 13 ensaios, um deles completamente inédito e os demais reproduzindo (com mudanças tópicas, mas significativas) artigos que fizemos em co-autoria, coadjuvados ou não ainda por terceiros. A casa editora é a Fundação de Economia e Estatística, instituição hoje presidida por Adalmir e onde trabalhei em duas oportunidades entre 1972 e 1987.

O site que já referi acima com aquele clique levando-nos AQUI diz o seguinte:

Os 13 trabalhos selecionados para integrar o presente livro estão organizados em três partes, privilegiando o movimento que leva do conhecimento mais geral ao mais particular, o que nem sempre coincide com a ordem cronológica da divulgação prévia a esta obra. O que importa ressaltar é que, considerando os diferentes tipos de metodologia usados nesses 13 estudos, observa-se um verdadeiro painel de técnicas analíticas voltadas à análise micro e macroeconômica aplicada a estudos nacionais e regionais. Trata-se de um misto de narração de achados substantivos com um depoimento para as gerações futuras de como seus ascendentes profissionais organizavam seu pensamento sobre a realidade tangível.

Além de nossa autoria, os seguintes colegas e ex-alunos tiveram participação maiúscula nos textos:

Anderson Casa Nova
André Marques Moreira
Gustavo Hickmann
Luciano Moraes Braga
Rafael Kloeckner
Vladimir Lautert

E, além destes profissionais, envolveram-se com a materialização de nosso projeto as seguintes pessoas:

Tânia L. P. Angst
Tamini Nicoletti,
Israel José Cefrin da Silva,
Susana Kerschner,
Jadir Vieira Espinosa e
Giuliana da Silva Santos.

Pode-se ficar mais feliz? Diz o gaúcho: isto é melhor do que dinheiro achado.

DdAB

03 novembro, 2013

A Construção Civil Sem Noção


Querido diário:
Por contraste à participação do investimento no PIB do Brasil, a China tem um número astronômico. E a fração do investimento representada por obras e instalaçõesl (construção civil) é de mais da metade. Por contraste, o Brasil -terra do carnaval, futebol e praia- tem até mais da metade. Ou seja, nossa indústria da construção civil é absolutamente desfocada de um tamanho de um país que precisa tanto de bens de capital. Quer dizer, poderíamos importar bens de capital no sentido de máquinas e equipamentos, mas não podemos importar buracos, túneis, essas coisas.

Em compensação, a foto de minha autoria inicia com um pedaço de um automóvel made in Brazil, capital francês, ou multinacional. Vemos o espelho. Depois, vemos uma grade de ferro (ou o que seja, que, no Brasil, precisamos andar cercados dentro de nossas casas e em tudo o mais, pois há guerra civil e o governo precisa ficar pensando em como promover a indústria nacional, deixando o povo para ser promovido, talvez, por multinacionais chinesas, ou o que seja).

Atrás das grades deveriam estar os políticos nacionais, mas o que vemos é uma cicatriz na parede do edificiozinho localizado no bairro Medianeira/Glória em Porto Alegre (lá tem um número que certamente nosso presidente Obama deve saber qual é). Ela cicatriz começa bem à esquerda do que a portentosa foto capturou e segue paralela ao solo, até que, faz um ângulo reto e começa a subir. Depois, como o caminho mais curto entre dois pontos é mesmo uma curva, esqueceu-se que, se todos os ângulos fossem retos ou zerados, seria muito mais fácil de uns buracos daqueles não serem destruídos por outros, inclusive os canos de ar condicionado, água, esgotos, e por aí vai.

Será que os trabalhadores da construção civil e que talvez atuem sob a supervisão de engenheiros tiveram mais de um dia de aula em suas existências?

DdAB
O marcador principal desta postagem é Lixo Urbano (e secundariamente Economia Política). Lixo Urbano? Claro, aquele tipo de obra que potencializa os acidentes no futuro é mesmo uma selvageria urbana. Em compensação, pareço bem ranzinzanzão neste domingo, não é mesmo?

02 novembro, 2013

Duas Classes Sociais

Querido diário:
No outro dia, provei -com mais naturalidade do que alguém que prova que 2 e 2 são 22- que sou um intelectual. Em outro dia, LeoMon sustentou que somos -ele, eu, você- da classe alta. Hoje apresento duas provas, uma nova e outra pela primeira vez.

A primeira é do teorema que 2 e 2 são 22. Consideremos inicialmente (lema) que 2 + 2 = 4 e também levemos em conta a expressão 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2, que alinhamos, prá mode de conveniência como {(2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2  + 2 + (2)}. Ora, sabemos que 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 = 20. Com facilidade, fatoramos a primeira parcela desta expressão como (2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2), isto é, dez vezes dois. Em notação matemática, = 2 x 10.

Voltando a {(2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + 2 + (2)}, é fácil substituirmos convenientemente e chegar a 2 x 10 + 2. Por fim, supomos que 2 é a dezena e 2 é a unidade (dualidade na diversidade), seguindo-se logicamente que 2 e 2 são mesmo 22. E NTM, ou seja, e não tem mosquito. (Incidentalmente, sabemos que NTM = CQD.

Tudo isto encaminha a prova ( segunda de hoje) de que somos da classe média (novidade de hoje, pois já está provado que também somos da classe alta, pois todos ganhamos mais de um salário mínimo, ou ganharemos, quando a renda básica universal for implementada e chegar a tanto). Se você gabaritar o teste, segue-se logicamente que você é da classe média, talvez seu/dela mais lídimo/a representante!

Questionário: tenho, gosto, sou:

Acessórios para pets, Ano-novo em Punta, Apartamento com vaga de estacionamento, Assinatura de revista, Aula de inglês, Bike, Bolsa de grife, Book de gestante , Cachorro, Carrinho de bebê importado, Carro próprio, Cartão de crédito, Cartão de supermercado, Casa em condomínio no litoral, Chapinha no cabelo, Cheque especial , Chope ou cerveja artesanal (escrevendo chopp), Churrasqueira, Cinema aos fins de semana, Comida pronta, Compras coletivas, Compras no freeshop, Diarista, Diploma universitário, Financiamento, Freezer, Gasolina, Gato, GPS, Instagram, Laptop, Livros, Malhação na academia, Máquina de café expresso, Máquina de secar roupa, Microondas, Minuto a minuto das férias no Facebook, Novela, Panela de fritar batata sem gurdura, Passeio no shopping, Pay per view do brasileirão, Perfume de grife, Piso laminado, Produtos industrializados, Prestação, Previdência privada, Restaurante, Restaurante com área Kids, Salão com hora marcada, Sertanejo universitário, Smartphone, Tablet, Telentrega, Tênis de corrida, TV a cabo, TV em tela plana, Viagem de férias, Viagem para o exterior, Vinhos, Viodeogame, Whisky importado.

Pelo menos é o que sugere a capa do segundo caderno de Zero Hora de hoje!

DdAB
E a imagem veio daqui.
ERRATA: antes das 22h25min de 3/nov/2013, um menino de rua chamou-me a atenção para o fato de que esta postagem foi feita extemporaneamente, ou seja, a lista de características de gente da classe média não consta da capa do jornal de ontem, sábado sabadíssimo. Eu não fui olhar os jornais velhos, pois ele -menino de rua- disse que, se eu fizesse isto, sete anos de azar baixariam sobre minhas postagens.