31 julho, 2013

O Futebol e os Truísmos

Querido diário:
Ontem li que Paul Dirac falou (sem citar, o que não me parece particularmente comprometedor) que "a religião é o ópio do povo". Quem sou eu para dizer que o inventor desta frase foi Karl Marx? E seu que já houve milhares de comentaristas da cena brasileira que disseram que "o futebol é o ópio do povo". Multidões.

Por falar em futebol e multidões, ouvi dizer que no próximo jogo do Grêmio enfrentando o Internacional, as torcidas não poderão ser misturadas. Se tal fosse permitido, é certo que daria briga da grossa... Por falar em multidões, segue-se que agora as torcidas não podem mais ser misturadas, o que me permite voltar a falar nas manifestações e os "vândalos". Vi na TV uma recente em São Paulo, em que essa turma depredava uma revenda de automóveis, essas coisas. Não que me arrependa da opinião anterior, dizendo que eles fazem parte das manifestações, como todos os demais, num sentido um pouco mais refinado do que o simples truísmo.

Por falar em truísmos, há dois que adoro:
.a. Gre-Nal é Gre-Nal
.b. em futebol se ganha, se perde ou se empata.

E que posso dizer contra esses vandalismos continuados que corrompem tanto as manifestações quanto o futebol? Só posso incriminar o governo: sua polícia leva jeito de ser menos organizadas do que os tais vândalos de passeatas. Não era o caso de, uma vez que os vândalos têm grupinhos infiltrados, a polícia fizesse o mesmo?

DdAB
Imagem: aqui.

29 julho, 2013

... então eu sou um intelectual

Querido diário:
No outro dia, disseram-me que um intelectual nunca está satisfeito com o que ocorre em seus tempos, sempre criticando os costumes, especialmente dos governantes e mesmo da plebe rude. Pensei no teor geral de minhas postagens, especialmente as que obedecem ao marcador de Economia Política. Em outra linha de raciocínio, intelectual é quem usa óculos. Por fim, intelectual cita outros quando se trata de afirmar suas ideias: "Cético quanto ao tempo presente, como a maioria dos intelectuais, [...]" (que se lê em Isaac Azimov e seu Colapso do Universo).

Então concluí que, neste caso, ou sou mesmo um intelectual...

DdAB
Nossos comerciais: aqui.
P.S.: esta postagem teve a atual quarta sentença acrescentada às 8h09min de 30/jul/2013.
P.S.S: e ainda tem aquela do "hago un esfuerzo" para ser intelectual ou o que seja! (às 11h57min).

P.S.S.S.: aos 5/jan/2015: este "hago un esfuerzo", vim a relembrar, origina-se de uma história que pensei ter contado aqui. Uma professora de espanhol conversava com um espanhol e chega um professor brasileiro e, vendo a conversação entretida na língua de Sancho Pança, inclusive o espanhol falando a língua de Quijote, indagou-lhe: "ustê fala espanhol?", ao que ele respondeu: "hago un esfuerzo", não foi isto?

23 julho, 2013

Tomate: livre e enlatado

Querido diário:
Nestes tempos de visita de mais um papa ao Brasil, a origem italiana lembra-me molho de tomate. Como, naqueles dias da crise do molho, eu andava preocupado com outros ingredientes, fui deixando minhas reflexões filosóficas sobre o tema. A primeira está no título: o mundo dos tomates se divide em:

.a. mundo livre
.b. mundo enlatado.

No mundo livre, a transformação de trabalho vivo em trabalho morto é menos intensa do que no mundo em que o produto do trabalho humano (e máquinas, etc.) é cristalizado na forma de tecnologias, rotinas e receitas que permitem armazenar o tomate por longos períodos.

No Brasil contemporâneo, o agronegócio é que tem feito a festa, bem modesta, por sinal, pois a indústria não tem enfrentado bons momentos e a incúria governamental impede que se leve a sério o crescimento baseado no setor serviços (escolas, hospitais, prisões, estradas, túneis, centros comunitários, tudo parece construção civil, mas acaba mesmo é prestando serviços).

Os chamados horti-fruti são menos mecanizáveis do que os hard crops, como a soja, o arroz e mesmo algumas outras lavouras.

Se houvesse rotinas, o trabalho seria enlatado, o tomate com ele, podendo ser conservado e transitar de uma safra a outra, com estoques de latas, ao invés de estoques in natura. Se a produtividade fosse alta, o preço do tomate enlatado botaria o do tomate livre prá baixo.

DdAB
Imagem daqui.

22 julho, 2013

Até o Estadão...

Querido diário:
 Costumo afirmar que sou um economista de esquerda. E costumo diferenciar-me de colegas de esquerda que não aprenderam a teoria da escolha pública, que seguem endeusando a estatização (produção e não apenas provisão de bens públicos e meritórios), que não desejam o governo mundial, e pilhas de outros recortes, diferentes visões da mesmíssima realidade. Ser de esquerda, bem entendo, não é algo passível de "prova analítica". Aliás, nem sustentar que a sociedade igualitária é melhor do que qualquer alternativa desigualitária.

Neste último aspecto, parece-me que a evidência empírica trazida por Wilkinson e Pickett (que acabo de ver já contar com um site na Wikipedia bem aqui) tem uma abordagem avassaladoramente indicando para as virtudes da sociedade igualitária. Mas quem confia 100% nos dados? Mesmo porque os dados, mesmo que capturados com precisão absoluta, não expressam todo o passado nem todo o futuro. Então por que igualdade? Pois estamos no mundo das ideias, bramindo com valores e crenças. E de ondes eles e elas vêm? Ideologia: praticamente já nasce com a gente!

Mesmo autodefinindo-me como esquerdista-igualitarista, há 50 anos, eu lia afanosamente os jornais da "grande imprensa", dois desaparecidos e dois ainda sobrevivendo, respectivamente, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. E nenhum deles expressava minha opinião, o que -lá da parte deles- era bastante sensato, pois enquanto tal, minha opinião estava em formação, dados os contornos ideológicos que me cercavam naquela época. Os dois primeiros pareciam-m um tanto mais à esquerda do que os dois paulistas. Mas esquerda mesmo eram os "nanicos" Movimento e Opinião, talvez já uma década adiante.

E o Estadão? Era o cognome dado ao jornal O Estado de São Paulo, em resposta ao alentado volume especialmente de seus cadernos de anúncios classificados. Pois ontem adquiri um exemplar alentado, mas não se compara com o que minha memória atribui-lhe naquele passado remoto. No primeiro caderno há um artigo intitulado "Da Rua Pra Web Pra Lei". Foi o mais interessante que vi até o momento. O autor do artigo é Herton Escobar, mas ele relata a visão de Douglas Theodoro (nada vi de muito conclusivo no Google) sobre "a web e as ruas". Diz o artigo:

A única maneira de acalmar as ruas, dizem, é digitalizar a democracia. Para isso, propõem a criação de uma 'praça pública' digital - Fórum do Cidadão-, na qual a população poderia debater e votar assuntos de interesse nacional [...]. [...] com validade política e jurídica, de modo que os debates e votações realizadas ali tivessem influência na formulação de políticas públicas.
Na prática, seria uma plataforma online para realização de plebiscitos e referendos, com computadores e smartphones no lugar das urnas eletrônicas.

Há anos, eu -ao lado de milhares de outros- falava (página 81 d'A Cura da Época Futura):

O mundo se movimenta ao ritmo de princípios, julgamentos de valor, de modo que a solução para esses impasses é uma sequência de plebiscitos, tão longa quanto seja necessário.

Mas, para concluir, não tenho dúvida de que a civilização passa por esta substituição da representação política por meio de instrumentos originários da internet. Por outro lado, não tenho dúvida de que a humanidade seguirá expressando-se "na rua" por muito tempo, talvez sempre. É claro que manifestações contra a corrupção e algumas coisas deste tipo podem ser realmente sepultadas, mas haverá outras que não consigo visualizar no presente e que certamente vão furar os "canais constituídos", mesmo que estes sejam muito mais democráticos do que os hoje disponíveis. 

DdAB
P.S.: a imagem é do próprio jornal. De minha parte, nas eleições, eu falava na chapa Serra-Dilma, por não ver maiores diferenças entre um e outra no que diz respeito às profundas reformas de que o Brasil precisava. Claro que hoje podemos dizer que, com Serra, tudo teria sido diferente e que, destes dois anos e meio da gestão da presidenta, ele teria encaminhado soluções que nem teriam suscitados os descontentamentos que culminaram nas manifestações. Mas nem tudo está perdido, pois ouço dizer que o PPS está convidando Serra para integrá-lo e como tal concorrer à presidência da república.

P.S.S. (aposto às 11h20min de 23/jul/2013: será que as afirmações que faço acima resultam do que eu já lera em passado remoto, retivera em minha mente e apenas agora olhei novamente? "[...] Kant's view that human racionality lacks the power to answer metaphysical queestions, since our knowledge is limited by our specific and narrowly-circumscribed capacities for organizing our field of sensation."

18 julho, 2013

5% do PIB (novamente)

Querido diário:
Volta e meia sou lembrado que o pagamento de juros por parte do governo federal mantém-se em 5% do PIB. E volta e meia renovo meu cálculo aproximado:

.a. PIB  = R$ 4,5 trilhões de reais (em 2013 com preços de 2012, IPEA e eu)

.b. População declarada detentora de empregos precários = 20 milhões (minha estimativa)

Então os 5% de juros têm o custo de oportunidade de quase R$ 1.000 por mês para cada um deles.

DdAB
Imagem daqui.

17 julho, 2013

Limpeza Involuntária

Querido diário:
O lado alegre das proposições escalafobéticas é que, de acordo com a epistemologia popperiana, elas não podem ser aceitas, mas refutadas. Mas refutá-las, este é o lado alegre, requer pesquisa e meditação. No outro dia (aqui), falei que o desenvolvimento econômico depende crucialmente da limpeza. Será que um/a assistente social consegue que um velhinho morador de rua tome três banhos (mínimo) por semana, além de fazer três refeições por dia, essas coisas?

E fiscalizar se as roupas dele (velhinho) estão sendo lavadas, os lençóis, as toalhas? Tem que chegar o dia em que a lavagem de roupa se torna um bem de mérito, com provisão universal. Ou seja, todo mundo ou tem lavanderia em casa ou pode lavar sua dirty linen na lavanderia popular. Sendo ILH o índice da limpeza humana, estou sugerindo que o valor adicionado Y é dado por

Y = f(ILH, V)

em que V é um vetor de outras coisas. Mas também é óbvio que

ILH = g(Y),

bastando ver o modelo japonês que referi naquela postagem.

DdAB
Imagem: os banhos romanos de Bath aqui.

16 julho, 2013

Tiro da Justiça: no coração

Querido diário:
Na linha das medidas para salvar o Brasil, entre os problemas localizadíssimos do poder judiciário que precisam ser resolvidos, localizo o desrespeito dos juízes à ordem estabelecida nas filas dos transplantes. Com efeito, os furos nas filas por meio de mandatos judiciais, burlando os critérios de "first come, first served" são absolutamente vergonhosos. Mudança já! Por um judiciário decente!
DdAB
Imagem vem daqui.
P.S.: em 600 deputados, um podia fazer uma lei retirando dos juízes o poder de quebrar as filas dos transplantes!

15 julho, 2013

Partidos, Melhor não Tê-los... (mas cuidado!)

Querido diário:
O compromisso que temos, sob o ponto de vista individual, que -aliás- só pode ser o nosso, pois mesmo quando expressamos "pontos de vistas coletivos", como empunhar talheres ou respeitar a faixa de segurança de pedestres na rua, é darmos alguma contribuição (positiva ou negativa) para a vida coletiva, enaltecendo-a ou predando-a.

A questão sobre como organizar a ação coletiva não é tão velha que não pudesse viver mais intensamente nos livros-texto nem tão nova que deles se evadisse por um alegado caráter aventureiro. Hoje a questão sobre os limites da ação coletiva, especialmente esta atomizada por meio da internet, diz respeito a como transformar o caos em ordem, a transformar a atomização em orientação, a boa vontade em boas ações.

A resposta dada pelas civilizações ocidentais residiu na criação de partidos políticos, desde o início do século XIX (talvez o século XVIII, com os Whigs, no Reino Unido, se é que aquele início pode mesmo caracterizar um "partido"). No caso do Brasil, umas espiadas na internet permitiram-me saber que mais de 80% dos brasileiros, consideram que seus partidos políticos são corruptos.

Aparentemente podemos falar que o bom mesmo é eliminar os partidos políticos, mas a essência do que a crítica da crítica da crítica da etc. deve dizer é que odiamos os partidos atuais, mas queremos a criação de partidos decentes. A menos que surja algum tipo de inovação institucional que permita em breve a destruição do estado por cidadãos independentes livremente associados. Acho difícil, e lembro um motto de bibliotecários (Míriam Fernandes, entre eles/as): organizar para desorganizar. Primeiro organiza, talvez apenas por meio dos partidos, e depois pode-se conseguir a destruição do estado.

Na biografia de Arthur Schopenhauer que estou lendo, o autor (Rüdiger Safranski, com uma tradução estranha, pois quase metade das palavras está em alemão entre parênteses) fala-se nos tempos que -digo eu- o prof. Eric Hobsbawm chamada de "Era das Revoluções", pois toda a Europa congestionou-se com uma onda vermelha. E diz o seguinte relativamente aos partidos políticos, que à época do filósofo, eram organizações incipientes :

[...]
Durante a década de quarenta desse século [ou seja, o XIX], a disposição emocional do movimento (Behwegungsgefühl) se condensou até tomar consciência de que formava um partido (Parteibewusstsein). As pessoas começaram a indagar umas das outras sobre qual deveria ser o coração do movimento - um coração que seria inicialmente identificado como 'povo' (Volk) e logo a seguir denominado de 'proletariado' (Proletariat) por Marx. Entrementes, um movimento social realmente começara a dar sinais de vida, na Festa de Hambach, em 1832 e na 'Revolta dos Tecelões' de 1844. [...]
   Os ativistas da década de quarenta olhavam com desprezo para os autores de folhetos dos anos trinta, embora fossem seus predecessores: não eram mais que 'tempestades em um copo de água' (Stürme im Wasserglas), escritos de gente vaidosa que se tinha em mais alta conta do que de fato merecia (Selbstüberschätzungen). Freiligrath, um desses panfletistas, havia proclamado [seguem dois versos de um poema]:

'A torre de atalaia do poeta é mais elevada
Que as ameias ocupadas pelo partido.'

   A resposta chegou do ativista Herwegh, através de sua poesia intitulada Die Partei (O Partido), nestes termos:

'Partido! Partido!
Quem poderia não considerá-lo
Como a mãe de todas as vitórias?
Como poderia um poeta proscrever tal palavra,
Uma palavra que deu à luz
Tudo quanto é grandioso?
(...)
Até mesmo os deuses desceram do Olimpo,
Para lutar nas ameias do Partido!'

Eu, como sei pouquíssimo da era das revoluções (parece que comprei e li o Hobsbawm ainda em meus tempos de Sussex), lembrei daquilo que Isasc Deutscher ensinou-me sobre a Revolução de 1905 na Rússia ser considerada o treinamento para a de 1917. Temo, claro, pelo Brasil, temo que a política esteja tão corrompida, os partidos tão corrompidos, o controle do estado pagando pay-offs tão elevados, que pode ser que as manifestações daqui de 2013 pouco ou nada resultem em mudanças e tenhamos o que aconteceu em 1848, conforme lemos no livro que estou citando:

   Em setembro de 1848, o parlamento alemão, reunido em Frankfurt-am-Main, aprovou o armistício de Malmö, assinado na Suécia. A Prússia havia declarado guerra à Dinamarca em função das pretensões territoriais desta sobre a Silésia: todos achavam que era uma ação patriótica da parte dos prussianos e a retirada da Prússia foi considerada por muitos como uma traição. A aprovação deste armistício pela Assembleia Nacional Alemã foi considerada como prova de impotência e uma desonra nacional. A isto era necessário acrescentar o desgosto geral dos decepcionados, que haviam esperado muito mais da Revolução de Março, tanto no âmbito político como na área social.
   Em 18 de setembro, tudo explodiu violentamente. Uma multidão enfurecida assaltou a Assembleia Nacional. Foram erguidas barricadas pelas ruas de Frankfurt-am-Main e ouviu-se o disparo de tiros. Dois proeminentes representantes da contrarrevolução, que eram membros da Assembleia Nacional e tinham sido capturados durante o assalto, o príncipe Lichnowsky e o general Auerswald foram brutalmente assassinados pela multidão. Lichnowsky foi decapitado e Auerswald teve os braços arrancados antes de se ver transformado em alvo para tiros. Ernst Moritz Arndt, que então já era bastante velho, lamentou-se: 'A enchente que nos inunda a todos foi-se acumulando ao longo de toda uma geração, por causa da estupidez, cobiça e despotismo dos governantes; agora os diques se romperam e toda a lama e imundície que estavam no fundo da represa saltaram sobre nossas cabeças."

Basta, não é hora de dar um basta?

DdAB
p.s.: Tudo no original, exceto quase todos os 'ss' que têm aquele beta muito louco reincorporado -imagine só- logo depois da queda do comunismo. Só inseri colchetes e troquei os ["] por [']. Nóis merece!
p.s.s. Os trechos amarronzados que fiz separar-se por minhas observações estão nas páginas 556-7 e 601.
p.s.s.s.: tu viu o que eu falei sobre metade das palavras estarem em alemão entre parênteses? Que tal esta de volk, que qualquer criança brasileira sabe que é precisamente 'povo', o carro do povo, não é? E proletariat? Haverá alguém que desconheça esta palavra, mas saiba ler?
p.s.s.s.s.: de sua parte, esse Ernst Moritz Arndt também era casca grossa (aqui): do bem e do mal. O mal o fazia nacionalista e anti-semita.

Imagem veio daqui. Se ainda lembro a tabuada, como existem quatro linhas e quatro colunas, são 16 partidos políticos, uma amostra de menos de 50% do espantoso montante. Parece que quem incentiva a criação de novas "forças vivas" da corrupção é mesmo o auxílio pecuniário que cada um deles ganha -adivinhe- do governo.

14 julho, 2013

Dois Pés

Querido diário:
Domingo? Seriedade? Na Zero Hora Dominical, a prestigiada colunista Célia Ribeiro tem uma fração do espaço dedicado a responder cartinhas dos/as leitores/as. Eis um trechinho que me levou a pensar

.a. na finitude do universo, na vida média das galáxias, nos poemas de João Cabral de Mello Neto e mesmo na quadratura do círculo

.b. e mais ainda nos mal-entendidos da vida comunitária contemporânea:

Tenho um plano de saúde particular e fiz uma bem sucedida cirurgia no pé sem ônus.

Isto me fez pensar, sem pestanejar, com meus próprios pés, que o pé que não foi operado tem algum tipo de ônus. Indago, neste caso, qual seria a natureza.

DdAB
Emprestei a imagem daqui.
.a. olhei no dicionário se "responder" é transitivo direto e indireto e concluí que não sei.
.b. "emprestar", no sentido de "tomar emprestado" não é típico do Planeta 23, embora o dicionário diga que é forma usada no Sul.

p.s. dei uma editada, inserindo ilustração e coisinhas relevantezinhas às 21h12min de 15/jul/2013.

11 julho, 2013

Em 600 Deputados, Um Podia...

Querido diário:
Tem deputado e ministro prá mais de metro neste indigitado país contemporâneo. Se bem lembro, os últimos 20 ou 30 anos não viram mais do que aumentar o número de repartições, ministérios, que sei eu, elevando pari passu os números de cargos em comissão. O fim da picada, que -talvez por algum tipo de dilema do voluntariado vivido pelos "representantes"- deixa sem solução o problema vivido pela população. Há problemas que requerem muitos recursos, por exemplo, a rede ferroviária Norte-Sul, mas outros, nem tanto.

Por exemplo, algum os 600 poderia ter ouvido algum eleitor manifestar seu descontentamento com os telefonemas que recebe diuturnamente das televendas das mais variadas instituições, as próprias telefônicas, os bancos, as farmácias... Nâo tinha que ter uma lei para permitir que o cidadão escolhesse entre ser ou não cliente desses serviços que nada têm a ver diretamente com telefonia? Claro que tinha.

DdAB
Imagem: aqui. Pimba: call center!

10 julho, 2013

Administração e Justiça

Querido diário:
Aqui os problemas estão pegando fogo:

.a. o mercado público da cidade incinerou-se a partir de um curto-circuito na rede elétrica de um restaurante. Fiquei imaginando se o responsável não foi uma destas novas tomadas (plug) que algum sinecurista conseguiu botar na lei e fez com que, em minha existência, eu tenha testemunhado três (dos tempos em que comecei a contar) mudanças nos tais aparatos destinados a nos conectar com o fornecimento da energia elétrica.

.b. o centro administrativo do estado foi fechado por um juiz atendendo a uma liminar (ou o que o vala) de um promotor de justiça, inconformado com o fato de que também ele (o primeiro...) pode entrar em combustão.

Faltam as regulamentações competentes do corpo de bombeiros.

O que falta mesmo é uma administração pública profissional prá valer em todo o Brasil. Esta, como sabemos, foi corrompida desde pelo menos os governos militares com a criação indiscriminada de CCs, os desejados cargos em comissão, praticamente todos pagando prêmios milionários a seus detentores. O Brasil tem 40 ministérios, a prefeitura tem 30 secretarias: como é que vai funcionar?

Só administração pública? Claro que, antes de mais nada, o que falta no Brasil é um poder judiciário eficiente. O juiz Hilbert Maxililiano Akihito Obara, que fechou o centro administrativo (que, por sinal, o poder executivo disse que não há razão para fechar, ainda que tampouco deseje fechar o próprio judiciário), declarou (p.24 de Zero Hora de hoje):

Tomei a decisão mais para assegurar que não ocorram casos como o do Mercado Público, que incendiou sábado, ou o da boate Kiss, em Santa Maria. Não havia risco iminente disso no CAFF, eu concordo. Mas o Estado tem de dar o exemplo. Se cobra segurança dos outros, deve aplicá-la nos seus próprios prédios.

Só bebendo!

DdAB
Imagem: aqui.

08 julho, 2013

Marx, a Abelha, a Produção e o Mercado de Fatores

Querido diário:
Todos sabemos que Marx tem o trechinho do prefácio à "Crítica à Economia Política" saudado como uma apresentação breve de seu método. E todos sabemos, outro texto famoso, que "A Ideologia Alemã" tem simetria entre "o mais bisonho dos arquitetos" e a abelha. O primeiro traça o plano de sua obra, idealmente, antes de vê-la realizada. A operariazinha não o faz, pois produz suas impecáveis residências reagindo a instinto e nada mais (pelo menos assim pensamos ainda no início do século XXI).

Também sabemos que por um ou outro daqueles textos, Marx fala que logicamente a produção segue-se à distribuição. No modelo do fluxo circular da renda completo, quem circula é o valor adicionado, caracterizando suas três óticas de cálculo. Trata-se do produto, da renda e da despesa, cada um deles associado a três funções basilares do sistema econômico: a geração do VA, sua apropriação e sua absorção. Torna-se claro que, se a encrenca circula mesmo, não há começo, nem na geração, nem na apropriação, nem na absorção do valor adicionado. Logo podemos concluir que Marx estava exagerando? Estava produzindo uma metáfora? Estava seguindo o senso comum dos economistas clássicos?

O que eu quero dizer é que, na linha do arquiteto, a produção que vai se materializar lá adiante, iniciou na cabeça do capitalista (or whatever). Depois dos planos é que ele contratou os fatores de produção e apenas aí é que deu-se a geração, a apropriação e a absorção do valor adicionado. Em outras palavras, o início é a alocação dos fatores de produção. E apenas depois é que vem a produção!

DdAB
A imagem está publicada na p.47 do livro Mesoeconomia, e já falei bastante sobre ele. Destaco, para os presentes propósitos, a postagem localizada ao clicarmos aqui.

06 julho, 2013

IDL ou ILH: tinha que ter o índice de desenvolvimento da limpeza ou índice da limpeza humana


Querido diário:
Parece óbvio que um ambiente como o das imagens acima não pode abrigar coisa boa. Peguei-as ao pedir "dirty new york". A primeira imagem associa-se a um país de um índice de Gini de 0,44. E explica tudo! Não pode haver uma cidade decente com ainda que uma única rua assim por um período superior a 24h.

Depois temos... Copenhagen. Tá aqui: um Gini de 0,25. E o Japão? Gini de 0,35. Como é que um índice de Gini alto explica a sujeira das ruas do Brasil? É que não há lixeiros, detentores de empregos decentes. Sem lixeiros, como é que a filha do lixeiro vai estudar violino? E como é que a professora de violino vai comprar sanduichinhos McDonalds para seus rebentos? E os filhos dos vendedores do afamado sanduíche, como é que poderão ir à Disneilândia? O os operadores de viagem que estão se divorciando, como é que poderão contratar bons advogados para tratar da partilha?

Parece óbvio: um dos requisitos do desenvolvimento econômico é a limpeza.

Mas também é do Japão que vem aquela "modelagem dos 5S":
De brinde, passamos a ver, no quarto S, a palavra "desordem", ou seja, uma referência direta aos políticos, os maiores responsáveis pelo caos que grassa na sociedade brasileira, da chefatura de polícia ao banheiro do juiz do supremo.

O marcador é daquele tipo em que a Dilma chamaria alguém (ou os 30% que a apoiam ou outros) e diria: "tu aí: organiza pequenas empresas de prestação de serviços ambientais mundiais, com cuidados a crianças, a velhos e ao meio ambiente, mas não me deixa estas ruas sujas, não me deixa este povo sem tomar banho, não me deixa os lençóis sem serem trocados por mais de uma semana.

DdAB
Imagens: são tantas que, infelizmente, perdi o controle. Nem mesmo juro que sejam nova-iorquinas, toquianas e copenhaguescas. O Quadro, claro, é da Wikipedia.

Tu aí, vota contra a sociedade suja, como lá naqueles tempos diria Quino: não confundir suciedad com sociedad.

05 julho, 2013

O Futebol e a Indução

Querido diário:
Aqui em Porto Alegre, tem-se celebrado a demissão do técnico de futebol do Grêmio, sr. Vanderley Luxemburgo, e a assunção ao cargo do sr. Renato Portalupe. Lá na televisão, às vezes vejo os gols dos campeonatos de futebol (por exemplo, enquanto estou assistindo a refinadíssimos programas culturais e zapeando para achar coisas ainda mais sofisticadas).

No primeiro caso, a indução permite entendermos que Renato Portalupe já foi treinador do Grêmio (não lembro quantas vezes). Então ele durará algum tempo no cargo e terminará demitido, pois o time de futebol não viverá para sempre uma boa fase. Mas quem induz isto sou eu, pois todo o resto da turma considera que Renato resolverá todos os problemas ad eternum. Os que creem é porque pouco ou nada leram sobre epistemologia (indução).

No caso número dois, volta e meia, vejo o rapaz que fez o gol do Grêmio, da Seleção ou de qualquer outro clube sair-se em desabalada corrida -instantes após o feito- em busca da merecida aclamação por parte dos admiradores (id est, a torcida). Mas, em muitos casos, ele é interrompido pelo colega que lhe deu o passe da bola que culminou com o gol. E o que é interessante, no caso, é que este colega ainda não aprendeu (indutivamente) é que o rapaz que fez o gol prefere:
.a. saudar a torcida
.b. receber os cumprimentos dos colegas, mesmo o que foi coadjuvante ao tento.

Em outras palavras, todo mudo devia saber que Renato Potalupe não será o treinador eterno do Grêmio, assim que começar a enfrentar revezes, será demitido. Além disto, todos devemos saber quando outro fizer o gol, mesmo que com nosso passe, ele preferirá saudar antes a torcida e a apenas aí é que receberá nossos cumprimentos.

Donde se conclui, logicamente, que o futebol é o ópio do povo.
DdAB
Imagem aqui.

04 julho, 2013

Os Neofascistas e a Guarda Nacional

Querido diário:
Parece que o Brasil nunca tratou com seriedade a questão dos excedentes populacionais (falo sob o ponto de vista da relação entre o PIB e o estoque de capital, essas coisas, encapsulando o fenômeno sob a perspectiva econômica, claro). Primeiro, qualquer possibilidade de movimentação, de oportunidades para haver algum tipo de movimentação, compromete-se de saída com a falta de educação, com a má qualidade, sob o ponto de vista cultural, da herança familiar.

Segundo, mesmo com o chamado milagre do emprego dos últimos anos, avaliado por meio das estatísticas oficiais, o que vemos é uma espantosa fração da população urbana vivendo em condições de precariedade e de detenção, quando muito, de empregos precários.

Terceiro, parece -com ironia- que a mobilidade social ascendente é meteórica e ocorre por meio do empreendedorismo (quando bem sucedido) no mercado de drogas ilegais. Surge-se, floresce-se e... tudo se apaga, com um tiro da polícia ou de concorrentes (como tal, desleais).

E qual é a saída? Há uma, pelo menos. Vejo-a na possibilidade de articulação da guarda municipal, que deve ser encarregada de gerir os serviços municipais, como os que costumo arrolar à margem direita deste blog:

ocupação da mão-de-obra prestadora de cuidados pessoais e ambientais com: .1. três horas de ginástica por dia (para manter a coluna ereta) .2. três horas de aula por dia (para manter a mente quieta) .3. três horas de trabalho comunitário por dia (para manter o coração tranquilo).

Segue-se a necessidade de formação de uma guarda nacional, a partir das guardas municipais. Não se trata de pensar em reprimir os "neofascistas" de que falei ontem, mas de auxiliar a plêiade composta por desvalidos deste país em alcançar algum grau de educação, a fim de pensar em seus objetivos na vida e em formas de organização em sua defesa.

Ou seja, a principal função não seria preparar para a guerra ou a repressão mas, ao contrário, reciclar os neofascistas (no dizer do governador do Rio Grande do Sul e outros inconformados com sua própria incapacidade em lidar com a herança amarga que coube à geração presente confrontar e que não estamos conseguindo) e transformá-los em neo-cidadãos.

DdAB
Aqui, ou melhor, nos Estados Unidos, há dois cães heróis.

03 julho, 2013

Tarso e os Neofascistas

Querido diário:
No outro dia, o governador do Rio Grande do Sul, o sr. Tarso Genro, anunciou que aquilo que a imprensa tem designado como "os vândalos" nada mais é do que uma expressão do neofascismo. Hoje, ao circular (de automóvel) pelas ruas da cidade, vi incontáveis manifestações do que -não mais o governador, mas Karl Heirich- chama de "lumpenproletariat": mendigos, papeleiros. Quem serão mesmo os neofascistas? Penso que são precisamente as populações desvalidas que carregam seus carrinhos de saque aos containers de lixo seco (ou comum), os rapazes que dormem na rua durante o dia (de noite não os controlo), os pedintes, os flanelinhas.

DdAB
Imagem: aqui.

02 julho, 2013

Os Marginais e os Trabalhadores

Querido diário:
No outro dia, envolvi-me em um desses seminários de bar em que se discutia se trabalhar enobrece o homem. E se devemos cultivar o trabalho da mesma forma que devemos, digamos, promover a cultura física (que também faz suar e dá stress). Um dos participantes do seminário avisou: "Tenho um primo que procura o Trabalho e já anunciou que, se o encontrar, tentará matá-lo." Outro argumentou que, se trabalho fosse bom, a escravatura (que se mantém nas fazendas dos políticos) nunca teria surgido. Eu, baseado nos aprendizados como aluno de microeconomia, dezenas de livros e váriosanos como professor, apenas indaguei: "Tu gosta mais de trabaiá mais na segunda-feira ou na sexta-feira?" Uma guria anunciou gostar mais de trabalhar na sexta-feira por ser -argumentou- louca. Um bêbado da mesa ao lado anunciou que nem segunda-feira nem sexta-feira. O garçom, trazendo as fritas, disse que sexta, sábado e domingo é a mesma coisas, pois estuda economia de empresas durante a semana, mas lamenta que o movimento nos domingos é menor. Ele ainda aduziu que acha o conceito de custo marginal genial, exemplificando com a forma com que o bar poderia fechar, tarde da noite, sem a saideira.

Joan Robinson (era ela?) teria dito: "é melhor ser explorado do que não ser explorado". Claro que ela falava de uma sociedade capitalista em que parte substantiva da distribuição do valor adicionado se dá por meio do mercado de trabalho. (Hoje sabemos que as transferências, em alguns países, já estão chegando à magnitude do valor adicionado e eu sei que elas vão passá-lo, in due time). E o general Osório não disse: "é fácil comandar homens livres: basta apontar-lhes o caminho do desemprego".

Claro que, na sociedade que vai emergir das manifestações de 2013, teremos a renda básica universal. Começaremos com R$ 500 por pessoa em idade economicamente ativa. Isto representará menos de 20% do PIB.

DdAB
A imagem é daqui e leva-nos a indagar: quanto computador ocioso, quanto prédio ocioso. E preciso dar-lhe mais vagar ao olhar, pois tem uma rádio que parece espetacular sobre a música popular brasileira.

01 julho, 2013

A Mais Importante Dimensão da Vida Social: a econômica

Querido diário:
Não é de hoje que venho dizendo que a lei da oferta e procura é mais insinuante do que a lei da gravidade. Cheguei a estimar em um milhão o número de indivíduos que, a cada instante, romperam com esta barreira natural e encastelam-se em aviões a centenas de metros acima do solo.

Na segunda fonte (aqui, aqui) vemos que em um ano, os aviões percorreram 5,2 trilhões de quilômetros, ou mais de 100 milhões de voltas à Terra em torno do Equador. E lucros de US$ 7,9 bilhões, sustentando 55,6 milhões de pessoas com atividades econômicas no valor de US$ 2,2 trilhões (tipo metade do PIB do Brasil).

Quantos passageiros, afinal? Não vi o número, não achei o total do planeta. Mas tem as cifras dos Estados Unidos e da China: 708 milhões de passageiros, ou seja, 2 milhões por dia.

Não tem lei da gravidade que segure...

DdAB
Imagem daqui.