15 maio, 2013

Coronelões, Capangas e Caudilhos

Querido diário:
Seguindo-se à postagem de ontem, temos a de hoje, hehehe. Ok, o que quero dizer é que ontem referi entre as minhas 16 leituras ativas, o livro "Música ao Longe", de Érico Veríssimo. A verità é que estou lendo novamente suas obras/completas/selecionadas. Firmei um propósito férreo, há anos, que é o de sempre estar lendo um livro (entre os 40) de Érico, de Graciliano, de Machado ou de Borges. É muito autor para pouco tempo, pois seguem ativos todos os demais.

Seguindo-se a estas considerações, decidi trazer um trecho de "Música ao Longe", a fim de homenagear as recentes fraudes que assolam a vida social do Rio Grande do Sul: é muito coronelão, muito político, muito funcionário da Assembleia Legislativa, muita encrenca. Temos o dr. Seixas, um médico voltado aos pobres, mas bastante cético, amargo e... fumante pesado (aliás, parece que os "feitos a mão" eram escassos, pois entendo que a maioria daquela turma fumava cigarros de palha) e que é particularmente cáustico relativamente à velha geração, muito comovido com os sofrimentos da nova:

Tinha pena de toda aquela gente moça e tonta. Conhecia a vida de todos. Que seriam eles amanhã? Talvez velhos tristes e amargurados como os de hoje. Tinham culpa? Não tinham. Eram vítimas dos erros de todos os que haviam chegado ao mundo antes deles. Os culpados formavam uma cadeia sem fim [...]. Pobres crianças! Sabia que o pai de Clarissa tinha sido morto pelo capanga dum político. Estava agora a menina ali atirada naquela casa úmida e sem conforto, em companhia da mãe e daquele outro cabeça-de-vento [isto é, Vasco]. O pai de Fernanda também fora assassinado. Outro crime político. Era o Rio Grande dos coronelões, dos capangas, dos caudilhos, do contrabando, das revoluções e da coragem que envelhecia. [...]

Para mim, o grande trade-off para aqueles que acham que não há necessidade de planejamento coletivo (governamental) sempre vem o exemplo de escolhermos seguir nosso curso de vida normal e termos nosso/a bisneto/a assassinado por um menino de rua ou pagarmos mais imposto de renda e vermos os tetra ou penta-avós da infortunada criança serem socorridos, dada-lhes a renda básica universal e, ao contrário, o que seria o futuro assassino torna-se um encantador príncipe que casará com nosso/a pimpolho/a.

DdAB
Imagem: o Google deu-me estas coordenadas (para a imagem acima): "Rio Grande do Sul | Milton Ribeiromiltonribeiro.sul21.com.br - 567 × 377 - Mais tamanhos". Mas não carregou quando pedi. Serão os coronelões em ação?

P.S.: para mim são quatro os romances/novelas do ciclo Clarissa:
.a. Clarissa
.b. Música ao longe
.c. Caminhos cruzados
.d. Um lugar ao sol.
Parece que "Saga" tem a história de Vasco Bruno e seu voluntariado para lutar na Guerra Civil Espanhola. Mas também parece que Érico não gostava desta novela, o que me fez retirá-la das obras/completas/selecionadas, ou seja, não selecioná-la.

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